David Matsumoto, professor de psicologia da Universidade de San Francisco (EUA) e
fundador da Huminell, empresa de serviços para análises de comportamento
não-verbal, faz semanalmente, em Los Angeles, depoimento a Fernanda Ezabella (Folha) com análise dos nossos principais políticos a partir de seus discursos gravados em vídeo. A sua seção "Está na cara" deste domingo está particularmente perspicaz. Começa pelo título: Serra tem "prazer do trapaceiro". Matsumoto inicia a análise pelo discurso de Lula no 7 de Setembro, ficando com "uma forte impressão de seus sentimentos, fortes e honestos". Depois passa para Serra, com sua "indignação" declarada com sorrisos inapropriados, para concluir que suas expressões são "exemplos do que chamamos de "dupers delight", algo como "prazer dos
trapaceiros", nos quais uma pessoa que não é totalmente franca está
curtindo em não ser totalmente franca". Veja o texto completo:
Serra tem "prazer do trapaceiro"
David Matsumoto
Esta semana analisei o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, através de um vídeo que ele gravou para Dilma Rousseff no Dia da Independência.
Ele parece bastante intenso, provavelmente bravo e amargo com a campanha eleitoral. Diversas vezes, tensiona as pálpebras e abaixa suas sobrancelhas não apenas para intensificar o que está falando, mas também para mostrar sua irritação.
Dado o conteúdo do discurso, me pareceu que suas expressões eram apropriadas. Quando ele menciona "nosso adversário", ele passa uma grande repugnância, o que parece demonstrar bem a intensidade de seu sentimento sobre a questão.
Lula também dá um rápido microssorriso para dizer que os "brasileiros saberão repelir" a campanha rival. Foi um sorriso de convicção. Fiquei com uma forte impressão de seus sentimentos, fortes e honestos. O segundo vídeo que analisei trouxe o candidato do PSDB, José Serra. Mais uma vez não fiquei com uma boa impressão do que vi.
Por exemplo, quando ele fala que está "indignado" com o escândalo do sigilo fiscal violado de seu genro, ele está sorrindo. Eu não vejo muita indignação. Suas expressões faciais eram muito inconsistentes com o que ele estava falando.
Ele dá o mesmo microssorriso quando fala que os crimes não são contra ele pessoalmente e sim contra o próprio Brasil. Quando diz que o PT debocha das vítimas, percebi outro microssorriso. Serra amplifica seu discurso de forma apropriada com gestos e expressões faciais, mas sem emoção. Parece que estava tentando muito convencer o espectador de sua sinceridade, mas, com esses exemplos que eu citei, suas expressões foram totalmente inconsistentes com sua fala.
Penso que esses podem ser exemplos do que chamamos de "dupers delight", algo como "prazer dos trapaceiros", nos quais uma pessoa que não é totalmente franca está curtindo em não ser totalmente franca.