segunda-feira, 2 de abril de 2007
Qual o momento exato em que houve quebra do comando militar?
Os jornais só falam disso, a quebra da hierarquia militar. Algumas pessoas comentaram comigo, no Blog ou pessoalmente, criticando a decisão de Lula, que teria sido "frouxo" no confronto com os controladores de vôo. Chegaram a lembrar a situação aparentemente semelhante vivida por Reagan, no Estados Unidos, que resolveu o problema demitindo mais de 11 mil controlares e colocando outros em seus lugares. Alguém lembrou na CBN, esqueci o nome, que Lula teria agido contra a Constituição, que proíbe greve entre militares. Ok, concordo que a quebra da hierarquia militar é grave. Mas vamos lançar outro olhar sobre a questão. 1) Essa estrutura militar do controle aéreo é uma invenção da ditadura militar, totalmente insustentável nos dias de hoje. 2) A hierarquia militar foi quebrada no momento exato em que o comando não teve capacidade de controlar os controladores, nem mesmo com a ameaça de prisão. 3) O exemplo americano não serve, porque a estrutura de lá não era militarizada e porque o presidente contava com alguma reserva e ainda teve tempo para formar novos controladores; ainda assim, os controladores americanos conseguiram 110% de aumento. 4) Greve de controladores de vôo é comum no mundo inteiro. 5) A Constituição estava sendo rasgada pelos controladores que se aproveitaram de uma estrutura superada e de um momento especial que deixavam o país de mãos atadas. 6) Por mais que tivessem muita razão em suas reivindicações, os controladores foram irresponsáveis - ou talvez tenham sido irresponsáveis os diversos governos que permitiram essa situação. 6) A crise aérea não poderia continuar, colocando o país em situação desesperadora, sem outra saída que não fosse a alternativa de bom senso determinada por Lula. Colocado tudo isso, é preciso, primeiro, que os comandantes militares reconheçam sua total incapacidade de gerenciar a questão. E é também o momento de desmilitarizar o controle aéreo e formar novos profissionais, além de investir em equipamentos e novas tecnologias. Tudo com urgência, mas sem precipitações. Acima de tudo, não devemos nos deixar levar por qualquer sintoma de frenesi golpista. Ler também o texto de Carlos Drummond, "Controle militar dificulta solução da crise aérea", feito em 11 de dezembro de 2006, em sua coluna na Terra Magazine.