terça-feira, 29 de março de 2011

Pesquisa Mitofsky: Dilma está melhor do que Obama

(clique nas imagens para ampliar)

O Consulta Mitofsky, instituto mexicano de pesquisa, faz avaliações frequentes dos governos de 20 países americanos – Norte, Sul e Centro. Na última vez que divulguei aqui no Blog, em outubro do ano passado (veja aqui), Lula liderava com 78%. O Mitofsky acaba de fazer nova rodada e Dilma não está em primeiro lugar, claro, mas tem 50% de aprovação – ou, como observa o instituto, “superior a los obtenidos por Luiz Inácio Lula da Silva al inicio de sus dos mandatos en 2003 y 2007”. (veja aqui)
Dilma realmente tem surpreendido. Soube ser “a candidata de Lula” e agora está sabendo ser “perfeita complementar de Lula”, conquistando as parcelas da classe média e da mídia que sempre foram hostis a Lula (que continua garantindo para seu governo apoio das faixas mais populares). Ninguém em sã consciência poderia esperar que Dilma obtivesse os mesmo índices do final do governo passado. A não ser, talvez, Cesar Maia, que na semana passada tentou provar que seria negativo o seu índice de 47% de “ótimo/bom” na avaliação de 3 meses do Datafolha. Ele chegou a afirmar que “em geral, a avaliação de um governo é maior que a intenção de voto em campanha, pois nessa intervém a ação de seus concorrentes”. Nas eleições pós-ditadura isso só ocorreu (ver quadro abaixo) no caso de Collor (26% de intenção de voto no primeiro turno), em uma eleição atípica, com 21 candidatos. Collor teve 36% de “ótimo/bom” na avaliação Datafolha de início de Governo. Depois disso, todos os eleitos tiveram avaliação de início de governo inferior à intenção de voto – sendo que todos eles (incluindo Collor e Itamar) apresentaram índices de avaliação abaixo de Dilma. Não podemos esquecer ainda que as piores avaliações foram de Fernando Henrique. Contra tudo e contra todos, Dilma está com avaliação excelente. Ela bem que poderia ter contado o segredo para Obama...

Obrigado por tudo, Zé Alencar


segunda-feira, 28 de março de 2011

Bob Herbert: os Estados Unidos perderam o rumo


O jornalista Bob Herbert, depois de 18 anos, deixou o New York Times. No seu artigo de despedida descreveu o que são hoje os Estados Unidos: um país sem rumo, com imensa desigualdade social e expectativas limitadas. Fiz uma tradução rápida, e o texto original você lê clicando aqui.

Perdendo o rumo
Bob Herbert

Cá estamos despejando rios de dinheiro em outra guerra, dessa vez na Líbia, e, simultaneamente, demolindo os orçamentos escolares, fechando bibliotecas, demitindo professores e policiais e destruindo nossa qualidade de vida.
Bem-vindo à América da segunda década do século 21. Um exército de trabalhadores permanentes desempregados por todo o país, consequências humanas da Grande Recessão e de longos anos de políticas econômicas mal planejadas. O otimismo está em baixa. Os poucos empregos criados muito frequentemente pagam uma ninharia, insuficiente para abrir as portas para um padrão classe média de vida.
Arthur Miller, ecoando o poeta Archibald MacLeish, gostava de dizer que a essência da América foram as suas perspectivas. Isso foi há muito tempo. A ganância sem limites, o poder desenfreado das corporações e uma dependência feroz de petróleo estrangeiro nos levaram a uma era de guerra perpétua e de declínio econômico. Os jovens de hoje estão diante de um futuro que será inferior ao dos mais velhos, uma reversão que deve chacoalhar todo mundo.
Os EUA não apenas se equivocaram em suas prioridades. Quando o país mais poderoso de todos os tempos mergulha facilmente no horror da guerra, mas torna quase impossível encontrar um trabalho digno para o seu povo ou oferecer educação de qualidade para seus jovens, é que já perdeu o rumo totalmente.
Cerca de 14 milhões de americanos estão desempregados e as perspectivas para muitos deles são desagradáveis. Uma vez que existe apenas um posto de trabalho disponível para cada cinco pessoas à procura de trabalho, quatro dos cinco se deram mal. Em vez de uma terra de oportunidades, os EUA são cada vez mais um lugar de expectativas limitadas. Um professor universitário em Washington me disse essa semana que alguns de seus graduados conseguiram emprego, mas sem ganhar bem, certamente não o suficiente para pensar em aumentar a família.
Há uma abundância de atividade econômica nos EUA, e muita riqueza. Mas, como crianças gulosas, as pessoas no topo estão pegando pra elas quase todas as "bolas de gude". As desigualdades de renda e de riqueza chegaram a níveis que fariam corar o terceiro mundo. Como informou o Instituto de Política Econômica, os 10 por cento mais ricos dos americanos receberam injustos 100 por cento do crescimento médio da renda nos anos de 2000 a 2007, o período mais recente período de expansão econômica.
Os americanos comportam-se como se isso fosse algo normal ou aceitável. Não deve ser, e não costumava ser. Durante grande parte do pós-Segunda Guerra Mundial, a distribuição de renda era muito mais justa, com os 10 por cento das famílias do topo conquistando apenas um terço do crescimento médio da renda, e os 90 por cento da base recebendo dois terços. Isso agora é realmente coisa do passado.
A má distribuição da riqueza atual é escandalosa. Em 2009, os  5 por cento mais ricos pegaram 63,5 por cento da riqueza da nação. Enquanto a maioria esmagadora, os 80 por cento da base, pegou apenas 12,8 por cento.
Essa desigualdade, no qual um segmento enorme da população luta e uns poucos afortunados ficam no bem bom, é a receita para a agitação social. A mobilidade descendente é um fusível em curto, pronto para levar a graves consequências.
Um exemplo gritante dessa injustiça tão generalizada estava no título do The New York Times de sexta-feira: "Estratégias da GE permitem evitar impostos completamente." Apesar dos lucros de 14,2 bilhões dólares - 5,1 bilhões dólares em suas operações nos Estados Unidos - a General Electric não teve que pagar qualquer imposto nos EUA no ano passado.
Como David Kocieniewski do Times escreveu: "O êxito extraordinário é baseado em uma estratégia agressiva que mistura forte lobby para benefícios fiscais com contabilidade inovadora que permite concentrar os seus lucros no exterior."
A GE é a maior corporação do país. Seu principal executivo, Jeffrey Immelt, é o líder do Conselho sobre Emprego e Competitividade do presidente Barack Obama . Você pode imaginar como os trabalhadores devem olhar para este acolhedor arranjo governo-corporações e concluir que ele não está plenamente comprometido com os interesses do povo trabalhador.
Os profundos desequilíbrios entre riqueza e renda, inevitavelmente, levarão a enormes desequilíbrios de poder político. Assim, as corporações e os muito ricos continuam muito bem. A crise do emprego nunca é encarada. As guerras nunca terminam. E a construção da nação nunca tem apoio entre nós.
Novas idéias e novas lideranças nunca foram tão necessárias.


Esta é minha última coluna do The New York Times, após quase 18 emocionantes anos. Saio para escrever um livro e aumentar os meus esforços em nome dos trabalhadores, dos pobres e de outros que estão lutando em nossa sociedade. Agradeço a todos os leitores que foram tão bondosos comigo ao longo dos anos. Daqui pra frente posso ser encontrado através do e-mail bobherbert88@gmail.com.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hipocrisias nos céus da Líbia


Que essas decisões das potências ocidentais via-Conselho de Segurança da ONU estão repletas de hipocrisia ninguém tem mais dúvidas – exceto a grande mídia brasileira... Mas quem também afirma isso é Leslie H. Belb, ex-colunista do New York Times e presidente emérito do Council on Foreign Relations. Essa semana Leslie H. Belb escreveu um artigo no site The Daily Beast, “The Horrible Libya Hypocrisies”, onde começa dizendo que “não há nada como uma crise da política externa, real ou imaginada, para inflamar o pior entre os líderes mundiais e entre os especialistas em política externa”.
Outros trechos:
  • A crise fabricada na Líbia é um primeiro exemplo. Nenhum estado estrangeiro tem interesses vitais em jogo na Líbia. Os acontecimentos nesse lugar estranho e isolado têm pouca influência sobre o resto do tumultuado Oriente Médio. Também não pode ser descartado que há horrores humanitários muito, muito piores em outros lugares. No entanto, os intervencionistas humanitários neoconservadores e liberais dos EUA forçaram mais um presidente dos EUA a agir como se fosse o contrário.
  • Quando essa dupla terrível começa a cuspir palavras como "massacre" e "genocídio", a mídia fica louca.
  • O motivo pela qual nem o presidente Obama nem seus parceiros da Grã-Bretanha e da França podem apresentar um objetivo coerente para a Líbia é que nenhum deles tem qualquer interesse central no que vai acontecer lá. (...) Todos eles foram simplesmente levados por sua própria retórica.
  • O drama começa quando os líderes e pensadores são seduzidos pela sensação de que devem fazer o bem. Às vezes, eles ignoram os assassinatos, mesmo quando as mortes chegam a centenas de milhares (como em Ruanda) ou milhões (como no Congo). Outras vezes, o número de mortes está em centenas ou algo assim, como na Líbia – mas o cara que está fazendo a matança é alguém que eles têm boas razões para não gostar, e aí decidem fazer o bem e detê-lo. (Texto completo aqui.)

Paricularmente, mesmo concordando inteiramente com a hipocrisia das declarações dos líderes ocidentais e do noticiário, acredito que eles tiveram motivos mais fortes do que o amor à própria retórica. Sarkozy tem óbvios interesses eleitorais, louco para um fato grandioso capaz de levantá-lo nas pesquisas. Obama idem, e pior: tem que lutar contra o lobby da guerra, contra os Republicanos e contras os gaviões da infiel Hillary Clinton empoleirados dentro do próprio partido Democrata.

Ironia: há 50 anos Elizabeth Taylor ia ter alta...

O Globo publicava há 50 anos que "Elizabeth Taylor se acha internada - em convalescença da enfermidade que quase a matou". Os médicos declararam que "é franca a sua recuperação e que já na segunda-feira próxima ela terá alta". Na mesma edição, o Globo falava da convalescença de Marilyn Monroe depois de um colapso nervoso...
O mundo roda e a Lusitana gira!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Who’s afraid of Elizabeth Woolf?

Pouco antes de morar nos Estados Unidos, fiz pequeno treinamento de conversação em inglês. Na verdade, ouvir e debater em inglês a radionovela Who’s afraid of Virginia Woolf? com interpretação de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Um trabalho belíssimo, em cima do texto maravilhoso de Edward Albee. Hoje, soube da morte de Elizabeth Taylor. Pena. Felizmente, Martha não morreu. Nem Cleópatra... nem...
Por coincidência, nesse Carnaval peguei o Who’s afraid of Virginia Woolf? para reler.

terça-feira, 22 de março de 2011

Michael Moore tuíta contra o ataque à Líbia


#1. This appears to be a civil war in Libya. Not a war of genocide. Not a revolution. One thing's clear: None of us want Khadaffy to win.
# 1. Na Líbia, parece que se trata de uma guerra civil. Não é uma guerra de genocídio. Não é uma revolução. Uma coisa é clara: nenhum de nós quer que Kadafi vença.

#2. But who is the opposition? Don't send weapons 2 rebels til u know who they r! Last time we did that we armed bin Laden & the Taliban.
# 2. Mas quem é a oposição? Não enviem armas para rebeldes até que saibam quem são! A última vez que fizemos isso nós armamos Bin Laden e os Talibãs.


#3. Stop lying. Quit saying "Khadaffy's not the target." Really? If he's the target... Then spend a decade cleaning up the mess left behind.
# 3. Parem de mentir. Chega de dizer que "
Kadafi não é o alvo." Sério? Se ele é o alvo ... Então, passem uma década limpando o caos deixado pra trás.

#4. If the rebels want a democracy then support them w/ the arms they need. But u must do same 2 help Bahrain/Yemen or u have no credibility.
 # 4. Se os rebeldes querem uma democracia, então apoiem com as armas de que precisam. Mas vocês devem fazer o mesmo para ajudar o Bahrein e o Iémen, ou não terão credibilidade.

Vergonha! Soldados americanos exibem como troféus civis que mataram no Afeganistão



A revista alemã Der Spiegel publicou ontem reportagem com fotos como essa: "As imagens são repulsivas. Soldados sórdidos do Exército americano mataram civis inocentes no Afeganistão e posaram ao lado de seus corpos. O exército dos EUA pediu desculpas. Ainda assim, a OTAN teme reações violentas". São os mesmos que querem "salvar" a Líbia?

sábado, 19 de março de 2011

Marines americanos: de Montezuma, no México, a Trípoli, na Líbia




Quem deu a dica foi a amiga de um amigo: Trípoli faz parte do hino dos fuzileiros navais americanos, o mais antigo hino oficial dos militares dos Estados Unidos. Os versos iniciais do hino, “From the Halls of Montezuma // To the Shores of Tripoli”, referem-se 1) ao Castelo de Chapultec, quando os marines venceram importante batalha na guerra em que levaram parte do México na mão grande e referem-se 2) a uma batalha, em 1805, no Norte da África (Trípoli, Líbia), em que lideraram um exército de 500 mercenários. Quer dizer: não é de hoje que vivem de olho naquela região. Para ouvir o hino completo clique aqui. E aproveite para, pelo menos, rezar pela paz!

Mensagem a Obama: "Yes we can’t"



Caro, Obama.
Se eu fosse americano, certamente você teria tido meu voto. Eu teria tido prazer em eleger o primeiro presidente negro da maior potência mundial. Um presidente em tudo superior à tralha que andava desgovernando os Estados Unidos.
Mas, eu sou da América do Sul.
Eu sei, você não vai saber, mas sou brasileiro com muito orgulho. Hoje, mais do que nunca, ando de cabeça erguida e não aceito os desmandos “ocidentais”.
Sim, não podemos aceitar o seu modelo neoliberal que só serve para aumentar as diferenças sociais, tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
Sim, não podemos aceitar sua política externa apoiada na mais poderosa máquina de matar e dominar.
Sim, não podemos aceitar o estrangulamento de Cuba, o golpe do Haiti, a destruição da Palestina, a invasão do Iraque, as suas botas avançando por toda parte.
Sim, não podemos aceitar o extermínio praticado há décadas no mundo árabe.
Sim, não podemos aceitar mais o alinhamento automático, que durante décadas tirou nossa soberania e empobreceu o nosso povo.
Sim, não podemos aceitar ameaças contra a Amazônia e contra o pré-sal.
Eu sei, você não vai saber, mas não somos mais o lixo ocidental.
Temos prazer em recebê-lo. Podemos negociar, ampliar o comércio, fazer alianças – desde que isso seja de igual para igual, em bases justas para todo mundo.
Como disse Lula, não vamos mais nos curvar e tirar o sapato diante da arrogância. Não precisamos do medo, não precisamos da timidez.
Se não for nesses termos, de igualdade e justiça, não podemos aceitar.
Yes we can’t.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Alô, ONU, vamos ampliar as zonas de exclusão aérea

Gostei da resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a zona de exclusão aérea na Líbia.
Vamos levar as zonas de exclusão aérea também para o Afeganistão, onde as forças aéreas americanas costumam atingir civis.
Para o Bahrein, onde a força aérea da monarquia está atacando os rebeldes.
E também para a faixa de Gaza, onde a força aérea de Israel já está cansada de atingir a população civil.
Nesse ritmo, o Conselho de Segurança da ONU acaba indo pelos ares.



quinta-feira, 17 de março de 2011

Bahrein, Líbia: dois dinares, duas medidas


O Bahrein é um arquipélago de 35 ilhas e ilhotas do Golfo Pérsico com 800 mil habitantes e um PIB per capita de 34,5 mil dólares – graças principalmente à sua produção diária de cerca de 200 mil barris de petróleo. Sua moeda é o dinar bareinita.
A Líbia fica no norte da África, com boa parte inserida no deserto do Saara, tem 6,5 milhões de habitantes e um PIB per capita de 15,5 mil dólares – graças principalmente à sua produção diária de cerca de 1,6 milhão barris de petróleo. Sua moeda é o dinar.
A Líbia é dominada por Muamar Kadafi desde 1969, quando foi derrotado o reinado pró-ocidental.
O Bahrein tem o mesmo primeiro-ministro, Khalifa bin Salman Ali Khalifa (o rei é Hamad bin Isa Al Khalifa), desde o início dos anos 70, quando foi declarada a sua independência e estabelecida uma monarquia constitucional.
Os dois países vivem a “crise árabe pela democracia”, mas recebem tratamento diferente da grande mídia ocidental. Por exemplo, em ambos, os jornalistas ocidentais estão sendo presos ou “desaparecidos” – mas só se dá destaque ao caso líbio. Em ambos, os governos estão realizando ataques aéreos contra os rebeldes – mas só se pensa em ação de exclusão aérea contra a Líbia.
A resposta para essa política de “dois pesos, duas medidas” é uma só: enquanto a Líbia de Kadafi não se submete ao Ocidente, o Bahrein dos “Al Khalifa” é aliado da Arábia Saudita (a sua história de independência dos persas, em 1783, foi graças ao príncipe saudita Ahmad bin Khalifa) – que vem a ser o maior aliado ocidental no mundo árabe e o maior produtor mundial de petróleo (mais de 11 milhões de barris/dia). Precisa dizer mais?
Veja vídeo da Al Jazeera em Manama, capital do Bahrein.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Fukushima, mon amour...

Nesses momentos trágicos, com os perigos de Fukushima pairando sobre o Japão e o mundo, não há como não lembrar dos horrores de Hiroshima. E não há como não rever "Hiroshima, Mon Amour", de Alain Resnais e roteiro de Marguerite Duras. Aqui abaixo, dividido em 9 partes, com legendas em inglês.


Catacorno 2011 - vale a pena conhecer

Esse ano, como já falei aqui, não pude sair no bloco Catacorno - mas o Catacorno 2011 veio até este Blog, e divido um pouco com vocês.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Um Carnaval diferente


Esses 10 dias que me separam da última postagem foram bem atípicos, para o mundo e para mim. Fiz alguns destaques.
Carnaval Nota 10. A Nota 10 ficou por conta de minha filha de 10 anos, que fez uma redação na escola sobre o Catacorno, bloco carnavalesco tocado pela família de minha mulher e que arrasta milhares de pessoas no interior do Rio. O atípico ficou por conta de este ano não termos saído no bloco, ilhados por causa da lama nas estradas, uma chuva sem parar. Nem internet eu tive.
Um Japão sem saída? Sem dúvida, o grande acontecimento desses dias foi a catástrofe japonesa. Uma tristeza imensa. Em primeiro lugar, para o povo japonês, glorioso, apesar de seus governos terem uma história de intolerância. E foi também uma tristeza para toda a humanidade. Somos solidários e ao mesmo tempo ficamos apreensivos sobre outras surpresas que a natureza nos prepara. No meio de todo esse caos, meu filho de 15 anos me veio com uma informação sobre o Google Maps: quando você indaga “como chegar” de algum endereço da costa japonesa para algum endereço da costa americana (de Tsuchiura para Seattle, por exemplo), ele sugere em certo ponto “cruzar o Oceano Pacífico em um caiaque”!!! Não são engraçadinhos? Ou trágicos? Se for para a China, em vez de caiaque, jet ski.
(clique para ampliar)
Túnel do tempo. Nessa questão do melhor meio de ir de um lado para o outro, o Globo falou de uma carta que sua redação recebeu há 50 anos: o Sr. Djalma Nunes, presidente do Comitê Pró-Construção do Túnel Rio-Niterói, escreveu-nos uma carta, para defender essa iniciativa e, ao mesmo tempo, contestar afirmações contidas numa conferência do Sr. Alberto Lélio Moreira, em favor de uma Ponte Rio-Niterói.
A carta justifica a opção pelo túnel pela despesa mais reduzida, a facilidade de conservação, a conveniência da maior segurança e “a ausência de contra-indicações, inclusive de ordem militar — o Exército, por exemplo, alegou que o túnel seria mais útil, podendo vir a servir como excelente abrigo antiaéreo, ficando, no futuro, em conexão com o metrô”. É ou não é curioso?
Política do tapinha nas costas. Leitura interessante é o texto-prefácio de Samuel Pinheiro Guimarães para o livro de Moniz Bandeira, "Relações Brasil-EUA no Contexto da Globalização: Rivalidade Emergente". Começa com uma frase de J. Foster Dulles, Secretário de Estado americano na década de 50: "Você tem de dar-lhes um tapinha nas costas e fazer com que eles pensem que você gosta deles". Esperamos (com todas as forças) que não seja esse o pensamento de Barack Obama, que está prestes (epa!) a chegar ao Brasil – aliás quando se comemoram os 50 anos da malfadada Aliança para o Progresso, criada com objetivos anti-Cuba.
Kadafi rides again. Quem soube aproveitar esse período de Carnaval para soltar suas bombinhas foi Kadafi. Se ele continuar nesse ritmo de reconquista, não duvido que as potências ocidentais (apesar dos protestos de Sarkozy) retomem as negociações com ele, e tudo volte “às boas”...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Visto de saída

 
(clique para ampliar)
Não há como não se emocionar com a notícia da morte de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, que foi esposa de Guimarães Rosa e, mais que isso, foi uma heroína na luta para salvar judeus da ferocidade nazista. O obituário do jornal é simples, a informação é grandiosa. Veja também o texto da Wikipédia:
Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (Rio Negro, Paraná, 1908 – São Paulo, 3 de março de 2011) foi uma poliglota brasileira que prestou serviços ao Itamaraty, tornando-se a segunda esposa do escritor João Guimarães Rosa. Aracy também é conhecida por ter seu nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel, por ter ajudado muitos judeus a entrarem ilegalmente no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. A homenagem foi prestada em 8 de julho de 1982, ocasião em que também foi homenageado o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas. Ela é uma das pessoas homenageadas também no Museu do Holocausto de Washington (EUA).
Biografia. Paranaense, nasceu em Rio Negro, e ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930, Aracy casou com o alemão Johan von Teff, com quem teve o filho Eduardo Carvalho Teff, mas cinco anos depois se separou, indo morar com uma irmã de sua mãe na Alemanha. Por falar quatro línguas (português, inglês, francês e alemão), conseguiu uma nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde passou a ser chefe da Secção de Passaportes.
No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a Circular Secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou a circular e continuou preparando vistos para judeus, permitindo sua entrada no Brasil. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra J, que identificava quem era judeu.
Nessa época, João Guimarães Rosa era cônsul adjunto (ainda não eram casados). Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte.
Aracy permaneceu na Alemanha até 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com aquele país e passou a apoiar os Aliados. Seu retorno ao Brasil, porém, não foi tranquilo. Ela e Guimarães Rosa ficaram quatro meses sob custódia do governo alemão, até serem trocados por diplomatas alemães. Aracy e Guimarães Rosa casaram, então, no México, por não haver ainda, no Brasil, o divórcio.
Sua biografia inclui também ajuda a compositores e intelectuais durante o regime militar implantado no Brasil em 1964, entre eles Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga.
Aracy enviuvou no ano de 1967 e não se casou novamente. Sofria de Mal de Alzheimer e morreu no dia 3 de março de 2011 em São Paulo, de causas naturais, aos 102 anos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Crise árabe: conflito entre o Departamento de Estado e a Defesa dos Estados Unidos


O Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, considerou que a história de “zona de exclusão aérea” na Líbia, sugerida pela Secretária de Estado Hillary Clinton, é papo furado. "Vamos falar claro", disse Gates, "uma zona de exclusão aérea começaria com um ataque à Líbia". E ele observou que a ONU não autorizou o uso da força. Essa autorização seria necessária antes que os EUA atacassem, e a Rússia, membro do Conselho de Segurança, já se opôs. Representantes da OTAN também estariam preocupados com o risco, o custo e a eficácia da criação de uma zona de exclusão aérea.
Antes, na terça-feira, em audiência no Senado, o comandante das forças dos EUA no Oriente Médio, almirante James Mattis, declarou: "Minha opinião militar é de que seria um desafio. Teríamos que eliminar a capacidade de defesa aérea a fim de estabelecer a zona de exclusão aérea – e isso, sem ilusões aqui, seria uma operação militar. Não seria simplesmente dizer às pessoas para não utilizar aviões”.
Como podemos perceber, antes de se “desentender” com a Líbia, os Estados Unidos têm que se entender internamente.
Leia a reportagem "U.S. Cools 'Loose Talk' Over No-Fly Zone" do The Wall Street Journal.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Krig-ha, Bandolo: o 7º Regimento de Cavalaria prepara-se para invadir a terra dos tuaregs


Ok, os Estados Unidos conseguiram a solução de “Mubarak sem Mubarak” no Egito, algo provisório ainda, mas que serve para preservar boa parte de seus interesses na região e acalmar os ânimos dos “revoltosos da internet”. De um modo geral, procuram driblar as revoltas com uma espécie de “ditadura com roupagem nova” – apesar dos discursos em defesa da instauração da democracia. Mas na Líbia essa jogada não parece que vai dar certo. Não dá para imaginar a terra dos tuaregs com um “Kadafi sem Kadafi”. Lá é “bola ou búlica”. Na hipótese – bem complicada – de Kadafi cair, ninguém sabe o que virá depois. Com medo de ficar com nada, o Governo Obama está disposto a tudo. Mobilizou a ONU, convocou os aliados ocidentais, bloqueou bens e já prepara o “7º Regimento de Cavalaria” para ocupar o Saara. Claro que, para os interesses americanos, o melhor cenário seria a preservação de Kadafi, com um novo discurso de “abertura” política. Mas acham isso difícil e não querem correr riscos. O preço do petróleo sobe ameaçadoramente, outras ditaduras aliadas começam a balançar, o Irã ganha força e até a Al-Qaeda começa a ter a imagem de “boazinha”, aliada dos que protestam – o que é ainda mais ameaçador. Temendo o pior dos mundos, os Estados Unidos fazem movimentos que os afastam dos “democratas” árabes. Se concretizam as ameaças, correm o risco de tornarem-se o próximo grande alvo das redes sociais revoltosas. Até Lord Greystoke (Krig-ha! Cuidado! Tarzan bandolo – matar!) poderia tomar posição contrária. Nem mesmo Edgar Rice Burroughs conseguiria um final feliz para essa história.
Leia o artigo de Steven Erlanger, do NYT, "Even a Weakened Qaddafi May Be Hard to Dislodge".