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terça-feira, 22 de abril de 2008

Eleição americana: o tudo ou nada da Pensilvânia

Reproduzo esse texto de Lucas Mendes, no site da BBC, que descreve muito bem o cenário da disputa de hoje, na Pensilvânia, entre Barack Obama e Hillary Clinton:
Milagre de dois dígitos
Depois de seis semanas sem primárias, mas ricas em campanhas negativas e caras, temos mais um momento decisivo. Com seus 158 delegados, a Pensilvânia é o último dos grandes Estados, mas há décadas não tinha papel tão importante em eleições primárias, porque em geral estavam já decididas quando chegava sua vez de votar. Há seis semanas Hillary Clinton estava liderando em algumas pesquisas com 20 pontos de vantagem. Neste fim de semana, pela primeira vez, uma das pesquisas colocou Obama um ponto na frente da senadora, mas a média está entre cinco e seis pontos a favor dela. Se ganhar por esta margem a campanha vai continuar em crise. Hillary Clinton precisa de uma diferença de dois dígitos, dez pontos percentuais, como aconteceu em Ohio, ou mais, encheriam as velas da senadora, dos republicanos que querem ver mais sangue democrata e deixariam a campanha de Obama em crise. Ela iria para as outras primárias com novo impulso e argumentos para conquistar superdelegados. Ambos derramaram dinheiro no Estado, mas o senador gastou quase o triplo. Na terra de Rocky Balboa, adotado como um dos símbolos de Hillary, que não joga a toalha branca, o senador quer um nocaute para não arrastar a campanha até Indiana - onde ela é favorita - e Carolina do Norte, onde ele lidera graças ao voto negro. E caso ele não derrube Hillary Clinton nesta terça-feira a campanha vai esticar até junho, talvez até a convenção. Rural e urbano, um microcosmo dos Estados Unidos, um dos berços da revolução industrial, o Estado construiu o país com suas estradas de ferro, minas de carvão e usinas de aço. Hoje vive uma prosperidade high-tech cercada de decadência nas antigas cidades industriais. O Estado tem cidades muito liberais e regiões onde dominam religiões fundamentalistas e culto às armas. Barack Obama é favorito nos subúrbios ricos, nos centros universitários - e são muitos - e entre os negros, que representam 10% da população, a maioria concentrada nas duas grandes cidades, Filadélfia e Pittsburgh. Hillary leva vantagem entre os homens mais velhos, as mulheres em geral, entre os católicos, na classe média pobre e nas áreas rurais. A família dela tem uma conexão com a Pensilvânia. O pai nasceu e foi enterrado em Scranton, onde ela passou boa parte da infância. Nas últimas semanas ela cruzou o Estado com uma disposição desesperada, bebendo uísque e cerveja nos bares, populista e com histórias sobre caçadas de patos. O marido Bill e a filha Chelsea, em geral separados, comparecem a pelo menos quatro eventos e comícios por dia. Até a semana passada a campanha do senador Obama tinha sido moderada nos ataques, mas a participação dele no último debate, semana passada, foi fraca, e os marqueteiros decidiram revidar as críticas de Hillary, em dobro. Os candidatos gastaram milhões para registrar novos eleitores, e agora o Estado tem mais 327 mil democratas. Bom para o partido, mas não necessariamente para Hillary. Uma pesquisa mostrou que a maioria tem de 18 a 24 anos e 62% planejam votar em Barack Obama. Desde domingo, diante dos gastos em publicidade e do crescimento de Obama nas pesquisas, os assessores da senadora baixaram as expectativas e acham que se ganhar por 6 ou 7 pontos será ótimo e ela poderá continuar até Indiana e Carolina do Norte e além. Cinco pontos ou menos é o fim. Além disto, a campanha dela está endividada, enquanto a dele tem dinheiro de sobra. Um resultado ruim vai secar os cofres da senadora. Como aconteceu em Ohio, eu acho que ela pode contrariar as pesquisas e conquistar os 2 dígitos milagrosos. Senão, é hora de parar com minhas previsões, de ela dizer bye bye e dar vivas a Obama.

sábado, 1 de março de 2008

Primeira Dama?

Peguei esse texto de Lucas Mendes, no site da BBC, sobre a mulher de Barack Obama, Michele LaVaughn Robison Obama:
Damobama
Michele LaVaughn Robison Obama. Com este nome franco-africano Dama Obama, dia-a-dia mais primeira, é, como o marido, a realização de um sonho americano, mesmo sem chegar à Casa Branca. Nasceu na parte pobre de Chicago, filha de um funcionário público municipal que trabalhava do departamento de águas e teve distrofia muscular aos vinte, Michele cresceu num apartamento de um quarto com o irmão Craig, um atleta que conseguiu entrar em Princeton pela quadra de basquete. Apesar das limitações, era uma família unida, com uma mãe afetuosa e um pai que jamais levantou a voz com um deles. Bastava dizer: "você me decepcionou" e eles desmontavam. Michele, que não tinha um currículo acadêmico excepcional, também conseguiu entrar em Princeton e acha que foi mais pelo talento do irmão do que o programa de quota ação afirmativa para integração racial. Na universidade ela conta que nunca se sentiu tão negra. Cercou-se de amigas negras e freqüentava a o café Third World Campus, um ponto de encontro de várias raças e poucos brancos que preferiam os restaurantes e clubes mais tradicionais da universidade. Michele via na atitude deles a superioridade e a condescendência de quem dizia "você está aqui só pela cor". A tese de sociologia dela foi sobre esta experiência de ser negra numa das universidades mais exclusivas do país, mas ela não mostra nem fala sobre a tese. Diz que não se lembra direito. Conseguiu outra façanha acadêmica ao ser aceita na Faculdade de Direito de Harvard, aí sim, por notas e mérito, de onde saiu para uma firma de advogados poderosos de Chicago onde tinha um salário alto, mas se entediou com o departamento de direitos autorais. Lá conheceu um advogado novato que chegou com fama de gênio, também vindo de Harvard e foi incumbida de treiná-lo, mas depois de pouco tempo ele propôs que saíssem juntos. A princípio relutou e não estava tão impressionada com o gênio. No primeiro encontro foram para o porão de uma igreja onde Obama arregaçou as mangas e falou para grupo de pobres da vizinhança sobre "o mundo como é e como deveria ser". À noite e nos fins de semana ele era líder comunitário e Michele percebeu que estava diante de um homem diferente.
Depressão
Ela teve uma crise de depressão em 91 com a morte do pai e de uma das melhores amigas, deixou o emprego bem pago de advogada e foi trabalhar por muito menos para prefeitura de Chicago. Hoje ganha US$ 275 mil por ano como executiva de um hospital responsável por um programa que leva médicos para comunidades pobres. Quando Obama decidiu disputar a cadeira do senado em 2003 ela tentou fazê-lo mudar de idéia e estava cheia de dúvidas sobre a campanha presidencial, preocupada com a segurança do marido e com a fonte do dinheiro. Exigiu, entre outras coisas, que ele parasse de fumar. Michele não participa do debate sobre a plataforma política nem da estratégia da campanha, mas está sempre envolvida. Antes da primária de Iowa ela fez 33 discursos em 8 dias. O casal tem duas filhas de 6 e 9 anos e o senador abre a agenda para reuniões de pais na escola, shows, festas e aniversários das filhas. Diante de obamistas deslumbrados que vêm nele mais do que um homem, Michele cuida da humanização do marido: ele ronca, tem mau hálito de manhã, deixa meias espalhadas pela casa e a manteiga fora da geladeira. Com 1,80 m no salto alto, um corpo sólido sem gordura á vista, é uma mulher vistosa como dizem em certas partes do Brasil. Leva fama de mandona, mas, com mais de mil aparições públicas, recebeu poucas críticas. Uma quando perguntaram se apoiaria Hillary Clinton caso fosse a candidata do partido, Michele disse que precisaria pensar, mas depois disse que a resposta foi editada e que apoiara sem hesitar. A outra quando disse que "pela primeira vez na vida sentia orgulho do país". Esta, até hoje, ela e o marido estão tentando corrigir. E há uma outra correção que ela poderia ter feito com seu salário de US$ 275 mil e ainda há tempo: uma visita ao ortodontista.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Alberto Dines pensa que a imprensa tem o dom de buscar a verdade

Estive duas vezes pessoalmente com Alberto Dines. Na primeira vez, era estudante de Comunicação e estava representando minha faculdade (FACUnB) na busca de financiamento (pelo valoroso JB da época, quando Dines era nome forte por lá) para uma pesquisa de audiência de rádio no Distrito Federal. Na segunda, foi em um bate papo na redação da sucursal da Bloch em New York (se não me engano, Paulo Francis e Lucas Mendes estavam presentes, ou pelo menos um deles). Fiquei com boa impressão que sempre me acompanhou. Mas nem sempre concordei com o que escreveu. Como é o caso desse seu texto no Globo de hoje, "A imprensa pensa ter o dom da verdade". Não concordo com muita coisa, mas quero discutir especificamente sua frase final: "A imprensa não pensa que tem o dom da verdade, ela somente busca a verdade". Infelizmente, isso não é verdade. Talvez a "busca da verdade" seja um ideal, uma meta a ser alcançada. Ou simplesmente um desejo de Dines. A imprensa busca muito mais o sucesso. Seja o sucesso financeiro, seja o sucesso de audiência, seja o sucesso pessoal. A coisa chegou a tal ponto que a "diferença de princípios" que o jornalista sentia com relação aos publicitários deixou de existir: ambos não apenas aceitam, como azeitam os negócios - com a diferença que isso faz parte da função dos publicitários. O dom de buscar a verdade deveria ser inerente à profissão do jornalista, mas, no mínimo, não tem sido. E não tem sido isso já faz muito tempo, como demonstra a série de manchetes do jornal "Le Moniteur", de 1815, "noticiando" o avanço de Napoleão Bonaparte (com 1.200 homens) rumo a Paris, saindo da ilha de Elba. Já publiquei aqui com o título de "Napoleão e a imprensa", no dia 7 de agosto de 2006, e repito agora:
• O ogro da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan. • O tigre chegou a Gap. • O monstro dormia em Grenoble. • O tirano atravessou Lyon. • O usurpador está a quarenta léguas da capital. • Bonaparte avança a grandes passos, mas nunca entrará em Paris. • Napoleão estará amanhã em frente das nossas muralhas. • O Imperador chegou a Fontainebleau. • Sua Majestade Imperial entrou no Castelo das Tulleries, no meio dos seus fiéis súditos. Moral da história: como é difícil ser jornalista!