terça-feira, 18 de julho de 2006
A carta-renúncia de Moreira Franco
Atendendo a solicitação do Deputado Federal Moreira Franco, estamos publicando a sua carta-renúncia:
Meu amigo,
Duas razões me levam à decisão de não concorrer à renovação do mandato de deputado federal. A primeira, foi a constatação de que a Câmara dos Deputados afundada no descrédito e na inoperância, mesmo renovada, não terá condições de liderar o processo de reforma política e moral que o país reclama. A segunda, foi o desencanto com o meu partido, o PMDB, por assumir a posição de não lançar candidatura própria à presidência da República e nem apoiar, oficialmente, nenhum candidato para negociar, em nome da “governabilidade”, sustentação parlamentar com o presidente escolhido nas urnas.
Já demonstrei em minha longa vida pública que enfrento as lutas, que não as temo, desde que estejam fundadas em causas e bandeiras que tornem possível a realização de melhorias reais para o povo fluminense e carioca. Tenho a clara convicção de que, nos dias atuais, o Poder Legislativo tornou-se um apêndice do Executivo, responsável por definir e pautar a agenda política nacional. Não me encanta o prestigio do mandato e sim o fato dele ser um instrumento para realizar o interesse público. Quando isso não é possível, procuro, sem ele, outras formas de participação. Eu já tive experiências de continuar a luta sem exercer cargos eletivos e os resultados foram positivos.
A legislatura que se encerra me obrigou a conviver com os piores momentos da vida parlamentar brasileira. Pouco se realizou e quase nada se avançou nas reformas que poderiam criar condições para a geração de mais empregos e renda. O trabalho parlamentar foi perdendo fôlego, consistência e autoridade na avalanche de denúncias que apontavam para a degradação das práticas republicanas, para o esgarçamento moral dos agentes públicos em suas relações com o erário. Tem sido só um sentimento de orgulho pessoal não ter o nome envolvido nos escândalos já que o plenário da Casa, ignorando evidências, deu cobertura e justificativa política aos desvios de comportamento investigados. Estou convencido que a instituição não terá no próximo período de trabalho energia e vitalidade para promover as mudanças necessárias. Elas virão, democraticamente, como conseqüência de pressões e iniciativas que surgirão da sociedade.
Sem as limitações corporativas do mandato, pretendendo continuar dando minha colaboração para realizar o objetivo de vivermos num país justo e respeitador das leis. Continuo acreditando que a democracia como forma de vida é o melhor ambiente para o nosso povo alcançar padrões dignos de vida e proteger a sua família da miséria política, econômica e social.
Agradeço antecipadamente o apoio dado a essa decisão. Continuo a sua disposição. Conte comigo. Abraços,
W. Moreira Franco