quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Acidente da TAM: dessa vez. os Deputados perderam a corrida do vazamento

A Folha de hoje saiu na frente e divulgou informações sobre o acidente do Airbus da TAM que a CPI do Apagão só terá acesso na sua próxima reunião "secreta". Quem vazou não se sabe. Pode ter sido alguém da Aeronáutica, do Ministério da Defesa, de outro setor do Governo, dos especialistas americanos, do fabricante do Airbus, das empresas aéreas, quem sabe? Uma coisa parece certa: os Deputados não tinham condições de conhecer o conteúdo por dois motivos: 1) os CDs estão lacrados, para primeiro acesso em grupo; 2) O Painel da Folha antecipou a ducha de água fria que haveria na CPI: "Anticlímax. O frissom que tomou conta da CPI do Apagão com os dados das caixas-pretas do Airbus da TAM sofrerá duas duchas de água fria. Os deputados não devem ouvir os diálogos da cabine (o áudio só pode ser aberto com um programa de computador que a CPI não tem). Além disso, a transcrição está em inglês". A questão é: a quem interessava a divulgação antecipada? Seria uma vacina do Governo contra possíveis diatribes dos Deputados? Seria a Infraero tentando provar antes de tudo que a pista não teve culpa? Seria Nelson Jobim tentando evitar holofotes demais realçando os Deputados? Seria a Airbus correndo na frente para fixar a idéia de que foi erro humano, falha dos pilotos? Seria apenas uma questão financeira, alguém querendo ganhar uns trocados na venda da informação em primeira mão? Seja qual for a motivação, não resolveu o principal: as causas ainda não inteiramente determinadas. A reportagem da Folha não traz a palavra final, mesmo porque talvez não haja uma causa única. A única certeza que temos até agora é que, entre as causa possíveis (pista, piloto, TAM, Airbus, etc.), a pista é a que teve menos culpa - se é que teve. Isso mostra ou a incompetência da mídia na pressa em encontrar culpados sem investigação completa ou a competência da mídia em criar uma crise para o Governo Lula. Veja trechos da reportagem da Folha ("Caixa-preta do Airbus indica falha de piloto"):
A caixa-preta do Airbus-A320 da TAM que caiu em São Paulo no dia 17 indica que houve erro do piloto na operação da alavanca de aceleração das turbinas, além de captar o desespero dos pilotos em tentar frear o avião no solo. Embora menos provável, uma pane no computador do avião também não pode ser descartada, isoladamente ou em conjunto com o provável erro humano.

A primeira falha, cuja hipótese havia sido antecipada pela Folha na semana passada, ocorreu pouco antes do pouso, quando o manete de controle do motor direito foi mantido numa posição de aceleração. Deveria estar em ponto morto, como o outro manete.Ao pousar, os sistemas eletrônicos interpretaram esse procedimento como um desejo do piloto de acelerar. As duas turbinas passaram a acelerar automaticamente. Os freios aerodinâmicos não foram acionados. O freio automático dos pneus também não funcionou.Pode ter contribuído para a aceleração anormal um segundo erro: apenas o manete da turbina esquerda foi colocado na posição de reverso máximo. Essa turbina estava com o reversor, equipamento que auxilia a frenagem ao inverter o fluxo de ar na turbina, funcionando -a outra, não.Mesmo com o reversor inoperante na turbina direita, o procedimento correto deveria ter sido colocar ambos os manetes em reverso. Mas o direito permaneceu acelerando, segundo o registro.

Houve outros acidentes semelhantes com o A320 atribuídos a falha do piloto.

Perdendo o controle, o piloto então tentou parar o avião pressionando os dois pedais à sua frente, freando os pneus do trem de pouso. Ao mesmo tempo, com as mãos, segurou o quanto pôde o mecanismo interno que controla a direção da bequilha, a roda da frente do equipamento. Mas as turbinas continuaram a acelerar.

O arquivo de áudio a que a Folha teve acesso revela que o piloto e o co-piloto emitem frases lacônicas, mas importantes.Ao tocar o chão na pista principal de Congonhas, uma voz na cabine diz: "Reverso um apenas". Ou seja, o piloto e o co-piloto sabiam que só um reversor estava operante. Em seguida, outra frase: "Spoiler nada...". Ou seja, os spoilers (freios aerodinâmicos na parte de cima das asas), que abrem automaticamente no pouso, não funcionaram.O tom fica dramático: "Desacelera, desacelera, desacelera!". Aumenta o pânico: "Não dá, não dá, não dá". Por fim, a frase já conhecida: "Vira, vira, vira".

Assim que o Airbus tocou o solo, as duas turbinas voltaram a ser acionadas. Uma delas estava com o reversor acionado (do lado esquerdo) e o fluxo de ar passou a ser invertido, ajudando a frear um pouco o equipamento. Do lado direito, porém, a turbina continuou a aumentar a força, como se o avião tivesse de fazer nova decolagem. Pela tentativa do piloto em "segurar" o avião, é possível que ele tenha adernado à esquerda já no começo do pouso.Sobre a pista de Congonhas, as caixas-pretas ainda não encerram a polêmica. Mas o fato de o piloto ter conseguido manter o avião na pista indica que a aderência não poderia estar muito abaixo do padrão.