Mostrando postagens com marcador Ehud Barak. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ehud Barak. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Eleições em Israel: quem será o infiel da balança?

A rigor, em política não existe o fiel da balança. O equilíbrio político é na verdade conquistado com o recurso de pequenas “infidelidades” (raramente são grandes “infidelidades”). Essa eleição de Israel – sempre cenário de grande confusões – dá exemplo do que é isso. O partido centrista Kadima, do atual Primeiro-Ministro Ehud Olmert e da vitoriosa Tzipi Livni, venceu (para surpresa geral) porque conquistou o maior número de cadeiras no Parlamento (28 cadeiras, do total de 120). Mas podemos dizer que há um empate técnico. Logo atrás veio o direitista Likud, de Benjamin Netanyahu, com 27 cadeiras. Em seguida vêm o Yisrael Beitenu, Avigdor Lieberman, de extrema direita, com 15 cadeiras, o tradicional Avoda (Partido Trabalhista), de Shimon Peres e Ehud Barak, com 13 cadeiras, e o Shas, de direita (embora faça parte do atual governo), com 11. Por último, vêm 7 partidos menores que, juntos, conquistaram as 26 cadeiras restantes (outros 22 partidos – ou coligações –, entre eles o "Partido do Poder do Dinheiro", o "Partido dos Direitos dos Homens" e o "Partido dos Sobreviventes do Holocausto", não tiveram votos suficientes para conquistar lugar no Parlamento). Agora começa a parte mais “xadrez” da eleição: as negociações para determinação do Primeiro-Ministro e seu Gabinete. A disputa está entre Tzipi Livni e Benjamin Netanyahu, e a questão estritamente ideológica passa distante. O Kadima de Tzipi Livni (que venceu detonando o campo da esquerda, como disse Yossi Verter, do Haaretz) acena para a direita e não me espantaria ver o Yisrael Beitenu participando do governo, substituindo o Partido Trabalhista (que conta com a liderança de Ehud Barak, atual Ministro da Defesa, que comandou os ataques a Gaza!), que poderá ir para a Oposição. Fidelidades ideológicas, para quê? A verdadeira união é feita em torno da guerra à Palestina. Veja a relação dos partidos e suas cadeiras:
  • Kadima ("Avante", centrista) 28 cadeiras
  • Likud ("União", de direita) 27 cadeiras
  • Yisrael Beitenu (de extrema direita, com base entre imigrantes vindos da antiga União Soviética) 15 cadeiras
  • Avoda (Partido Trabalhista, centroesquerda, de Shimon Peres, David Ben-Gurion, Yitzhak Rabin, Golda Meir e Ezer Weizman) 13 cadeiras
  • Shas (partido de direita) 11 cadeiras
  • Judaísmo Torah Unido (ultra ortodoxo) 5 cadeiras
  • União Nacional (direita) 4 cadeiras
  • Hadash (árabe-judeu, de esquerda) 4 cadeiras
  • Lista Árabe Unida -Ta’al (nacionalismo árabe-israelense, com influência muçulmana) 4 cadeiras
  • Lar Judeu (religioso, de direita) 3 cadeiras
  • Meretz (Vitalidade, de esquerda) 3 cadeiras
  • Balad (auto definido como partido nacional progressista para os cidadãos palestinos de Israel) 3 cadeiras

domingo, 18 de janeiro de 2009

O governo de Israel já alcançou o seu objetivo: vitória eleitoral

O grupo que está no poder em Israel fez uma equação bem simples. Bastam 1.000 mortes (incluindo 300 crianças), milhares de feridos e desabrigados, destruição de alguns hospitais, algumas escolas, inúmeras residências e, de quebra, representações da ONU e de jornalistas. Pronto, o resultado só pode ser um: vitória da coligação que está no poder nas eleições parlamentares do próximo dia 10. No começo do mês a BBC divulgou depoimento de Mouin Rabbani, analista-sênior para o Oriente Médio do International Crisis Group, baseado na Jordânia: "A política interna israelense certamente foi um dos fatores para os ataques. Um dos maiores desafios para Barak (Ministro da Defesa, do Partido Trabalhista) e Livni (Ministra da Política Externa, possível primeira-ministra com a vitória do Kadima) era o fato de que Netanyahu (do oposicionista Likud, que defendia uma posição mais dura contra os palestinos) estava à frente nas pesquisas. A popularidade de Barak (antes dos ataques) estava tão baixa que ele se tornou uma não-entidade". Israel não contava com o nível de reação que o Hamas apresentou, demonstrando firmeza e mais preparo do que era contabilizado. É curioso também do histórico das relações de Israel com o Hamas. Assim como os Estados Unidos inventaram Saddam Hussein para enfrentar o Irã e depois tiveram que destruí-lo, Israel inventou o Hamas (junto com Arábia Saudita e a Síria) para enfrentar o Al-Fatah de Arafat. Como a criatura obviamente voltou-se contra o criador, agora eles tentam destruí-lo - e com isso ganhar uns votos a mais. Mas se a "criatura" conseguir manter-se viva, os votos podem mudar de lado...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Vergonha sem fim: Oriente Médio

Faça "paz" ou faça guerra, testemunhamos o massacre do povo palestino. Nos períodos de "paz", o massacre é principalmente pelo racionamento de água; nos períodos de guerra, o massacre é pelo fogo indiscriminado das bombas israelenses. Já escrevi aqui (Como Israel destrói mais: com bombas ou com o racionamento de água?):
A região palestina conta com 3 principais fontes de água – o Rio Jordão (aquele de Jesus e João Batista, que vai do Mar Morto ao Galileu), o Aqüífero (espécie de rio subterrâneo) da Montanha (na chamada “Margem Ocidental”) e o Aqüífero Litorâneo (na Faixa de Gaza). Antes da famosa Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel só detinha 3% da Bacia do Rio Jordão, apesar de já ter construído uma complexa infraestrutura de canais, estações, reservatórios e aquedutos que desviava 75% do Jordão para o usufruto israelense. Depois de 1967, Israel passou a ter controle total. A Síria e a Jordânia ainda têm direito a algum uso, mas os palestinos são proibidos de beber das águas do Rio Jordão. Têm que se virar com os aqüíferos e seus caminhões-pipa. Mesmo assim, apenas 19% da água estão disponíveis para os palestinos... O grupo de direitos humanos chamado “Se eles soubessem” (If They Knew) descreve mais problemas: “Na Margem Ocidental (região a oeste do Rio Jordão, encampada por Israel), cerca de 50 poços e 200 cisternas foram destruídos ou separados de seus proprietários pelo Muro construído na área – que também precisou da destruição de outros 25 poços e cisternas, além de 35 km de aquedutos somente na sua construção. Ao considerar Gaza e Margem Ocidental como duas coisas independentes, Israel também proíbe que os palestinos gazeanos utilizem a água do Aqüífero da Montanha e tratem de sobreviver com o Aqüífero Litorâneo e seus 90% de água não-potável! Pior: os palestinos não têm outra escolha a não ser beber essa água não-potável, que se degrada ainda mais. Seguindo as cotas israelenses, os palestinos da Margem Ocidental têm direito a 70 litros de água por pessoa/dia e os da Faixa de Gaza têm direito a apenas 13 litros, enquanto o mínimo humanamente concebível é de 100 litros, de acordo com a Organização Mundial de Saúde! As conseqüências são óbvias. Desespero, doenças, destruição lenta e sofrida de todo um povo. É como se estivessem planejando uma espécie de “lavagem étnica”.
Quanto ao atual bombardeio, prefiro transcrever o texto de Robert Fisk, colunista do Independent, que o Globo publica hoje:
Líderes mentem e civis morrem
Estamos tão acostumados a ver carnificinas no Oriente Médio que não ligamos mais.
Não está claro quantos dos mortos em Gaza são civis, mas a resposta do governo Bush, sem mencionar a pusilânime reação do premier britânico Gordon Brown, reafirma para os árabes o que eles sabem há décadas: o Ocidente está sempre do lado de Israel.
Como de costume, o banho de sangue foi culpa dos árabes que, como todos sabem, só entendem o uso da força.
Desde 1948, ouvimos dos israelenses e dos nacionalistas árabes e depois árabes muçulmanos a lengalenga de que Jerusalém será “libertada”. E sempre Bush pai e depois o filho, Bill Clinton, Tony Blair ou Gordon Brown chamam os dois lados e pedem moderação, como se ambos tivessem caças F-18, tanques Merkava e artilharia pesada. Os foguetes caseiros do Hamas mataram apenas 20 israelenses em oito anos. Mas num único dia a Força Aérea de Israel matou quase 300 palestinos, e apenas como parte de uma operação.
Sim, o Hamas provocou a ira de Israel, assim como Israel provocou a do Hamas. E o que isso quer dizer? O Hamas lança foguetes em Israel e Israel joga bombas no Hamas. Entendeu? Pedimos pela segurança de Israel, mas ignoramos o desproporcional massacre realizado por Israel.
No fim de semana tivemos 298 palestinos mortos para um israelense. Em 2006, a proporção era de 10 libaneses mortos para cada israelense que perdia a vida. Este fim de semana foi marcado pela inflação do número de mortos. O maior desde a guerra de 1973? Desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967? De Suez, em 1956? Da Guerra de Independência de 1948? É um obsceno e nojento jogo que Ehud Barak, o ministro da Defesa de Israel, inconscientemente admitiu quando falou este fim de semana na Fox: “Nossa intenção é mudar totalmente as regras do jogo”, disse Barak.
Vários dos mortos do fim de semana pareciam ser do Hamas.
Mas o que isso resolverá? O Hamas dirá: “Oh, esse ataque foi impressionante e nós reconheceremos o Estado de Israel, entraremos na linha, renunciaremos às armas e rezaremos para sermos levados prisioneiros e trancafiados indefinidamente, e daremos apoio a um novo ‘processo de paz’ promovido pelos EUA no Oriente Médio!” Será que é isso mesmo que os israelenses e os americanos pensam que o Hamas fará? Vamos relembrar o cinismo do Hamas, o cinismo de todos os grupos armados islâmicos.
A necessidade de produzir mártires muçulmanos é crucial para eles e Israel os está criando.
A lição que Israel pensa estar dando não é a lição que o Hamas está aprendendo. O Hamas precisa da violência para enfatizar a opressão dos palestinos e conta com Israel para providenciar isso. Basta lançar uns foguetes em Israel e Israel lhes faz esse favor.
E nem sequer uma lamentação de Tony Blair, o enviado de paz para o Oriente Médio que nunca esteve em Gaza na atual encarnação. Nem uma palavra. Mas nós ouvimos o habitual discurso de Israel. O general Yaakov Amidror, ex-diretor da “divisão de pesquisa e avaliação” do Exército, anunciou que “nenhum país no mundo permitiria que seus cidadãos fossem feitos de alvos para foguetes sem tomar medidas vigorosas para defendê-los”. Exato.
Mas quando o Exército Republicano Irlandês (IRA) lançava foguetes na Irlanda do Norte, quando suas guerrilhas vinham da Irlanda para atacar delegacias de polícia e protestantes, o Reino Unido usou a Força Aérea para bombardear a república irlandesa? A Força Aérea britânica por acaso atacou igrejas e delegacias e matou de uma só vez 300 pessoas para ensinar à Irlanda uma lição? Não, o Reino Unido não fez isso. Não fez porque o mundo veria um ataque assim como uma ação criminosa. Não queríamos nos rebaixar ao nível do IRA.
Sim, Israel tem o direito à segurança. Mas esses banhos de sangue não lhe trarão segurança. Nem desde 1948 trouxeram algum tipo de proteção para Israel. Os israelenses bombardearam o Líbano milhares de vezes desde 1975 e isso não eliminou o terrorismo. Então o que foi o fim de semana? Os israelenses ameaçam fazer ataques por terra. O Hamas espera por outra batalha. Os políticos do Ocidente encolhem-se covardemente. E em algum lugar do Oriente numa caverna? Num porão? Numa montanha? Bem, em algum lugar, um muito conhecido homem de turbante sorri.