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NOTA DE CONJUNTURA (1)
VAL CARVALHO
RIO - 21/11/2006
Depois de um ano e meio de intensa e implacável ofensiva das forças da direita e da grande mídia, a reeleição de Lula, com mais de 60% dos votos válidos, representa, ao mesmo tempo, a consolidação e a possibilidade de avanço do Projeto Nacional Popular e Democrático, apenas esboçado no primeiro mandato. Os focos mais fortes da resistência conservadora se restringem basicamente às maiorias das bancadas do PSDB e do PFL no Congresso e à maioria da grande mídia. Nos estados, a oposição conservadora é mais forte em São Paulo e, em função de seus interesses específicos, tende a se diluir em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Alagoas, Paraíba, Goiás, Distrito Federal, Roraima e Rondônia. Os governadores de oposição, de um modo geral, não ficarão sistematicamente contra o governo federal, até porque Lula não poderá mais se candidatar à reeleição. A mudança do modelo econômico rentista, implantado por FHC, para o modelo industrial agrário, gerador de emprego e distribuidor de renda, foi conduzido por Lula, no seu primeiro mandato, não por meio de rupturas, como imaginava o PT, mas de forma gradualista, com avanços e recuos e sob o intenso bombardeio das elites e da mídia. É esse caminho gradualista que continuará sendo a característica do seu segundo mandato. Talvez com um pouco mais ou um pouco menos de gradualismo, dependendo da capacidade de pressão política das esquerdas e dos movimentos sociais. Para a prática política, o mais importante é saber que a direção predominante, resultante dos conflitos com as forças conservadoras e das contradições internas do segundo governo Lula, vai se dar no sentido da consolidação e avanço do modelo econômico produtivo, de caráter nacional, popular e democrático. A situação política nacional favorece, portanto, às forças de esquerda, mas somente se estas forem capazes de compreender três questões essenciais do momento: 1ª) Lula representa o projeto de desenvolvimento nacional defendido pelo conjunto das forças de centro-esquerda e não apenas do PT; 2ª) para ser sólido este projeto tem de se apoiar num governo de coalizão, cuja coluna vertebral é a aliança estratégica PT-PMDB, os dois maiores partidos do Congresso e que elegeram onze governadores, bem mais do que elegeram o PSDB (6) e o PFL (1); 3ª) para ser a força motriz do projeto de centro-esquerda, as esquerdas têm de estar unidas em torno dos seus interesses vitais e articuladas com os movimentos sociais. Este ponto é especialmente importante para o PT, principal partido da coalizão, mas com forte tradição divisionista. Foi a divisão da bancada petista na Câmara, em 2005, que permitiu à oposição eleger Severino Cavalcanti e criar as CPIs dos Correios e dos Bingos, que foram utilizadas pela direita e pela grande mídia como bases da campanha udenista contra Lula e o PT. Nos estados do Nordeste, Norte, Centro-Oeste e no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná, onde Lula ganhou as eleições, os petistas têm a responsabilidade de defender a consolidação e avanço do Projeto Nacional, incorporando todas essas regiões ao desenvolvimento nacional, até recentemente muito concentrado em São Paulo. Os governos da Bahia e do Rio de Janeiro têm papéis particularmente importantes. O primeiro como símbolo da derrota da oligarquia rural reacionária e indutor do desenvolvimento do novo nordeste. O segundo, pelo seu peso nacional, que por isso pode-se contrapor ao conservadorismo de São Paulo e atenuar as pressões de Minas Gerais contra o governo federal. O PT do Rio de Janeiro está diante da oportunidade de assumir um papel protagonista no estado, atuando com estratégia política nas prefeituras que comanda, na Alerj e no Governo estadual, no sentido de ajudar a promover o desenvolvimento econômico do estado e a recuperar a sua importância política no cenário nacional. Mais do que São Paulo, o Rio de Janeiro teve, historicamente, o papel de liderança no desenvolvimentismo brasileiro. Enfraquecido com a mudança da capital federal para Brasília, com os vinte anos de ditadura militar e com uma fusão mais política do que econômica, o Rio de Janeiro se isola politicamente e, durante o governo FHC, perde terreno econômico, sobretudo com a destruição da indústria naval e as privatizações. O primeiro governo Lula recupera a indústria naval, decide implantar o pólo petroquímico, mas não se empenha de fato em soerguer o estado, em grande parte por conta das políticas mesquinhas do governo estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro. As primeiras movimentações do governador eleito Sérgio Cabral já mostram diferenças de fundo. Apoiou Lula, faz parceria com o governo federal e estabeleceu o diálogo institucional com o prefeito César Maia. Convida o PT estadual para um governo de coalizão e quer manter novas relações com as prefeituras e a Alerj. Tudo isso interessa a Sérgio Cabral, mas, também ao projeto nacional do governo Lula e, portanto, ao PT. A construção da unidade partidária é um processo difícil, exige concessões das partes, mas é a exigência da conjuntura nacional e estadual. Se não nos unirmos vamos desaparecer como força política respeitada e indispensável. A unidade passa pela discussão do projeto estratégico para o estado e pela composição de interesses legítimos dos diferentes setores petistas. Porém, a unidade do partido é o que exige a base petista, a nova política do estado e o governo Lula. Não existe outro caminho para o PT no estado se não quiser virar uma legenda nanica."
A título de curiosidade: 439 milhões compram jornal diariamente em todo o mundo. A circulação paga cresceu 0,56% em 2005 e não menos que 6% nos últimos 5 anos. Como veículo publicitário, o jornal é o segundo maior do mundo (30,2%) e é maior que a soma do rádio, outdoor, cinema, revistas e Internet. Nos últimos 5 anos, mais do que 6 bilhões de dólares foram investidos em tecnologia específica.
Trecho do depoimento de John Ryley, Head of Sky News: "Acho que os jornais têm futuro, sim. Mas são 7 e 40 da manhã, estou quase pegando um trem de Washington para New York, e outras 30 pessoas também. Metade delas está usando ou BlackBerries ou celulares. Duas delas estão lendo jornais. Financial Times e Washington Post. São leitores na faixa dos 40 anos. Diria que é uma imagem bem simbólica do futuro”.
Correção. A leitora Malu alertou para dois enganios no texto. Obviamente, o correto é falar falar em "250 bilhões de dólares". E a outra frase, correta, é "aumentar o efetivo da tropa em 50 mil soldados". Obrigado, Malu.
Leis regulam a quebra de sigilo, e a mídia tem de respeitar. A Folha, como era de se esperar, volta hoje ao assunto do sigilo da fonte e da decisão da Justiça de quebrar o sigilo de Gedimar Passos e dos 168 telefones que ele chamou ou que o chamaram. Como sabemos, entre esses números havia telefones da Folha e de outros veículos. Tudo dentro da lei. Dentro da lei está também a manutenção do sigilo telefônico, já que, até agora, somente a autoridade que preside o inquérito teve acesso à informação. Foi a Folha que informou que teve seu o sigilo de seu telefone quebrado. Nada parecido com o que aconteceu nas CPIs, com total anuência, concordância e muita vezes estímulo de quase toda imprensa. Primeiro quebrava-se o sigilo de investigados, depois parlamentares da oposição vazavam para a imprensa e depois toda a imprensa violava o sigilo – ou seja, a lei e a Constituição – e publicava não apenas os números, mas também, quando possuía, o conteúdo das conversas telefônicas, mesmo quando a Justiça declarava ilegal ou nula como prova essa quebra de sigilo. Esta é a verdade histórica, que está registrada na própria imprensa. Quando se quebra um sigilo telefônico apenas se transfere para a autoridade que investiga, seja parlamentar, policial, promotor ou juiz, o sagrado dever de preservar aquele sigilo e usá-lo dentro dos limites da lei nas investigações, no inquérito ou no processo. Durante meses assistimos no Brasil todos, sem exceção, violando a lei e a Constituição – parlamentares, delegados, promotores e, principalmente, a mídia, que abusou ao limite desse recurso. Agora temos que ler uma nota da Associação Nacional de Jornais afirmando, no limite do cinismo, que a decisão da Justiça – que não sabia que os telefones eram de jornais ou revistas – "coloca em risco o direito à privacidade dos cidadãos" e que a sociedade precisa ficar "atenta para as conseqüências da autorização e execução do recurso da quebra de sigilo telefônico". Antes tarde do que nunca. Espero que a ANJ, e todos que protestaram e defenderam o jornal de uma decisão absolutamente legal e corriqueira, no futuro defendam o direito a privacidade e o uso do recurso da quebra do sigilo telefônico dentro da lei, para todos os cidadãos e não apenas para a imprensa e seus profissionais.
“O PSDB tem tudo de UDN e está aí o problema”
"Geraldo Alckmin, que disputou a presidência pelo PSDB também tem traços udenistas".
"Eu acho que o PFL nem seria a UDN. Eu diria que o PFL é hoje um partido conservador sem a coragem de ser. Tem que deixar claro que é conservador. Eu digo firmemente: é preciso ter um partido conservador no Brasil. E o PSDB é uma UDN, isso é inevitável. Depois de oito meses aqui dentro como governador e quatro anos como vice eu tive um contato direto, e tem tudo de UDN o PSDB e está aí o grande problema".
"Eu não sei o que o PFL vai fazer porque acho que o PFL está num momento muito difícil depois dos resultados amargos ele se reúne e baixa uma nota de oposição etc. Acho que o PFL tem que parar os seus líderes nacionais, devem voltar para seus Estados, descansar, e voltar a falar só lá para dezembro, quando tiver o horário de verão, porque aí eles perderam uma hora. Porque, agora, é bobagem falar. Agora, depois dessa vitória notável do presidente Lula, falar que não atravessa a rua é bobo, é uma coisa ingênua. Vamos atravessar a rua sim e se o presidente Lula vier a São Paulo vou recebê-lo porque é o presidente, foi eleito pelos brasileiros e nós temos que respeitá-lo".
Em 29 de maio de 1951, o Jornal Pequeno foi lançado em São Luís pelo jornalista José de Ribamar Bogéa, num momento em que todos os órgãos de imprensa do Estado, de uma forma ou de outra, achavam-se vinculados a grupos ou partidos políticos. Circulavam à época no Maranhão os jornais "O Combate", "Jornal do Povo", "Tribuna", dos partidos de oposição; "O Imparcial" e "O Globo", do grupo "Diários Associados"; "Diário de São Luís" e "Diário Popular", de roupagem abertamente governista, comandados pelo grupo do então senador Vitorino Freire. O Jornal Pequeno, ainda em seus primórdios fez história, porque surgiu na condição de único órgão de imprensa conceitualmente apartidário, fora de todas as propostas e propósitos políticos vigentes. Colunas como " O Mundo em Poucas Palavras", "Defendendo o Nosso Povo", "Coisas que Acontecem", "Língua de Trapo", "No Cafezinho", "Dicionário do Povo", criaram uma nova linguagem jornalística, inusitada mesmo para aqueles tempos. De tamanho restrito e feição gráfica modestíssima, o JP que hoje tem 54 anos de existência ganhou espaço dos "grandes" jornais e tornou-se o mais popular diário dos anos 50, era grafado nas caixas de tipo, praticamente feito à mão, atingiu seu apogeu com o linotipo e hoje chega à era da informática. O sentido de liberdade, porém, ainda é o mesmo, a isenção diante dos fatos e da notícia se mantém intacta. Ainda representa o JP, a trincheira dos anseios e da vontade popular. É este diário que colocamos à sua disposição na Internet, na Home Page.