Ver também: A Presença Militar dos Estados Unidos na América Latina (Maria Luisa Mendonça), O acordo de Alcântara (Dioclécio Cruz ), A Quarta Frota e a estrutura militar unificada dos EUA (Guilherme Poggio, colaborador José da Silva), A Geopolítica Russa: De Pedro “O Grande” a Putin, a “Guerra-Fria”, o Eurasianismo e os Recursos Energéticos (Tenente-General PilAv Eduardo Eugénio Silvestre dos Santos, Mestre em Estratégia do ISCSP - Instituto Superior de Cincias Sociais e Polticas de Lisboa).
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Pourquoi “France”? It’s the geopolitics, stupid!
A grande mídia pode até ter o direito de defender os seus interesses e fazer oposição sistemática ao Governo Lula. Mas não tem o direito de se fazer de burra nessa questão do acordo militar Brasil-França. A mídia procura questionar o acordo focalizando unicamente o aspecto comercial. Fala de valores, vantagens e desvantagens comerciais, tentando vislumbrar alguma mutreta para, mais uma vez, alfinetar a “ética” do Governo Lula. Evidente que a questão comercial é importante, e que todos os contratos dos governos devem ser fiscalizados. Mas o acordo Brasil-França não se situa simplesmente nesse terreno do “toma lá, dá cá” do mundo dos negócios. O mundo inteiro movimenta suas peças no novo tabuleiro das disputas energéticas e dessa vez, ao contrário do que ocorreu em outras oportunidades, o Brasil decidiu assumir (e tem condições para isso) papel de peso nesse cenário. Luiz Alberto Moniz Bandeira escreve em “A importância geopolítica da América do Sul na estratégia dos Estados Unidos” que “uma Segunda Guerra Fria foi deflagrada e envolve a América do Sul, onde a penetração dos Estados Unidos constitui um fator de instabilidade e inquietação” e cita o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral das Relações Exteriores do Ministério das Relações Exteriores, quando diz que o Brasil é o "único rival possível à influência hegemônica dos Estados Unidos" na América do Sul, devido às suas dimensões geográficas, demográficas e econômicas e à sua posição geopolítica e estratégica, ao longo de grande parte do Atlântico Sul, defrontando a África Ocidental. Ao longo das últimas décadas, os Estados Unidos têm fechado o cerco em torno do nosso país, espalhando bases próximas a nossas fronteiras amazônicas. Durante o Governo Fernando Henrique, quase conseguiram implantar uma base em nosso próprio território, em região considerada uma das “portas de entrada” para a Amazônia brasileira, com o que seria “acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América sobre Salvaguardas Tecnológicas Relacionadas à Participação dos Estados Unidos da América nos Lançamentos a partir do Centro de Lançamentos de Alcântara”. Felizmente, já em 2003, como resultado de uma grande mobilização em nível nacional e continental, “o governo brasileiro decidiu suspender a votação na Câmara dos Deputados sobre o acordo que permitiria o uso da Base de Alcântara pelos Estados Unidos”. Com a descoberta do pré-sal em nossas águas, veio à tona outro fantasma, a Quarta Frota Americana, que voltaria a circular por nossa costa. Alguns dizem que foi apenas coincidência, mas é difícil acreditar. Seja como for, o importante é compreender que o Brasil não pode se acomodar em um papel secundário no jogo de forças que se está montando. Deve tornar-se robusto e buscar alianças estratégicas, com seus vizinhos latino-americanos (que têm menor poder de fogo, mas têm localização privilegiada) e com uma (ou mais) das grandes potências. Os Estados Unidos poderiam ser a primeira opção – mas soaria algo como negociar com a raposa a segurança do galinheiro. A Inglaterra é quase uma extensão dos Estados Unidos. Rússia e China estão mais distantes de nossa realidade, e não queremos um “acordo-provocação”. Alemanha parece politicamente mais fraca e a Itália de Berlusconi não se mostra muito confiável. A França tem o maior interesse em recuperar prestígio e parece mais disposta a partilhar poder. O pré-sal foi decisivo nessa escolha. Temos que negociar buscando um passaporte para o futuro, não para o passado.
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