domingo, 16 de agosto de 2009
Marina Silva, fatos e versões
Considero como fato a saída de Marina do PT. Mas as versões sobre sua saída estão de tal maneira distorcidas que às vezes fica difícil até mesmo entender o que se pretende. Vamos ao mais simples. A primeira notícia mais bombástica é a de que a sua candidatura vai causar grande estrago na candidatura apoiada por Lula para a próxima eleição presidencial. A Época desta semana, que tem Marina na capa, chega a afirmar que a simples hipótese de sua candidatura “abalou os fundamentos de uma disputa eleitoral que caminhava para ser um modorrento plebiscito entre a candidata do governo, a ministra Dilma Rousseff (PT), e o principal nome da oposição, o governador paulista, José Serra (PSDB)”. Não consigo entender que fundamentos foram abalados e fico ainda mais confuso quando vejo reportagem do Estadão dizendo que “Pesquisa dá Dilma atrás de Marina em dois cenários”. Quando leio a pesquisa do Ipespe (coordenada por Antonio Lavareda), telefônica, com 2 mil entrevistas feitas em 22 e 23 de julho, percebo que o Deus nos acuda é ainda maior: Marina já teria 10% das intenções de votos e, em cenário sem Heloísa Helena, teria 24%!!! Prefiro me aliar a César Maia e Eliane Catanhêde e dizer que talvez as coisas não sejam tudo isso que se fala. A pesquisa Datafolha (4.100 entrevistas entre 11 e 13 de agosto) divulgada ontem (que mostra Marina com 3% das intenções voto) dá apoio a esse pensamento. O Datafolha mostra que os dois candidatos aliados de Lula (Dilma e Ciro) têm mais de 30% das intenções de voto (enquanto Serra oscila de 38% para 37%). E diz mais: que um candidato apoiado por Lula teria 42%. Que fundamentos, então, foram abalados? Claro que há um efeito psicológico inicial. Mas Heloísa e Cristovam também tiveram em 2006. César Maia lembrou isso e também foi buscar o exemplo guatemalteco das eleições presidenciais de 2007. Escreveu em seu Ex-Blog: “As eleições abriram com Rigoberta Menchú, líder indígena e ambiental e ícone internacional com Prêmio Nobel da Paz em 1992, liderando (...) com folga as pesquisas. No final obteve apenas 3,09% dos votos no primeiro turno, em sétimo lugar”. César Maia conclui com “Aprender sempre é bom. Até para evitar os mesmos erros”. Ele evidentemente está preocupado com o estrago que Marina pode fazer em sua campanha no Rio. Gabeira, candidato a Governador pelo PV, seria um bom apoio para a candidatura de César Maia ao Senado (por exemplo), dentro de uma aliança com o DEM e PSDB. Mas, com Marina candidata, a aliança teria prejuízos (no Horário Eleitoral com certeza) e Gabeira teria que trocar a prioridade do discurso ético-conservador pelo ecológico-obaoba. Esse seria apenas um dos inúmeros efeitos “tiro no pé da Oposição” que a candidatura Marina pode trazer. Como Heloísa Helena (talvez a maior prejudicada agora), Marina tenderia a conquistar os votos de quem já decidiu não votar nos candidatos de Lula, concentrados provavelmente na classe média de São Paulo e Rio (a divulgação dos cruzamentos da pesquisa poderá comprovar isso). Claro que a grande mídia, principal partido de Oposição no momento, deseja explorar tudo que pode da candidatura Marina, transformando versões em fatos consumados e arrasadores. São fatos como esses que me causam aversão.
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