quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Alô, Cesar Maia, cuidado com as linhas cruzadas das pesquisas telefônicas

As pesquisas de opinião por telefone são ótimas. Depende de onde são feitas. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde há muito tempo a malha de telefones é ampla e de boa qualidade, elas tendem a ser muito boas. Nas eleições do Clube Flamengo, que estão ocorrendo agora no Rio, com um colégio eleitoral de sete mil sócios, elas são indispensáveis e podem apresentar grande precisão. O candidato rubro-negro (parece que são sete, este ano) que dispõe do cadastro atualizado (às vezes é difícil...) dos sócios pode acompanhar facilmente as intenções de voto através do telefone (inclusive celular). Mas vejamos um município como Japeri, da Região Metropolitana do Rio, com 62.000 eleitores. Ali, as residências com telefone fixo não devem chegar a 25%. As camadas populares, hoje, estão mais ligadas ao telefone celular do que ao fixo. Portanto, mesmo considerando apenas uma sondagem, ou seja, uma pesquisa que se exige menos precisão e busca-se apenas um “cheiro revelador”, os resultados tendem a ser muito vagos, com alta distorção. Cesar Maia sabe disso muito bem. Tanto que abre seu Ex-Blog de hoje dizendo que “uma pesquisa de opinião pública deve conter todos os elementos que garantam uma amostragem representativa. Por isso, as pesquisas telefônicas no Brasil – mesmo com todos os recortes de gênero, idade, instrução, renda e região de moradia – não têm a mesma precisão das cara a cara, pois chegam apenas aos telefones fixos, quando a grande maioria das pessoas de menor renda usa celulares”. Mas logo em seguida, depois de explicar o que são as sondagens, Cesar Maia diz que as que estão sendo feitas “mostram um cenário futuro extremamente competitivo nas eleições para governador do Estado do Rio”. E vai mais longe: “Com essa tabela de qualificações, a eleição para governador embola, com todos os 4 candidatos muito próximos, com um pouco mais de 20%. E na série de cinco sondagens desde setembro, as posições se alternam, mas sempre na margem de erro (se fosse uma pesquisa de opinião)”. Em quem será que ele pretende passar trote? Ele sabe que, além da fragilidade dessas "pesquisas", o cenário dos 4 candidatos que apresenta (Sérgio Cabral PMDB, Garotinho PR, Gabeira PV e Lindberg PT) é produto de linha cruzada, já que, desses, apenas Sérgio Cabral e Garotinho são candidatos. E sabe também que se fosse se basear em uma sondagem telefônica com esses dois nomes, na Zona Sul do Rio (com predomínio das classes A, B+), onde as pesquisas telefônicas têm mais precisão, Garotinho veria sua candidatura por um fio. Veja o texto completo:
ELEIÇÃO PARA GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO PODE EMBOLAR!
                       
1. Uma pesquisa de opinião pública deve conter todos os elementos que garantam uma amostragem representativa. Por isso, as pesquisas telefônicas no Brasil - mesmo com todos os recortes de gênero, idade, instrução, renda e região de moradia - não têm a mesma precisão das cara a cara, pois chegam apenas aos telefones fixos, quando a grande maioria das pessoas de menor renda usa celulares. Isso não as inviabiliza, mas exige que se incorpore uma margem de erro maior ou uma correção na margem entre os mais pobres.
                      
2. Quando se quer realizar uma sondagem, sondagem repita-se, usa-se a pesquisa telefônica, recortando apenas por região, e pulverizando ao máximo. Esse tipo de sondagem, quando ocorre em série, vai dando uma noção efetiva de tendência. E quando é feita por quem tem uma longa experiência de pesquisas naquele Estado, é ajustável para se deduzir qual seria o resultado aproximado no caso de uma Pesquisa de Opinião.
                     
3. Institutos que realizam sondagens -telefônica-espacial- não as divulgam  para que não sejam confundidas com Pesquisas de Opinião. Mas elas são balizadoras, orientadoras.  Sondagens desse tipo, em série, mostram um cenário futuro extremamente competitivo nas eleições para governador do Estado do Rio. Procura-se antecipar para hoje os cenários que o eleitor enfrentará em julho de 2010, e assim, perguntar em quem votaria.
                   
4. Uma série dessas sondagens adjetiva o nome de Sérgio Cabral como governador atual, apoia Dilma e é por ela apoiado, fez as UPAs (postos de saúde 24 horas), realiza uma política de segurança pública de confronto... Garotinho é adjetivado como ex-governador e ex-secretário de segurança da Rosinha, fez cheque cidadão, asfaltou estradas, fez a farmácia popular de idosos. Gabeira é apresentado como político que defende o meio ambiente e a liberdade das pessoas para decidir sobre seus valores e costumes, afirma sempre a ética e apoia a senadora Marina Silva e é por ela apoiado. Lindberg é apresentado como prefeito de Nova Iguaçu, reeleito, pertence ao PT do presidente Lula, e é próximo ao presidente há vários anos.
                   
5. Com essa tabela de qualificações, a eleição para governador embola, com todos os 4 candidatos muito próximos, com um pouco mais de 20%. E na série de cinco sondagens desde setembro, as posições se alternam, mas sempre na margem de erro (se fosse uma pesquisa de opinião).
                   
6. Essas sondagens são feitas em no máximo três dias, de preferência num só, com 4 mil telefonemas curtos, com a pergunta e as qualificações e se troca de ordem os nomes a cada telefonema. Usa-se 50 jovens telefonando durante o dia e a noite, apresentando o curso superior que cursam: Fulano, aluno de jornalismo da Faculdade tal...; sicrano, aluno de direito da faculdade qual..., etc.
                   
7. Num quadro como esse nenhum dos 4 pode dizer que estará no segundo turno e todos eles poderão estar no segundo turno.