Vamos começar dizendo o seguinte: qualquer instituto de pesquisa tem condições de manipular os resultados e é praticamente impossível evitar isso. Você confia ou não confia nos resultados de determinado instituto. Pessoalmente, adotei a postura de sempre confiar – desconfiando...
Há casos que fogem ao controle da direção dos institutos. Por exemplo, é comum ouvir relatos de entrevistadores que testemunharam concorrentes preenchendo respostas sorrateiramente à sombra de uma árvore. Ou de entrevistadores impedidos de entrar em área perigosa, comprometendo resultados. Claro que os institutos têm sistemas de verificação, mas não dá para ter controle absoluto. Principalmente porque, cada vez mais, os entrevistadores pertencem a empresas terceirizadas – que, por sua vez, podem atender a clientes concorrentes entre si. O instituto, quem sabe, pode ser simplesmente uma pessoa contratando outras empresas. Claro que isso não significa necessariamente má-fé ou incompetência – mas demonstra a dificuldade de controle.
Há outras questões de caráter mais subjetivo, com certo grau de dificuldade para dar precisão aos resultados – ou que, por diversos motivos, não tiveram todos os resultados expostos. Vou dar dois exemplos.
- O GPP (de Niterói, RJ) é um dos poucos institutos que procuram evitar a pergunta espontânea, porque ela tende a influenciar o resultado da estimulada. Concordo com essa posição, mas é difícil de comprovar. O raciocínio é o seguinte: na espontânea, o entrevistado revela o recall maior, a lembrança principal de um nome. Quando é apresentado o disco com todos os candidatos, o entrevistado pode ter alguma tendência a repetir a escolha da espontânea. Ou seja, o recall passa a ter valor maior do que o real.
- Outro exemplo é o dessa última pesquisa Datafolha. Não vou questionar o índice de Serra mais alto do que o esperado. Mas tem uma questão que me chamou a atenção, que é a história da transferência de votos. A pesquisa detectou que os eleitores que avaliam Lula com ótimo ou bom dividem- se no apoio a Dilma e Serra (em torno de 33% para cada um). A partir dessa informação, está aberto o campo para a especulação de que Lula não transfere tudo para Dilma – ao contrário, transferiria boa parte para Serra. De um lado, é verdade que Lula não transfere toda sua excelente avaliação automaticamente para Dilma – ou ela estaria com 80% das intenções de voto... De outro lado, não é verdade que ele divida igualmente entre os dois. Não foram divulgados quantos dos que apoiam Lula (mas pretendem votar em Serra) sabem que Dilma é a candidata lulista – e esse cruzamento pode fazer toda a diferença. No Rio de Janeiro, por exemplo, a última pesquisa Vox Populi (ver na próxima postagem) faz duas perguntas diferentes sobre a intenção de voto para Presidente. Na primeira, lista os nomes "Dilma", "José Serra", "Ciro Gomes" e "Marina Silva" (com 29%, 28%, 16% e 9%, respectivamente). Na outra, acrescenta apoios e o resultado passa a ser: "Dilma” (com apoio de Lula) sobe para 35%, "Serra" (com apoio de Fernando Henrique) cai para 26%, "Ciro Gomes" cai para 13% e "Marina Silva" (com apoio de Gabeira) permanece em 9%. As intenções de voto em Dilma crescem mais de 20%. É bom esclarecer que, na mesma pesquisa, comprovou-se que 14% ainda nem sabem que Lula não pode candidatar-se novamente. A questão principal, portanto, não é o da capacidade de transferência que Lula tem (está claro que tem!), mas, sim, a capacidade de comunicar clara e amplamente o seu apoio. Ao não passar esse tipo de informação, os institutos de pesquisa deixam margem para especulação – que, no caso, só interessa à Oposição.
Concluindo, não acho que as pesquisas devam ser tratadas como um demônio em si (como fazia Brizola). Mas todos precisam ficar bem atentos – e ao primeiro cheiro estranho devem berrar.