domingo, 20 de maio de 2007
Mercenários dobram a participação militar americana no Iraque
A Folha traz hoje uma reportagem de Sérgio Dávila ("Mercenários no Iraque se igualam a EUA") que é de arrepiar. Mostra que o contingente de "soldados privados", mais bem equipado e com salário maior, já é quase tão grande quanto a tropa oficial. "Soldados privados" é o termo usado para se referir aos homens empregados em ação de guerra, a maioria em atividades ligadas a segurança e defesa. Se você tratá-los por "mercenários" não estará errando. Eles já são entre 100 mil e 130 mil atuando no Iraque que se somam aos cerca de 145 mil "soldados oficiais". "Estima-se que US$0,40 de cada dólar destinado ao Iraque pelo contribuinte americano pare nas mãos de uma empresa de segurança privada", disse a democrata Jan Schakowsky, da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes. Várias empresas beneficiam-se disso, como a Blackwater (a maior de todas, criada há dez anos por religioso ligado a republicanos, Erik Prince, um dos maiores doadores da campanha de Bush; Jeremy Scahill, autor de "Blackwater - The Rise of the World's Most Powerful Mercenary Army" (Ascensão do Exército Mercenário mais Poderoso do Mundo, Nation Books), defende que a empresa é a Guarda Pretoriana da Era Bush) e a USIS (subdivisão do Carlyle Group, que já teve Bush pai e filho no conselho). O pior é a falta de regras para o controle dos mercenários. "Diferentemente dos soldados, que respondem ao código de conduta do Pentágono, os 'privados" se encontram numa zona juridicamente cinzenta". Até 2007, eram regulados por uma Ordem 17, que determina que "os privados devem ser imunes ao processo legal iraquiano em relação às ações realizadas por eles enquanto a serviço de empresas". Resultado: em quatro anos de guerra, só dois mercenários em ação no Iraque foram levados à Justiça nos EUA, um condenado por matar um civil, outro acusado de ter pornografia infantil no computador. Agora, por iniciativa do senador republicano Lindsay Graham, foi aprovada lei que subordina os mercenários às mesmas regras seguidas pelos militares, desde que quando a serviço do Pentágono (o problema é que a maioria tem contrato com o Departamento de Estado...). Em geral, os "privados" ganham mais do que os "oficiais" - seja onde estiver, na protegida Zona Verde ou no fronte, o soldado norte-americano médio recebe entre US$ 28 mil e US$ 40 mil por ano; um "privado" trabalhando numa área perigosa pode receber a mesma quantia em apenas um dia. Isso tudo aponta para outro perigo: a terceirização da política externa americana, como alertou em entrevista telefônica à Folha o documentarista Nick Bicanic, autor de "Shadow Company" (A companhia fantasma). Com empresas tão poderosas e fora de controle, qualquer iniciativa do presidente americano em defesa de ações bélicas passa a ser inteiramente discutível. E não estamos falando do presidente de uma republiqueta qualquer. Trata-se do país mais poderoso do planeta, capaz de mudar os destinos da humanidade e que, assustadoramente, pode ficar à mercê de empresas fornedoras de "soldados privados". Perto disso, conviver com a violência do Rio ou de São Paulo parece brincadeira...
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