quinta-feira, 3 de maio de 2007
França: esquerda e direita em debate
Todo mundo faz questão de afirmar que acabou a polarização "esquerda-direita", que isso é coisa ultrapassada, que a realidade vai além ("la realité est très complexe", diria Goddard em Alphaville), que as questões e as soluções muitas vezes são comuns às duas visões. Mas ontem, na França, no debate entre os candidatos do 2º turno para a presidência, até o sorteio das cadeiras parecia querer reafirmar o velho conceito de esquerda-direita: a socialista Ségolène Royal sentou à esquerda e o direitista Nicolas Sarkozy sentou à direita. E suas propostas para a França deixaram ainda mais evidente essa dicotomia fundamental: trabalho x capital, intervenção do Estado x laissez faire, base da pirâmide social x topo da pirâmide social. Além dessa reafirmação da esquerda-direita, o debate apresentou (segundo a imprensa local) muitos erros (ambos erraram muito, por exemplo, nos percentuais de energia nuclear utilizada atualmente na França, mas Sarkozy errou mais e de forma imperdoável) e também uma surpresa: a firmeza de Ségolène Royal. A expectativa era de que ela seria destroçada pelo experiente Sarkozy, mas o que se viu foi o contrário: ela esteve permanentemente na ofensiva, sendo irônica e chegando mesmo a se tornar indignada (na questão da educação de deficientes). Desde a roupa (escura-masculina, ao contrário da sua roupa tradicional branca-feminina) até a contundência, Ségolène Royal procurou demonstrar que pode disputar de igual para igual com qualquer candidato. É possível que suas pesquisas tenham indicado esse caminho como o melhor para conquistar o eleitor indeciso, até agora ainda não convencido de que basta a simpatia para resolver os problemas franceses. Veremos as novas pesquisas. Creio que ela ganhou a batalha, embora ainda falte alguma coisa para vencer a guerra do próximo dia 6.