quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Finalmente acendeu uma luz na Oposição: Cesar Maia descobre que só existe Lula para 2010

No Ex-Blog de hoje, Cesar Maia (DEM) reproduz seu artigo de sábado na Folha com análise das eleições 2010, onde, logo no título, entrega o ouro: “AGENDA DE LULA EM 2010 É LULA!”. Começa o texto tentando minimizar a capacidade de transferência de votos de Lula. Depois, usando como tema o duelo de agendas, toma o exemplo da eleição de Obama para mostrar que só no final Obama pôde vencer com a imposição da agenda econômica diante da crise financeira. Cita a agenda de “ética pública e modernidade econômica” de Collor, e as agendas econômicas de Fernando Henrique e Bill Clinton. Tudo certo. E 2010? Diz Cesar Maia: “Pelo jeito, a campanha do governo já tem a sua agenda: Lula. Todo o resto (PAC, Bolsa Família, saída da crise...) será miragem. Lula é uma agenda forte e vencedora? Pode ser. Mas agenda se disputa na batalha eleitoral. Se essa agenda for o debate da campanha, ela/ele ganha. Cabe à oposição impor a sua. Mas, para isso, precisa ter agenda. Por enquanto, nem candidato tem. E a agenda precisa ser personalizada pelo ator que caiba nesse papel”. Cesar Maia está certo quando diz que a agenda será “Lula”. Mas está erradíssimo quando separa “Lula” de “PAC, Bolsa Família e saída da crise”. “Lula” é a tradução de tudo isso e muito mais. É autoestima da população mais pobre. É autoestima do povo brasileiro no cenário mundial. É “estar de bem com a vida”. Onde encontrar um décimo de tudo isso nos outros candidatos, sem apoio de Lula? É na escuridão dessa dúvida que a Oposição amarga o seu apagão. Veja o texto completo:

A agenda


O culto à personalidade chegou ao Brasil com pompas e circunstâncias. A elevada autoestima de Lula, exibindo-se todos os dias, por qualquer razão, terá o seu momento de apoteose com a exibição do filme "Lula, o Filho do Brasil".
A distribuição para 800 salas de exibição, sindicatos e associações será suplementada e multiplicada pelos ambulantes. A sensação que passa é que há interesse para que seja assim. Os desdobramentos políticos se darão em duas direções: a "enanização" do papel de sua candidata e a campanha presidencial de 2010. Não é tão simples supor que sua acomodação no marsúpio lulista a levará à Presidência. A mercadologia eleitoral mostra que a transferência de votos se dá com mais facilidade quando o perfil do receptor se aproxima do perfil do emissor. A exaustiva insistência na origem retirante de Lula não o identifica com sua candidata. Isso pode causar desconfiança.
Mas a questão central é a agenda eleitoral. Se há algum consenso entre os especialistas é que a disputa entre os candidatos para impor sua agenda é um fator decisivo em campanhas. Um caso recente é o da eleição de Obama.
O folclore pós-eleitoral deu à internet um papel decisivo. Não houve isso. A curva das pesquisas até 60 dias antes da eleição mostrava McCain à frente, cristalizando uma pequena, mas sustentável, diferença. A agenda bushiana de McCain se impunha: melhor as guerras no Iraque e no Afeganistão que o terror em casa. Naquele momento, naufragou o Lehman Brothers, as Bolsas despencaram, as demissões começaram e a fragilidade do sistema financeiro expôs as suas vísceras.
A agenda foi invertida e passou a ser a crise e o emprego. As curvas das pesquisas se cruzaram e Obama desfilou até a vitória final. Em 1989, Collor impôs a sua agenda: ética pública e modernidade econômica ("marajás" e "carros-carroças"). A força da agenda lançou a imagem de seus adversários de maior peso parlamentar e tempo de TV ao passado e a votações desprezíveis. Em 1998, a campanha de FHC travestiu a crise econômica de insegurança aportada pela chapa Lula-Brizola e impôs a agenda. Bill Clinton, em 1992, impôs sua agenda ("é a economia, estúpido").
Pelo jeito, a campanha do governo já tem a sua agenda: Lula. Todo o resto (PAC, Bolsa Família, saída da crise...) será miragem.
Lula é uma agenda forte e vencedora? Pode ser. Mas agenda se disputa na batalha eleitoral. Se essa agenda for o debate da campanha, ela/ele ganha. Cabe à oposição impor a sua. Mas, para isso, precisa ter agenda. Por enquanto, nem candidato tem. E a agenda precisa ser personalizada pelo ator que caiba nesse papel.