domingo, 6 de agosto de 2006
Como Israel destrói mais: com bombas ou com o racionamento de água?
Richard Harth é um escritor de New Orleans que sobreviveu ao furacão Katrina. Ele escreveu no newsletter CounterPunch sobre o sofrimento do povo palestino por causa da falta de água (acesse Squeezing the Last Drops from Palestine, Espremendo as Últimas Gotas da Palestina) e começa o texto descrevendo o próprio sofrimento em New Orleans, para concluir: “Além do caos, eu me lembro bem da sede, a ansiedade para ter água (potável). Era o nosso momento Gaza”. A região palestina conta com 3 principais fontes de água – o Rio Jordão (aquele de Jesus e João Batista, que vai do Mar Morto ao Galileu), o Aqüífero (espécie de rio subterrâneo) da Montanha (na chamada “Margem Ocidental”) e o Aqüífero Litorâneo (na Faixa de Gaza). Antes da famosa Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel só detinha 3% da Bacia do Rio Jordão, apesar de já ter construído uma complexa infraestrutura de canais, estações, reservatórios e aquedutos que desviava 75% do Jordão para o usufruto israelense. Depois de 1967, Israel passou a ter controle total. A Síria e a Jordânia ainda têm direito a algum uso, mas os palestinos são proibidos de beber das águas do Rio Jordão. Têm que se virar com os aqüíferos e seus caminhões-pipa. Mesmo assim, apenas 19% da água estão disponíveis para os palestinos... O grupo de direitos humanos chamado “Se eles soubessem” (If They Knew) descreve mais problemas: “Na Margem Ocidental (região a oeste do Rio Jordão, encampada por Israel), cerca de 50 poços e 200 cisternas foram destruídos ou separados de seus proprietários pelo Muro construído na área – que também precisou da destruição de outros 25 poços e cisternas, além de 35 km de aquedutos somente na sua construção. Ao considerar Gaza e Margem Ocidental como duas coisas independentes, Israel também proíbe que os palestinos gazeanos utilizem a água do Aqüífero da Montanha e tratem de sobreviver com o Aqüífero Litorâneo e seus 90% de água não-potável! Pior: os palestinos não têm outra escolha a não ser beber essa água não-potável, que se degrada ainda mais. Seguindo as cotas israelenses, os palestinos da Margem Ocidental têm direito a 70 litros de água por pessoa/dia e os da Faixa de Gaza têm direito a apenas 13 litros, enquanto o mínimo humanamente concebível é de 100 litros, de acordo com a Organização Mundial de Saúde! As conseqüências são óbvias. Desespero, doenças, destruição lenta e sofrida de todo um povo. É como se estivessem planejando uma espécie de “lavagem étnica”.