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Habemus Papo IV: São Paulo é sinônimo de marketing religioso
Tudo nessa viagem do Papa é obviamente planejado, tudo é pensado com o objetivo de retomada do crescimento da Igreja Católica no Brasil. Se bobear, até a escolha da cidade de São Paulo é uma alusão a São Paulo, o apóstolo, ou, como diria Nietzsche, "o primeiro cristão, o inventor do cristianismo". Para Nietzsche, até então "havia apenas alguns sectários judeus." Bento XVI parece mesmo repetir Paulo que, como afirma o teólogo Fernando Altemeyer Júnior, "além de fazer uma peregrinação missionária original, criando vínculos em cidades importantes, soube escolher pessoas para multiplicar seu trabalho". Novamente, vou reproduzir trechos de uma monografia (não sei quem é o autor) bem interessante com o tema "Igreja como empresa", que pode ser obtida na íntegra no site Marketing e Fé Católica. Apenas farei alguns destaques:
As pesquisas das últimas décadas mostram como a pequena seita judaica criada por Jesus conseguiu sobreviver de maneira surpreendente à guerra de 66-70 d.C., em que os romanos praticamente massacraram os judeus. Isso ocorreu por obra de um homem que havia sido um implacável perseguidor desse povo convertido: o apóstolo Paulo, nascido em uma família israelita de Tarso, na atual Turquia, com o nome de Saulo.
No ano 48 d.C., realiza-se o Concílio de Jerusalém. Nessa reunião, Paulo conseguiu convencer Tiago, irmão de Jesus e líder da seita que continuou na Palestina após a crucificação, a permitir que pagãos convertidos fossem dispensados de seguir a Lei judaica, que estabelecia, entre outras obrigações, a circuncisão e os princípios de seleção e preparação de alimentos. Paulo prossegue com sua missão, mas a doutrina pregada por ele já não era a mesma da Igreja de Jerusalém.
Para Tiago e seus seguidores, Jesus era o Messias, que teria vindo ao mundo para livrar o povo judeu da opressão. Era o escolhido para implantar o Reino de Deus, isto é, governar Israel conforme a Lei. Paulo, porém, apresentava Jesus sob o nome grego Cristo, cujo significado era o mesmo de Messias em hebraico: "Ungido". O Cristo anunciado por ele era o Filho de Deus.
Tiago é morto por apedrejamento quatro anos depois. Paulo é decapitado em Roma depois por ordem de Nero. Mas o mundo conhecerá somente o Cristo de Paulo.
O Cristo celestial de Paulo obscurece o Jesus histórico, cresce com o Império Romano e se expande para o mundo.
Segundo o que se conhece sobre aqueles tempos turbulentos, a Igreja cristã de Jerusalém praticamente morreu com o massacre comandado por Tito no ano 70. Tiago e seus seguidores teriam sido judeus de origem humilde, talvez com modesta formação intelectual, afirma Robert Eisenman, diretor do Instituto de Estudos das Origens Judaico-Cristãs, da Universidade do Sul da Califórnia, em Long Beach, nos EUA. O sofisticado Paulo, ao contrário, tivera sólida formação na cultura greco-romana e preparou o caminho para que a expansão cristã pudesse prosseguir após sua morte.
Paulo permaneceu 18 meses em Corinto, na Grécia, pregando aos trabalhadores do porto e marinheiros, que passaram a difundir sua mensagem. "Paulo enxergava a direção que tomava o mundo e agiu para fazer o cristianismo crescer no futuro", diz o teólogo Hermínio Andrés Torices.
A intuição do apóstolo faz com que ele apresente a fé cristã com uma dramatização comovente e arrebatadora para os homens de um mundo sob domínio político opressivo.
Paulo, que conhecera os filósofos estóicos, como o romano Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.), cria uma doutrina semelhante em alguns aspectos ao pensamento deles. O estoicismo, que esvaziava da filosofia o conteúdo político em favor da moral e da realização subjetiva, surgira a partir da perda da liberdade política das cidades-estado gregas para os conquistadores macedônios no século 4 a.C. A liberdade do cristão, diz Paulo, é a salvação obtida somente por meio da fé e do amor em Cristo.