terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Eleição americana: a baixaria das percepções

Barack Obama chegou até aqui praticamente sem oposição forte. Ninguém acreditava que ele chegasse tão longe, achavam que seu sucesso teria vida curta, como em tantos outros casos. Mas Obama, um negro, excedeu. Tem chances reais de se tornar o próximo Presidente dos Estados Unidos. E agora, talvez tardiamente, começaram os golpes baixos contra ele. Ontem, tivemos aquela sua foto em roupas que seriam "típicas de muçulmanos", uma aberração para os recentes padrões americanos. Hoje, leio no site "politico" que, "em 1995, a Senadora Estadual Alice Palmer apresentou-o como seu sucessor a um pequeno grupo progressista com influência regional na casa de dois personagens bem conhecidos da esquerda local: William Ayers e Bernardine Dohrn". Aqui eu deveria encher o espaço de exclamações indignadas. Acontece que esse casal ficou nacionalmente conhecido como participante de uma facção extremista dos movimentos contra a guerra nos anos 60. Ah, sim, eles nunca se arrependeram disso, mesmo tendo tido envolvimento com atentados que resultaram em mortes. Mas "não há qualquer evidência de que a relação de Obama com Ayers tenha sido algo mais do que uma amizade casual de pessoas que participam do mesmo círculo político de Chicago e que estão no Conselho de uma fundação da cidade". Apesar de seu passado tido como "terrorista", eles nunca foram condenados e hoje ele é advogado e professor na Universidade de Illinois e ela é professora de Direito na Universidade do Noroeste. Então, por que tudo isso? É que a baixaria eleitoral vai ser construída a partir de pequenas percepções negativas que, acumuladas, formarão a imagem de um Barack Obama aterrorizante, pior do que Bin Laden. Já que não conseguiram derrubar Obama por ele ser negro, tentam dizer que ele é um terrorista muçulmano. Quero acrescentar que, em uma sociedade conservadora como a americana, isso não é muito difícil (lembremos que os "Fradinhos", de Henfil, nunca foram censurados por nossa ditadura, mas foram proibidos em duas cidades americanas - Tulsa e San Antonio - por pressão das comunidades). A sorte de Obama está na escolha de sua estratégia, que possibilitou uma onda positiva cada mais difícil de ser barrada. A oposição a ele terá que construir centenas de percepções negativas para atingir seu objetivo - mas aí já teremos chegado a 2009...