quarta-feira, 2 de agosto de 2006
Fidel deveria ser tombado como patrimônio da humanidade
Os adversários não param de acusar Fidel de tirano, ditadorzinho latino-americano, carrasco do povo cubano, e por aí vai. A falta de renovação no comando do país é um fato, como também parece ser verdade que há presos políticos. Mas a maior parte do que se diz é pura invencionice. Eu mesmo já fui vítima dessas crendices anti-Fidel. Há 21 anos atrás, quando fui a passeio por uma semana, cheguei ao aeroporto de Havana cheio de receios. E fui logo tomado por um total sentimento de liberdade – sentimento que não tínhamos há mais de 20 anos aqui no Brasil. A aduana, para minha surpresa, nem ligou para minha bagagem (ao contrário do que tinha ocorrido no México), o oficial riu quando pedi para não carimbar meu passaporte (um temor, na época) e ainda ironizou: “Mas as coisas não acabaram de mudar por lá?” No hotel, a guia de turismo concluiu suas orientações dizendo: “Aqui vocês podem tudo – menos atentar contra a Revolução”. Conheci uma amiga de um amigo que estava indo para uma festa de casamento da filha da vizinha, e que me levou junto. O dono do prédio de 3 ou 4 andares em que elas moravam tinha fugido para Miami e os inquilinos tornaram-se proprietários dos apartamentos. Essa vizinha também se tornara proprietária, apesar de não ser ex-inquilina – tinha sido cozinheira do ex-proprietário. O tempo inteiro vi muita beleza, cordialidade e alegria. E percebi grande carinho por Fidel, principalmente entre jovens e crianças. Os adversários de Fidel devem ter suas razões e não quero entrar nessa velha discussão ideológica. Mas ele mudou a cara da América Latina. Foi o primeiro a peitar o poderio americano. Deu voz aos povos humilhados. A sua Revolução garantiu saúde, educação, alimentação e habitação. Problemas existem? Claro que existem. Mas estão longe de serem os problemas de miséria que temos aqui. É verdade que não há eleições diretas para presidente. Mas as eleições de parlamentares, que não são obrigatórias, têm quase 100% de comparecimento. Agora, chegando aos 80 anos de idade, quase 50 anos no poder, Fidel ficou doente e, pela primeira vez, foi temporariamente substituído por Raul Castro, Ministro da Defesa e seu irmão. Ele mesmo fez questão de assinar uma nota sobre seu estado de saúde. “Posso dizer que é uma situação estável, mas uma evolução real do estado de saúde necessita de tempo. O que posso dizer é que a situação se manterá estável durante muitos dias antes de poder dar um veredicto", diz a nota lida na TV cubana e reproduzida no site da BBC. "Eu não posso inventar notícias boas porque não seria ético e se as notícias forem más o único que vai tirar proveito é o inimigo. Na situação específica de Cuba, devido aos planos do Império, meu estado de saúde se transforma em um segredo de Estado que não pode ser divulgado constantemente e os compatriotas devem compreender isto." Sejamos francos, que outro líder, faria uma nota assim, substituindo o próprio médico, no seu impecável atestado de saúde?