sexta-feira, 21 de agosto de 2009
A quem incomoda o cheiro do povo?
No ano passado, em julho, fiz uma postagem, “Eleição no Rio: Zito considera que Gabeira é amoral e não tem responsabilidade?”, onde ironizava a súbita aliança do “Verde Zona Sul” Gabeira com o “Rei da Baixada”. Citei declarações de Zito (que é o presidente do PSDB no Rio) sobre Gabeira: "até respeito a opinião dele, mas nunca será a minha, que é a da moralidade, com a família sempre presente (...) estou fora de qualquer coisa que venha a sair da moralidade e da visão de responsabilidade". Apesar disso, Gabeira deu o braço a Zito e saiu de nariz empinado na busca de sua influência sobre algumas áreas populares da Capital e dos recursos tucanos. Agora Zito volta a alfinetar Gabeira, dizendo que ele “não tem cheiro de povo”. Por que será? Talvez Zito simplesmente tenha se cansado de ciceronear almofadinhas da Zona Sul pelos caminhos tortuosos do voto popular. Talvez ele tenha se cansado da dureza dos 10 anos de oposição aos governos estaduais. O risco que Zito corre é o de voltar a figurar na lista negra da mídia (no passado, antes de virar queridinho tucano, chegou a ser tratado como matador). Mas é sempre assim. Os políticos da elite conservadora adoram políticos com inserção popular e que possam trazer caminhões de votos – desde que não tragam junto o cheiro do povo. No Rio, foi assim com Brizola, foi assim com Garotinho, foi assim com Benedita – e continuará sendo assim por todo o sempre. O PT do Rio, por exemplo, não conseguia voto muito além dos limites da Zona Sul. O Pesquisador do IBGE/DEPIS e Professor da PUC/RJ Antonio C. Alkmim afirmou, em seu estudo (de 2000) sobre eleições cariocas, que “a concentração principal de votos de Chico Alencar (candidato a Prefeito do Rio em 96, hoje no PSOL), seguindo uma tradição petista, foi em parte da Zona Sul e na Grande Tijuca”. Quando descobriu Benedita, a classe média conservadora encravada no PT fez festa, porque finalmente o voto popular tinha sido alcançado – até perceber que Benedita é o próprio povo. Lula também foi o queridinho da classe média na época da ditadura, e hoje “cheira a povo”. Marina Silva pode se perpetuar como queridinha absoluta se conseguir disfarçar o seu cheiro de povo com o cheiro verde (sem trocadilho). Por trás desse preconceito, é evidente, há todo um conflito de interesses. O preconceito é estimulado e utilizado pelos grupos que têm seus interesses ameaçados. Como está acontecendo agora. A Oposição sentindo-se mortalmente ameaçada pelo avanço das conquistas populares no Governo Lula alia-se à grande imprensa para estimular preconceitos e usa como disfarce a bandeira ética. Na verdade, uma falsa bandeira, udenista, que serve muito mais para tapar narizes contra o cheiro do povo.
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