sábado, 13 de junho de 2009

O que é isso, companheiro Scartezini?

Li hoje no Globo um artigo (“O que é isso, companheiros?”) do jornalista A. C. Scartezini que me deixou preocupado pelo embaralhamento de informações e conceitos. Ele começa cobrando - equivocadamente, na minha opinião - atitude diferente dos repórteres que cobriram o desatre da Air France: “Aparentemente, nenhum repórter presente à entrevista do ministro Nelson Jobim lembrou-se de perguntar-lhe por que assumiu pessoalmente a condução da entrevista coletiva em que o Ministério da Defesa apresentou informações sobre a coleta em alto-mar de destroços e corpos dos ocupantes do aparelho da Air France que despencou sobre as águas do Atlântico no último dia 31”. Achei o desempenho de Nelson Jobim, com perdão do trocadilho, um desastre. Mas por que ele não poderia assumir pessoalmente a condução da entrevista? É proibido? Claro que se ele tivesse colocado de lado aquele seu ar eternamente arrogante e procurasse assessoria de um jornalista teria sido infinitamente melhor – principalmente para ele. Adiante Scartezini parte para o affair “blog da Petrobras”, criticando jornalistas que “apressaram-se na defesa da legitimidade com que a Petrobras passou a repassar a todo o universo da Web, em blog especialmente criado, as pautas que recebe das redações, com as respostas pertinentes ao comportamento da empresa” que ele considerou como “desmoralização do jornalismo independente em benefício do jornalismo chapa-branca”. Scartezini, que na época da ditadura, confrontou-se, como ele mesmo diz, “diariamente como repórter político ou da área militar”, deve saber que no jornalismo chapa-branca as pautas têm mão inversa – partem dos governos para a imprensa. O histerismo anti-Blog da Petrobras não teve nada a ver com liberdade de imprensa ou jornalismo chapa-branca, mas, sim, com política. O problema que houve – de antecipação (graças às novas tecnologias) da divulgação das reportagens – foi facilmente superado, já que a divulgação no blog da Petrobras passou a ser simultânea à feita pelo repórter autor das perguntas. Como fica agora? Vai-se proibir a existência do blog Fatos e Dados em nome de uma pretensa liberdade de imprensa? É preciso compreender – isso, sim – que a informação, principalmente nos dias de hoje, não pode ter mão única. Nem cabe ao jornalista cercear os fluxos da informação – ao contrário, sua função é promover a sua democratização. NOTA: ninguém pauta o meu Blog, nem mesmo costumo acessar o blog da Petrobras.