Não entendo porque tanto estardalhaço contra essa viagem de Ahmadinejad pela América Latina. Ou melhor, entendo, mas o exagero é muito grande. Ele faz simplesmente o que deve fazer como dirigente de um país com a riqueza energética e a importância do Irã: busca parcerias comerciais e estratégicas. E o Brasil deve evitar essa aproximação? Claro que não. Há interesses comuns não apenas no setor de energia, mas também na agricultura e até mesmo na regulação do sistema financeiro. O Brasil deve evitar Ahmadinejad por causa dos conflitos no Oriente Médio? Ao contrário, não apenas devemos nos aproximar como ir além, tentar contribuir para uma solução. O Irã quer acabar com Israel? Pode apostar que a recíproca é verdadeira (e o que se faz na Palestina comprova isso). Ahmadinejad comete o absurdo de negar o Holocausto? Comete, sim, é verdade.Não é uma posição isolada, mas, sim, de uma corrente de pensamento da qual ele faz parte. Poderemos falar sobre muitos pontos de atraso na cultura do Irã ou de Israel, como contra as mulheres, por exemplo. Mas o importante é compreendermos que a paz não se constrói pensando apenas em uma das partes. Até recentemente, a paz era estabelecida a partir da força Israel-EUA. Os árabes ganharam mais poder (graças ao petróleo), o Hesbolá mostrou do que é capaz militarmente, o Hamas idem, a invasão do Iraque foi uma tragédia americana e o Irã, do alto de suas reservas petrolíferas, resolveu falar de igual para igual com os adversários. A energia nuclear e as armas nucleares – antes restritas a Israel – passaram a ser uma alternativa para o lado muçulmano. Cabe ao Brasil, como país que se projeta no cenário internacional, não se deixar levar pelos fluxos interesseiros dos meios de comunicação. Podemos fazer bons acordos comerciais e políticos com ambas as partes, e também, quem sabe, contribuir com uma gota de paz para aquele deserto regado a ódio.