terça-feira, 31 de maio de 2011
Um mata, outro desmata
Acho que tem ruralista confundindo "mata", do latim matta,ae (porção de plantas), com "mata", do verbo mattare (golpear, abater). Deve ser por isso que querem matar de vez nossas matas. Já no Pará, onde, como diz José Simão, o "matamento" está cada vez maior, ninguém confunde nada - atiram para derrubar, seja homem, seja árvore. Sei que existem muitas dificuldades políticas dentro do Congresso para combater o "Relatório Aldo Rebelo" (que tem manga no nome, mas prefere mangar do povo), mas o Governo não pode arredar o pé na luta contra o desmatamento. Nem pode dar trégua no combate aos matadores de ambientalistas. Matadores e desmatadores têm o mesmo alvo: acabar com o Brasil.
Cof! Cof! Cof! Cof! Cof! Cof! Cof! Cof! Cof!
O que me fez escrever este post foi o anúncio da Souza Cruz “respondendo” ao Dia Mundial sem Tabaco. Diz o anúncio que “a liberdade é inegociável”, e destaca que “valorizar e praticar princípios como livre-iniciativa, livre-concorrência, livre-arbítrio, livre-expressão é o que faz uma empresa ser grande”. Por trás disso, obviamente, está a indignação da empresa contra as leis antitabaco, considerando-se cerceada em sua liberdade de vender fumaça tóxica. A importância de valorizar os valores da liberdade é inegável. Mas isso não pode se esvair em sofismas. Não há liberdade absoluta para a produção e distribuição de veneno. Nem para a prática do suicídio. As leis de restrição ao cigarro devem permanecer e até serem ampliadas. Fui fumante e criei dezenas de campanhas para as mais diversas marcas de cigarro. Muito do que aprendi em marketing (principalmente conceitos de “posicionamento” e de “percepção”) veio dos briefings que recebi para criar essas campanhas. Hoje tenho consciência de que não se deve dar a liberdade de transformar vidas em fumaça.
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sexta-feira, 27 de maio de 2011
Pesquisa: PSD quer dizer Partido Sem Democratas ou Partido Sem “Deologia”?
A matéria da Daniella Sholl, “PSD: ideologia pesquisada”, publicada no Congresso em Foco do dia 25 é um primor. Desvenda a mente não dos eleitores, mas dos políticos que sonham conquistar voto a qualquer custo. Quem me enviou o link foi o Cláudio Gama, do Instituto Mapear, gargalhando, não sei se de indignação ou de felicidade com a possibilidade de mais um grande cliente de pesquisas. Diante da pergunta sobre qual seria a cara do novo/velho PSD, as respostas são todas fabulosas.
Vejam:
“O PSD, entretanto, não terá cara. E não terá cara porque nasce sem formular o seu pensamento. A ideologia do novo partido, disse-me o secretário-geral Índio da Costa há poucos dias, será discutida depois que ele for criado. Como? Através de pesquisas qualitativas e quantitativas. Isto mesmo: o PSD vai defender as ideias e ideais que as pesquisas quali e quanti, como dizemos no jargão profissional, disserem o que o eleitor quer.” (Pergunta que não quer calar: só terá cara-pálida, Índio?)
“Kassab já tinha cunhado a máxima de que o novo PSD não será de direita, nem de esquerda, nem de centro. Será o que, então? Índio desvendou o mistério. Concebido em laboratório, o PSD versão 2.0 vai se adequar às necessidades e ao gosto do freguês. Um partido nem frango, nem peru. Chester, talvez.” (Nas palavras do Houaiss, “galináceo resultante de engenharia genética, que apresenta maior desenvolvimento do peito e das coxas que o comum dessas aves”. Em outras palavras, “cérebro-zero”.)
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quinta-feira, 19 de maio de 2011
Certidão de Nascimento de Obama: transformando limão em limonada
Que a turma do David Axelrod (marqueteiro do Obama) é ótima a gente já sabe há muito tempo. Fizeram mais uma. Como vimos recentemente, Obama sofreu com a história de que talvez não fosse americano de nascimento. Foi preciso passar pelo ridículo de ter que apresentar publicamente a sua certidão de nascimento para deixar tudo em pratos limpos. Mesmo assim, começaram a circular dúvidas sobre a autenticidade da certidão. Aí, como disse Julianna Smoot, da coordenação da campanha da reeleição, "já que não conseguimos nos livrar dessa coisa, vamos nos divertir com ela". E criaram a "Caneca made in USA". Na caneca, uma foto do Obama e a reprodução de sua certidão de nascimento. Não é ótima ideia? Ah, sim, custa 15 dólares. Se preferir a camiseta, são 25 dólares. Eles são de morte - além de se divertir, estão ganhando dinheiro com a certidão de nascimento...
Obama sinalizou acesso a água aos palestinos; agora tem que ajudar a concretizar
No seu pronunciamento, hoje, sobre o Oriente Médio, Barack Obama nega o seu próprio veto, feito em 18 de fevereiro deste ano, contra um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU, apresentado pelos países árabes, condenando Israel, por promover a construção de assentamentos em territórios palestinos. O texto reafirmava que todas as atividades israelenses relacionadas aos assentamentos nos Territórios Palestinos Ocupados, inclusive em Jerusalém Oriental, seriam ilegais e constituiriam grande obstáculo para alcançar-se a paz com base na solução dos dois Estados – Israel e Palestina. Ora, Obama defendeu hoje o retorno às fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias de 1967 – exatamente a essência do projeto do CS. Foi um passo gigantesco, em direção a um Oriente Médio de paz e prosperidade. Para os palestinos, significa em primeiro lugar a formação do estado palestino. Além disso, o retorno do poder sobre Jerusalém Oriental. Mais ainda: significa o retorno ao acesso às águas do Rio Jordão, sob domínio absoluto de Israel e proibidas para os palestinos. Em abril de 2009, postei aqui : “As principais fontes de água na região são a bacia do rio Jordão (incluindo o alto Jordão e seus tributários), o mar da Galiléia, o rio Yarmuk e o baixo Jordão, além de 2 grandes sistemas de aquíferos, o aquífero da Montanha (totalmente sob o solo da Cisjordânia, com uma pequena porção sob o Estado de Israel), o aquífero de Basin e o aquífero Costeiro que se estende por quase toda faixa litorânea israelense até Gaza (Ana Echevenguá). Os reservatórios subterrâneos são 80% explorados por Israel e o sistema do rio Jordão (que divide a Palestina da Jordânia) não tem acesso permitido a palestinos. A distribuição justa das terras da região implica, em primeiro lugar, distribuição justa das águas. E nisso Israel não cede uma gota”.
Obviamente Obama está em busca de recuperar prestígio junto aos países muçulmanos, e se ele conseguir os dois Estados – Israel e Palestina – com fronteiras de 1967, terá realizado façanha monumental, capaz de ganhar beijinho até dos talibãs. Diga-se de passagem que Obama só pôde tomar essa decisão por causa da morte de bin Laden. Até aquele momento, ele não tinha credibilidade com relação à sua capacidade de enfrentamento. Era considerado frágil e qualquer concessão ao mundo árabe/muçulmano seria considerada covardia e tiraria milhões de votos em 2012. Com a caça a bin Laden, Obama retomou o posto de grande líder e pode falar mais grosso com a direita israelense. Se isso se concretiza (mais alguma recuperação da economia), sua reeleição é líquida e certa.
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Obama no Oriente Médio: Israel ou não Israel, eis a questão
Obama vai fazer pronunciamento sobre o Oriente Médio ainda hoje. Um tema espinhoso, mas necessário. O apoio aos Estados Unidos, na região, tem caído vertiginosamente. Melhorou um pouco com a eleição de Obama, mas já voltou a cair. A intensificação da guerra no Afeganistão, as revoltas árabes e a morte de bin Laden são pontos negativos. Obama responde com mais grana e com sinais de que pode sair do Afeganistão (decisão que conta também com apoio interno, principalmente depois da ação anti-bin Laden). E há quem fale que ele pode defender o retorno de Israel às fronteiras pré-67 – o que me parece muito difícil, mas seria o que mais fortemente lhe garantiria apoio no mundo árabe/muçulmano, porque praticamente garantiria a formação do estado palestino. Israel é a mais forte ponta-de-lança dos Estados Unidos na região, além de dominar corações e mentes de milhões de eleitores americanos. É verdade que tem perdido fôlego, principalmente para os adversários Irã, Hamas e Hesbolá, mas ainda é forte o suficiente para impedir atos mais ousados vindos de Obama.
Seja como for, o próximo pronunciamento de Obama com certeza vai ser feito com um olho no calendário eleitoral e outro em pesquisas como a feita pelo Pew Research Center’s Global Attitudes Project, entre 21 de março e 26 de abril, em 7 importantes países de influência muçulmana – Egito, Indonésia, Jordânia, Líbano, Paquistão, Território Palestino e Turquia. Seus índices sobre a imagem americana são muito preocupantes. No Paquistão, por exemplo, onde os “Navy Seals” entraram sem pedir licença e mataram Bin Laden, ele conta com 10% de “confiança” contra 65% de “desconfiança”. Obama terá que fazer oferta muito alta para conquistar corações muçulmanos – sem poder entregar a cabeça israelense de bandeja...
(veja a pesquisa PEW clicando aqui)
Seja como for, o próximo pronunciamento de Obama com certeza vai ser feito com um olho no calendário eleitoral e outro em pesquisas como a feita pelo Pew Research Center’s Global Attitudes Project, entre 21 de março e 26 de abril, em 7 importantes países de influência muçulmana – Egito, Indonésia, Jordânia, Líbano, Paquistão, Território Palestino e Turquia. Seus índices sobre a imagem americana são muito preocupantes. No Paquistão, por exemplo, onde os “Navy Seals” entraram sem pedir licença e mataram Bin Laden, ele conta com 10% de “confiança” contra 65% de “desconfiança”. Obama terá que fazer oferta muito alta para conquistar corações muçulmanos – sem poder entregar a cabeça israelense de bandeja...
(veja a pesquisa PEW clicando aqui)
(clique para ampliar)
quarta-feira, 18 de maio de 2011
O Grobo tá reprovado em portugueis
Inacreditáveu a canpanha do Grobo contra o esselente livro “Por uma vida melhor”. Transformaram uma fraze de um capitulo em um Deus nos acuda. Ezibiram imenças reportagens televizivas, pegaram depoimentos de inúmeros espertos, entrevistaram o prezidente da ABL, Marcos Vilassa, publicaram coluna de Mervau Pereira (fortícimo candidato a imortau), fiseram editoriau e apontaram o dedo duro para o MEC. Pura política. Pinssaram uma fraze e uzaram argumentos puramente ideolójicos em defeza da “língua culta” para faser luta política. A plêiade de imortais (e azpirantes) celecionada para atacar o livro não perssebeu (ou não quis persseber) que se trata de uma das melhores obras de encino da “norma culta”. A cimples leitura do capítulo de omde pinssaram a fraze é (clique aqui) emossionante. Abre um novo mundo para jovens e adultos que até agora não tiveram asseço a uma língua mais culta. É um efissiente meio de conbater o atrazo cultural, de anpliar os orizontes de imença parssela da população. O editoriau do Grobo tem quaze rasão quando afirma que o livro “se assenta numa visão ideológica da sociedade alimentada pela mitologia do excluído, ligada à síndrome da tutela estatal”. Só não entendo quando trata os “excluídos” como mito. Nem quando acuza de "tutelador" o estado que se recuza a sençurar um livro abçolutamente inovador, ouzado e correto. O obigetivo óbivio do Grobo, na minha opinião, é atinjir politicamente Fernando Haddad, do MEC, porque ele agora é o mais provável candidato pelo PT à Prefeitura de São Paulo. Se foce para cer levado a cério, o editoriau do Grobo deveria pedir intervensão do MEC nas notíssias do Plantão Grobo, motivo frequente de piadas pelos erros groceiros de portugueis. Errar é umano. Mas incistir em anpliar o abismo culturau é coisa do Grobo.
A propozito: será que os pronomes demonstrativos empregados hoge no editoriau do Grobo estão abçolutamente corretos?
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Por uma vida melhor
terça-feira, 10 de maio de 2011
Noam Chomsky: “A minha reacção à morte de Osama bin Laden"
A mentalidade
imperial é tão profunda que ninguém
se apercebe que estão a glorificar
Bin Laden,
ao identificá-lo com a valorosa resistência
aos invasores
genocidas.
Poderíamos perguntar-nos como reagiríamos se um
comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o
assassinasse e, em seguida, atirasse o seu corpo no Oceano Atlântico.
Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato
planeado, violando as normas elementares do direito internacional de
múltiplas formas. Aparentemente não houve qualquer tentativa de prender a
vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito,
já que virtualmente não enfrentaram oposição – excepto, como afirmam, a
da esposa de Osama bin Laden, que se atirou contra eles.
Em sociedades que professam algum respeito pela lei, os suspeitos são
detidos e levados a um julgamento justo. Sublinho a palavra "suspeitos".
Em Abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou a imprensa
que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia
dizer que "acreditava" que a conspiração fora tramada no Afeganistão,
embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.O que apenas acreditavam em Abril de 2002, obviamente não sabiam 8 meses antes, quando Washington desdenhou de ofertas exploratórias dos talibans (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas imediatamente) de extraditar Bin Laden se lhes fosse apresentada alguma prova, que, como logo descobrimos, Washington não tinha. Portanto, Obama simplesmente mentiu quando disse, na sua declaração da Casa Branca, que "rapidamente soubemos que os ataques de 11 de Setembro de 2001 foram realizados pela al-Qaeda”.
Desde então não revelaram mais nada sério. Há muita conversa sobre a "confissão" de Bin Laden, mas é como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou aquilo que considerava um grande feito.
Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, apesar de elementos das forças militares e de segurança seguramente estarem informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido o seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político. O fervor anti-americano já é muito forte no Paquistão, e estes acontecimentos vão provavelmente exacerbá-lo. A decisão de lançar o corpo ao mar já está a provocar, previsivelmente, cólera e cepticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Poderíamos perguntar-nos como reagiríamos se comandos iraquianos aterrassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem o seu corpo no Atlântico. Indiscutivelmente, os seus crimes excederam muito os de Bin Laden, e Bush não é um "suspeito", mas, sem qualquer dúvida, o “decisor” que deu as ordens para cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra por conter em si o mal acumulado da totalidade" (citando o Tribunal de Nuremberga), pelo qual foram enforcados os criminosos nazis: as centenas de milhares de mortes, os milhões de refugiados, a destruição de grande parte do Iraque, o encarniçado conflito sectário que agora se espalhou ao resto da região.
Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórida, e sobre a "doutrina Bush" de que as sociedades que abrigam terroristas são tão culpadas quanto os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava a conclamar à invasão e à destruição dos Estados Unidos e ao assassinato do seu criminoso presidente.
O mesmo passa com o nome escolhido: Operação Jerónimo. A mentalidade imperial é tão profunda, em toda a sociedade ocidental, que ninguém se apercebe que estão a glorificar Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência aos invasores genocidas. É como baptizar as nossas armas assassinas com os nomes das vítimas dos nossos crimes: Apache, Tomahawk [nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos]. É como se a Luftwaffe desse aos seus caças nomes como "Judeu", ou "Cigano".
Há muito mais a dizer, mas mesmo os factos mais óbvios e elementares deveriam dar-nos muito que pensar.
Publicado no Guernica Magazine
Tradução do Vermelho, adaptada por Luis Leiria
Copiei do site Esquerda.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Masters 1000 de Tênis, Madrid: eles quem, cara-pálida?
Na resenha que está até agora (16,20h do dia 6/5/2011) na SportTV2/Sky podemos ler: “Nomes como Roger Federer, Rafael Nadal, Andy Murray e Novak Djokovic estão na disputa do Masters 1000 de Madrid”. Acontece que o brasileiro Thomaz Bellucci já venceu ontem o Murray, venceu hoje o checo Berdych e está na semifinal. Djokovic ainda vai disputar com Ferrer...
Reflexões de Fidel sobre a ação americana que matou bin Laden
O assassinato de Osama Bin Laden
• AQUELES que se ocupam desses temas sabem que, em 11 de setembro de 2001, nosso povo se solidarizou com o dos Estados Unidos e deu a modesta cooperação que podíamos oferecer no campo da saúde às vítimas do brutal atentado às torres gêmeas do World Trade Center de Nova York.
Oferecemos também, de imediato, as pistas aéreas de nosso país para os aviões norte-americanos que não tivessem onde aterrissar, dado o caos reinante nas primeiras horas depois daquele golpe.
É conhecida a posição histórica da Revolução Cubana, que se opôs sempre às ações que puseram em perigo a vida de civis.
Partidários decididos da luta armada contra a tirania batistiana, éramos, por outro lado, opostos por princípios a todo ato terrorista que conduzisse à morte de pessoas inocentes. Tal conduta, mantida ao longo de mais de meio século, nos dá o direito de expressar um ponto de vista sobre o delicado tema.
No ato público de massas efetuado na Cidade do Esporte expressei, naquele dia, a convicção de que o terrorismo internacional jamais se resolveria mediante a violência e a guerra.
Osama Bin Laden foi, certamente, durante anos, amigo dos Estados Unidos, que o treinou militarmente, e adversário da URSS e do socialismo, mas qualquer que fossem os atos atribuídos a ele, o assassinato de um ser humano desarmado e acompanhado de familiares constitui um fato nojento. Aparentemente, foi isso que fez o governo da nação mais poderosa de todos os tempos.
O discurso elaborado com esmero por Obama para anunciar a morte de Bin Laden afirma: "…sabemos que as piores imagens são aquelas que foram invisíveis para o mundo. O lugar vazio na mesa. As crianças que se viram forçadas a crescer sem sua mãe ou seu pai. Os pais que nunca voltarão a sentir o abraço de um filho. Cerca de 3 mil cidadãos se foram para longe de nós, deixando um enorme buraco em nossos corações".
Esse parágrafo encerra uma dramática verdade, mas não pode impedir que as pessoas honestas recordem as guerras injustas desencadeadas pelos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão, as centenas de milhares de crianças que se viram forçadas a crescer sem sua mãe ou seu pai e os pais que nunca voltariam a sentir o abraço de um filho.
Milhões de cidadãos se foram para longe de seus povos no Iraque, Afeganistão, Vietnã, Laos, Cambodja, Cuba e outros muitos países do mundo.
Da mente de centenas de milhões de pessoas não se apagaram tampouco as horríveis imagens de seres humanos que em Guantánamo, território ocupado de Cuba, desfilam silenciosamente submetidos durante meses e inclusive anos a insuportáveis e enlouquecedoras torturas; são pessoas sequestradas e transportadas a prisões secretas, com a cumplicidade hipócrita de sociedades supostamente civilizadas.
Obama não tem como ocultar que Osama foi executado na presença de seus filhos e esposas, agora em poder das autoridades do Paquistão, um país muçulmano de quase 200 milhões de habitantes, cujas leis foram violadas, sua dignidade nacional ofendida, e suas tradições religiosas ultrajadas.
Como impedirá agora que as mulheres e os filhos da pessoa executada sem lei nem julgamento expliquem o ocorrido, e as imagens sejam transmitidas ao mundo?
Em 28 de janeiro de 2002, o jornalista da CBS Dan Rather, difundiu por meio dessa emissora de televisão que em 10 de setembro de 2001, um dia antes dos atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, Osama Bin Laden foi submetido a uma hemodiálise do rim em um hospital militar do Paquistão. Não estava em condições de esconder-se nem de proteger-se em cavernas profundas.
Assassiná-lo e enviá-lo às profundezas do mar demonstra medo e insegurança, convertem-no em um personagem muito mais perigoso.
A própria opinião pública dos Estados Unidos, depois da euforia inicial, terminará criticando os métodos que, longe de proteger os cidadãos, terminam multiplicando os sentimentos de ódio e vingança contra eles.
Fidel Castro Ruz
4 de maio de 2011
20 h 34
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Noite com arco-íris no STF
Parabéns ao STF pela decisão iluminada. Parabéns ao Brasil por mais um passo contra discriminações. Parabéns às comunidades homossexuais pela luta vitoriosa.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Obama - Marco Zero ou Nota Zero?
(No vídeo acima, trecho da excelente entrevista de Chalmers Johnson para Jorge Pontual, do Milênio, em junho de 2010)
Ok, Obama acaba de transformar-se em herói americano, líder ousado e inteligente. Com isso, ganhou pontos valiosos nos índices de aprovação popular, deu um grande passo rumo à reeleição. Mas os pontos que ele ganhou em casa perdeu em dobro fora de casa. Não há como justificar a invasão de um país soberano, ainda mais para eliminar seja quem for. Não há como justificar o assassinato de uma pessoa indefesa. Não como justificar a tortura. Não há como justificar o sequestro do corpo e o encobertamento de provas. Assim como não há como justificar a invasão do Iraque e a carnificina na Líbia. Os Estados Unidos protegem-se, mas lançam a humanidade de volta à lei da selva. Os cartazes de “vivo ou morto” do seu faroeste não podem ser fixados nos quatro cantos do mundo. Na matança de “seus terroristas”, dão um show de arrogância. Não é assim é que teremos um mundo melhor, mais seguro, livre do terrorismo. Obama corre o risco de ganhar a reeleição, e perder o Paquistão para a China. Corre o risco de voltar a ser ovacionado em casa, e receber chuva de ovos além-fronteiras. Seria o momento certo (se não fosse a eleição de 2012) para compreender, como disse o historiador e ex-CIA Chalmers Johnson, que "uma nação pode ser um império ou uma democracia – mas não pode ser os dois”. O grande presidente americano precisa aprender que o que é bom para os Estados Unidos não é obrigatoriamente bom para o mundo.Muito bom o artigo de Ricardo Melo, hoje na Folha:
Licença para matar
Ricardo Melo
Não será do dia para a noite que se terá acesso ao que realmente ocorreu no esconderijo do terrorista Osama bin Laden. Mas até a imprensa americana, que desde a Guerra do Golfo trocou o jornalismo pela "embedagem" ao governo, desconfiou do anúncio hollywoodiano da Casa Branca, versão democrata das "armas de destruição em massa" da era Bush.
Os lances épicos da violenta troca de tiros, da mulher usada como escudo, da resistência feroz deram lugar a um enredo bem mais prosaico. Provavelmente houve uma execução, e ponto. Tal descrição não comporta nenhum juízo de valor.
Bin Laden e quem se engaja no terrorismo e no fanatismo religioso têm consciência que o risco de morrer faz parte do (mau) negócio. O prontuário de crimes do chefe da Al Qaeda apontava para este final.
Mas incomoda, para dizer o menos, aceitar como natural a baboseira de Obama e dos europeus, para os quais a "justiça foi feita".
Como assim? Os EUA invadem um país, fuzilam um inimigo sem julgamento, jogam o corpo do sujeito no mar e estamos conversados. Tudo isso depois de se valerem de "técnicas coercitivas de interrogatório", eufemismo para tortura com afogamentos. E ainda vem a ONU, candidamente, dizer que "é preciso investigar" se o direito internacional foi desrespeitado.
A lógica política da operação Geronimo é a mesma que preside a intervenção seletiva nos conflitos na África e no Oriente Médio. Gaddafi, o ex-amigo, agora é inimigo, então chumbo nele e na família. Já na Síria não é bem assim, tampouco no Iêmen e na Arábia Saudita -azar de quem nasceu rebelde por ali. Mais uma vez, os EUA tratam o planeta como quintal, e usam a ONU de plateia para as "rambolices".
Que Obama, um político comum, comemore o ganho de popularidade às vésperas da batalha pela reeleição, é compreensível. Já o resto do mundo dito civilizado assistir a tudo com tamanha complacência apenas sinaliza o que está por vir.
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segunda-feira, 2 de maio de 2011
Bin Laden decide a reeleição de Obama
Com a morte de Osama Bin Laden, ficou praticamente impossível derrotar Obama em 2012. A existência – contra tudo e contra todos – do líder da Al Qaeda simbolizava fraqueza dos Estados Unidos, a maior máquina de guerra do mundo. Encontrá-lo e matá-lo lavou a alma do povo americano – que comemora nas ruas como se fosse a vitória de uma grande guerra – e traz de volta o símbolo de poder ao país que andava meio combalido. Ainda afasta de Obama a imagem de vacilão que os Republicanos tentavam fixar.
Sua morte prova ainda duas coisas: 1) não se pode acreditar em tudo que se vê – todo mundo via um Bin Laden maltrapilho, carregando uma espingarda velha nas montanhas do Afeganistão, mas ele vivia em mansão perto de Islamabad, capital do Paquistão; 2) Obama sem dúvida sabe usar a inteligência bem melhor do que Bush.
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