segunda-feira, 18 de junho de 2007

Papo de mesa de bar: "Misturaram mulher magra com boi gordo - não podia dar certo..."

Não entendo muito de boi. Mas meu amigo Alceu Gama foi atrás de um amigo que entende e reproduzo o texto do seu site:
Contas de Renan Calheiros não batem. O presidente do Senado, senador Renan Calheiros, acredita que são convincentes as explicações sobre seus ‘rendimentos agropecuários’ que garantiam a mesada de 16 mil reais para a jornalista Mônica Veloso. De ordem do Conselho de Ética do Senado, investigadores viajaram a Alagoas para verificar se as notas fiscais apresentadas pelo senador condizem com a verdade. Por que não perguntar a quem conhece o assunto? Sim, quem entende de boi é fazendeiro. O senador Renan Calheiros é a bola da vez, a última piada por esse Brasil afora nas fazendas e rodas de bate-papo de pecuaristas. A conta não fecha. Nem que a vaca tussa. Um amigo meu, engenheiro civil, empresário, é também fazendeiro em Carlos Chagas, norte de Minas Gerais. A fazenda é um primor de organização, de terra boa e capim excelente. Ali o boi engorda com facilidade. Meu amigo limitou a capacidade da fazenda em 600 bois para não detonar as pastagens. O escritório do meu amigo acompanha diariamente a cotação da arroba do boi para vender na melhor época ao frigorífico de Carlos Chagas, que tem uma linha de exportação para Israel, paga os melhores preços, e ainda vai buscar o gado na porta da fazenda. Tudo muito bem estruturado. Eu perguntei a ele – já sabendo a resposta – sobre a produtividade das fazendas do senador: 1700 cabeças, lucro líquido de 1 milhão e 900 mil reais. “Impossível” – disse o meu amigo. Ele acompanhou as reportagens sobre os ‘rendimentos agropecuários’ de Renan Calheiros e achou muito estranha a declaração do gerente da fazenda. O capataz informou à reportagem do Jornal Nacional da Rede Globo que havia 1.100 cabeças. O senador desautorizou a informação. O total soma 1.700. A diferença atinge 600 cabeças, todo o gado da fazenda do meu amigo em Carlos Chagas. “Gerente não sabe quantas cabeças de gado tem na fazenda?” – pergunta o meu amigo. “O senador, que vive em Brasília, e raramente vai à fazenda, sabe mais do que o gerente? Tem coisa errada. Gerente sabe esse número na ponta da língua. É a profissão dele que está em jogo. E se há divergência entre o senador e o gerente, a administração da fazenda é precária. Vender essa quantidade de gado para açougue? Pecuarista só vende para açougue o boi que sofreu acidente, foi sacrificado, a preço vil, sem recibo. Açougue vai dar recibo por um ou dois bois? Se há esse movimento todo na fazenda do senador não faz sentido que as vendas sejam feitas para açougue.” Agora eu peço licença para contar a minha experiência. Eu vivi três anos – três temporadas de seis meses – em Queensland, Austrália, na gigantesca Lawn Hill Station, a fazenda do lendário pecuarista Tião Maia. Apesar de ter sido em 1988, quase duas décadas se passaram, a análise não perdeu prazo de validade. O gado australiano vale 3 vezes mais, em dólar, do que o boi brasileiro. A produção de carne australiana concentra-se em dois mercados que pagam bem: Estados Unidos e Japão. A fazenda de Tião, com 1 milhão de hectares, estava no fundo de poço se considerarmos a quantidade de bois nos retiros. Eram apenas 17 mil cabeças quando ali caberiam mais de 100 mil. Tião estava reformando o plantel, substituindo a raça Short Horn, australiana, pelo gado indiano desenvolvido nos Estados Unidos, o Brahma, parente do Nelore, que é o mesmo animal das fazendas do senador Renan Calheiros. Eu vi, ninguém me contou. Sabem qual foi o lucro líquido de Tião Maia ao final da temporada de 1988? Ele apresentou-me as contas sorridente, orgulhoso. “Lucro líquido de 500 mil dólares australianos.” O lucro de Tião na fazenda de 17 mil cabeças, vendendo todo o gado que precisava ser descartado, foi o equivalente a 900 mil reais. Senador Renan Calheiros, conte outra história. Essa do ‘rendimento agropecuário’ em Alagoas é para boi dormir.