sábado, 30 de abril de 2011

Delúbio: a volta de quem não saiu


Estava ouvindo a CBN quando entrou o comentário semanal de Kennedy Alencar, quinta, sobre a reintegração de Delúbio Soares ao PT. Fiquei impressionado com o tom raivoso do comentário. Kennedy Alencar disse que a reintegração de Delúbio vai ter “impacto desastroso”, que o PT “vai pagar um preço muito alto por isso”. Pior: disse que “o Delúbio está fazendo chantagem política com o PT”!  Ou seja, que o Delúbio estaria se utilizando de informações privilegiadas para forçar a direção petista a reintegrá-lo. Bobagem. A expulsão de Delúbio, por mais que lhe tenha sido indesejável, jamais o transformou em um “não-petista”. Na carta que escreveu há dois anos ele dizia que cada dia de sua vida "foi dedicado ao PT e à causa de construção de um país mais justo e solidário”. Até onde sei e imagino (já que não pertenço a qualquer partido), ele não deixou de atuar dentro do ambiente petista. Sua mulher Mônica, valente, nunca deixou o Diretório Nacional do partido. A sua reintegração, portanto, ampliará a sua atuação e possibilitará que ele se candidate pela sigla – além do prazer pessoal de sair da categoria de persona non grata.
Claro que a reintegração implica reação negativa de parte da mídia e da classe média lacerdista. Mas nada de “impacto desastroso” ou “preço alto” para o PT. Creio que o Partido dos Trabalhadores não cai novamente na armadilha “ética” da oposição conservadora. O partido teve chance de compreender que defender a ética não é bandeira, mas uma postura natural de qualquer partido ou pessoa. O importante para um partido como o PT é manter firme suas bandeiras de cunho social, em defesa dos mais pobres, da igualdade social, do crescimento, além da independência e da altivez no plano internacional. Há dois anos defendi aqui (A volta do Delúbio) que “a Oposição não tem discurso para 2010, e a reintegração de Delúbio não vai lhe significar um único voto novo”. O PT preferiu esperar mais um pouco, por insegurança eleitoral. Mas agora não havia mais motivos para adiar. Na minha opinião, aqui de fora, a Direção Nacional agiu certo ao demonstrar que Delúbio nunca deixou de fazer parte do PT.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Potências ocidentais cada vez mais encalacradas no Oriente Médio

Boas as considerações postadas hoje por Cesar Maia em seu Ex-Blog sobre a atual crise síria:

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISE NA SÍRIA E SUA DINÂMICA!

1. Uma intervenção militar ocidental na Síria traria o risco muito provável de uma enorme convulsão no Oriente Médio, pois o regime de Bachar el-Assad conta com os apoios do Irã e do Hezbollah libanês. Isso explica a prudência das grandes potências ocidentais no tratamento da crise síria e seu hesitante anúncio de possíveis sanções. Os EUA estão incomodados com a violenta repressão dos movimentos populares de protesto na Síria. Porém, não foram além de uma declaração de Obama, no sentido de que a repressão exercida pelo regime sírio era “intolerável”. Essa atitude pode ser explicada também pela possibilidade de uma atitude mais dura contra o regime de al-Assad provocar reações destemperadas contra Israel de parte dos aliados da Síria. A proteção do Estado de Israel é uma pedra fundamental da política norte-americana no Oriente Médio.
2. A Turquia está também bastante preocupada com o desenvolvimento da crise síria. Além do Irã, é o único grande país da região que mantém um relacionamento político e econômico mais estreito com a Síria. Erdogan procurava até agora estabelecer os contatos mais cordiais e produtivos com AL-Assad. Israel encara a Síria como um país inimigo. Jamais se assinou um acordo de paz entre ambos. As colinas de Golan, pertencentes à Síria, estão ocupadas desde 1967 por Israel, que as anexou a seu território em 1981. Apesar disso, Israel considera com um fator de estabilidade o regime ditatorial liderado por Bachar Al-Assad, preferindo-o a uma situação de caos capaz de levar às mais descontroladas aventuras.
3. Na Síria, ainda não se chegou a um estado de guerra civil, como o da Líbia. Não há bolsões de resistência organizada contra al-Assad, mas reações pontuais reprimidas de maneira brutal, cristalizadas ao sul da Síria, em torno de Deraa, que se estão estendendo a outras regiões do país nos últimos dias. Os EUA e certas potências da Europa Ocidental não têm contatos regulares com a oposição síria. Contudo, há potências regionais que mantém relações de cooperação com essa oposição. Os extremistas sunitas (salafistas), bastante ativos nos movimentos de contestação ao regime de al-Assad, são ajudados pela Arábia Saudita e por famílias libanesas.
4. O Irã tem evidentes simpatias para com o atual Governo sírio, mas não parece estar envolvido na repressão aos movimentos populares de contestação. O regime de AL-Assad parece plenamente capaz de organizar essa repressão. Mas a aliança entre o Irã e a Síria, existente há mais de 30 anos, é um fator importante nas estratégias diplomáticas norte-americanas e europeias.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Obama sentiu o golpe e teve que apresentar a Certidão de Nascimento


(clique para ampliar)
Esse negócio de percepção pode ser fatal em uma eleição. Veja o que acontece nos States: alguém espertamente inventou que Obama não teria nascido em solo americano e isso virou uma onda negativa para a campanha Democrata. Inicialmente, Obama recusou-se a discutir o assunto e a provar documentalmente o seu local de nascimento. Fez certo, procurando com isso desacreditar o diz-que-me-diz. Mas não foi suficiente, a percepção (fundamentada em grande preconceito) de que ele não era all-american ganhou corpo. A estratégia da fofoca começou a dar certo e a incomodar a campanha de Obama. O jeito foi tornar pública a Certidão. Os Republicanos agora terão que encontrar outro boato...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Celso Amorim e a revolução BRICS: "Ser radical é tomar as coisas"


Artigo do ex- Ministro Celso Amorim, ontem, na Carta Capital:

Ser radical é tomar as coisas
Celso Amorim
Os líderes (no caso do Brasil, a líder) dos cinco países emergentes que, com a adesão da África do Sul, hoje compõem os BRICS reuniram-se em Sanya, na China, em 14 de abril último. A entrada da África do Sul é bem-vinda por trazer a África para esse grupo, cuja crescente importância no cenário internacional já não é mais contestada. Evidentemente, os pessimistas profissionais continuam a apontar diferenças de interesses entre os membros dos BRICS, traduzindo, em verdade, seu desconforto com a criação desse grande espaço de cooperação entre países até há pouco considerados subdesenvolvidos.
O mundo assiste à ascensão dos BRICS com um misto de esperança (de dividir encargos) e temor (de compartilhar decisões). Com o surgimento dos BRICS, chega ao fim a época em que -duas ou três potências ocidentais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, podiam reunir-se numa sala e sair de lá falando em nome da “comunidade internacional”.
Tive oportunidade de participar dos primeiros movimentos que deram origem ao nascimento dos BRIC (então sem o “S”). Ou para usar uma terminologia que tomo emprestada da filosofia, da passagem dos BRIC de uma realidade “em si”, identificada pelo analista de mercado Jim O’Neill, para uma realidade “para si”. Foram necessários quatro ou cinco anos para que esses países assumissem sua identidade como grupo. O primeiro passo nesse sentido foi o convite do ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, para que os chanceleres dos quatro países se reunissem à margem da Assembleia Geral da ONU. Foi um encontro pouco estruturado. Interação mesmo, se é que houve, ficou restrita ao ministro russo e a mim.
No ano seguinte, tomei a iniciativa de convidar meus colegas para um almoço de trabalho na residência oficial da nossa representante permanente junto à ONU, Maria Luiza Viotti. Foi durante esse encontro que se tomou a decisão, inicialmente vista com certa reserva pela China, de convocar reunião a ser realizada em um dos países – e não como mero apêndice da pesada agenda dos ministros durante a Assembleia Geral. Assim, em maio de 2008, realizou-se a primeira reunião formal dos BRIC, na fria cidade russa de Ekaterinbrugo, no limite da Europa com a Ásia, com direito a declaração final e tudo o mais, ainda em nível de ministros. No ano seguinte, teve lugar, também na Rússia, a primeira cúpula de líderes. Antes disso, houve a tentativa, que acabou limitada a uma foto, de um encontro dos quatro, à margem da reunião do G-8 com alguns países em desenvolvimento, no Japão. Em 2010, ocorreu a Cúpula de Brasília, que quase não mereceu -atenção da mídia -brasileira, mas que motivou um documentário da tevê franco-alemã, a ARTE. E agora tivemos a Cúpula de Sanya, na China
E o que se nota ao longo desse processo? Primeiro, obviamente, a consolidação do grupo. Quando o Brasil propôs sediar a reunião do ano passado, a oferta foi aceita quase como um gesto de cortesia para com o presidente Lula, já que se tratava do final do seu mandato. Agora, sem que nada equivalente esteja ocorrendo, já se fixou a próxima cúpula para o ano que vem na Índia. Em suma, os líderes dos BRICS já não têm dúvidas sobre a importância de se reunir para discutir a cooperação entre eles e temas de interesse global, das finanças ao comércio, da energia à mudança do clima. Mais significativo, vencendo uma inibição que se fazia notar, sobretudo da parte da China, não hesitaram em tratar de questões relativas à paz e segurança internacionais. Em relação à Líbia, reafirmaram o desejo de encontrar uma solução “por meios pacíficos e pelo diálogo”. De forma mais geral, referindo-se ao Oriente Médio e à África, reafirmaram que o uso da força deve ser evitado. Como assinalou o comentarista do Financial Times, Gideon Rachman (embora eu discorde de sua análise das motivações), a intervenção anglo-franco-norte-americana na Líbia talvez seja o último hurrah! do que ele chama de intervencionismo liberal. Lembrando que Brasil, Índia, Rússia e China se abstiveram da resolução que autorizou “todas as medidas necessárias” para o estabelecimento da zona de exclusão aérea e a proteção da população civil, Rachman afirma que esses países, “as potências econômicas em ascensão”, são céticas sobre tal conceito. Aliás, se o Conselho voltar a reunir-se sobre o tema, é muito provável que a África do Sul, recém-ingressada nos BRICS e tendo de levar em conta posições mais recentes da União Africana, acompanhe seus novos companheiros de grupo. Isso deixaria a coalizão que apoiou o uso da força dependente de um único voto para qualquer nova ação que deseje tomar.
Bem… quais as consequências disso tudo? É que, com reforma ou sem reforma do Conselho de Segurança, já não será mais possível, por muito tempo, que um grupo de potências ocidentais decrete qual é a vontade da comunidade internacional. Da mesma forma que já não é possível para o G-7 (o G-8, do ponto de vista econômico, é uma ficção) ditar as regras que depois restaria ao FMI, ao Banco Mundial ou à OMC implementar. É evidente que, enquanto o Conselho da ONU não for efetivamente reformado, tudo será mais complicado e as grandes potências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, especialmente os Estados Unidos, continuarão a barganhar apoios de Rússia e China, mediante concessões casuísticas, como fizeram por ocasião da adoção de sanções contra o Irã. Mas a tarefa será cada vez mais difícil. O surgimento dos BRICS no formato atual constitui uma verdadeira revolução no equilíbrio mundial, que se torna mais multipolar e mais democrático. Às vezes, as revoluções (refiro-me às verdadeiras, é claro) exigem tempo para se institucionalizarem. Mas isso acaba, inevitavelmente, ocorrendo.

Obama vai vencer em 2012, apesar de vacilar em Guantánamo e de outras bobagens que fez



Recebi um “e-mail convocação” da Campanha Obama 2012 com um vídeo do Coordenador Jim Messina. É mais uma peça brilhante de marketing político. No vídeo anterior, tínhamos pessoas comuns falando sobre a reeleição de Obama e as possibilidades de votar nele em 2012, o trabalho de formiguinha para conquistar novos eleitores. O slogan é genial, “It begins with us” (“Começa com a gente” – ou, forçando um pouco, “Começa com Os Estados Unidos”). Nesse novo vídeo, Jim Messina fala diretamente para o cabo eleitoral (e/ou contribuinte) em potencial. Fala de estratégia, da missão de cada um, mostra mapas eleitorais, a conquista do voto um a um e mostra o que deverá ser o principal confronto de focos em 2012: enquanto os Republicanos deverão focar sua campanha em Obama, os Democratas deverão focar no povo. No incentivo direto pela inclusão de novos cabos eleitorais (e/ou doadores), o slogan “I’m in” (“Tô dentro” ou “ Tô nessa”), passo importante para a vitória. Que deverá contar também com uma reviravolta na economia – mais empregos, crescimento, retomada de uma liderança forte nacionalmente e internacionalmente.
Contra Obama, as promessas não cumpridas, a derrota de 2010, que o deixou refém de um Congresso com maioria Republicana, o enfraquecimento no cenário internacional, com perda de qualidade entre aliados, uma imagem algo titubeante, sem passar liderança forte. Mas com o apoio de uma economia recuperada, o eleitor americano poderá concluir que, apesar dos pesares, Obama é opção infinitamente superior a qualquer Republicano.
Em tempo: destaque, no vídeo, para o merchandising da Apple nessa pré-campanha presidencial...

Kate Middleton, a bem-dotada


Dois dias atrás, minha filha de 10 anos, que está adorando a novela “Cordel Encantado”, veio me perguntar o que seria um dote. Expliquei pra ela, que ficou entusiasmadíssima e logo perguntou de quanto seria o seu dote. Respondi carinhosamente “Dote é o cacete!”, e encerrei o assunto. Mas o assunto voltou à minha cabeça com esse casamento real inglês. Li agora pela manhã que “o casamento poderá ajudar a injetar mais de US$ 3 bilhões na economia britânica”. E que, apenas no dia do casamento, “turistas deixarão cerca de US$ 80 milhões em Londres”. Vou explicar para minha filha que “nascer plebeia e ser bonitinha, bem comportada e casar com um príncipe igualmente bem comportado” também pode significar um dote. E que dote tem a tal da “marca Kate”!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Lula e a reforma política

A equipe do www.mobilizacaobr.com.br gravou essa boa entrevista de Lula sobre a reforma política:

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O bullying toma conta do dia-a-dia


(clique para ampliar)
O bullying sempre existiu. Se forçar a memória, dá pra lembrar alguma cena do filme A Guerra do Fogo (sobre um período pré-histórico) que seja tipicamente bullying – mas, pensando bem, no ambiente primitivo seria natural... O que me surpreendeu foi essa pesquisa do Instituto Informa / O Globo publicada hoje, “Mais de 40% dos alunos do Rio sofrem de bullying”. O título diz tudo, a coisa já virou lugar-comum em nossas escolas. E já se transforma em ambiente fértil para futuras manchetes de grandes massacres, como aconteceu em Realengo, no Rio de Janeiro. Vendo os números, alguém pode dizer que metade (42,7%) dos casos refere-se apenas a “apelidos que magoam” – mas talvez seja esse tipo de bullying que deixa marcas mais fortes. O combate ao bullying tem que ser imediato e inteligente.

domingo, 17 de abril de 2011

Aécio representa perfeitamente os tucanos: habilitação para dirigir está vencida

Imagine o bafafá neste cenário inteiramente tucano! O Senador Aécio Neves foi flagrado pela Operação Lei Seca, em plena madrugada carioca, dirigindo com a habilitação vencida. Bafômetro... nem pensar! Esse é o melhor retrato da nossa oposição sem direção. Pretende dirigir o país, sem estar habilitada para isso. Seria o caso de submeter todos ao desconfiômetro!

sábado, 16 de abril de 2011

Eleições: o que é que chega primeiro, 2012 ou 2014?


Ontem, na inauguração da sede do PMDB fluminense, um dos assuntos preferenciais nas conversas paralelas era a candidatura do Vice Pezão para a sucessão do Governador Sérgio Cabral em 2014. Teve gente que jurava ter ouvido Lula declarar (brincando, claro): “Se você se candidatar, Pezão, quero ser seu Vice!”
Mas se é verdade que 2014 começa a entrar na pauta, 2012 já está acelerado. Os prefeitos (principalmente os que vão para a reeleição) tratam de embelezar suas cidades e espalhar obra por toda a parte. Os pré-candidatos de oposição buscam apoios, preparam pesquisas e já pensam em marqueteiros. E tem milhares de pessoas que não sonham com outra coisa que não seja a candidatura a Vereador. O zelador do meu prédio é um desses, que puxa assunto todo santo dia. Ontem, me viu e foi logo perguntando: “É verdade que o PCdoB é o partido que elege com menos votos?” Respondi com outra pergunta: “E você por acaso é comunista?”
Até Garotinho (PR-RJ), que pensa unicamente em política desde os tempos em que era Bebezinho e que acaba de ser eleito Deputado Federal, parece que está procurando mudar o domicílio eleitoral para outro município do Rio de Janeiro onde possa se eleger Prefeito. Ao mesmo tempo lança sua filha, a Deputada Estadual Clarissa Garotinho (PR-RJ), para a prefeitura da Capital. Pior: na mesma chapa do Deputado Federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), filho do eterno arquirrival Cesar Maia (DEM-RJ). Teve um amigo (que não pertence a qualquer partido) que observou: “Parece a história do sapo transportando o escorpião na travessia do rio. Só falta decidir quem é o sapo e quem é o escorpião...”
E por falar em Cesar Maia, ele parece que está chateadíssimo com o estrago feito por Kassab  e seu PSD (que significa Partido do Serra e da Dilma, diz o Jorge Bastos Moreno...) e anda fazendo mil análises eleitorais. Às vezes muito boas, como o os dois textos que divulgou sobre os votos “Zona Sul” (classe média) do Rio, que reproduzo abaixo.
(Em tempo: as eleições presidenciais também já estão em pauta, mas essa é uma preocupação oposicionista para 2018...)

COMO VOTA A ZONA SUL DO RIO! COMO VOTOU EM 2010!
Cesar Maia

1. O voto da Zona Sul do Rio é quase sempre diferente da média da cidade, e quase sempre é muito diferente do voto das Zonas Norte e Oeste do Rio. Assim é desde os anos 30. Nos anos 50, a Zona Sul votou em Lacerda e as Zonas Nortes e Oeste em Lutero Vargas. Em 1960, garantiu a vitória de Carlos Lacerda contra Sergio Magalhães. Negrão de Lima venceu na cidade toda, menos na Zona Sul. O mesmo em relação a Brizola. Em 1992, a Zona Sul levou Cesar Maia ao segundo turno e à vitória. Em 2006, Denise Frossard ganhou de Cabral na Zona Sul. Em 2006, para deputado, Gabeira venceu na Zona Sul, mas perdeu para Rodrigo Maia nas Zonas Oeste e Norte. Em 2008, Gabeira venceu na Zona Sul. Em 2010, Chico Alencar venceu na Zona Sul e Garotinho nas Zonas Oeste e Norte. Da mesma forma nas presidenciais de 1989, 1994 e 1998.
2. Em 2010 não foi diferente. Dilma foi a grande vencedora para presidente em toda a cidade: menos na Zona Sul. Nesta, ela chegou em terceiro lugar. Serra venceu com 150.072 votos, Marina teve 139.392 e Dilma 137.692. Para governador, embora Cabral tivesse vencido também na Zona Sul, aqui foi a sua menor diferença. Ele teve 216.550 votos, Gabeira 167.962 e Peregrino 8.062.
3. No Senado esteve a maior diferença em 2010. Pela Zona Sul, venceriam Lindbergh com 162.919 e Cesar Maia com 124.401. As demais posições também seriam invertidas. Crivella, segundo na cidade, chegou em sexto lugar na Zona Sul, com 84.723 votos, perdendo para Temer, Cerqueira e Picciani. Picciani, que foi terceiro na cidade, na Zona Sul seria quinto, perdendo para Temer e Cerqueira. Picciani teve 91.804 votos, Temer 96.174 e Cerqueira 93.755.
4. Em outras grandes cidades no Brasil e no Mundo, o voto da classe média de maior nível de renda e instrução influencia a votação da cidade. Não que isso signifique a mesma ordem dos candidatos em todos os bairros. Certamente não. Mas aproxima. O que diferencia a situação do Rio é que a votação na Zona Sul do Rio é a inversão das demais regiões, especialmente da Zona Oeste. A eleição de 2004, quando o prefeito reeleito venceu em 96 das 97 zonas eleitorais da cidade, foi uma exceção à regra.

* * *
2010: DEPUTADOS FEDERAIS E ESTADUAIS MAIS VOTADOS NA ZONA SUL DO RIO!Cesar Maia

1. Os dois mais votados para Deputado Federal na Zona Sul foram: Chico Alencar com 43.676 votos e Molon com 22.396 votos.
2. Os dois mais votados para Deputado Estadual na Zona Sul foram: Marcelo Freixo 37.994 votos e Wagner Montes 27.306 votos.
3. Curiosamente, o deputado federal - choque de ordem - foi o décimo segundo mais votado da Zona Sul, com 6.476 votos.
4. Conheça os 15 deputados - federais e estaduais - mais votados na Zona Sul em 2010.


(clique para ampliar)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

“Povão” ou “Classe Média”: em defesa de Fernando Henrique




Poucas vezes Fernando Henrique – historicamente confuso – foi tão preciso como foi agora em seu artigo “O Papel da Oposição”. Ele simplesmente defendeu a definição de um foco para o discurso da oposição desnorteada. E na busca do seu norte não adianta inventar muito – tem que ter afinidade, sintonia, precisão. Nem adianta a aventura de assumir o foco que o adversário já consolidou. Todos sabemos que o foco povão está nas mãos de Lula e seu PT. Fernando Henrique percebeu isso e tratou de fortalecer o foco diferencial, da classe média, mais sintonizada com tucanos e demos. Em nenhum momento defendeu abrir mão do povão no processo eleitoral, como foi interpretado por alguns oposicionistas afoitos. “Ora, eu venci duas eleições com o voto desse povão!”, protesta ele com toda razão – ou será que alguém já esqueceu sua imagem de chapéu de couro montado em um jegue? Ou comendo buchada de bode? Ele sabe perfeitamente que a conquista do voto povão exige “linguagem” mais direta, imediata – e sabe também que quem detém o poder tem melhor condição de falar direto com o povo, através de programas sociais. Fora do poder e na entressafra eleitoral, a oposição tucana, de perfil mais elitizado, tem mesmo que tentar se manter forte e unida através do discurso classe média, principalmente diante da “ameaça Dilma”, que conquista brilhantemente largas fatias não só da classe média, como da classe mídia...
FHC ainda demonstra mais um momento de lucidez ao aconselhar o partido “a priorizar as novas classes médias, gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum e suscetível de ouvir a mensagem da socialdemocracia”. Ele está apostando nas parcelas da nova classe média que vão procurar se adequar a novos valores, esquecer que um dia já foram povão. Aécio reagiu contra o abandono do povão, mas o estado dele, Minas Gerais, é um caso diferente e que serve para reforçar a tese de Fernando Henrique. O atual governador mineiro, Anastasia, além de ter nas mãos o poder local, conhece muito bem a máquina pública e ainda faz o tipo bem povão, conversa com um e com outro, desloca-se com desenvoltura pelo interior – algo estranho ao tucano comum.
Na minha opinião, essa postura de Fernando Henrique é a melhor que a oposição pode tomar, embora ainda esteja longe de lhe garantir a volta ao poder central. É o melhor a ser feito para proporcionar um status confortável de oposição por muitos e muitos anos. O resto... bem, o resto é o resto.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Dilma dá importante passo: China apoia aspiração brasileira na ONU


A viagem de Dilma à China foi grande sucesso. Destaquei alguns pontos do Comunicado Conjunto:
  • Os dois Presidentes consideraram que as relações sino-brasileiras adquirem cada vez mais conteúdo estratégico e significado global.
  • O Brasil reconheceu a China como economia de mercado nos termos estabelecidos no Plano de Ação Conjunta 2010-2014.
  • Comprometeram-se a ampliar e diversificar investimentos recíprocos, em particular na indústria de alta tecnologia e automotiva e nos setores de energia, mineração e logística, sob a forma de parcerias entre empresas chinesas e brasileiras.
  • Aprofundamento da parceria estabelecida entre a AVIC, as empresas de transporte aéreo da China e a EMBRAER.
  • As duas partes reconheceram o elevado potencial de cooperação dos dois países na área de infraestrutura, sobretudo em projetos no âmbito do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento do Brasil, nos setores de transporte e energia, entre outros.
  • A parte brasileira acolheu positivamente o interesse de empresas chinesas em participar do processo de licitação referente ao trem de alta velocidade brasileiro.
  • Intensificar o intercâmbio e o diálogo sobre assuntos tais como política macro-econômica, cooperação monetária, estabilidade financeira e reforma do sistema financeiro internacional.
  • As duas partes coincidiram sobre o grande potencial de cooperação e de investimentos entre o Brasil e a China na área de Tecnologias de Informação e Comunicação.
  • Intercâmbio de estudantes, docentes e pesquisadores, a exemplo da cooperação entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o China Scholarship Council (CSC).
  • Reafirmaram a elevada importância da difusão da língua portuguesa na China e do mandarim no Brasil.
  • Assinaram Acordo sobre Cooperação em Matéria de Defesa.
  • As duas partes fortalecerão consultas bilaterais em matéria de direitos humanos e promoverão o intercâmbio de experiências e boas práticas.
  • China e o Brasil apoiam uma reforma abrangente da ONU, incluindo o aumento da representação dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança como uma prioridade. A China atribui alta importância à influência e ao papel que o Brasil, como maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental, tem desempenhado nos assuntos regionais e internacionais, e compreende e apoia a aspiração brasileira de vir a desempenhar papel mais proeminente nas Nações Unidas.
  • As duas partes reiteraram seu compromisso com as negociações para a conclusão da Rodada de Doha.

FHC: finalmente o grão-tucano mostra bom-senso


Depois de três grandes derrotas para as alianças de centro-esquerda lideradas por Lula e o PT, acendeu uma luzinha no tucanato. Ou melhor, na cabeça do grão-tucano Fernando Henrique, que publicará quinta-feira um artigo, “O papel da oposição”, criticando a linha de ação oposicionista. "Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os "movimentos sociais" ou o "povão", falarão sozinhos", escreverá ele. Descobriu o óbvio, mas que já significa um grande avanço, para quem viveu vários anos de vexame político. E ele vai além – afirmará que “a oposição deveria se conectar com a nova classe média produzida pelo crescimento econômico dos últimos anos”. Isso significará que Fernando Henrique, além de reconhecer as realizações de Lula, já percebeu o estrago que Dilma está fazendo no seu eleitorado preferencial. A capacidade que ela tem tido de agradar a classe média (e a mídia) mostrou-se complementar ao que Lula fez e está deixando a oposição em polvorosa. Fernando Henrique ainda terá a “ousadia” de sugerir que a oposição deve buscar a classe média “em lugares onde os partidos praticamente não existem, como as redes sociais da internet”. Se ele for realmente perspicaz, saberá que tudo isso ainda é muito pouco. O bom-senso também mostra que essa oposição veio para ficar – ficar oposição por muitos e muitos anos...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dilma na China: sem interrogações



No nome “Dilma”, a sílaba “dil” não tem correspondente em chinês (talvez a coisa mais próxima seja um tom baixo de “ti”). Resta apenas a sílaba “ma”, correspondente ao tom neutro do “ma” chinês, que significa “interrogação”, “partícula interrogativa”. Mas nem mesmo essa interrogação está chegando com Dilma à China, já que os jornais locais referem-se apenas a “Roussef” (罗塞芙, que ainda não consegui traduzir “ao pé da letra”...).
O importante nisso tudo é que não há dúvidas nessa viagem. Evidentemente, a relação Brasil-China é estratégica. Fortalece o BRICS e o G-20, além de ajudar Brasil e China separadamente. Para nós é indispensável certa equidistância dos dois principais polos internacionais. Não nos interessa afastamento dos Estados Unidos, mas não podemos voltar ao alinhamento automático que nos imobilizou por décadas. Da mesma forma, queremos nos relacionar com a China de igual para igual, de forma equilibrada e pragmática, buscando o que é melhor para nossos interesses – e isso já está bem definido.
Para os chineses, é importante um contraponto à aproximação que os Estados Unidos fazem a seus vizinhos asiáticos, principalmente Índia; para nós, é importante quebrar resistências ao ingresso no Conselho de Segurança. A China precisa muito de nossas fontes de energia; nós precisamos de tecnologia e investimento em infraestrutura. E ambos estamos interessados no fim da guerra cambial: mesmo considerando que a China foi um dos principais promotores dessa “guerra” (com a desvalorização artificial do yuan), o atual fluxo de capital (bastante especulativo) associado à flutuação dos preços das commodities pode enfraquecer as economias BRICS e pressionar pela inflação.
Se tudo correr bem, Dilma não apenas ficará sem a interrogação do nome – trará também uma exclamação de vitória na bagagem.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Uma imagem fala mais do que 3.321 palavras



Vamos ser francos – o discurso de Aécio foi muito chocho. E dificilmente poderia ser diferente, já que a oposição encontra-se desprovida de discurso. Não há um único de seus representantes capaz de falar qualquer coisa consistente. E o que é pior: graças ao excelente (e surpreendente) desempenho político de Dilma, a oposição já não conta com o apoio irrestrito da mídia e de amplos setores da classe média. É verdade que ele tentou uma jogada municipalista, defendendo a descentralização da arrecadação dos impostos, mas foi pouco. A postura de Aécio com seu discurso lembra antiga campanha publicitária da locadora Avis, nos Estados Unidos, que, diante da inquestionável liderança da concorrente Hertz, decidiu posicionar-se como “número 2”. Aécio por enquanto quer apenas isso – firmar-se o “principal número 2”. A palavra significativa que ele mais usou (no seu discurso de 3.321 palavras) foi “oposição” (11 vezes), seguida de “ética” (7 vezes) e “Minas/mineiro” (6 vezes). Serra mereceu duas citações, à frente de Alckmin, de Dornelles e até de Tancredo (uma vez cada). Zé Alencar, nada. Itamar, quatro. E Fernando Henrique, três. Lula teve duas. Dilma/presidente quatro. Aécio saiu na frente para ser o número 1 da oposição. E isso na atual conjuntura talvez queira dizer muito pouco. Como disse Lindberg, dirigindo-se a Aécio Neves: "Vossa Excelência é o futuro. Vai liderar esta oposição... Por muitos anos”. Ganhou o Troféu Ironia...

domingo, 3 de abril de 2011

O melhor 1º de abril aconteceu no dia 2


No último dia 2 de abril(?), sábado(?), nos ares da Líbia, as forças aéreas comandadas pela OTAN bombardearam o que seriam forças inimigas e mataram civis e/ou forças aliadas (da OTAN). Mataram duas pessoas. Ou seriam 7? Ou seriam 10? Ou seriam 13?   Ou seriam 15? Ou seriam 30? Ou seriam mais? Tudo é possível. Para justificar tanta incompetência/arrogância, chegaram a divulgar a maior de todas as mentiras de 1º de abril: “Algumas das forças de Kadafi se infiltraram entre os rebeldes e dispararam suas armas anti-aéreas ao ar. Depois as forças da Otan vieram e os bombardearam", disse o combatente Mustafa Ali Omar, segundo a Reuters. Mais tarde passaram a dizer que o bombardeio foi feito “depois que um rebelde atirou para o alto, em sinal de alegria”. Dá pra acreditar? “Qualquer que seja a mentira verdadeira é uma grande imbecilidade”, declara a jornalista da sala ao lado.