skip to main |
skip to sidebar
Faça "paz" ou faça guerra, testemunhamos o massacre do povo palestino. Nos períodos de "paz", o massacre é principalmente pelo racionamento de água; nos períodos de guerra, o massacre é pelo fogo indiscriminado das bombas israelenses. Já escrevi aqui (Como Israel destrói mais: com bombas ou com o racionamento de água?):A região palestina conta com 3 principais fontes de água – o Rio Jordão (aquele de Jesus e João Batista, que vai do Mar Morto ao Galileu), o Aqüífero (espécie de rio subterrâneo) da Montanha (na chamada “Margem Ocidental”) e o Aqüífero Litorâneo (na Faixa de Gaza). Antes da famosa Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel só detinha 3% da Bacia do Rio Jordão, apesar de já ter construído uma complexa infraestrutura de canais, estações, reservatórios e aquedutos que desviava 75% do Jordão para o usufruto israelense. Depois de 1967, Israel passou a ter controle total. A Síria e a Jordânia ainda têm direito a algum uso, mas os palestinos são proibidos de beber das águas do Rio Jordão. Têm que se virar com os aqüíferos e seus caminhões-pipa. Mesmo assim, apenas 19% da água estão disponíveis para os palestinos... O grupo de direitos humanos chamado “Se eles soubessem” (If They Knew) descreve mais problemas: “Na Margem Ocidental (região a oeste do Rio Jordão, encampada por Israel), cerca de 50 poços e 200 cisternas foram destruídos ou separados de seus proprietários pelo Muro construído na área – que também precisou da destruição de outros 25 poços e cisternas, além de 35 km de aquedutos somente na sua construção. Ao considerar Gaza e Margem Ocidental como duas coisas independentes, Israel também proíbe que os palestinos gazeanos utilizem a água do Aqüífero da Montanha e tratem de sobreviver com o Aqüífero Litorâneo e seus 90% de água não-potável! Pior: os palestinos não têm outra escolha a não ser beber essa água não-potável, que se degrada ainda mais. Seguindo as cotas israelenses, os palestinos da Margem Ocidental têm direito a 70 litros de água por pessoa/dia e os da Faixa de Gaza têm direito a apenas 13 litros, enquanto o mínimo humanamente concebível é de 100 litros, de acordo com a Organização Mundial de Saúde! As conseqüências são óbvias. Desespero, doenças, destruição lenta e sofrida de todo um povo. É como se estivessem planejando uma espécie de “lavagem étnica”.
Quanto ao atual bombardeio, prefiro transcrever o texto de Robert Fisk, colunista do Independent, que o Globo publica hoje:Líderes mentem e civis morrem
Estamos tão acostumados a ver carnificinas no Oriente Médio que não ligamos mais.
Não está claro quantos dos mortos em Gaza são civis, mas a resposta do governo Bush, sem mencionar a pusilânime reação do premier britânico Gordon Brown, reafirma para os árabes o que eles sabem há décadas: o Ocidente está sempre do lado de Israel.
Como de costume, o banho de sangue foi culpa dos árabes que, como todos sabem, só entendem o uso da força.
Desde 1948, ouvimos dos israelenses e dos nacionalistas árabes e depois árabes muçulmanos a lengalenga de que Jerusalém será “libertada”. E sempre Bush pai e depois o filho, Bill Clinton, Tony Blair ou Gordon Brown chamam os dois lados e pedem moderação, como se ambos tivessem caças F-18, tanques Merkava e artilharia pesada. Os foguetes caseiros do Hamas mataram apenas 20 israelenses em oito anos. Mas num único dia a Força Aérea de Israel matou quase 300 palestinos, e apenas como parte de uma operação.
Sim, o Hamas provocou a ira de Israel, assim como Israel provocou a do Hamas. E o que isso quer dizer? O Hamas lança foguetes em Israel e Israel joga bombas no Hamas. Entendeu? Pedimos pela segurança de Israel, mas ignoramos o desproporcional massacre realizado por Israel.
No fim de semana tivemos 298 palestinos mortos para um israelense. Em 2006, a proporção era de 10 libaneses mortos para cada israelense que perdia a vida. Este fim de semana foi marcado pela inflação do número de mortos. O maior desde a guerra de 1973? Desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967? De Suez, em 1956? Da Guerra de Independência de 1948? É um obsceno e nojento jogo que Ehud Barak, o ministro da Defesa de Israel, inconscientemente admitiu quando falou este fim de semana na Fox: “Nossa intenção é mudar totalmente as regras do jogo”, disse Barak.
Vários dos mortos do fim de semana pareciam ser do Hamas.
Mas o que isso resolverá? O Hamas dirá: “Oh, esse ataque foi impressionante e nós reconheceremos o Estado de Israel, entraremos na linha, renunciaremos às armas e rezaremos para sermos levados prisioneiros e trancafiados indefinidamente, e daremos apoio a um novo ‘processo de paz’ promovido pelos EUA no Oriente Médio!” Será que é isso mesmo que os israelenses e os americanos pensam que o Hamas fará? Vamos relembrar o cinismo do Hamas, o cinismo de todos os grupos armados islâmicos.
A necessidade de produzir mártires muçulmanos é crucial para eles e Israel os está criando.
A lição que Israel pensa estar dando não é a lição que o Hamas está aprendendo. O Hamas precisa da violência para enfatizar a opressão dos palestinos e conta com Israel para providenciar isso. Basta lançar uns foguetes em Israel e Israel lhes faz esse favor.
E nem sequer uma lamentação de Tony Blair, o enviado de paz para o Oriente Médio que nunca esteve em Gaza na atual encarnação. Nem uma palavra.
Mas nós ouvimos o habitual discurso de Israel. O general Yaakov Amidror, ex-diretor da “divisão de pesquisa e avaliação” do Exército, anunciou que “nenhum país no mundo permitiria que seus cidadãos fossem feitos de alvos para foguetes sem tomar medidas vigorosas para defendê-los”. Exato.
Mas quando o Exército Republicano Irlandês (IRA) lançava foguetes na Irlanda do Norte, quando suas guerrilhas vinham da Irlanda para atacar delegacias de polícia e protestantes, o Reino Unido usou a Força Aérea para bombardear a república irlandesa? A Força Aérea britânica por acaso atacou igrejas e delegacias e matou de uma só vez 300 pessoas para ensinar à Irlanda uma lição? Não, o Reino Unido não fez isso. Não fez porque o mundo veria um ataque assim como uma ação criminosa. Não queríamos nos rebaixar ao nível do IRA.
Sim, Israel tem o direito à segurança. Mas esses banhos de sangue não lhe trarão segurança. Nem desde 1948 trouxeram algum tipo de proteção para Israel. Os israelenses bombardearam o Líbano milhares de vezes desde 1975 e isso não eliminou o terrorismo. Então o que foi o fim de semana? Os israelenses ameaçam fazer ataques por terra. O Hamas espera por outra batalha. Os políticos do Ocidente encolhem-se covardemente. E em algum lugar do Oriente numa caverna? Num porão? Numa montanha? Bem, em algum lugar, um muito conhecido homem de turbante sorri.
A coluna "Negócios & Propaganda", de Claudia Penteado, publicada no JB de hoje, perguntou aos profissionais do mercado de comunicação quais os fatos que marcaram 2008. Para quem não tem acesso ao JB, publico pelo menos a minha resposta:Na minha opinião, 3 acontecimentos são os mais marcantes:
* a vitória de Barack Obama, significando uma nova postura do país mais poderoso diante da realidade mundial (aliás, quero dizer que, no dia 17 de janeiro de 2007, postei no meu Blog: "Pode ser que ele não consiga derrotar a Senadora Hillary Clinton, mas está demonstrando que vai dar trabalho. Tanto seu vídeo de lançamento quanto o de sua biografia são muito bem feitos, com iluminação densa, bonita e surpreendentemente eficiente para um vídeo politico");
* a descoberta das reservas de petróleo do Brasil, que contribuirão muito para um reposicionamento do Brasil no cenário internacional;
* o fracasso da política neoliberal, que, no momento, empurra o mundo ladeira abaixo, mas que, no final, deverá resultar em um mundo mais fortalecido, com políticas sociais mais eficazes e desenvolvimento consistente.
Esse meu final de noite realmente foi uma comédia. Depois de rever "A Dança dos Vampiros", do Polanski, passei os olhos no noticiário e encontrei essa notícia no Plantão Globo. Divido o humor com vocês:Crise tira FMI do buraco
A crise financeira está sendo recebida com indisfarçável - ainda que publicamente contido - entusiasmo de pelo menos uma instituição multilateral e seus 2.600 funcionários: o Fundo Monetário Internacional (FMI). Graças à crise,o Fundo saiu do buraco. Ao realizar dias atrás uma revisão de suas próprias contas, os economistas da casa notaram com satisfação que o FMI - que tinha projetado um déficit pelo menos até 2011 - acaba de sair do vermelho. Em vez de um rombo de US$ 294 milhões, que havia sido estimado em abril passado - início do ano fiscal de 2009 do Fundo - a perspectiva agora é de que o período seja fechado com um lucro (renda líquida) de pelo menos US$ 11 milhões. Ele poderá ser ainda maior caso a crise financeira se agrave, revela reportagem do correspondente do Globo em Washington, José Meirelles Passos, publicada pelo jornal na edição desta segunda-feira.
As dificuldades causadas pela crise vêm obrigando os países a recorrer aos cofres da instituição, que se mantém graças aos juros cobrados por seus empréstimos. E até que a crise começasse a se aprofundar eles eram muito pequenos. Em meados de outubro passado, o Fundo - que dispõe de US$ 250 bilhões para emprestar - tinha apenas US$ 11,4 bilhões em mãos de alguns países, gerando juros. Isso não rendia o suficiente para bancar as suas próprias despesas, como salários, manutenção de sua sede e custos de viagem de seus técnicos.
O cenário começou a mudar para o FMI logo no início de novembro. No dia 5, a Ucrânia solicitou US$ 16,4 bilhões. No dia seguinte, a Hungria levou US$ 15 bilhões. No fim do mês, a Islândia obteve US$ 2,1 bilhões e o Paquistão requisitou US$ 7,6 bilhões. Pouco antes do Natal foram aprovados mais três empréstimos: US$ 800 milhões para El Salvador, US$ 2,4 bilhões para a Letônia e US$ 100 milhões para o Quirguistão.
No Globo de hoje, Julita Lembruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Candido Mendes e professora visitante da Harvard Law School, escreve sobre a grande mobilização que a equipe de Obama continua fazendo. Texto completo:O nome do jogo de Obama
Depois de acompanhar a extraordinária mobilização cívica, principalmente nas últimas semanas da campanha de Barack Obama, continuo a me surpreender com a competência com que sua equipe usa a internet para manter vivo o entusiasmo dos eleitores.
Alguns políticos já utilizaram bem a internet no passado, aqui nos Estados Unidos, mas ninguém conseguiu a proeza de Obama, que criou um exército de voluntários através do uso eficaz deste meio. A questão, agora, é não desiludir essa multidão, estimulando a participação no governo de variadas formas.
Pensa-se na criação de um website que possibilite acompanhar o que o governo faz, até mesmo votando contra ou a favor de determinada decisão que o futuro presidente possa tomar, ou sugerindo soluções para tais ou quais problemas.
O nome do jogo é “democracia participativa”. Obama prometeu transparência absoluta em sua administração, e a equipe aposta na criatividade do uso da internet para envolver os cidadãos e torná-los atores no, também prometido, processo de mudança.
Nas duas últimas semanas, novas mensagens inundaram os computadores daqueles que ajudaram a transformar a campanha de Obama no maior fenômeno da história política americana, convocando-os a organizar em suas casas ou comparecer a um dos eventos “A mudança está chegando”. E as mensagens personalizadas, assinadas por David Plouffe, responsável geral pela vitoriosa campanha, esclareciam que nos dias 13 e 14 de dezembro apoiadores de Obama estariam se reunindo em todo o país para refletir sobre o resultado das eleições e planejar os próximos passos do trabalho voluntário.
Os interessados em ser anfitriões podiam encontrar, com apenas um clique, todas as informações necessárias para organizar tais eventos. Havia orientações minuciosas para antes, durante e após as reuniões: desde como inscrever sua reunião na internet (para que futuros participantes pudessem se registrar on-line), a como organizar o material e os temas a serem discutidos. Recomendavase o debate das prioridades para cada grupo, nos níveis nacional e local, e das formas de organização dos cidadãos para atingir seus objetivos.
Pois bem, ao longo do final de semana de 13 e 14 de dezembro, centenas de encontros aconteceram, com a participação de milhares de pessoas. Estive em dois deles. O entusiasmo das discussões e a crença de que “juntos podemos mudar” dominou as reuniões.
Debateu-se de tudo. Desde os problemas mais imediatos dos bairros de cada um e as possíveis soluções, até como comprometer seus representantes nas assembléias legislativas locais e no Congresso Nacional com a agenda de Obama e cobrar do futuro presidente a implementação de suas promessas, principalmente na área da assistência à saúde, à educação e ao desenvolvimento de energias alternativas.
Eram grupos pequenos, uma média de 20 a 30 pessoas, homens e mulheres, jovens e idosos, brancos e negros, gente que se envolvia, pela primeira vez, numa atividade política mais estruturada e outros que já haviam trabalhado ao longo dos meses que antecederam as eleições. Todos apostando na possibilidade de contribuir com a administração Obama, mas, sobretudo, querendo aproveitar o momento para construir um novo estilo de participação cidadã na sua comunidade e no seu bairro.
O resultado das discussões vai ser encaminhado aos organizadores da campanha e, se esta etapa tiver o sucesso do movimento que elegeu Barack Obama, definitivamente uma nova forma de participação cívica estará sendo gestada. Quem sabe não aprendemos um pouco com tudo isso?
A revista Newsweek lançou a lista dos que considera as 50 personalidades mais poderosas do mundo. Barack Obama em primeiro lugar é apenas óbvio. Mas três outras posições me chamaram atenção. Sarkozy em terceiro lugar, ultrapassando Gordon Brown. Ou seja, a Inglaterra de Tony Blair definitivamente ficou pra trás. O 18º lugar para Lula também me surpreendeu. Demonstra o altíssimo conceito que seu governo conquistou no cenário internacional. É longe o melhor colocado dos dois únicos latinoamericanos da lista (o outro, em 45º lugar, é o Mexicano Carlos Slim Helú, o segundo homem mais rico do mundo). E também me surpreendeu o 30º lugar, conquistado por David Axelrod. Ele é apresentado como amigo do futuro presidente americano, mas foi como estrategista da campanha vitoriosíssima de Obama que ele ganhou respeito nos quatro cantos do mundo. Veja a lista completa:1: Barack Obama
2: Hu Jintao
3: Nicolas Sarkozy
4-5-6: Economic Triumvirate (4. Ben Bernanke 5. Jean-Claude Trichet 6. Masaaki Shirakawa)
7: Gordon Brown
8: Angela Merkel
9: Vladimir Putin
10: Abdullah bin Abdulaziz Al-Saud
11: Ayatollah Ali Khamenei
12: Kim Jong Il
13-14: The Clintons (Hillary e Bill)
15: Timothy Geithner
16: Gen. David Petraeus
17: Sonia Gandhi
18: Luiz Inácio Lula da Silva
19: Warren Buffett
20: Gen. Ashfaq Parvez Kayani
21: Nuri al-Maliki
22-23: The Philanthropists (Bill and Melinda Gates)
24: Nancy Pelosi
25: Khalifa bin Zayed Al Nahyan
26: Mike Duke
27: Rahm Emanuel
28: Eric Schmidt
29: Jamie Dimon
30-31: Friends of Barack (David Axelrod and Valerie Jarrett)
32: Dominique Strauss-Kahn
33: Rex Tillerson
34: Steve Jobs
35: John Lasseter
36: Michael Bloomberg
37: Pope Benedict XVI
38: Katsuaki Watanabe
39: Rupert Murdoch
40: Jeff Bezos
41: Shahrukh Khan
42: Osama bin Laden
43: Hassan Nasrallah
44: Dr. Margaret Chan
45: Carlos Slim Helú
46: The Dalai Lama
47: Oprah Winfrey
48: Amr Khaled
49: E. A. Adeboye
50: Jim Rogers
Boa entrevista hoje, na Folha, que reproduzo na íntegra:De saída, Cesar Maia afirma que tem desempenho melhor que de Lacerda
Prefeito mais longevo do Rio dá nota 4 ao seu terceiro mandato, apóia Serra para presidente e tem como opção futura dar aula na Espanha à espera de candidatura ao Senado ou ao governo do Estado
Mário Magalhães, sucursal do Rio
Se a vida é sonho, e a vida de Cesar Epitácio Maia amalgamou-se a um pragmatismo proverbial, nem nos seus sonhos o prefeito da cidade do Rio de Janeiro se liberta das decisões e dos despachos que consomem as 19 horas diárias em que permanece acordado.
Ele conta que no ano passado desatou, enquanto dormia, o nó que o apoquentava: o reajuste salarial de engenheiros e arquitetos do município. "Acordei com o decreto pronto na cabeça", recorda. Durante o sono, equações matemáticas são encaradas -e solucionadas-, diz.
Na madrugada de uma quarta-feira do começo de dezembro, o prefeito que mais tempo governou a antiga capital do país sonhou com a medida que tomara na véspera, de desligar à noite os pardais, aparelhos eletrônicos que fiscalizam a velocidade dos automóveis.
"Potencializei no sonho uma reação negativa, costume dos últimos meses, daquilo que eu estava fazendo", disse horas depois à Folha, na sede administrativa da prefeitura -o Piranhão, como os cariocas alcunharam o edifício erguido em uma antiga zona de meretrício.
O sonho não decorria de delírio persecutório. Aplausos aos seus atos rarearam à medida que se acercou do fim do seu mandato, o terceiro, no arremate do ciclo de 12 anos de gestão (1993-1996; 2001-2008).
São 16 anos, se somado o quadriênio de Luiz Paulo Conde (1997-2000), o desconhecido ex-secretário que Cesar Maia ungiu sucessor, no que o lugar-comum designa "eleger um poste". Invenção veio a romper com inventor, mas na essência estilo e equipe administrativa se mantiveram.
Nessas quase duas décadas, Cesar -como o prefeito é chamado, assim como Itamar Franco é Itamar, e não Franco- tocou obras como a Linha Amarela (via que une as zonas norte e oeste) e o estádio Engenhão. Comandou projetos como o Rio-Cidade, que remodelou grandes áreas, e o Favela-Bairro, modelo internacional.
Chegou a ser apontado como vocação inequívoca para o Executivo, catedrático do marketing político e postulante promissor à Presidência.
Na despedida, contudo, assemelha-se à construção que no futuro deve ser associada a ele como o Sambódromo é ao governador Leonel Brizola (1922-2004): acumulam-se apupos à Cidade da Música, que Cesar compara ao mausoléu indiano Taj Mahal e cujos detratores condenam como monumento ao desperdício (custo de ao menos R$ 518 milhões).
Na segunda quinzena de outubro, meros 22% dos moradores do Rio consultados pelo Datafolha aprovavam sua gestão (avaliações ótimo e bom). Ao fim do primeiro mandato, eram 52%. Do segundo, 61%.
O político que alardeia jamais ter apoiado perdedor em pleito local viu sua candidata, Solange Amaral (DEM), definhar em quinto lugar, aquém dos 4% dos votos. Ele fugiu de campanha na zona sul, temeroso da aversão contra si na área mais rica da cidade, onde a classe média pulula. O eleito foi Eduardo Paes (PMDB), outra cria sua que o abandonou.
Cesar aposta que algum dia as análises retrospectivas lhe serão generosas. Julga ter sido melhor prefeito que Carlos Lacerda (1914-77), o governador da Guanabara (antiga denominação do município do Rio) na primeira metade da década de 1960, ainda hoje evocado como governante inspirado.
O que provocou, nas suas palavras, o "desgaste de imagem"? Para um político que dá duro até em sonho, a busca pela resposta se tornou obsessiva.
Vaias
Enquanto arrumava cerca de 300 caixas com papéis que coleciona desde 1968, ano em que foi preso no congresso da União Nacional dos Estudantes, o prefeito matutou sobre o que saiu errado.
Como ele anota, contratempos e tropeços não lhe faltaram antes, como um temporal digno de romance de García Márquez (1996), uma epidemia de dengue (2002; outra sobreviria em 2008) e a intervenção federal na saúde (2005).
Nos estertores de 1993, 9% o aprovavam. Cesar, porém, lograva a volta por cima. De 2007 para cá, para cima se consolidou a flecha da reprovação.
Sua conclusão: "O Pan-Americano foi um sucesso para a cidade. Do ponto de vista da ação do governo, foi o elemento de desintegração da imagem".
O prefeito inventaria: quando a candidatura do Rio venceu, os Jogos previstos eram modestos; no meio do caminho, o Comitê Olímpico Brasileiro sugeriu grandiloqüência, com a ambição de sediar a Olimpíada; o Estado gastou pouco, e a União entrou tarde na operação; a prefeitura, "que tem capacidade de investimentos com recursos próprios de R$ 700 milhões por ano, em dois anos desembolsou R$ 1 bilhão" com o Pan.
O dinheiro que faltou para a fatura oriunda da competição foi subtraído de outras frentes. "Tive que derrubar as despesas", afirma Cesar. A conservação da cidade piorou.
"Perdemos qualidade, o que permitiu que a crítica ao governo, injusta, fosse absolutamente certa. A imagem [ruim] estava construída, lastreada em razões efetivas." Por que, então, injustiça? "Deviam ter me dado uma carência."
Tabela da prefeitura mostra que, enquanto o crescimento real das receitas bateu 8,2% no período de um ano encerrado em outubro, nos mesmos 12 meses as despesas despencaram -era dinheiro para saldar compromissos do Pan.
O prefeito lembra elogios das autoridades desportivas ao evento: "Estou pensando que fiz um gol, corro para a galera, a galera vai me abraçar. Quando chego à galera, ela está vaiando. Mas é uma questão que se dilui no tempo com rapidez".
Nota 8
A dimensão histórica de Cesar Maia e suas perspectivas estão ligadas à percepção sobre seu desempenho como prefeito. Ele concede 10 "com louvor" ao seu primeiro governo, 10 ao segundo e 4 ao terceiro ("sofrível, porque quebrado pelo Pan") -em outubro, no Datafolha, os eleitores lhe deram nota 4,3. Na média, 8.
Como Carlos Lacerda, Cesar iniciou no comunismo e se moveu para a direita. No DEM, ex-PFL, o prefeito se tem como "social-democrata-liberal". Do antigo governador, diz guardar amor e ódio. "Amo o governador e odeio o político."
Cesar premia com um 10 "com louvor" o desempenho de Lacerda na administração. Em infra-estrutura urbana, 10 "sem louvor". Como "estrategista do desenvolvimento econômico", nota zero.
"Ele imaginou, uma falha gravíssima, que o fundamental seria o relançamento industrial do Rio." A cidade, acredita, deveria se voltar para os serviços.
Incluindo outros itens, Cesar cravou 6 de média para Lacerda, em cujo governo (1960-1965) nasceram o aterro do Flamengo e a adutora do Guandu, decisiva para o abastecimento de água. Foi mesmo melhor que Lacerda? "Não tenha dúvida." No balanço sincero da história, considera Pedro Ernesto, prefeito nos anos 1930, o melhor de todos.
Além do seu desempenho como gestor, Lacerda ficou na memória como um entusiasta de golpes -da Intentona Comunista de 1935 ao movimento militar de 1964, passando pela morte de Getúlio Vargas em 1954. Ignora-se o que sobreviverá do empenho de Cesar para aparecer na mídia a qualquer preço na sua primeira gestão.
Ele cumprimentou os ossos de um dinossauro em museu, prometeu os Beatles em Copacabana, decretou luto pela morte de um macaco, estendeu o horário de verão. Assegura que não pediu sorvete em açougue, apenas indagou onde poderia comprar um. Ao notar o mal-entendido, deu corda.
"Não contrariei a notícia que me interessava, aquele negócio de maluco. [...] Comecei a construir fatos. Eu fazia combinação com um fotógrafo. Eu dizia: "Vou te arranjar uma fotografia aqui. Você se prepara que vai ser aquela para arrebentar". Aí tinha um favelado tomando banho, eu jogava um balde de água na cabeça dele."
Tudo porque descobrira que "ninguém sabia quem era o prefeito". Eram os factóides, "explodindo as imagens para produzir noticiário". Sem cerimônia, Cesar contaria que espalhou gente pelas ruas para disseminar o boato de que um político adversário desistira de uma eleição. Ou que chutava números para impressionar.
Nem tudo mudou. Em sua newsletter, o prefeito trombeteou que seus estudos projetavam o mínimo de 15% de votos para Solange. Na verdade, revela hoje, esse era o teto. "Entrei na campanha sabendo que a gente tinha perdido."
Passado e futuro
Com a derrota, Cesar não sabe o que será o porvir. Diz que pode passar dois anos dando aulas em Madri sobre administração pública. Em 2010, sair para senador ou governador. Em 2012, tentar o quarto mandato ou, cenário sombrio, lançar-se para vereador.
Recomeçar por baixo talvez fosse uma tragédia para um passional, não para um pragmático. Cesar militou na luta armada contra a ditadura militar, foi preso, exilado, retornou e em 1983 tornou-se secretário da Fazenda de Brizola. Foi um dos muitos dissidentes do brizolismo que prosperaram.
Agora, encarna a árvore cujos galhos se rebelam e superam o tronco original -como no caso de Paes. Está com José Serra (PSDB) para presidente.
Indagado sobre seu sumiço das ruas, confirma que sai menos, porque tem 63 anos, e não os 47 da estréia como prefeito.
Provocado sobre um possível desencanto com a administração, responde por 1 hora e 15 minutos, em entrevista de quatro horas, e nega a impressão.
Sua solidão pessoal é metáfora do isolamento político. Da solidão, ele não reclama: "Não posso, porque gosto. Gosto de estar em casa com a minha mulher. Nunca fui a boate. Raramente vou jantar fora. O meu hábito me dá prazer".
Noutro dia, Mariangeles Maia, a chilena com quem ele se casou no exílio, zapeava a TV. Ao ver Paulinho da Viola, o prefeito pediu para ela parar. "Vamos ver se ele fala mal de mim" -no passado, o compositor protestou contra o cachê de um show de Réveillon. Cesar se reconheceu: "Perguntam ao Paulinho: "Você vive do passado?" Paulinho responde: "Não, o passado vive em mim". Aquela resposta foi muito forte".
São 2.992 páginas, com mais de 200.000 contribuintes. O valor total é entre 75 e 165 milhões de dólares. Trata-se da lista dos doadores da William (Bill) J. Clinton Foundation. Alguns nomes mais conhecidos: Arábia Saudita, Austrália, República Dominicana (entre 10 e 25 milhões de dólares), Brunei, Kwait, Omã e Qatar (mais de 1 milhão de dólares cada). Outro Bill famoso, o Gates, também está na faixa dos 10 a 25 milhões de dólares como doador. Tudo bem, cada um doa o que quiser. Mas isso pode ser um problema para a futura Secretária de Estado Hillary Clinton. Todo mundo está de olho na lista e o Washington Post (que publica a lista completa) está pedindo a todos os leitores que enviem comentários sobre os doadores que conhecem. Eles publicarão no seu blog investigativo – doa a quem doer... (Leia mais aqui.)
Tente fazer o que o jornalista iraquiano Muntazer alZaidi não conseguiu: dê sua sapatada em Bush. É o novo joguinho circulando na internet, BUSH SHOE THROWING GAME, que você pode acessar aqui.
A própria revista Time reconhece: "É improvável que vocês estejam surpresos por ver o rosto de Obama na capa". O nome de Barack Obama era pule de 10 como Personalidadedo Ano. Surpreendente é saber que a alopradinha Sarah Palin estava na disputa. Henry Paulson ( Secretário do Tesouro dos EUA) e Nicolas Sarkozy também estavam. Last but not the least, Zhang Yimou, o responsável pela cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim. Com todo o respeito ao trabalho de Zhang Yimou, o resultado foi justo.
Dick Morris foi consultor político, primeiro dos Republicanos, depois dos Clinton. Durante muito tempo fez a cabeça de Bill Clinton como presidente, depois caiu em desgraça. Fez campanha aberta contra Hillary. Na sua coluna do dia 15, "The Impending Collapse of our Enemies" (mais ou menos, a queda iminente dos nossos inimigos), ele começa declarando que a "Depressão (...) nos deixa, digamos. deprimidos. Mas existem boas notícias vinda do mundo inteiro. Nossos inimigos estão entrando em colapso graças à queda dos preços do gás e do petróleo". Ele cita como inimigos a OPEP, Irã, Chávez, Putin e o terrorismo islâmico. Ele não se refere nem uma única vez à tragédia mundial causada pela política maléfica do seu Presidente Bush. Se eles estão conseguindo enfraquecer os inimigos deles, o resto do mundo que se dane - é esse o pensamento de Dick Morris. É a atitude típica de um representante do Império, como diria Chávez. Felizmente, acreditamos que Obama não pensará dessa maneira quando assumir a presidência. Texto completo no blog.
A sapatada em Bush não resolve os problemas do país, mas em boa parte lava a alma do povo iraquiano.
Tem uma lenda que diz que todo dia 13 de dezembro chove, porque seriam as "lágrimas" de Santa Luzia (está chovendo aqui). Na verdade devem ser as lágrimas causadas pelo AI-5, o terror instituído pela ditadura militar brasileira, há 40 anos. Naquela época, a redação da revista Veja em São Paulo passou um bom tempo discutindo (na minha baia) sobre como reagir. Sabiamente (digamos assim) decidiu-se por greve de um dia - o que, em uma revista semanal, funciona como feriado...
A não ser que ocorram tsunamis - o que não é impossível -, a disputa para Presidente em 2010 está mesmo entre o(a) candidato(a) de Lula e o tucano José Serra. Uma tsunami possível é a candidatura de Aécio, seja pelo PSDB, seja pelo PMDB. Há também a possibilidade da tsunami nordestina através de Ciro, inviabilizando a opção Dilma. Heloísa Helena, no momento, ameaça com um terceiro lugar que poderia decidir o segundo turno, mas o mais provável é que até lá o seu discurso perca espaço. O certo de tudo isso é que não adianta o Serra dizer que a disputa "não pode ser um Fla X Flu" - porque já está assim.
No seu Ex-Blog de ontem, César Maia citou uma pesquisa do Instituto GPP no Rio onde foi feita a seguinte pergunta:Com essa crise e perspectiva de aumento da inflação e desemprego, você acha melhor – votar num candidato do Governo Federal, votar num candidato da Oposição, ou não sabe o que dizer?
O resultado foi:- Votar num candidato do Governo Federal – 40,5%
- Votar num candidato da Oposição – 32,3%
- Não sabe – 27,2%.
A conclusão é óbvia. Os governos anteriores ao de Lula estão todos associados a “oposição”. E todos estão associados também a péssimas administrações, desde Sarney até Fernando Henrique. Assim, diante da necessidade de se escolher um governo com capacidade de enfrentar os problemas gerados pela crise internacional, qual a opção lógica: governos associados ao fracasso ou um governo que está fazendo tudo certo até agora? O governo do desastrado Plano Cruzado ou o governo com desenvolvimento consistente? O governo da falsa caça aos marajás ou o governo da Polícia Federal? O governo do fusquinha ou o governo do Bolsa Família? O governo de quem acabou com a inflação – mas que praticamente faliu o Brasil e aumentou o desemprego – ou o governo da estabilidade econômica e social, dos novos empregos, do crescimento acelerado, que fala a linguagem do povo e ainda assim soube conquistar o respeito internacional? Lamento informar, mas o Governo Lula é a resposta natural. E nessa pesquisa do GPP a Oposição só teve índice tão alto porque o povo sabe que Lula não é candidato – mas já deixa claro que prefere um candidato indicado por ele. Assim, é incompreensível a irritação de César Maia, no seu Ex-Blog de hoje, diante dos 70% de Ótimo+Bom que o Governo Lula conquistou no Datafolha (vale lembrar que no Nordeste, que tem cerca de 27% do eleitorado, o índice atingiu 81% - clique no gráfico acima para ampliar). Não adianta acusar de populismo ou dizer que Lula, diante da crise mundial, “mantém uma coreografia glacial e mistura má fé, ao criar otimismo com ilusão da boa fé da população”. A constatação de que o governo está fazendo a coisa certa vem de todas as partes do mundo. Agora mesmo a Reuters distribui notícia de que estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sinalizou forte desaceleração das economias globais por conta da crise financeira, e o Brasil foi único país que teve a sua perspectiva de ciclo de crescimento apresentada apenas como "declínio". Será que isso não basta? Até quando a Oposição vai ficar sem se encontrar, batendo cabeça, tentando descobrir uma falha mínima de Lula para tentar conquistar um pouco do eleitorado? Cadê o marketing correto? Está difícil, Oposição, cada vez mais difícil...
Leia trecho da reportagem de ontem do jornal espanhol La Vanguardia:Brasil: ´jogo de cintura´
El gigante latinoamericano trata de potenciar sus recursos ante la caída de las materias primas
Nicolás Torrent
Una de las sorpresas del G-20 - quizá la única-fue ver al presidente brasileño Luiz Inácio Lula da Silva a la derecha de George Bush en la foto de familia. Todo un símbolo de la posición que ha conseguido este país en la economía mundial. Y es que de los llamados BRIC - acrónimo para referirse a los emergentes Brasil, Rusia, India y China-,el país latinoamericano destaca por su combinación de libre mercado, políticas sociales y sostenibilidad. En brasileño, este modus operandi que a veces parece funambulismo, se llama jogo de cintura, en referencia a los movimientos de cadera de sus estrellas del fútbol. "Uno se sorprende todos los días de las oportunidades que ofrece Brasil". Las palabras no son de Lula, ni siquiera de un empresario brasileño. No, esta frase es de Ángel Agallano, director ejecutivo del Banco Santander en Brasil. El grupo de Emilio Botín acaba de fusionarse con una de las mayores entidades brasileñas, el Banco Real y en los tres próximos años, invertirá más de 920 millones de euros en este país para una ganancia prevista de unos 7.000 millones de euros.
O New York Times está divulgando o que todo mundo já sabia: os Estados Unidos estão mesmo em recessão, como acaba de declarar o Departamento Nacional de Pesquisa Econômica (apartidário). Ele esclarece que "recessão é um declínio significativo na atividade econômica durante mais do que uns poucos meses, normalmente visível em produção, emprego, ganho real e outros indicadores" e que a atual recessão americana teve início em dezembro do ano passado. Eles acrescentam também uma definição bisonha de recessão (ou será que estou lendo mal?): “A recession begins when the economy reaches a peak of activity and ends when the economy reaches its trough.” Leiam a reportagem completa clicando aqui.