segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Reforma eleitoral: Congresso não reforma – deforma...

Dia desses o Deputado Hugo Leal (PSC), líder da bancada federal do Rio de Janeiro, convocando a bancada para se unir em torno dos interesses do estado, disse algo como “não fomos eleitos pelos partidos, fomos eleitos pela população”. Até entendo as boas intenções e o esforço do Deputado para unificar e motivar seus liderados. Mas a frase foi infeliz, resume o sentimento que a maioria dos políticos tem com os partidos, como sendo um mal desnecessário. Para eles, partido é como “cavalo”, só serve para baixar o “santo” do voto e depois voltar para seu rame-rame desprezível. É por isso que nenhuma reforma decente vai ser aprovada: os políticos não querem fortalecer os partidos porque não querem perder sua “independência”. Eles não entendem que não são eleitos por toda a população, mas por parcelas da população, representadas pelos partidos. Enfraquecer os partidos é ignorar – e, portanto, também enfraquecer – as parcelas da população que os elegeram. Leva à deformação da política, ao fim da própria democracia. Duas semanas atrás, Cesar Maia escreveu um bom artigo na Folha, “Transformismo”, mostrando as conseqüências funestas de relações políticas inorgânicas. Ele fala mais precisamente do infindável jogo da cooptação que leva ao enfraquecimento de partidos e governos, e cita o livro de Donald Sasson, "Mussolini e a Ascensão do Fascismo", que relata: "Como não havia partidos disciplinados no Parlamento, os chefes de governos italianos reuniam as maiorias necessárias, depois de extenuantes negociações (e) da noite para o dia, adversários podiam ser ‘transformados’ em aliados, mediante suborno”. Daí a designação pejorativa "transformismo", usada na Itália primeiro em 1882, “para nominar a indiferenciação ideológica da direita à esquerda”. O "transformismo", diz ele, “existia pela pasteurização política” e teria sido decisivo para o surgimento do fascismo. Ao fecharem as portas para partidos fortes, nossos políticos precisam entender que batem com a porta na cara da democracia. Esse jogo de empurra da reforma eleitoral tem cartas marcadas – e o povo não será vencedor.