Lula tem como objetivos eleitorais principais no Rio re-eleger Sérgio Cabral Governador e re-eleger Marcelo Crivella Senador. São objetivos óbvios (já que o estado do Rio de Janeiro, como terceiro colégio eleitoral do Brasil, é fundamental para alcançar o objetivo estratégico de eleger Dilma), mas que exigem muito conhecimento do jogo eleitoral. É verdade que fechar a parceria do PT local com o peemedebista Sérgio Cabral acabou sendo mais fácil do que aparentava inicialmente (o alarido de resistência feito por Lindberg acabou ficando pra trás em um belo en passant). Mas a eleição de Marcelo Crivella ainda cobra muita concentração de Lula. Os movimentos requerem precisão, por tratar-se de uma candidatura considerada estratégica em muitos aspectos. Crivella, afinal, representa o poder evangélico da Igreja Universal com sua Rede Record – espécie de fianchetto duplo (ou uma abertura Larsen) na proteção do Governo Lula de ataques frontais do Império Global.
Acontece que, apesar de sua liderança incontestável nas pesquisas, Crivella conta com altíssima taxa de rejeição, principalmente na Capital – e isso já lhe custou três derrotas para Prefeito e Governador. Seu partido, o PRB, é nanico e deve lhe garantir apenas algo em torno de ½ minuto por programa eleitoral de Rádio e TV, o que é insignificante. É necessário, portanto, que Crivella seja acomodado em uma aliança vencedora, que lhe dê tempo no Horário Eleitoral e abra espaço privilegiado em todas as regiões. E é aí que mora o problema.
Garotinho poderia ser uma alternativa, mas também está em partido nanico e ainda insiste em campanha de ataques-suicidas a Sérgio Cabral. E a aliança principal em torno do PMDB e do PT já conta com seus próprios candidatos, Picciani e Lindberg (aliás Crivella acaba de ter grande avanço nesse campo, com o afastamento de Benedita da Silva, sua maior ameaça na conquista do eleitorado de perfil popular). Picciani, cacicão do PMDB, mesmo estando em posição difícil nas pesquisas, não recua nenhuma casa na decisão de candidatar-se ao Senado. E Lindberg, espécie de enfant terrible do momento, faz grande alvoroço, tornando complicado qualquer acordo.
O tempo está correndo e o Grande Mestre Presidente já fez uso de todas as táticas possíveis, sem sucesso. Trocou peão... fez roque... usou os cavalos... avançou a rainha... mas ainda não conseguiu efetuar o sonhado xeque-mate. Vai acabar tendo que virar o tabuleiro...
A título de curiosidade, lembro que “estratégico” é mesmo um adjetivo bastante colado em Crivella, já que os nomes para a pasta de Assuntos Estratégicos têm sido indicação sua. Temos como exemplo Mangabeira Unger e o atual titular, Samuel Pinheiro Guimarães (que, em seu ótimo livro “Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes”, faz dedicatória a Lula e Celso Amorim, e não deixa de agradecer a contribuição de Crivella). Vai ver que foi por isso que Lindberg andou insinuando que convidaria Celso Amorim para ser seu suplente na chapa para o Senado. Lula que não é bobo vetou.