Há quem diga que é herança da monarquia, mas até onde se lê de histórias sobre a nossa realeza, quero dizer a que antecedeu à proclamação da República, a família real não era chegada a essas misturas de interesses públicos com vantagens pessoais. Havia um cuidado enorme até porque a autoridade do monarca não se apoiava só na força dos seus exércitos, mas também na força moral dos seus bons exemplos. Pelo respeito que inspirava, fortalecia-se na devoção popular. Tanto que a República no Brasil não chegou a ser nem um golpe de estado. Quando o Imperador Pedro II assentiu em largar tudo e ir embora nem bandeira havia para simbolizar o novo momento da história. Por quase uma semana ficou hasteada na porta da Câmara Municipal uma bandeira que só diferenciava-se da norte-americana nas cores e na quantidade de estrelas. Foi quando entrou na história o nosso estimado Raimundo Teixeira Mendes, conterrâneo ilustre, amigo de Dona Flora, a costureira que em três dias fez a nossa bandeira republicana, conforme o desenho que ele lhe havia entregado. Exatamente essa dos versos de Bilac – salve lindo pendão da esperança, salve símbolo augusto da paz... Pois na monarquia, que se esvaiu depois da canetada da Princesa Isabel, acabando com o trabalho escravo, os cuidados eram enormes. O Imperador tinha um genro conhecido como Conde Deu. Dizem que ele passou aqui por São Luís, foi vaiado pelos estudantes no Largo do Carmo. Mas, se não deu, também não levou nada. Eram assim os familiares da realeza daqueles tempos, não misturavam mesmo, não avançavam no que era dos outros, não ficavam com nada do erário, não queriam as dádivas de Deus, nem as coisas da natureza nem os direitos das leis só para si. Não tomavam nada de ninguém. Eram até mais republicanos do que muitos que se acham republicanos nos nossos dias. Já na nossa República, infelizmente, que pena! Afora os ascendentes, os descendentes e os colaterais, ainda proliferam os áulicos. É que os parentes, de todos os gêneros e graus, se julgam tocados pela magia do poder e, sempre que os demônios atentam, eles tentam provar que têm prestígio e que podem também alguma coisa. Há as exceções que a prudência e a boa educação mandam sempre que se faça. Como há também aqueles que até que não são do mal, querem sempre estar do lado do bem, mas que nem por isso, tendo uma chance, querem também se mostrar – às vezes até por um sonho de valsa. Há ainda os que vendem e não entregam. Isso de amigo vender amigo, parente vender parente é tão antigo. No Velho Testamento vamos encontrar a história do décimo primeiro filho de Jacó, chamado José, sendo vendido pelos filhos, epa pelos filhos, não, ele ainda era de menor, só tinha 17 anos de idade quando foi vendido na casa de Potifar, no Egito. Para a sorte de todos, ele só depois, aos 30 anos, se tornou Governador. No Egito, é claro. Muito posteriormente, um gênio da raça, um sujeito com uma história de vida brilhante, nascido numa ilha perdida, possessão francesa na Itália, de uma família pobre, mas numerosa, já estando próximo dos píncaros da glória cunhou, este conselho que, embora lembrado por muitos governantes, não chegou a ser praticado por todos - olha a família, gente, cuidado com a família! Napoleão Bonaparte, grande estadista, um incansável trabalhador, um visionário que plantou no seu tempo as sementes do que é hoje a União Européia, ele próprio sucumbiu ao descumprimento de sua própria advertência. Distribuiu o seu poder imperial entre a parentela e acabou como acabou. The end.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
A Família, cuidado com a família!
Edson Vidigal, ex Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA - além de jornalista (escreve para o Jornal Pequeno, do Maranhão) -, leu aqui no Blog a postagem Política e elos familiares e resolveu enviar sua contribuição sobre o tema: