terça-feira, 25 de julho de 2006
A política externa americana pode naufragar no petróleo
Desde 1973, quando explodiu a primeira grande crise, o petróleo transformou-se em arma estratégica nas mãos das grandes corporações do setor, dos bancos e dos países produtores. Se você é empresa ou banco e quer aumentar os lucros, pode pagar alguém para iniciar um conflito. Se você produz petróleo e quer aumentar a arrecadação, pode ameaçar o mundo com um boicote. O resultado é instantâneo – o preço do petróleo sobe assustadoramente. Para se ter uma idéia, o petróleo estava a 27 dólares o barril no início do conflito com o Iraque; estava a 65 dólares no início do programa nuclear iraniano; e chegou a quase 80 dólares com o conflito no Líbano. Até agora, essa escalada do preço sempre foi bem recebida (e, quem sabe, estimulada) pelas grandes empresas americanas que dominam o mercado petrolífero. É muito provável que isso tenha estado por trás das peripécias da política externa americana. Mas agora o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Primeiro, porque nações “não-aliadas” também estão se fortalecendo com isso. É o caso da Rússia, que está recuperando o poder perdido graças ao fortalecimento de suas reservas energéticas. E é também o caso do Irã. Segundo o Cambridge Energy Research Associate, cada aumento de 5 dólares preço do barril contribui com 85 milhões de dólares semanais nas contas do Irã! Ou seja: mais dinheiro para enfrentar Bush e apoiar o Hesbolá. Há ainda o caso da Venezuela, com o petróleo dando força a Chávez para confrontar Bush dentro do que antes seria o seu quintal. Como se tudo isso fosse pouco, existe ainda a opinião pública americana, cada vez mais preocupada com o preço do combustível – mais preocupada até do que com as mortes que se espalham pelo mundo. “Estamos vendo uma mudança radical em como países como a Rússia, o Irã e a Venezuela (pelo lado dos produtores) e a China e a Índia (pelo lado dos consumidores) podem fazer o mercado mundial interferir na política externa”, declarou Carlos Pascual, um antigo top-auxiliar da Secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e agora diretor de estudos de política externa do Brooking Institution. Por incrível que pareça, o mesmo petróleo que provocou tanta guerra pode ajudar a trazer alguma paz. Leia mais no jornal The New York Times.