A nova Secretária de Assistência Social do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT), decidiu trocar o programa social Cheque Cidadão pelo Bolsa Família. Significa, em primeiro lugar, trazer mais dinheiro federal para a ação social no Rio de Janeiro e, com o dinheiro que era utilizado no Cheque Cidadão (algo em torno de 120 milhões), investir em outros programas. Mas não é só isso. O Cheque Cidadão (junto com o Restaurante Popular) era a principal marca dos governos de Garotinho e Rosinha (PMDB) na sua ação junto às camadas mais pobres. Foi com programas assim que eles conquistaram os votos dos mais pobres. Por isso a ex-governadora Rosinha Garotinho subiu nas tamancas e chamou o atual governador Sérgio Cabral (também do PMDB) de traidor, no seu ataque mais duro desde a posse no dia 1º de janeiro. A mudança de Cheque-Cidadão para Bolsa Família, como já respondeu Sérgio Cabral, não é uma simples troca de nomenclatura. Ambos são emocionantes. Lembro de muitas vezes ter acompanhado o trabalho de divulgação e pesquisa sobre o Cheque Cidadão com dificuldade de segurar as lágrimas. Havia particularmente um comecial, dirigido com paixão por Luiz Henrique, da produtora Blue Light, que mexia com qualquer um. Era um registro em vídeo de uma beneficiária, Dona Ruth, que nunca tinha entrado antes em um supermercado e que empurrava o carrinho de compras toda feliz com o cheque (um vale-compras, na verdade) de 100 reais. Seu depoimento ao lado dos filhos era marcante. Toda vez que o comercial era apresentado em uma pesquisa de discussão de grupo, metade das pessoas ficava chorando (e na sala escura ao lado eu ficava bem nervoso). Sempre defendi o programa. Mas jamais defendi a forma como ele era distribuído. Era uma desorganização total, geralmente através de igrejas evangélicas e com objetivo eleitoreiro evidente. E é exatamente a desorganização a principal característica do populismo. O político populista (e não quero colocar aqui nenhum preconceito tão comum para o termo) é bem mais veloz (o que me faz lembrar um livro que li há alguns anos, "Velocidade e Política", de Paul Virilio), mais ágil, com resultados surpreendentes, graças à sua relação direta com a população. Elimina burocracias, reuniões inúteis, gastos monumentais de infraestrutura, e consegue levar benefício real a quem mais precisa. Mas ele não consegue levar consciência nem futuro. Além disso, o excesso de velocidade pode levar a muitos erros. O Bolsa Família pretende ser um passo à frente, em termos de organização e em termos de se preparar para um passo a mais em busca de um futuro melhor. Creio que o atual governo agiu certo na troca. Não apenas para apagar a marca forte de uma adversário, mas, principalmente, para dar um novo perfil à assistência social. A enquete promovida pelo Globo OnLine (apesar que captar preferencialmente o não-beneficiário) aprovou a mudança: 60,20% acham que o Cheque Cidadão é pura demagogia e 27,98% concordam que o programa deve ser concentrado no Bolsa Família. Velocidade é bom, mas às vezes atrapalha.