terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sobre pesquisas: CNI/IBOPE é ducha de água fria na Oposição

Recebi outro dia um artigo (“Sobre pesquisas”) atribuído a Marcos Coimbra (Instituto Vox Populi) bem interessante e bem a calhar nesse diz-que-me-diz das pesquisas pré-eleitorais. Ele faz um alerta bastante pertinente sobre essas análises apressadas de pesquisas feitas tantos meses antes das eleições: é preciso ter cuidado com as análises carregadas de preferências por um por outro candidato. E isso se torna mais importante ainda quando vemos que as pesquisas ganham destaque nas mãos da mídia despreparada e nitidamente oposicionista. Um item que sempre me chama atenção, pela total falta de cuidado e de conhecimento, é o que revela os índices de "rejeição". Tenho muito cuidado com as "rejeições", porque costumam estar associadas a outros fatores - como o desconhecimento, por exemplo. Quando não se conhece um candidato, costuma-se rejeitá-lo. Pode ser o caso da Dilma, que (segundo a Pesquisa CNI-Ibope, com análise de MCI Lavareda, divulgada hoje) tem baixo índice de conhecimento (32% de conhece "bem" e "mais ou menos") e tem 40% de rejeição ("não votaria de jeito nenhum"). Mas com certeza não é o caso de José Serra, que tem alto índice de conhecimento (66% de conhece "bem" e "mais ou menos") e tem 30% de rejeição ("não votaria de jeito nenhum"). Quem é o mais rejeitado dos dois? Sem parti pris, acredito que Serra - entre quem conhece um e outro - é o mais rejeitado. Quando verificamos outro item, o de "notícias mais lembradas sobre o Governo Lula", notamos que a "Crise no Senado Federal" tem 15% de percepção junto à população, enquanto que tem apenas 2% a percepção da "Confirmação pelo presidente Lula de que a ministra Dilma Rousseff será candidata a presidente da República". Tenho certeza que a tradução disso é simples: a mídia destaca muito mais o que é negativo do que é positivo com relação a Lula e seu apoio eleitoral. Apesar de tudo, o mais surpreendente é o altíssimo índice de aprovação do Governo Lula (que oscilou de 80% para 81%), o que justifica a frase final do artigo do Professor Candido Mendes hoje na Folha: "E (o eleitorado) vai às urnas como um plebiscito clandestino, em favor de quem não tem herdeiros, mas sucessores, num terceiro mandato, do povo de Lula sem o Lula lá". Veja dois dos cenários da Pesquisa de hoje (que, aliás, destaca subida de Ciro e queda de Serra) e, em seguida, o texto de Marcos Coimbra:
  • Serra - 34%
  • Ciro - 14%
  • Dilma - 14%
  • Heloísa Helena - 8%
  • Marina - 6%
  • Serra - 35%
  • Ciro - 17%
  • Dilma - 15%
  • Marina - 8%
Sobre as pesquisas
Marcos Coimbra é Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Há dois tipos de erro nas tentativas de deduzir das pesquisas de agora o que vai acontecer com Dilma: imaginar que ela já ganhou e achar que ela já perdeu. São erros parecidos em mais de um aspecto. O traço comum mais importante é que ambos vêm da interferência das preferências nas análises. Quem deseja que ela perca olha as pesquisas e enxerga a confirmação do que gostaria que acontecesse. Quem torce por ela vê o oposto nos mesmos resultados. O problema é que os números não dizem nem uma coisa, nem outra. Na verdade, dizem muito pouco. Pode-se fazer malabarismos com eles, como escolher algumas eleições presidenciais passadas para elucubrar sobre o futuro. Por exemplo, para sustentar que quem lidera as pesquisas 12 meses antes de uma eleição termina ganhando é o que condenaria inapelavelmente a candidatura da ministra. Aliás, acabaria com todas as dúvidas, restando ao governador de São Paulo, José Serra, apenas mandar costurar seu terno de posse. É, no entanto, uma hipótese desprovida de qualquer base teórica, desconhecida nos manuais de ciências sociais e de estudos eleitorais. Nossa já expressiva história eleitoral moderna tampouco a justifica, sendo centenas os casos de candidatos a prefeito e governador que ganhavam nas pesquisas feitas um ano antes e perderam as eleições. Em três das cinco eleições presidenciais pós-redemocratização, nada de semelhante ocorreu. Só Fernando Henrique, em 1997, e Lula, em 2001, lideravam e venceram, o que não aconteceu em 1989, 1994 e 2006, pois o próprio Lula perdia para Serra em novembro de 2005. Ou seja, é uma lei não confirmada pela maioria dos casos. Ou seja, não serve para nada.Imaginar o que vai acontecer em outubro de 2010 a partir de simples pesquisas quantitativas de intenção de voto não faz sentido. Mais: revela falta de compreensão sobre como se estrutura o eleitorado brasileiro na atualidade. O projeto da candidatura Dilma está assentado em dois supostos fortes. De um lado, na constatação de que o maior contingente do eleitorado é, hoje, formado por “lulistas”, pessoas que votaram nele uma, duas, três ou mais vezes, muitas em todas as eleições a que compareceram. Como vimos em 2006, a quase totalidade desses eleitores votou nele e, a crer nas pesquisas, votaria de novo se pudesse. Parece que tendem a votar em quem ele apontar. De outro lado, o projeto apoia-se nos indicadores de aprovação do governo, que sinalizam que a base do lulismo se ampliou e passou a incluir muitos não eleitores de Lula, que o consideram um bom presidente, à frente de políticas e programas que merecem ser preservados. Daí, que podem vir a temer pela sua interrupção e a aumentar a proporção dos que votariam em quem representa a continuidade. Quem não gosta da candidatura da ministra saudou alguns resultados das últimas pesquisas. Elas registram uma estagnação de seu crescimento, logo vista como sinal de sua inviabilidade. É bom evitar julgamentos apressados, no entanto. Nada há nessas pesquisas que contrarie as premissas da candidatura, que nunca calculou que sempre cresceria. Ao contrário, se elas indicam que maus momentos para o governo (a crise do Senado, por exemplo) têm reflexo negativo, bons momentos (pré-sal, por exemplo) podem ter impacto inverso, vindo a impulsionar as intenções de voto em Dilma. Mas erra igualmente quem avalia as pesquisas e só vê motivos para acreditar que Dilma já ganhou. Em nossa cultura política, a vasta maioria dos eleitores vota em pessoas, e não em teses. Por mais que gostem de Lula e queiram que várias coisas de seu governo permaneçam, não vão tê-lo na urna. Dilma pode subir e cair pelo mesmo remédio: a “quantidade” de Lula em sua candidatura. Bem dosado, ela cresce. Mal calculado, ela sofre. Só a campanha real vai conseguir encontrar a medida. Daqui a outubro de 2010, há tanta água para correr por baixo da ponte que dá até preguiça ouvir quem acha que sabe tudo.