quarta-feira, 6 de junho de 2007

A verdade de cada um

Dias atrás fiz uma postagem chamada "A verdade sobre Renam", onde escrevi: "A verdade é que este não é o momento de se falar a verdade. Os escândalos são tão poderosos, ameaçam de tal forma a confiança nas instituições, que não há quem deseje um avanço mais profundo nas investigações e nas acusações. Ao se fazer uma limpeza ética, teme-se, a própria democracia pode ser varrida. O que não deixa de fazer sentido. Renam sabe muito bem disso tudo. E sabe também que é no medo de verdades que está sua salvação política". A propósito dessa postagem, a leitora Vera me perguntou: "Por que você diz, aparentando tanta certeza, que 'é no medo de verdades que está a salvação polí­tica' do senador Renan? Parece que você sabe quais são as verdades, mas também não as indica. Por quê?" Primeiro, quero esclarecer que não detenho "verdade" alguma sobre o Renam ou quem quer que seja. Apesar de também ter visto as notícias com denúncias sobre ele, não acho que seria o caso de reproduzir aqui. Mas quero esclarecer que, no mundo político (e na vida em geral), uma percepção - mesmo que não corresponda a um fato, algo concreto - pode ser mais forte e demolidora do que o fato em si. Veja o caso do Collor. Na época, todo mundo falava de roubalheira generalizada no governo, em centralização do roubo, em aumento das "comissões", etc. Chegaram a falar até que o grupo palaciano tinha realizado uma grande comemoração quando atingiu "o primeiro bilhão arrecadado". Diziam também que ele só foi cassado porque não fez acordo com o Congresso, não quis repartir o bolo. Alguém tem prova disso tudo? Não creio que haja provas concretas - mas sempre acreditei que era tudo verdade. É dessa "verdade" demolidora que o político tem mais medo. Buscar "verdades" sobre Renam pode significar encontrar outras "verdades". E, de percepção negativa em percepção negativa, muitos mandatos e até mesmo as instituições democráticas poderão vir abaixo. Eu, pessoalmente, não acreditei em nada do que o Renam falou. E, como já disse, duvido que algum político tenha acreditado. Mas creio também que ninguém no Congresso ou no Governo pretende arriscar uma busca mais profunda da verdade. O medo maior é de todo mundo afundar, levando junto a democracia.