Um grupo de cientistas de vários países acaba de concluir que o Mecanismo Antikythera, encontrado no final do século XIX e construído entre os anos 100 e 150 a.C., é um instrumento astronômico e "revelou-se um complexo computador capaz de calcular com precisão a posição relativa do Sol, da Lua e dos planetas", diz reportagem do jornal O Globo. Seria, portanto, o computador mais antigo do mundo. Mas há quem pense que o ábaco, antigo instrumento de cálculo formado por uma moldura com bastões ou arames paralelos dispostos no sentido vertical (na ilustração, está representando o número 6.302.715.408), seja o mais antigo, já que sua origem provável data de mais de 5.500 anos, na Mesopotâmia, exatamente ali onde é o Iraque e onde o número de mortos torna-se incontável. Na verdade, não importa muito saber qual o mais antigo. O que mais vale é tomar conhecimento da inteligência invejável que o homem tinha.
quinta-feira, 30 de novembro de 2006
quarta-feira, 29 de novembro de 2006
O flagrante antes da bobeira
Na foto, o campeão Kramnik pensando sem parar antes de fazer o lance inexplicável entregando de bandeja a segunda partida do "Desafio Homem X Máquina" para seu oponente Deep Fritz. Hoje, na terceira partida, outro empate. A máquina segue ganhando por 1-0.
Menor advogado?
A crônica da violência diariamente prega uma peça no cidadão comum. Hoje o jornal O Globo traz reportagem sobre a detenção (será que esse é o termo jurídico certo?) de um menor apanhado roubando o celular de um pedestre em pleno Ipanema, Rio de Janeiro. O menor, Mister X, de 16 anos e 1,90m de altura, não demonstrou preocupação. Sabia exatamente quanto tempo ficaria no "parque de diversões" (Instituto Padre Severino) e, de tanto freqüentar o local, já tinha decorado o Código Penal. Mais algumas prisões, quem sabe, e ele poderá fazer vestibular... (Clique na imagem para ampliar trecho da reportagem)
Dúvida no Iraque: alô, morto, você morreu em guerra civil ou em insurgência?
Dúvida cruel toma conta da mídia, acadêmicos e governo americanos sobre o que está acontecendo no Iraque. Será uma guerra civil? Ou será uma insurgência? Ou um conflito sectário? Ou bushianismo? O New York Times de ontem trouxe uma análise - a meu ver surreal - feita por Edward Wong sobre o que realmente está acontecendo no Iraque. "A definição acadêmica comum de guerra civil tem dois critérios principais: 1) os grupos rivais precisam ser do mesmo país e lutar pelo controle de seu centro político, por um Estado independente ou por uma mudança drástica na estrutura política; 2) o saldo de mortos tem de chegar a mil, com pelo menos cem de cada lado". Dá pra acreditar? A discussão continua: "Muitas insurgências ou guerras étnicas ou guerras sectárias são também guerras civis. Vietnã e Líbano são exemplos. E os estudiosos dizem que a guerra do Iraque tem elementos tanto de insurgência (quando um dos lados luta para derrubar o governo que considera ilegítimo) quanto de conflito sectário (no caso iraquiano, conflito entre os grupos religiosos xiitas e sunitas)". E o pior não é isso. "Muitos políticos nos Estados Unidos (principalmente os que apóiam a intervenção) temem que, se a Casa Branca reconhecer o conlito como guerra civil, isso seja tomado como admissão de fracasso. E se preocupam com a possibilidade de a população achar que suas tropas não devessem participar de uma guerra civil iraquiana, aumentando a pressão pela retirada". Enquanto a inteligentsia americana discute o termo certo para o conflito, os iraquianos às pencas. Assinantes da Folha podem ler a tradução de Paulo Migliacci.
terça-feira, 28 de novembro de 2006
Os números finais do Referendo das Armas ganham as ruas
O "Não" que a maioria do povo (embalado pelo "mensalão") deu no Referendo de 2005 mostra os seus verdadeiros números - os números do crescimento da violência em cada esquina das grandes cidades. E, em verdadeiro fogo cruzado, mostra também os números das origens das armas. De acordo com o relatório divulgado ontem pela CPI do Tráfico das Armas, 86% das armas que serviram ao crime têm origem legal. Isso quer dizer que ou foram adquiridas em lojas de armamentos por empresas particulares de segurança ou por cidadãos comuns, pessoas tidas como "de bem" (65%) ou foram adquiridas (os outros 18%!) pelas forças de segurança do Estado (forças armadas, PF, PMs, PCs, etc). Esses números desmentem inteiramente o principal argumento do Lobby das Armas de que as pessoas de bem precisam comprar armas para se defender. Ocorre exatamente o contrário. A liberação aumenta a insegurança e torna mais difícil a defesa de quem é de bem. Há outros números impressionantes que também precisam ser cruzadops para se entender tanta violência nas ruas. Por exemplo, os números dos altíssimos salários que os juízes pretendem julgar justos para eles mesmos. Ou os números dos investimentos nas gaiolas de luxo do judiciário, bem maiores do que os números investidos nas gaiolas de lixo dos presidiários. Todos esses número são alarmantes e a verdade é uma só: ou o país trata de reverter urgentemente todos esses números, ou cada cidadão vai virar apenas um número em cova rasa.
Chapa Serra-Aécio é conversa pra boi dormir
Político adora enganar a imprensa. Ou melhor: político bom é aquele que sabe usar os meios de comunicação e com isso trabalhar a opinião pública a seu favor. Na falta do que fazer e propor nessa ressaca pós-derrota eleitoral, o PSDB fica inventando histórias em torno dos seus principais nomes, Serra, Aécio e Fernando Henrique (nessa ordem mesmo). Os tucanos estão certos em fazer iosso. Estão sem bandeiras e sem votos e descobriram que é difícil fazer oposição, quando todo mundo (exceto o PFL e partidos menores, pela direita) se situa mais ou menos na centro-esquerda. Na falta de opções, vão mexendo com os nomes de seus líderes. Serra é candidato em 2010. Não, não é não, é Aécio, e Serra vai para a reeleição em São Paulo. Nada disso, Fernansdo Henrique vai voltar... E agora inventaram mais um factóide: Serra Presidente, Aécio Vice - que depois viria como Presidente. Se isso fosse verdade, seria a chapa da arrogância. Os dois maiores colégios eleitorais do país (SP e MG, juntos, têm 33,13% do eleitorado) estariam sendo usados para enfrentar o resto do país, numa reedição da chamada políica do "café com leite" - coisa que nunca mais se ousou fazer, principalmente porque representaria uma burrice estatística. O que se procura fazer agora são fazer chapas que representem as regiões Nordeste e Sudeste que, juntas, representam 70,75% do eleitorado. (Nordeste, 27,11%; Sudeste, 43,64%). Foi assim com Tancredo/Sarney (apesar de eleições indiretas), Collor/Itamar, Fernando Henrique/Marcos Maciel; Lula/José Alencar (sendo que Lula, sozinho, representa Nordeste+Sudeste...). Costuma ser uma chapa mais representativa do eleitorado brasileiro, menos arrogante. O resto é conversa pra boi dormir - ou melhor, pra tucano dormir...
Saída de Rumsfeld abriu caminho para solução iraniana no Iraque
Os Estados Unidos estão completamente perdidos no Iraque. Não têm como controlar a situação e chega a ser cômico – se não fosse trágico e indignante – ver Bush exigindo que o presidente iraquiano Jabal Talabani ponha fim à violência entre sunitas e xiitas. A solução para o conflito interno saiu inteiramente das mãos dos Estados Unidos e seus aliados. A comissão bi-partidária do congresso americano mostrou o caminho (certamente previamente combinado), ao propor que sírios e iranianos participassem das discussões pelo fim do conflito. Inicialmente, todo mundo achou impossível que Bush concordasse com isso. Mas depois veio a mesma proposta feita pelo aliado inglês Tony Blair. E agora, conforme a BBC, o próprio presidente iraquiano visita Teerã para pedir ajuda ao presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e deve se encontrar nesta terça-feira com o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei – coisa que não faria sem prévio consentimento da Casa Branca. Passa a fazer sentido também o afastamento do secretário de defesa Rumsfeld, antigo aliado de Saddam Hussein contra os iranianos. A guerra que nunca deveria ter começado pode chegar ao fim graças à ação dos inimigos de Bush.
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
Deu "brancas" no campeão
Inacreditável! O desafio Kramnik (russo campeão de xadrez) X Deep Fritz (computador alemão) estava emocionante. A primeira partida acabou em empate, mas a segunda, com Kramnik com as pretas, estava linda, cheia de movimentos ousados, com o campeão de carne e osso encostando Deep Fritz contra o "monitor". A máquina, com muito esforço e bons cálculos, tinha conseguido uma situação de empate quando, sem ninguém entender o que acontecia, Vladimir Kramnik fez um movimento que nem mesmo a Ana Clara, minha filha de 6 anos, faria. No movimento seguinte, Deep Fritz simplesmente deu um mate, e agora está vencendo o desafio por 1-0. Refaça a partida, clicando aqui.
Eleições no Equador: Chávez vence mais uma
A Reuters noticia que "o líder nacionalista Rafael Correa teria vencido as eleições presidenciais de domingo no Equador, segundo pesquisas privadas, o que somaria um dos países latino-americanos mais instáveis ao grupo de nações críticas de Washington, lideradas pela Venezuela. Cansados dos desprestigiados partidos políticos tradicionais, os equatorianos teriam dado forte apoio a Correa, com pesquisas de boca de urna estimando que o ex-ministro da Economia amigo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, recebeu entre 57 e 58 por cento dos votos válidos". Correa afirmou em entrevista à France Press e reproduzida pelo jornal equatoriano La Hora: "Soy un humanista, cristiano, de izquierda;
humanista porque para mí la política y la economía están al servicio del hombre; cristiano porque me nutro de la doctrina social de la Iglesia; y de izquierda porque creo en la equidad, la justicia y la supremacía del trabajo sobre el capital". Ainda segundo La Hora, "Rafael Correa es un economista de izquierda y duro crítico de Estados Unidos, que aspira a gobernar bajo la influencia del nuevo socialismo". Seu adversário, Alvaro Noboa, um populista de direita, conhecido como magnata das bananas, ainda não reconheceu o resultado.
domingo, 26 de novembro de 2006
Jornalistas: convocação aos berros
A jornalista da sala ao lado está berrando por esta convocação: ATO EM DEFESA DO DIPLOMA! Nnesta segunda, 29 de novembro, no auditório do Sindicato dos Jornalistas (Rua Evaristo da Veiga, 16/17º andar), a partir das 19:30h. Ninguém pode faltar! (Clique na imagem para ampliar.)
sábado, 25 de novembro de 2006
A renda do tráfico cai, os crimes de rua aumentam
Na quinta, publiquei nota sobre a pesquisa do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, mostrando que a renda do tráfico nas favelas caiu muito nos últimos anos. Os jovens vendedores das favelas, que ganhavam até 15 salários mínimos, hoje ganham no máximo 3. Seria uma ótima oportunidade para desviar esses jovens para educação e bons empregos, com salários dignos. Mas não é isso o que está acontecendo. O jornal O Globo traz reportagem de hoje com o título “Medo às vésperas do Natal – tiros em shopping da Barra e outros crimes aumentam a sensação de insegurança na cidade”. Não é preciso ser muito esperto para perceber a relação entre uma e outra notícia. O momento é esse para se encontrar uma solução.
O computador vai ser campeão e o xadrez vai perder a graça
Na década de 60, a PUC do Rio dava um curso de programação de computador eletrônico em um dos primeiros computadores chegados ao Brasil, um Burroughs B-200. Uma das atrações do curso era o jogo da velha, onde o computador “dizia”, ao final de cada partida, que "nunca perdia". São inúmeros os jogos em que o computador não perde nunca em confronto da mente humana. Mas o xadrez continua sendo o grande desafio. Houve o caso de Kasparov, grande campeão, que perdeu em 1997 para o Deep Blue da IBM. Mas o computador ainda não convenceu. Hoje começa mais um desafio, entre o Deep Fritz, alemão, e o fortíssimo campeão russo Vladimir Kramnik. E todos se perguntam quem será o vencedor. Pode até ser que Kramnik vença. Mas, cedo ou tarde, o ser humano não terá mais chances. Norbert Wiener, criador da cibernética, já dizia há cerca de meio século que é possível prever uma teoria geral do xadrez (como existe no jogo da velha, por exemplo), a partir do auxílio dos computadores. Depois disso, será apenas questão de tempo para o xadrez virar um jogo da velha (ou dos velhos...). A esperança talvez esteja no Go (ou Weiqi) um jogo estratégico de soma zero e de informação perfeita para tabuleiro, em que duas pessoas posicionam pedras de cores opostas, com origem na antiga China, entre 2000 AC e 200 AC, para o qual Wiener considerava difícil imaginar uma teoria geral. Realmente, diz-se do Go que nunca teve dois jogos iguais. Em xadrez, as posições possíveis são estimadas entre 10^43 e 10^50. No Go, estima-se em 2,1 X 10^170 posições. A maioria das quais, segundo a Wikipédia, “são o resultado final de cerca de (120!)2 = 4,5×10^397 diferentes partidas sem capturas, resultando num total de 9.3×10^567 jogos. Permitindo fazer capturas, então temos 10^(7,5 x 10^48) partidas possíveis, a maioria das quais chegariam a ter 1.6×10^49 movimentos!” Para se ter uma idéia do que isso representa, ainda segundo a Wikipédia, “os físicos estimam que não há mais do que 10^90 prótons no universo inteiro visível”. É esperar para ver...
sexta-feira, 24 de novembro de 2006
Ladrões em bicicleta: o neo-realismo carioca
Quando soube da morte de Ana Cristina Vasconcellos Giannini Johannpeter em uma tentativa de assalto feita por menores (ou não) em pleno Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro, fiz associação imediata com famoso filme de Vitorio de Sica. Os ladrões cariocas praticaram o crime montados em bicicletas e a assciação que fiz foi com o filme "Ladrões de Bicicletas", clássico do neo-realismo italiano. Hoje li no jornal O Globo que a polícia chegou aos ladrões, moradores da Cruzada São Sebastião, com um estilo surreal: a comunidade, um enclave "pobre" dentro do Leblon, tem uma rede clandestina de TV a cabo e os policiais cortaram esse sinal clandestino. Os moradores da comunidade, irritados e desesperados com a falta do sinal, indicaram imediatamente o esconderijo dos criminosos, que foram presos. Certamente o sinal já deve ter sido restabelecido e, com isso, foi lançado o neo-surrealismo carioca...
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
A Bolsa (Família) ou a vida!
O que os senadores da oposição fizeram esta semana no Senado foi um atentado ao bom senso, um assalto às boas intenções do povo brasileiro. Passaram a campanha eleitoral inteira criticando Lula por causa do Bolsa Família. Ou porque eram contra ou porque pretendiam se dizer autores da idéia. Passadas as eleições, na primeira oportunidade, eles inventaram um 13º “salário” para os beneficiados pelo Bolsa-Família!!!! “É uma medida inconstitucional, demagógica e irresponsável”, concluiu reportagem do Globo de hoje, a partir de depoimentos de vários cientistas políticos. Um deles chegou a dizer que a medida “indica a indigência cognitiva da oposição”. No afã de procurar dificultar o Governo Lula, a oposição pratica mais uma de suas barbaridades e acaba violentando as normas mínimas de civilidade. Ainda bem que desta vez nem a mídia está a seu favor.
Comércio de drogas nas favelas do Rio está virando uma droga
A coluna do Ancelmo de hoje, no jornal Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, na Favela da Maré. Trata-se da queda de renda no comércio de droga nas favelas, de acordo com estudo realizado de junho de 2004 e abril de 2006, entre jovens de 11 e 24 anos que trabalham para o crime. Os salários dos vendedores de droga (“vapores”) caíram de 10 a 25 salários mínimos entre 2001 e 2002 para 1 a 3 s.m. entre 2004 e 2006. Motivos: concorrência das drogas sintéticas; medo da classe média de entrar nas favelas; aumento da venda pela Internet; maior violência da polícia. Outro dado terrível: durante o período da pesquisa, morreram 45 dos 230 jovens entrevistados. De acordo com o site do Observatório de Favelas, “a pesquisa visa a proposição de ações específicas voltadas para a prevenção e criação de alternativas ao trabalho no tráfico e à diminuição da violência letal entre adolescentes e jovens. Além da apresentação dos resultados, será realizada reunião com as autoridades presentes para discussão de caminhos possíveis para a redução da violência letal no Rio de Janeiro e no Brasil". Hoje, 9:30h. Local: Observatório de Favelas Rua Teixeira Ribeiro, 535 – Maré – Rio de Janeiro Próximo à passarela 9 da Av. Brasil - sentido São Paulo Informações: 55 21 3104-4057 / 3888-3220
Val Carvalho: ou o PT do se une ou desaparece como partido
O PT, todos nós sabemos, tem a péssima mania herdada de organizações clandestinas de esquerda de viver se dividindo. Essas divisões indefinidas acabam se transformando em verdadeiro câncer político. Lembra até aquele filme do Monty Phyton, “A Vida de Brian”, onde havia inúmeras “organizações” de uma ou duas pessoas. E no Rio de Janeiro o PT consegue ser pior do que a média nacional. Agora mesmo temos exemplo. Quando finalmente tornou-se possível uma governo estadual amplo de forças progressistas, com importante participação do PT, começaram as brigas internas, na disputa sobre como será essa participação. Diante da situação e em função da próxima reunião do diretório regional, o petista Val Carvalho, um dos bons pensadores do partido, escreveu bom documento de alerta. Reproduzo-o na integra:
NOTA DE CONJUNTURA (1)
VAL CARVALHO
RIO - 21/11/2006
Depois de um ano e meio de intensa e implacável ofensiva das forças da direita e da grande mídia, a reeleição de Lula, com mais de 60% dos votos válidos, representa, ao mesmo tempo, a consolidação e a possibilidade de avanço do Projeto Nacional Popular e Democrático, apenas esboçado no primeiro mandato. Os focos mais fortes da resistência conservadora se restringem basicamente às maiorias das bancadas do PSDB e do PFL no Congresso e à maioria da grande mídia. Nos estados, a oposição conservadora é mais forte em São Paulo e, em função de seus interesses específicos, tende a se diluir em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Alagoas, Paraíba, Goiás, Distrito Federal, Roraima e Rondônia. Os governadores de oposição, de um modo geral, não ficarão sistematicamente contra o governo federal, até porque Lula não poderá mais se candidatar à reeleição. A mudança do modelo econômico rentista, implantado por FHC, para o modelo industrial agrário, gerador de emprego e distribuidor de renda, foi conduzido por Lula, no seu primeiro mandato, não por meio de rupturas, como imaginava o PT, mas de forma gradualista, com avanços e recuos e sob o intenso bombardeio das elites e da mídia. É esse caminho gradualista que continuará sendo a característica do seu segundo mandato. Talvez com um pouco mais ou um pouco menos de gradualismo, dependendo da capacidade de pressão política das esquerdas e dos movimentos sociais. Para a prática política, o mais importante é saber que a direção predominante, resultante dos conflitos com as forças conservadoras e das contradições internas do segundo governo Lula, vai se dar no sentido da consolidação e avanço do modelo econômico produtivo, de caráter nacional, popular e democrático. A situação política nacional favorece, portanto, às forças de esquerda, mas somente se estas forem capazes de compreender três questões essenciais do momento: 1ª) Lula representa o projeto de desenvolvimento nacional defendido pelo conjunto das forças de centro-esquerda e não apenas do PT; 2ª) para ser sólido este projeto tem de se apoiar num governo de coalizão, cuja coluna vertebral é a aliança estratégica PT-PMDB, os dois maiores partidos do Congresso e que elegeram onze governadores, bem mais do que elegeram o PSDB (6) e o PFL (1); 3ª) para ser a força motriz do projeto de centro-esquerda, as esquerdas têm de estar unidas em torno dos seus interesses vitais e articuladas com os movimentos sociais. Este ponto é especialmente importante para o PT, principal partido da coalizão, mas com forte tradição divisionista. Foi a divisão da bancada petista na Câmara, em 2005, que permitiu à oposição eleger Severino Cavalcanti e criar as CPIs dos Correios e dos Bingos, que foram utilizadas pela direita e pela grande mídia como bases da campanha udenista contra Lula e o PT. Nos estados do Nordeste, Norte, Centro-Oeste e no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná, onde Lula ganhou as eleições, os petistas têm a responsabilidade de defender a consolidação e avanço do Projeto Nacional, incorporando todas essas regiões ao desenvolvimento nacional, até recentemente muito concentrado em São Paulo. Os governos da Bahia e do Rio de Janeiro têm papéis particularmente importantes. O primeiro como símbolo da derrota da oligarquia rural reacionária e indutor do desenvolvimento do novo nordeste. O segundo, pelo seu peso nacional, que por isso pode-se contrapor ao conservadorismo de São Paulo e atenuar as pressões de Minas Gerais contra o governo federal. O PT do Rio de Janeiro está diante da oportunidade de assumir um papel protagonista no estado, atuando com estratégia política nas prefeituras que comanda, na Alerj e no Governo estadual, no sentido de ajudar a promover o desenvolvimento econômico do estado e a recuperar a sua importância política no cenário nacional. Mais do que São Paulo, o Rio de Janeiro teve, historicamente, o papel de liderança no desenvolvimentismo brasileiro. Enfraquecido com a mudança da capital federal para Brasília, com os vinte anos de ditadura militar e com uma fusão mais política do que econômica, o Rio de Janeiro se isola politicamente e, durante o governo FHC, perde terreno econômico, sobretudo com a destruição da indústria naval e as privatizações. O primeiro governo Lula recupera a indústria naval, decide implantar o pólo petroquímico, mas não se empenha de fato em soerguer o estado, em grande parte por conta das políticas mesquinhas do governo estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro. As primeiras movimentações do governador eleito Sérgio Cabral já mostram diferenças de fundo. Apoiou Lula, faz parceria com o governo federal e estabeleceu o diálogo institucional com o prefeito César Maia. Convida o PT estadual para um governo de coalizão e quer manter novas relações com as prefeituras e a Alerj. Tudo isso interessa a Sérgio Cabral, mas, também ao projeto nacional do governo Lula e, portanto, ao PT. A construção da unidade partidária é um processo difícil, exige concessões das partes, mas é a exigência da conjuntura nacional e estadual. Se não nos unirmos vamos desaparecer como força política respeitada e indispensável. A unidade passa pela discussão do projeto estratégico para o estado e pela composição de interesses legítimos dos diferentes setores petistas. Porém, a unidade do partido é o que exige a base petista, a nova política do estado e o governo Lula. Não existe outro caminho para o PT no estado se não quiser virar uma legenda nanica."
quarta-feira, 22 de novembro de 2006
O PT que Garotinho não quis
Em 98, Garotinho foi eleito Governador do Rio de Janeiro com uma aliança partidária espetacular: PDT (o partido dele, na época, junto com Brizola), PSB (candidato a Senador - eleito - da coligação), PCdoB, PCB e PT (que indicou Benedita da Silva como Vice). Parecia o melhor dos mundos. Juntava-se o povão de Brizola e Benedita (depois inteiramente abocanhado por Garotinho) com a classe média de esquerda do Rio de Janeiro. Tudo bom demais para ser verdade. Desde cedo, Garotinho identificou no PT e em Brizola os seus principais adversários - tanto para a condução do Governo, como para as eleições municipais de 2000, como também em função de seu projeto de candidatar-se a Presidente da República. O rompimento foi inevitável e rápido. Em 2000, Garotinho ainda fez de conta que apoiava Benedita para Prefeita do Rio - mas seu candidato de fato era Luiz Paulo Conde, que tinha rompido com o "padrinho" Cesar Maia. A entrada de Garotinho no PMDB (antes passou traumaticamente pelo PSB) foi a saída para viabilizar tanto a administração do Estado como para a nova candidatura presidencial. Deu tudo errado. E quem pagou por isso foi, como sempre, a população. Sergio Cabral parece que está fazendo, com algum sucesso, o contrário do que fez Garotinho. Não se aliou nem ao PT nem às outras legendas de esquerda no 1º turno, mas trocou apoios no 2º turno e venceu consolidando, com Lula, a influência junto ao povão e conquistando parte da classe média que Garotinho tinha perdido. A formação de sua equipe mostra esse contorno. E tudo leva a crer que o Rio Poderá ganhar com isso.
O governo que você aprovou – ou não...
A nova campanha de prestação de contas do Governo Rosinha Garotinho (PMDB) é bem inteligente. Tem como tema a frase “O governo que você aprovou”, procurando, com isso, pegar carona na eleição de Sérgio Cabral (também do PMDB). Ou seja: você votou em Sérgio Cabral, logo você aprova os Garotinhos. Poderia ser verdade, já que são do mesmo partido, tiveram quase os mesmos aliados, têm perfil eleitoral com algo em comum, subiram no mesmo palanque, etc. Pessoalmente, acredito que os dois jamais se confiaram mutuamente. E a realidade pós-eleitoral está mostrando que, pelo menos daqui pra frente, quem confia em um dificilmente votará também no outro. A formação da equipe do novo Governador e o Governo de Transição já estão escancarando as diferenças que eram tidas como certas a partir de 1º de janeiro. 2007 deverá ser palco de troca de acusações, disputa pelo domínio do partido, disputa pelos candidatos municipais de 2008 e até início de disputa pela eleição 2010. A população agora está em dúvida se aprovou ou não o governo atual. Parece pensamentio de Caetano. O tempo dirá – ou não...
IPTV: a vingança do telefone. Será?
As empresas telefônicas não engoliram muito bem os VoIPs - sistema de "voz a partir do protocolo internet" que as empresas de TV a cabo estão difundindo, prejudicando o sistema tradicional de telefonia. O contraataque das empresas de telefonia veio através do IPTV - "televisão a partir do protocolo internet". O IPTV transforma as correntes de vídeo em pacotes de dados, iguais aos dos tráfegos online, desde e-mails até downloads de músicas. Os pacotes de dados são enviados para decodificadores que permitem os aparelhos de TV funcionarem praticamente como TV a cabo. Segundo notícia divulgada pela Associated Press ("Europe telecoms eye Internet Protocol TV"), apesar de estar apenas engatinhando nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, o IPTV já tem um grande número de assinantes. Até o fim do ano, calcula-se em 3,3 milhões de assinantes na Europa - contra 1 milhão no ano anterior. O número deve dobrar em 2007 e chegar a 17 milhões em 2010. Só a França já conta com 1,6 milhões de assinantes. Os usuários gostam mais da imagem via IPTV do que via TV a cabo, mas reclamam do controle remoto, que é lento. Problema que talvez seja superado brevemente. A Microsoft trabalha para que o seu Windows Media Player habilite os computadores a substituir os decodificadores - para novo desespero das companhias de telefonia...
Desde Maradona, os argentinos sempre usaram bem as mãos
Os argentinos já tinham ficado famosos pelo gol de mão feito por Maradona contra a Inglaterra. E repetiram a dose. Dessa vez, a vítima foi a filha de Bush. Segundo a ABC News, nem ela nem seus seguranças (que provavelmente eram muitos, bem treinados e americanos) viram as mãos ágeis de um argentino que roubou a bolsa e o celular da Primeira Filha enquanto ela jantava em San Telmo, Buenos Aires. Aliás esses agentes secretos pareciam muito mané. Um deles já tinha levado uma surra, quando saiu sozinho para aproveitar a night porteña. Leia no site da ABC News.
terça-feira, 21 de novembro de 2006
Importante vitória da Oposição na OAB-RJ
A Oposição dos Advogados no Rio conseguiu a vitória que buscava há muitos anos: a conquista da da Presidência da Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro - OAB-RJ. Depois de tentativas frustradas, chegando a ter como certa a vitória de 2003, o advogado Wadih Damous venceu com uma bandeira mais progressista e, como ele mesmo escreveu, defendendo "resgatar a dignidade da categoria, devolver-lhe a importância social que um dia já encheu de orgulho os portadores da carteira vermelha da entidade. As prerrogativas precisam, novamente, ser respeitadas pelos poderes constituídos, abolindo o nepotismo. Deve-se fazer valer o preceito constitucional que elege o advogado como indispensável à administração da justiça. Um advogado cuja carreira bem sucedida virá de braços dados com sua consciência social e sua participação ativa nos problemas nacionais. Só assim a classe poderá elevar sua auto-estima".
Robert Altman
Por coincidência, hoje de manhã estava olhando a filmografia de Altman. Ainda não sabia que ele tinha morrido. Seu filme mais famoso, M.A.S.H, de 1970, lembro que disse quando vi: "Queria ter feito este filme!" Gosto também de Nashville. Mas o que mais me impressiona é o grande número de episódios para a TV que ele dirigiu, bem antes de M.A.S.H. Destaco Bonanza, Alfred Hitchcock, Maverick, Rota 66. Foram inúmeros. Bom diretor americano.
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
Abismo educacional entre “brancos” e “afro-americanos” e entre "pobres" e "ricos" mantém-se grande
Na campanha de 2000, Bush declarou que seu foco seria a educação. E um ano depois chegou a assinar uma lei radical determinando o ano de 2014 como limite para o abismo educacional que existe entre alunos da maioria branca e os alunos das minorias, principalmente afro-americanos e hispânicos. É a lei conhecida por “No Child Left Behind” (Nenhuma criança deixada pra trás), feita de comum acordo com os Democratas e que garantiria apoio a escolas pobres, com minorias étnicas. Mas elas estão cada vez com menos dinheiro, oferecendo menos cursos avançados e tendo professores mais fracos. Bush pretendia declarar “missão cumprida”, mas diante de meia dúzia de pesquisas provando o contrário foi aconselhado a mudar o discurso e disse apenas, de forma vaga, que o “abismo está diminuindo”. Na verdade os estudos mostram que os avanços são tímidos (apenas em algumas escolas e entre minorias asiáticas, que chegam a ter desempenho igual ou superior ao dos brancos) e o abismo permanece, complicado e persistente como sempre. Essa questão virou um desafio não apenas para Bush, mas também para os Democratas que já se mobilizam para cuidar do assunto na próxima legislatura. “Acabar com esse abismo é a essência do No Child Left Behind e deve continuar a ser nosso foco”, declarou o senador Democrata Edward Kennedy. Leia reportagem de Sam Dillion para o New York Times.
domingo, 19 de novembro de 2006
O não-populismo ou o Brasil que a mídia não viu
Tarso Genro, do PT, ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, escreve hoje na Folha, um artigo muito bom (“Mais além do populismo”, para assinantes), bem claro, didático, sobre dois temas sempre polêmicos. Fala sobre “populismo”, palavra que leva a mil conceitos e interpretações, e. de certo modo, sobre os “dois Brasis”, de que tanto se falou nessas eleições presidenciais. “Longe de uma ”conspiração", o apoio que a maior parte da imprensa deu ao candidato da assim chamada "elite paulista", na verdade, revelou o débil estágio de integração sociopolítica do país. E ainda um descolamento da parte mais avançada do capitalismo brasileiro do resto do Brasil. Descolamento político, de uma parte, porque o seu candidato não conseguiu, a partir de São Paulo, falar para o país. Descolamento econômico, de outra parte, porque a sua visão de mercado está mais balizada pelos consultores de risco das agências privadas do que orientada pela necessidade de expansão do mercado capitalista "clássico", produtor de bens de consumo de massas, no caso do Brasil, de educação, de comida e de roupa decente para todos”, escreve Tasso Genro, dando sentido à tomada de posição da grande mídia, e continua, mostrando porque a teses da oposição não deram certo: “A tese do "choque de gestão" não tem significado em dois terços do país, onde a máquina pública ainda não exerceu, para as grandes massas, as funções públicas mais elementares. A tese de que o governo Lula era "corrupto" se chocou com a realidade do combate frontal à corrupção pelo próprio governo. A tese da "incompetência" do presidente se esfarelou no cotidiano dos "de baixo", que melhoraram um pouco a sua vida, mas cuja melhora foi sentida numa escala sem precedentes, dentro da democracia”. Tarso Genro avança, dando precisão ao conceito de “populismo”: “É também um equívoco político e conceitual classificar a vitória de Lula como uma vitória do populismo. Não só porque os movimentos sociais não estão "enquadrados" pelo Estado ou pela figura pessoal do presidente mas também porque, em nenhum momento, a sua campanha mobilizou massas organizadas ou informes contra "os ricos". (...) E, ao contrário do que recomenda o populismo, Lula e o PT promoveram a incorporação dos "de baixo" na democracia para promover a integração social do país por meio de um grande mercado de massas. Um mercado no qual o consumo popular ascendente ajude a eliminar a exclusão e a miséria e permita que todos se sintam pertencentes a um projeto democrático de nação”. E conclui com o que podemos considerar uma direção viável e justa para o Brasil: “Agora, trata-se de criar condições para responder ao "déficit" de integração nacional que foi flagrado na maciça preferência que as regiões mais pobres do Brasil tiveram em relação à candidatura Lula, apesar da boa votação de Lula obtida no segundo turno nos Estados do Sul. As políticas de inclusão no consumo básico e na educação devem ser somadas a grandes políticas de desenvolvimento regional, promovidas pelo Estado como indutor e organizador do crescimento sustentável”.
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
Coronel marca belo tento falando sobre o acidente da Gol
O Brasil inteiro continua querendo saber afinal que que aconteceu para provocar o acidente que derrubou o Boeing da Gol. As respostas finais ainda não existem e talvez demorem muito a surgir. Mas uma coisa é certa: está todo mundo mais tranqüilo depois de assistir a apresentação do relatório preliminar sobre as causas do acidente feita pelo Coronel Rufino Antonio da Silva Ferreira, presidente da comissão responsável. Ele se mostrou claro, calmo, firme e solícito. Demonstrou conhecimento, passou segurança. Até as famílias das vítimas demonstraram estar mais aliviadas.
Deixem o homem trabalhar!
Regina, a jornalista da sala ao lado, acabou de berrar: Chega!!! Ela não agüenta mais essa história de crescimento econômico a 5%, a 3,63%, a 4,01%...Chega! Também não agüenta mais esse negócio de que o PT é um partido horripilento, que está contra o Presidente, contra o PMDB, contra todos os aliados, contra São Paulo, contra o Nordeste, contra o povo... Chega! Também não agüenta mais a especulação ministerial, a especulação sobre quem será o presidente da Câmara, quem será o presidente do Senado... Chega! Chega, imprensinha, chega políticos derrotados! Em parte, Regina, a jornalista da sala ao lado que vive berrando sua indignação, tem razão. O Brasil precisa crescer, já - e em paz.
E os Transportes Aéreos?
Sérgio Cabral está acertando muito nos primeiros passos como Governador Eleito do Rio de Janeiro. Soube ocupar a mídia, transitou bem no terreno federal e está tendo aprovação em todas as indicações para os seus Secretários e auxiliares diretos. A única brincadeira que vi circular na internet foi com relação à indicação do Julio Lopes para Secretário Estadual de Transportes: diz o texto que ele deveria ser indicado Secretário dos Transportes Aéreos, porque ele entende muito de "avião" - Adriane Galisteu... Kitty...
Sérgio Cabral e Cesar Maia se entendem... pensando em 2008
São décadas de conflitos entre os governadores do Estado do Rio de Janeiro e os prefeitos da cidade do Rio de Janeiro. (Provavelmente, mais acirrados nos períodos de Garotinhos-Cesar Maia). E tudo levava a crer que seria ainda pior na relação entre Sérgio Cabral (Governador eleito) e Cesar Maia (Prefeito). Pura ilusão. Os dois são suficientemente hábeis para perceber que a população carioca não agüenta mais tanto conflito. A eleição de 2008 vem aí e o povo vai cobrar. Cesar Maia não pode se reeleger (Ufa! Já são 3 mandatos diretos e 1 indireto...), mas precisa ou fazer o sucessor ou sair deixando saudades, cacifando-se para vôos maiores. Sérgio Cabral também está pensando em um Prefeito do Rio do campo aliado. Mas foi na cidade do Rio que ele teve maior rejeição da classe média e onde chegou a perder no 1º turno. Sérgio Cabral também precisa, portanto, conquistar a classe média carioca. Com 2008 na cabeça, os dois resolveram se unir para agradar a cidade - coisa que o povo agradece. Difícil acreditar que essa lua de mel resista até as vésperas da eleição...
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
Falta gás na relação entre Chile e Argentina
No dia 13 de julho escrevi aqui (Está faltando gás... no Chile) sobre o problema do gás que o Chile compra da Argentina, mas que, na verdade, acaba dependendo da Bolívia. Isso porque a Argentina, com produção limitada, compra gás da Bolívia para complementar o uso interno e também para cumprir contratos com Chile, Brasil e Uruguai. Se sobe o preço na Bolívia, a Argentina aumenta o preço do que vende, mantendo estável o preço interno. Agora a situação ficou pior para o Chile, que importa cerca de 15 milhões de metros cúbicos de gás da Argentina. Segundo o Plantão Globo (assinantes), a Argentina acaba de suspender “temporariamente” o abastecimento de gás natural. Tudo por causa de paralisação dos trabalhadores argentinos da província de Neuquén. Além de pagar mais, o Chile fica dependendo da solução para as greves da Argentina. Realmente, esse gás é muito explosivo.
terça-feira, 14 de novembro de 2006
Torre para controladores: tá na hora de pousar
A Regina, jornalista da sala ao lado, berra: "Olha aqui, controladores, é bom parar! Chega, tá bom?!?
Jornal tem futuro?
Na década de 50, 60, Hermano Alves era um repórter político de sucesso, que virou Deputado Federal e que ganhou projeção ainda maior por ter sido usado como um dos pretextos do Governo Militar de Costa e Silva para baixar o AI-5. Quando ele trabalhava no Jornal do Brasil, entrou um repórter em princípio de carreira chamado Luiz Gutemberg. Um dos prazeres de Hermano Alves era falar “Gutemberg, você é o princípio e o fim da imprensa”. Luiz Gutemberg tornou-se jornalista de sucesso sem jamais esquecer essa brincadeira do Hermano Alves, que ele odiava. Talvez quisesse provar que a imprensa à la Gutenberg ainda tinha muito chão e muita força. Mas essa indagação sobre o fim da imprensa nunca deixou de existir, seja associada ao fim das liberdades, seja associada a novas tecnologias. Agora vivemos o “fim” da imprensa fortemente associado à Internet e seus blogs. O jornal The Independent de ontem trouxe depoimentos sobre o tema feitos por várias lideranças da mídia internacional colhidos por Ian Burrel: Steve Auckland (Associated Newspapers), Helen Boaden (Head of news BBC), Tim Bowdler (CEO of Johnston Press), Jon Gisby (Head of Media Group - Yahoo! Europe), Bill Hagerty (Editor of the 'British Journalism Review'), Stefano Hatfield (Editor of News International's 'thelondonpaper'), Peter Hill (Editor of the 'Daily Express'), Simon Kelner (Editor of 'The Independent'), Will Lewis (Editor of the 'Daily Telegraph)', Andrew Marr (Broadcaster), Piers Morgan (Former editor of the 'Daily Mirror'), Gavin O'Reilly (President of the World Association of Newspapers – WAN and chief operating officer, Independent News & Media), Ian Reeves (Editor of 'Press Gazette'), John Ridding (CEO, 'Financial Times'), Alan Rusbridger (Editor of 'The Guardian'), John Ryley (Head of Sky News), Chris Ward (Commercial director, MSN), John Humphrys (Presenter of the 'Today' programme), Tessa Jowell (Secretary of State for Culture, Media & Sport), Sir Martin Sorrell (Ceo WPP Group), Nathan Stoll (Global head of Google News), Les Hinton (Executive chairman, News International), Andy Duncan (CEO, Channel 4). De um modo geral, diante da questão “o futuro dos jornais”, a maioria responde que o jornal tem futuro. Mas eles respondem de uma forma que parece que não acreditam muito no que dizem. Mostram números provando que as tiragens estão aumentando. Dizem que a qualidade é o diferencial. Ou que as verbas de publicidade não param de crescer. Ou que os jornais são a segunda mídia do mundo, perdendo apenas para TV, e por aí vai. Outros procuram conciliar jornal e Internet. Mas a verdade é uma só: o jornal, como existe hoje, não tem futuro. Haverá, sim, o jornal de novo tipo (sem trocadilho). A notícia quentinha, em primeiríssima mão, praticamente deixou de existir no jornal impresso há muito tempo. O que não quer dizer que ele vá deixar de existir inteiramente, pelo menos enquanto nós ou o nosso tipo de pensamento existirmos. Os editores precisam, isso sim, explorar mais a materialidade dos jornais para poder produzir informação de forma específica. Isso para ficar apenas na questão formal. Porque o principal é saber se o jornalismo, do jeito que está, tem futuro – independente de ser no papel ou na Internet. Com certeza, não há como aceitar que o jornalismo que vimos na nossa cobertura eleitoral tenha futuro. Como disse Raimundo Pereira em sua entrevista para José Dirceu, “depois que eles (os jornalistas) divulgam uma coisa que corresponde a um monte de interesses, eles dizem que aquilo é um fato, que todo o fato tem que ser divulgado por si, como se os fatos se apresentassem nas páginas de jornais por si”. Ainda repetindo Raimundo Pereira, “eu sou dos que acreditam que a verdade é concreta”. O problema é que, tanto no jornal impresso quanto em qualquer outro meio, o jornalismo predominante procura sempre o melhor “ângulo” para retratar uma verdade deturpada.
A título de curiosidade: 439 milhões compram jornal diariamente em todo o mundo. A circulação paga cresceu 0,56% em 2005 e não menos que 6% nos últimos 5 anos. Como veículo publicitário, o jornal é o segundo maior do mundo (30,2%) e é maior que a soma do rádio, outdoor, cinema, revistas e Internet. Nos últimos 5 anos, mais do que 6 bilhões de dólares foram investidos em tecnologia específica.
Trecho do depoimento de John Ryley, Head of Sky News: "Acho que os jornais têm futuro, sim. Mas são 7 e 40 da manhã, estou quase pegando um trem de Washington para New York, e outras 30 pessoas também. Metade delas está usando ou BlackBerries ou celulares. Duas delas estão lendo jornais. Financial Times e Washington Post. São leitores na faixa dos 40 anos. Diria que é uma imagem bem simbólica do futuro”.
O furo do Vice
Luiz Fernando Pezão, Vice-Governador eleito do Rio de Janeiro, é um desses bons políticos com cara de modernidade; fez sucesso como administrador (duas vezes Prefeiro de Piraí, RJ, sendo o mais votado dos 92 prefeitos do Estado em 2000), sem precisar de auto -promoção. Liguei pra ele hoje para saber se confirmava a notícia de que acumularia a função de Secretário de Obras e Interior, conforme divulgado na coluna Informe do Dia. Ele deu a entender que não havia essa definição, faltava conversa com aliados. Perguntei por outras novidades. Ele foi rápido: "Vice não dá furo".
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
Largar ou não largar o Iraque, eis a questão
A derrota de Bush nas eleições americanas da última terça-feira, 7, acelerou as discussões sobre uma solução para o conflito no Iraque. O voto americano foi claramente contra a atual política bushiana que leva jovens para morrer em um atoleiro sem saída, onde a guerra civil ganha contornos cada vez mais profundos de verdadeira catástrofe. Será que ainda resta esperança? Bush, pressionado pelos votos contrários, reúne as principais lideranças do país para encontrar uma resposta. O grupo bipartidário do congresso (liderado por James Baker III, antigo secretário de Estado de Bush, e Lee Hamilton, antigo congressista democrata) encarregado de estudar o assunto e encaminhar soluções apresenta três propostas básicas: a federalização do Iraque, para tentar superar os danos causados por permanentes conflitos étnicos; a retirada gradual das tropas americanas; e trazer os países limítrofes ao Iraque (incluindo Síria e Irã) para discutir soluções. É difícil ver esses caminhos sendo implementados imediatamente. No seu editorial de hoje o Le Monde acredita que isso significaria uma alteração no próprio conceito bushiano de combate ao terrorismo. O editorial acredita também que, demitindo Rumsfeld, Bush já mostrou "grande flexibilidade tática e que tem agora a oportunidade de adotar o realismo sugerido pelos eleitores". Já Robert Kagan ( Weekly Standard e autor de “Dangerous Nation”) e William Kristol (Weekly Standard), em artigo publicado no Financial Times de ontem, argumentam que o sucesso ou o fracasso do Iraque será o que Bush deixará de principal legado daqui a dois anos. Segundo eles, será um fracasso, se continuar como está ou como sugerem as novas propostas de retirada das tropas. Mais de 2 mil soldados americanos já morreram, mais de 16 mil já foram feridos e mais de 250 milhões de dólares já foram enterrados em solo iraquiano. A única saída, ainda segundo Robert Kagan e William Kristol, seria parar com essa bobagem de presença limitada no Iraque e aumentar o efetivo da tropa para 50 mil soldados. Assim seria possível pacificar e controlar Bagdá e depois levar a paz para outras áreas. Essa estratégia, dizem, “não estabilizaria o país imediatamente, mas formaria um centro vital e permitiria uma esperança real de progresso”. A sensação que temos em todos esses pronunciamentos e nas propostas que vêm tanto de líderes do lado republicano quanto do lado democrata é a de que eles não procuram exatamente resolver o problema que os estados Unidos criaram no Iraque. Eles querem acima de tudo uma solução vencedora para as próximas eleições americanas. Leia também textos do The Independent e New York Times.
Correção. A leitora Malu alertou para dois enganios no texto. Obviamente, o correto é falar falar em "250 bilhões de dólares". E a outra frase, correta, é "aumentar o efetivo da tropa em 50 mil soldados". Obrigado, Malu.
sábado, 11 de novembro de 2006
Choque de impressão
O momento que vivemos chega a ser vergonhoso para nossa imprensa, que parece procurar se sustentar unicamente à base de escândalos e mau uso dos princípios do jornalismo. Certos jornalistas dizem, em sua defesa, que estão sendo acusados de retratarem os fatos. Mas não é verdade. Mais do que nunca estão distorcendo os fatos. Criam realidades falsas a partir da construção de percepções enganosas. Isso é feito, por exemplo, com diagramações forçadas, onde uma foto ou uma ilustração ou um texto “mal” colocado podem levar a interpretações diferentes do que está exposto no texto. Lembro de um exemplo de muitos anos atrás onde um jornal do Maranhão (que tinha um propósito brincalhão) fez uma primeira página onde a foto de Vitor Civita, presidente do Grupo Abril, em visita à região, parecia ilustrar a matéria sobre a prisão de famoso contrabandista. Há exemplos de palavras e frases fora de contexto, ou com significado dúbio, como fez o jornal O Globo recentemente com a manchete “PT usará facção do crime para abafar dossiê", onde a palavra “facção” poderia ser interpretada como “PCC”, “Comando Vermelho” ou qualquer outro grupo sabidamente criminoso. Mas certos jornais e certo jornalismo vão além. Usam falsos dossiês, quebras de sigilos bancários e telefônicos, todo tipo de invasão de privacidade e factóides que possa ajudar na venda de jornais, aumentar audiência ou contribuir para propósitos de ganhos políticos ou financeiros. Levam ao extremo a dualidade realidade-percepção, criando contradições em proveito próprio. O advogado constitucionalista e professor da PUC-SP Pedro Estevam Serrano, em entrevista ao site Última Instância, sobre a já famosa quebra de sigilo da Folha, chega a declarar que “há muito interesse de vender jornal por trás desse discurso do interesse público de divulgar”. No seu Blog de hoje, em texto intitulado "A mídia e os direitos fundamentais", Luis Nassif também expõe as mazelas desse jornalismo que tem sido praticado pela grande imprensa à revelia dos bons jornalistas que sobrevivem. Ele cita o próprio livro, "O Jornalismo dos anos 90”, onde aborda “dezenas de episódios em que a mídia atropelou os direitos mais comezinhos de vítimas de arbitrariedades policiais e do Ministério Público, que se associou a chantagistas para divulgar dossiês incriminatórios contra adversários, que desrespeitou sigilo fiscal, telefônico e pessoal de pessoas, expondo-as a manchetes e capas, sem comprovação do crime”. Luis Nassif diz que o livro “era crítico em relação aos anos 90, mas terminava com uma visão otimista, de que a única saída da mídia seria aprimorar-se, porque os leitores seriam cada vez mais exigentes e não aceitariam carne de terceira”. Mas ele reproduz dois capítulos do livro e sugere que sejam lidos “à luz do que foi a mídia nos últimos anos”. Recomendo a leitura, com ênfase no que ele chamou de “Manual de Sobrevivência”, onde orienta o leitor ou o espectador para que não aceite como verdade incontestável tudo que sai em letra impressa. Nem que deixe de conferir se há lógica nas reportagens. Nem que se deixe levar por acusações sem provas. Nem que “acredite no jornalista que, ao mencionar determinadas gravações, use adjetivos tonitruantes para qualificá-las (“explosivas”, “impactantes”), mas não mostre nem a cobra nem o pau”. Trabalhar com a percepção ou o imaginário do público é uma responsabilidade muito grande. Talvez seja o momento de aprofundar as reflexões sobre o que está acontecendo com o jornalismo e propor ações capazes de recuperar a dignidade e a busca de alguma objetividade no que se produz. Retratar os fatos, mas não com “objetiva” ou objetivo qualquer. Com certeza, as novas tecnologias da comunicação contribuirão para esse choque de renovação jornalística. Mas é preciso antes de tudo a vontade e a mobilização dos bons jornalistas.
A boa notícia é que a imprensa vai começar a aprender sobre IDH
Faz tempo que os indicadores da imprensa precisam melhorar. Diariamente nossos grandes jornais caem no ranking do IDBS (Índice de Desenvolvimento do Bom Senso) e isso tem se refletido na baixa qualidade de informação que recebemos. A recente cobertura do o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) desenvolvido pela ONU é um bom exemplo. Alguns trechos da reportagem “Governo Lula reduziu gastos com educação” na Folha (assinantes) de hoje ajudam a comprovar o que digo: “Maior responsável pela queda do Brasil no recém-divulgado ranking mundial de desenvolvimento humano, a educação teve seus recursos federais reduzidos no governo Lula. (...) Não é possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito entre a redução dos gastos em educação e o desempenho brasileiro apurado pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Mas ambos refletem as opções da política social brasileira nos últimos anos, aprofundadas sob Lula. Das quatro principais áreas da política social, duas têm forte crescimento recente nas despesas -previdência e assistência. Privilegiam-se, portanto, as transferências diretas de renda aos beneficiários, em detrimento dos serviços do Estado. (...) No IDH, que leva em conta expectativa de vida, alfabetização de adultos, taxa de matrículas e renda per capita, o Brasil teve progressos menores nos três primeiros indicadores, ligados à saúde e à educação - o que ajuda a explicar o recuo da 68ª para 69ª posição no ranking internacional. O país mereceu, porém, uma menção elogiosa da ONU ao Bolsa Família, programa de transferência de renda que contribuiu decisivamente para a disparada do orçamento da assistência social”. É verdade que o Brasil precisa avançar muito nos investimentos em educação e saúde e na área social de um modo geral. É verdade também que esses investimentos evidentemente contribuirão para que o Brasil suba no IDH. Mas é preciso não misturar os números. Primeiro, a reportagem refere-se ao PIB de 2005, enquanto o IDH-2006 trata dos números de 2004. E é bom lembrar que de 2001 a 2004, no orçamento social da União, o ítem "Educação e Cultura" cresceu de 8.975 milhões de reais para 13.038 milhões de reais, mantendo sempre 0,7% de participação no PIB. Segundo, não vi na grande imprensa nenhuma citação (posso estar enganado) do Relatório (site do PNUD) sobre IDH que diz: “Os dados obtidos a partir da metodologia aperfeiçoada apontam que, de 2003 para 2004, o Brasil avançou nas três dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano (longevidade, renda e educação). (...) Para monitorar o desempenho em educação, o RDH usa dois indicadores: taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa bruta de matrícula nos três níveis de ensino. No caso do Brasil, as séries estatísticas internacionais apontam que a taxa de alfabetização aumentou de 88,4% para 88,6% (11,4% de analfabetismo, 62º no ranking mundial). A taxa bruta de matrícula estabilizou-se em 85,7% (40º no ranking)”. Há outro trecho importantíssimo: “Educação é a dimensão em que o Brasil (0,88) mais se aproxima dos países ricos (0,98) e mais se distancia da média mundial (0,77)”(clique na imagem para melhor visualização). Após essa demonstração da queda dos índices de qualidade de informação de nossa imprensa, a boa notícia também pode ser encontrada no site do PNUD: “PNUD, ABRAJI e Instituto Ayrton Senna lançam treinamento em desenvolvimento humano para profissionais da imprensa.” Segundo a reportagem, a parceria “resultou na elaboração de uma série de cursos que busca orientar os profissionais da imprensa a cobrir assuntos ligados ao IDH”. Esperamos que, com isso, as reportagens sobre os próximos IDHs demonstrem um desenvolvimento jornalístico muito melhor.
sexta-feira, 10 de novembro de 2006
IDH: Brasil avança em desenvolvimento humano; pouco, mas avança
Toda vez que leio manchetes como a que o jornal O Globo publica hoje lembro das palavras de seu colunista Merval Pereira, em defesa da atuação da mídia na última campanha política: “Culpam as reportagens pelos fatos que retrataram”. Vejamos a manchete do Globo: “Educação faz Brasil perder posição no ranking da ONU”. E vamos aos fatos: o Brasil subiu na pontuação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano feito pela ONU) 2006 passando de 0,788 para 0,792, mas houve uma mudança no critério para calcular os dados de educação, com exclusão dos números dos programas de educação para adultos que existem em 32 países. O objetivo da mudança foi uniformizar os cálculos para todos os países, e levou o Brasil a cair uma posição no ranking, de 68º para 69º lugar. A educação ainda está muito mal, ninguém tem dúvida, e precisa avançar muito. Mas o próprio texto interno da reportagem diz que “a educação ainda é a variável em que o Brasil é mais bem avaliado”. A meu ver, manchete que melhor “retrataria os fatos” seria: “Brasil cresce em desenvolvimento humano, mas mudança de critérios da ONU com relação à educação faz país cair no ranking mundial”. É longa? Sem dúvida, mas retrata melhor os fatos. Ou fazer como o próprio site do PNUD-Brasil (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) que diz: “Brasil melhora IDH, mas cai 1 posição no ranking mundial”. E o fato principal, aliás, pode ser outro: o Relatório de Desenvolvimento Humano elogia o Brasil no combate à desigualdade, chegando a citar o Bolsa-Família . Diz a manchete do site do PNUD-Brasil: “Brasil reduz a desigualdade de renda e sobe no ranking - Relatório do PNUD vê país como exemplo de que problema pode ser combatido; mesmo com avanços, distribuição de renda é a 10ª pior” (antes era a segunda pior). E diz mais: “Apontado até o Relatório de Desenvolvimento Humano 2005 como referência de desigualdade, o Brasil é apresentado no RDH 2006 como exemplo de melhoria na distribuição de renda”. E no RDH 2006 podemos ler “A boa notícia é que a desigualdade extrema não é algo imutável. Nos últimos cinco anos, o Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, tem combinado um sólido desempenho econômico com declínio na desigualdade de rendimentos (segundo fontes nacionais, o índice de Gini desceu de 56 em 2001 para 54 em 2004) e na pobreza. O crescimento econômico criou emprego e aumentou os salários reais. E um vasto programa de bem-estar social — a Bolsa Família — fez transferências financeiras para 7 milhões (já são 11 milhões) de famílias que vivem em pobreza extrema ou moderada para apoiar a nutrição, a saúde e a educação, criando benefícios hoje e ativos para o futuro”. Essas palavras precisam ser valorizadas, não para bajular o Governo Lula, mas como estímulo a qualquer trabalho que combata a desigualdade.
José Dirceu está certíssimo na questão do sigilo telefônico
José Dirceu foi um dos maiores prejudicados na batalha política dos últimos meses, com a mídia tomando o partido da oposição - ou, no mínimo, fazendo o seu jogo. A quebra do sigilo telefônico seguida de divulgação nos noticiários tinha se tornado coisa corriqueira. Mas agora houve a quebra do sigilo do telefone da Folha (dentro da lei) sem a divulgação que tinha virado costumeira (mas ilegal), e a imprensa protestando, inclusive com nota da ANJ - Associação Nacional de Jornais. José Dirceu indignou-se, com razão, com a, digamos, falta de coerência da mídia. Reproduzo texto de seu Blog publicado hoje:
Leis regulam a quebra de sigilo, e a mídia tem de respeitar. A Folha, como era de se esperar, volta hoje ao assunto do sigilo da fonte e da decisão da Justiça de quebrar o sigilo de Gedimar Passos e dos 168 telefones que ele chamou ou que o chamaram. Como sabemos, entre esses números havia telefones da Folha e de outros veículos. Tudo dentro da lei. Dentro da lei está também a manutenção do sigilo telefônico, já que, até agora, somente a autoridade que preside o inquérito teve acesso à informação. Foi a Folha que informou que teve seu o sigilo de seu telefone quebrado. Nada parecido com o que aconteceu nas CPIs, com total anuência, concordância e muita vezes estímulo de quase toda imprensa. Primeiro quebrava-se o sigilo de investigados, depois parlamentares da oposição vazavam para a imprensa e depois toda a imprensa violava o sigilo – ou seja, a lei e a Constituição – e publicava não apenas os números, mas também, quando possuía, o conteúdo das conversas telefônicas, mesmo quando a Justiça declarava ilegal ou nula como prova essa quebra de sigilo. Esta é a verdade histórica, que está registrada na própria imprensa. Quando se quebra um sigilo telefônico apenas se transfere para a autoridade que investiga, seja parlamentar, policial, promotor ou juiz, o sagrado dever de preservar aquele sigilo e usá-lo dentro dos limites da lei nas investigações, no inquérito ou no processo. Durante meses assistimos no Brasil todos, sem exceção, violando a lei e a Constituição – parlamentares, delegados, promotores e, principalmente, a mídia, que abusou ao limite desse recurso. Agora temos que ler uma nota da Associação Nacional de Jornais afirmando, no limite do cinismo, que a decisão da Justiça – que não sabia que os telefones eram de jornais ou revistas – "coloca em risco o direito à privacidade dos cidadãos" e que a sociedade precisa ficar "atenta para as conseqüências da autorização e execução do recurso da quebra de sigilo telefônico". Antes tarde do que nunca. Espero que a ANJ, e todos que protestaram e defenderam o jornal de uma decisão absolutamente legal e corriqueira, no futuro defendam o direito a privacidade e o uso do recurso da quebra do sigilo telefônico dentro da lei, para todos os cidadãos e não apenas para a imprensa e seus profissionais.
quinta-feira, 9 de novembro de 2006
Lula e os metalúrgicos
Faz 18 anos, hoje, dia 9 novembro, que morreram três metalúrgicos na greve acontecida na CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, em 1988, em Volta Redonda, RJ. Na época, houve comoção nacional. O PT pressionou o governo Sarney e foi muito beneficiado nas eleições que aconteceram dias depois. O tema nacional de campanha era "O povo tá PT da vida". Em 1989, o candidato Lula, em ato comemorativo de um ano da morte dos metalúrgicos, declarou para um público de cerca de 50 pessoas que, estivesse onde estivesse, ele nunca mais esqueceria esta data. Tenho certeza que o Presidente-Metalúrgico não esqueceu o dia de hoje.
Os coronéis da comunicação
A democratização dos meios de comunicação no Brasil está na ordem do dia. Mas,como diz Gustavo Simon no Portal IMPRENSA, "se o Governo estiver realmente disposto a encampar, em suas ações, as bandeiras erguidas por movimentos como o FNDC, a FENAJ e o InterVozes, a batalha promete ser dura, pelo menos no Congresso Nacional". E ele explica: "Dois ex-presidentes, onze ex-governadores, deputados e senadores entre os mais influentes do Congresso Nacional, reeleitos e marinheiros de primeira viagem. Pelo menos doze estão, atualmente, na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara, responsável pela aprovação e renovação de outorgas e concessões de rádios e televisões. Ao todo, 133 políticos (...) possuem alguma ligação com empresas de radiodifusão no País – seja por controle acionário próprio ou de parentes, empréstimos realizados no passado ou cotas de capital". A lista foi elaborada pela Agência Repórter Social, com dados do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, da Universidade de Brasília, UnB, e do Instituto de Pesquisas e Estudos em Comunicação, Epcom. "Tudo isso acontece sob os olhos da Constituição Federal, cujo artigo 54 determina que parlamentares estão proibidos de manter contrato com empresa concessionária de serviço público, como emissoras de rádio e televisão. Em caso de descumprimento dessa lei, o artigo 55 prevê a perda de mandato para os descumpridores". Será que esses "coronéis da comunicação terão a coragem de legislar contra seus interesses pessoais? E os grandíssimos grupos de comunicação, vão querer democracia pra valer?
Democratas fazem serviço completo
Os Republicanos precisavam conquistar 50 cadeiras para continuar controlando o senado americano, e os Democratas precisavam de 51.Virginia foi a 51ª conquista dos Democratas, segundo a Associated Press. Caso os Republicanos vencessem na Virginia e conseguissem o empate de 50-50, o Vice-Presidente Dick Cheney funcionaria como uma espécie de "voto de Minerva." - ou seja, o empate seria vitória dos Republicanos. A derrota de Bush deve-se à estratégia de "esticar a corda" que ele e seus consultores decidiram adotar. A grande maioria americana, a chamada "maioria silenciosa", que se encontra ali no meio (um milímetro de distância dos Republicanos, um milímetro de distância dos Democratas) não gostou de ver seus garotos morendo no Iraque e não gostaram nada dos deslizes morais dos Republicanos (é bom lembrar que os casais republicanos chegavam a se orgulhar de dormir em camas separadas, enquanto os Democratas domiriam na mesma cama, assunto que voltarei a tratar).
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
Conselho de Segurança, Nicarágua e Congresso Americano: as eleições que Bush gostaria de esquecer
Bush está vivendo o seu inferno astral eleitoral. Que se torna ainda mais penoso para uma figura já acostumada a comemorar vitórias que impunha ao mundo. Além das recentes derrotas nas diversas guerras que espalhou por toda parte, Bush viu, primeiro, a impossibilidade de impor o nome da Guatemala como membro transitório do Conselho de Segurança da ONU. Hugo Chávez conseguiu fazer frente à vontade bushiana e a saída, honrosa para os dois lados, foi o nome do Panamá. Depois, temos a vitória (já reconhecida pelo adversário) de Daniel Ortega na Nicarágua. Não que Daniel Ortega pretenda se transformar em mais um pesadelo latino americano na vida de Bush. Mas com certeza a política externa sandinista será independente, sem os grilhões do Norte. E a grande trauletada em Bush está sendo essa vitória dos Democratas americana nas eleições desta sexta-feira "sangrenta". O próprio Bush já declarou que está decepcionado com os resultados.
O Congresso é Democrata
Os Democratas já conquistaram a maioria na câmara dos deputados americana. E estão prestes a conquistar também a maioria no senado. Como o sistema eleitoral deles é arcaico e pouco confiável, pode ser que isso ainda leve uns dias para confirmar. Se for confirmado, será a primeira vez, em 12 anos, que Democratas superam os Republicanos nas duas Casas. Não sei se isso é melhor ou pior para o Brasil. Mas tenho certeza que reduzir o poder do belicista Bush sempre é bom.
terça-feira, 7 de novembro de 2006
Acabamos de ter a campanha mais cara da história
2,6 bilhões de dólares. Esse foi o custo da campanha eleitoral americana pelas vagas no Congresso, como informa o enviado especial da Folha (assinantes) Vinícius Queiroz Galvão. Os dados são do Center for Responsive Politics, instituto independente de pesquisas políticas, sendo 1,4 bilhão de dólares gastos pelos republicanos e 1,2 bilhão de dólares gastos pelos democratas. Para se ter uma idéia do valor, os gastos de Lula e Alckmin, juntos, foram de 98 milhões de dólares. Tomara que todo esse dinheiro sirva para mudar alguma coisa no legislativo americano que, no momento, tem 66% de reprovação, acusado, entre outras coisas, de "submissão ao presidente e corrupção" (Folha, assinantes). Como diria a Coluna do Ancelmo (O Globo), deve ser horrível viver num lugar assim...
Brizola desconfiaria: Estados Unidos podem seguir o modelo brasileiro de urnas eletrônicas
Com o título de "Como o Brasil pode ser o modelo para a reforma do voto eletrônico" (How Brazil Might be The Model For E-Voting Reform), o site Internetnew.com entrevistou Deforest Soaries, ex-presidente da comissão eleitoral dos Estados Unidos, que mostrou grande preocupação com o modelo (ou modelos) americanos de votar. Existem pelo menos 6 sistemas diferentes operando lá, todos conflitantes e pouco confiáveis. Soaries disse que "as eleições são importantes demais para possibilitar a percepção de conflito de interesses (...) os eleitores devem se preocupar". Ele sugere a centralização pelo Governo Federal. Ted Selker, expert em tecnologia do voto e co-diretor do CalTech-MIT Voting Tecnology Project concorda e acha que os os Estados Unidos devem fazer como o Brasil, onde as urnas eletrônicas têm a produção e o desenvolvimento centralizados.
Serra está certo em não comparecer à CPI dos Sanguessugas
Comparecer à CPI? Por que Serra faria isso? Para ter que responder se é verdade ou não que ele se beneficiou do esquema das ambulâncias na época em que era Ministro da Saúde? (Todo mundo já sabe a resposta, ele teria que ficar horas e horas dizendo a mesma coisa para dezenas de parlamentares sedentos de sangue e de um bom ângulo nos noticiários.) Para ser xingado em público? Para ser chamado de mentiroso? Para ser acusado e condenado em rito sumário (perdão pelo sumário, porque na verdade o rito é longo e penoso)? Para ser ameaçado de sair algemado do recinto? Para ver sua foto estampada em todos os jornais (e principalmente na capa da Veja), com aspecto grotesco, como se estivesse sentado no banco dos réus e ouvindo sua sentença de morte? Para ter toda a sua família exposta a vexames? Para ter seu sigilo bancário e telefônico quebrado sem mais nem menos? Não, não é isso que Serra deseja para ele próprio. Aliás, nem ele nem ninguém. Mas a a sorte de Serra é que não há nenhuma eleição à vista e os parlamentares não se esforçarão muito para tê-lo como ator principal desse teatro dos horrores.
segunda-feira, 6 de novembro de 2006
O dossiê de Bush não funcionou
Há dois anos, quando venceu John Kerry e se reelegeu Presidente dos Estados Unidos, Bush declarava eufórico: “Vou deixar uma coisa bem clara – eu ganhei capital na campanha, capital político, e agora pretendo gastá-lo”. Parece que o capital não era grande o suficiente, ou então ele gastou rápido demais, porque já virou “capital zero”. O custo – tanto financeiro quanto político – da guerra do Iraque foi além das vãs filosofias de seus conselheiros. Bush imaginava que a essa altura do campeonato os seus garotos deveriam estar largando as noites quentes de Bagdá e voltando para o aconchego do lar. Ledo engano. Infelizmente, parece que essa é uma cena que ainda vai demorar muito a acontecer. Para tentar reverter o quadro negativo que emoldura as eleições desta terça-feira, Bush ainda preparou duas imagens de impacto: a queda na taxa de desemprego e a condenação de Saddam Hussein. A idéia era que as imagens tivessem a força correspondente à foto do dinheiro do dossiê anti-Lula e garantissem a vitória dos republicanos sobre os cada vez mais ameaçadores democratas. Era muito tarde. Com 150.000 soldados afundando no atoleiro iraquiano, Bush prepara-se para atuar nos próximos dois anos exatamente como fazia nos seus tempos de Governador do Texas: negociando também com os democratas, depois de ter passado seis anos ignorando-os. Seja como for, ganhando republicanos ou democratas, o Iraque não facilitará a vida de Bush. E o relógio não pára, como demonstra o relógio digital distribuído para os seus principais assessores: faltam 805 dias, 6 horas, 52 minutos e 42 segundos para acabar o mandato... (Leia reportagem de Sheryl Gay Stolberg e David E. Sanger para o New York Times)
domingo, 5 de novembro de 2006
Lula, o fortão e o fraquinho
Excelente a entrevista dada pelo marqueteiro João Santana, que fez a campanha de Lula, a Fernando Rodrigues e publicada na Folha de hoje. Ele criou duas figuras aparentemente opostas para representar o papel de Lula na percepção do eleitorado mais pobre: "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sua reeleição ao fato de ter virado, no imaginário do eleitorado mais pobre, uma figura dupla: um "fortão" igualmente humilde que virou poderoso e ao mesmo tempo uma vítima, um "fraquinho" sob ataque das elites". É ótimo esse modo de colocar as coisas. Sem nomear exatamente assim, eu mesmo já tinha percebido algo semelhante em figuras como Garotinho e Benedita, do Rio de Janeiro. A entrevista é muito interessante, com dados novos e análises de quem tinha que realmente decidir o que fazer. Continuando a análise de João Santana sobre o "fortão" e o "fraquinho": "Passou a existir uma projeção das camadas C e D da população. Lula é um deles. Chegou lá. Os 60% da população que se identificam com Lula enxergam o presidente como o fortão, o igual que rompeu todas as barreiras sociais e tornou-se um poderoso. É algo que mexe profundamente com a auto-estima das pessoas. Lula, nesse caso, é o "fortão", o "libertador" da minha teoria. Por outro lado, quando Lula é atacado, o povão pensa que é um ato das elites para derrubar o homem do povo. "Só porque ele é pobre", pensam. Nesse caso, vira o bom e frágil "fraquinho" que precisa ser amparado e protegido. Jamais houve, no Brasil, tamanha identificação entre um presidente e os setores majoritários da população". De tudo que João Santana falou só não estou inteiramente convencido de que Lula errou ao não ir ao debate da Globo no 1º turno. Não quero ficar com "achismos" contra quem estava muito bem municiado de informações ("Em 77 dias, o publicitário de Lula teve a opinião (...) de 53,9 mil entrevistas quantitativas e de 7.392 qualitativas, mais do que a maioria das teses universitárias que tentam entender o que pensam os eleitores brasileiros", diz Fernando Rodrigues). Mas creio que, se fosse ao debate, em vez de sair "fortão" ou "fraquinho", ele poderia sair "fracote". Fiquei feliz com a confirmação do que falei neste Blog, no dia 23 de setembro, sobre a troca de aplausos na cena de Lula na ONU. Escrevi: "A grande imprensa está tão desesperada que resolveu (pautada por Cesar Maia) atacar os aplausos de Lula na ONU. O que aconteceu (substituição de imagens durante a apresentação do programa eleitoral) ocorre com grande freqüência. O editor não tem imagens para representar o que realmente está acontecendo (as imagens de aplausos reais não representavam o áudio real dos aplausos) e ele pega a primeira que encontra". Disse João Santana sobre o fato: "Uma editora fez a inserção dos aplausos de maneira errada. Podem achar que estou mentindo, mas foi o que aconteceu. Um erro. Aliás, o único".
sábado, 4 de novembro de 2006
Good night and good luck
Dias atrás fui questionado por que dava muita atenção a Cesar Maia, “um político medíocre”, dizia o texto. Respondi que considero César Maia a principal referência da oposição de direita no Rio de Janeiro e, mesmo não concordando com suas idéias, ele tem o seu valor – principalmente por estar sabendo dominar as novas tecnologias de marketing (pesquisa e comunicação) e por estar sabendo pautar a imprensa nacional. Às vezes eu mesmo me questiono por certos temas que escolho. E diversa vezes me questionei por ainda ler a coluna do Merval Pereira no jornal O Globo. Seu texto costuma ser um amontoado de idéias atrasadas e, geralmente, mal acabadas. Nos últimos dias ele se dedicou a hastear a bandeira da “liberdade de imprensa versus Governo Lula”. De forma tão primária, que dá raiva. Na essência, ele acusa o Governo Lula e o PT de tentarem acabar com a liberdade de imprensa, por causa das reações do Governo e de petistas à forma de cobertura que a grande imprensa fez das eleições deste ano. Os jornalistas que apoiaram os protestos de Lula são tratados indistintamente como “chapa-branca” (talvez para distinguir de “chapa-marrom”...). Não vou perder tempo em tratar de tudo o que foi escrito, pincei alguns tópicos. Diz Merval em sua coluna de 2 de novembro “Informação x opinião”: “Ao mesmo tempo em que tentam minimizar o papel dos meios de comunicação, petistas e jornalistas chapa-branca os acusam de terem provocado o segundo turno com as reportagens sobre os petistas presos com R$ 1,7 milhão para comprar o dossiê contra os tucanos. Culpam as reportagens pelos fatos que retrataram”. Grifei as últimas palavras exatamente para demonstrar a hipocrisia nisso tudo. Ninguém tem dúvida de que a aventura aloprada em busca de um dossiê bombástico aparentemente anti-Serra é em si, digamos assim, a causa (ou uma das causas) do 2º turno. Mas essas coisas não existem em si. Elas existem em uma comunicação desses fatos, tanto para fazer sucesso quanto para fazer fracasso. Quando Merval fala em “fatos que retrataram” ele parece, de forma medieval, afirmar que os fatos existem em estado puro. Esquece do verbo que usou (retratar) e de um instrumento muito importante na profissão que ele exerce – as lentes utilizadas para retratar. Por mais que a função da imprensa seja acima de tudo “retratar os fatos”, isso só se faz com um conjunto variadíssimo de lentes. Há quem prefira lentes normais, com menos distorção. Há quem prefira teles ou a grande distorção de uma “olho de peixe”. Há até quem prefira aplicar grande número de filtros. E aqui entre nós, na maior honestidade, nunca vi tantas lentes e filtros distorsivos para “retratar os fatos” como vi nas mãos da grande imprensa durante os últimos meses. Lembro particularmente da primeira página do jornal O Globo no dia seguinte ao depoimento de José Dirceu, acho que na Comissão de Ética ou terá sido em uma daquelas CPIs. Uma foto imensa mostrava José Dirceu em segundo plano, com os óculos meio tortos, cara aparvalhada, enquanto em primeiro plano, gigantesco, grandioso, tínhamos Roberto Jéferson. A foto estava longe de pretender simplesmente “retratar os fatos”. Ela foi publicada com todos os filtros necessários para predispor a opinião pública contra José Dirceu. E o que dizer da manchete, também do jornal O Globo, “PT usará facção do crime para abafar dossiê"? É para levar a sério o “esclarecimento” da redação? Vejamos o que dizia: "A manchete do Globo em nenhum momento tentou sugerir ligação do PT com uma facção criminosa. Se alguns leitores fizeram essa leitura, isso se deve a um erro de formulação do jornal". A luta para publicar as fotos do dinheiro do dossiê, entremeada de conchavos com um delegado de polícia, era para “retratar os fatos” (que já tinham sido retratados) ou para colar uma percepção negativa ao candidato Lula? Merval Pereira procura dar consistência a sua bandeira com citações de figuras célebres, como Baudrillard, Bourdieu e até com uma citação do jornalista Jack Anderson citando Thomas Jefferson (“se me coubesse decidir se deveríamos ter um governo sem jornais, ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir a última solução” – com todo respeito às citações e à sua seriedade, uma frase de efeito, parecendo muito mais jogada de marketing). E já que chegamos ao terreno das citações, seria interessante Merval reassistir o filme de George Clooney, “Good Night and Good Luck”, esse excelente libelo anti-macartista e belíssima defesa da liberdade de imprensa e das liberdades individuais, de um modo geral. Nele, o jornalista Ed Murrow, na cruzada contra o senador raivosamente anticomunista McCarthy, utiliza ótimas lentes para retratar a realidade com toda fidelidade. E o seu trabalho é fundamentado em um princípio: acusação não pode significar condenação. Em outras palavras, a imprensa, para ser levada a sério, não pode fazer o que a grande imprensa fez aqui, num macartismo às avessas, usando de todo um arsenal distorsivo em nome da liberdade de imprensa com o objetivo único de condenar, derrotar politicamente o governo, importando-se muito pouco com “retratar os fatos”. Uma verdadeira aberração do papel da imprensa. A população viveu meses de terror entre as balas perdidas dos noticiários. Era como se diariamente as notícias fossem encerrados com a frase: “Good night e bad luck”...
sexta-feira, 3 de novembro de 2006
Voar é com os pássaros - e com os controladores de vôo...
Não quero minimizar o sofrimento de milhares de pessoas dormindo pelos aeroportos, penando horas e horas em filas de check-ins, com problemas de saúde, prejuízos em seus negócios e todos os horrores desses últimos dias. Mas quero deixar claro que apoiei o movimento dos controladores de vôo. Foi a única oportunidade que eles tiveram para se livrar da sinuca de bico que viviam há décadas. A mistura entre o civil e o militar na área de controle de vôo trouxe algumas vantagens, certamente. A economia para o país em ter um radar único é uma prova. Mas essa mistura acima de tudo representa um choque muito grande entre mundos tão diferentes. Na década de 80, por exemplo, em plena ditadura (corrigindo: na verdade, no Governo Sarney), os metalúrgicos (civis) do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro decidiram fazer greve (a única da história do Arsenal) reivindicando principalmente condições de trabalho mais dignas. A Marinha da época resolveu a questão demitindo cerca de 800 metalúrgicos (que, aliás, eram bem qualificados). O problema dos controladores de vôo civis vinha desde a época da ditadura. Eles não podiam ter maiores salários porque acabariam atraindo todos os controladores militares que, por sua vez, não poderiam ter grandes aumentos salariais por causa da hierarquia militar. Resultado: uma atividade qualificada, de risco e de grande responsabilidade convivia com insatisfação permanente. Com a queda do avião da Gol, foi possível dar visibilidade ao problema e ter início um movimento reivindicatório que pode parecer radical para muitos, mas que era necessário. O caos resultante é compreensível. Ninguém estava preparado para lidar com a situação, porque até aqui era inimaginável. Acho que a presença de um Ministro da Defesa civil foi impoirtante para compreender os vários aspectos da questão e podermos vislumbrar uma solução. Com o acordo fechado, está na hora de relaxar. Afrouxem os cintos, e boa viagem...
O que será que Carlos Estêvão tem a ver com Pieter Botha?
Os dois morreram no mesmo dia, neste 31 de outubro. Mas enquanto Carlos Estêvão era uma figura adorável, ótimo Diretor de Arte publicitário, Pieter Botha dirigiu a África do Sul em um dos seus períodos mais duros de apartheid. Mesmo concordando com Nelson Mandela que ele deu um passo importante para o fim da segregação racial naquele país, seu nome não soa tão bem como soa o de Carlos Estêvão, filho do cartunista Carlos Estêvão da antiga revista O Cruzeiro (Carlos Estêvão também teve um irmão cartunista, Jáder). Certa vez, na década de 70, fui convidado por Carlos Estêvão para ser redator na agência de publicidade onde ele era Diretor de Criação. Adorei a proposta, as condições de trabalho e o salário. Mas tinha um problema: a agência tinha como um de seus clientes uma empresa sul-africana e eu me recusava trabalhar para qualquer empresa que pudesse estar associada ao apartheid. Ele topou que eu trabalhasse lá e que nunca fizesse qualquer trabalho para aquela empresa, e cumpriu a palavra. Há pouco tempo ele mandou e-mail elogiando esse Blog. Fiquei feliz em voltar a ter contato, depois de tantos anos. Carlos Estêvão deixa saudade.
quinta-feira, 2 de novembro de 2006
O PSDB acabou
Quem afirma isso não sou eu, é Carlos Alberto Sardenberg, em sua coluna de hoje no jornal O Globo (assinantes). Sardenberg desenvolve seu raciocínio a partir da tentativa insólita de Alckmin durante o último debate de desacreditar Lula acusando-o entregar a Amazônia para empresas nacionais e estrangeiras. E Lula mandou de volta uma aula sobre o que estava acontecendo no melhor estilo “Governo Fernando Henrique”. Mostrou a diferença entre “venda” e “concessão”, coisa aliás feita em profusão pelo antigo governo tucano. “Podia-se discutir se o sistema de concessões era ou não o melhor meio de preservar a Amazônia. Mas desqualificar o projeto porque permitia concessões a empresas estrangeiras poderia cair bem no discurso de Heloísa Helena. No de Alckmin pareceu o que era: falso”. Na essência, Sardenberg diz que Lula e o PT apropriaram-se do que havia de mais importante na agenda do PSDB – deixando o PSDB sem agenda. A inflação baixa de Lula é o melhor exemplo. Consagrada pelo regime de metas, o BC autônomo, o superávit primário, a responsabilidade fiscal e o dólar baratinho. Além disso, Lula surge como pai dos pobres e destruidor das elites. Isso tudo serviria para provar, seguindo o raciocínio de Sardenberg, que o PSDB acabou. Infelizmente, ele procura identificar Lula inteiramente com o neo liberalismo, o que está longe de ser verdade, mesmo reconhecendo semelhanças. É preciso considerar ainda que ações sociais no Governo Lula nunca foram tão amplas e profundas, ganhando reconhecimento internacional (como aconteceu na semana passada pela FAO, órgão da ONU encarregada de ações para acabar com a fome do mundo). Além do mais, é difícil imaginar o "sorbônico" Fernando Henrique como “pai dos pobres”...
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
"Fernando Henrique é lacerdista", xinga Lembo
Não existe xingamento maior para alguém que tenha alguma pretensão progressista do que ser chamado de lacerdista. Carlos Lacerda, opositor ferrenho de Getúlio, Governador do antigo Estado da Guanabara, virou o símbolo do que há de mais conservador, udenista, direitista, até fascista, para muitos. Notabilizou-se como grande orador, político hábil, implacável contra os adversários e grande administrador. É uma das principais referências de Cesar Maia, Prefeito do Rio e um dos presidenciáveis 2010 do PFL. Pois foi exatamente como lacerdista que Claudio Lembo, o polémico pefelista e Governador de São Paulo, referiu-se a Fernando Henrique, o consagrado sociólogo de esquerda, ex-Presidente da República e atual fala qualquer coisa dos tucanos. “(...) foi ele quem lembrou a imagem de Carlos Lacerda. E só lembra a imagem de Carlos Lacerda quem tem na alma um espírito udenista”, disse Lembo, que fala isso e muito mais em sua interessantíssima e divertida entrevista dada a Paulo Henrique Amorim e reproduzida no Conversa Afiada. Trechos:
“O PSDB tem tudo de UDN e está aí o problema”
"Geraldo Alckmin, que disputou a presidência pelo PSDB também tem traços udenistas".
"Eu acho que o PFL nem seria a UDN. Eu diria que o PFL é hoje um partido conservador sem a coragem de ser. Tem que deixar claro que é conservador. Eu digo firmemente: é preciso ter um partido conservador no Brasil. E o PSDB é uma UDN, isso é inevitável. Depois de oito meses aqui dentro como governador e quatro anos como vice eu tive um contato direto, e tem tudo de UDN o PSDB e está aí o grande problema".
"Eu não sei o que o PFL vai fazer porque acho que o PFL está num momento muito difícil depois dos resultados amargos ele se reúne e baixa uma nota de oposição etc. Acho que o PFL tem que parar os seus líderes nacionais, devem voltar para seus Estados, descansar, e voltar a falar só lá para dezembro, quando tiver o horário de verão, porque aí eles perderam uma hora. Porque, agora, é bobagem falar. Agora, depois dessa vitória notável do presidente Lula, falar que não atravessa a rua é bobo, é uma coisa ingênua. Vamos atravessar a rua sim e se o presidente Lula vier a São Paulo vou recebê-lo porque é o presidente, foi eleito pelos brasileiros e nós temos que respeitá-lo".
Jornal Pequeno do Maranhão quer conquistar multidões
Recebi de Edson Vidigal, jornalista, ex-Presidente do STJ, político maranhense (ficou em terceiro lugar na disputa para Governador e apoiou Jackson Lago no 2º turno), a edição de hoje do JP - Jornal Pequeno. Vidigal não me esclarece se está por trás ou à frente da produção desse jornal, mas no passado chegou a ter no Maranhão o JB (Jornal de Bolso) que sempre fez sucesso (pelo menos entre os leitores do Sul Maravilha) com suas manchetes engraçadíssimas. Eis a história do Jornal Pequeno (que tem como slogan "O Órgão das Multidões"...):
Em 29 de maio de 1951, o Jornal Pequeno foi lançado em São Luís pelo jornalista José de Ribamar Bogéa, num momento em que todos os órgãos de imprensa do Estado, de uma forma ou de outra, achavam-se vinculados a grupos ou partidos políticos. Circulavam à época no Maranhão os jornais "O Combate", "Jornal do Povo", "Tribuna", dos partidos de oposição; "O Imparcial" e "O Globo", do grupo "Diários Associados"; "Diário de São Luís" e "Diário Popular", de roupagem abertamente governista, comandados pelo grupo do então senador Vitorino Freire. O Jornal Pequeno, ainda em seus primórdios fez história, porque surgiu na condição de único órgão de imprensa conceitualmente apartidário, fora de todas as propostas e propósitos políticos vigentes. Colunas como " O Mundo em Poucas Palavras", "Defendendo o Nosso Povo", "Coisas que Acontecem", "Língua de Trapo", "No Cafezinho", "Dicionário do Povo", criaram uma nova linguagem jornalística, inusitada mesmo para aqueles tempos. De tamanho restrito e feição gráfica modestíssima, o JP que hoje tem 54 anos de existência ganhou espaço dos "grandes" jornais e tornou-se o mais popular diário dos anos 50, era grafado nas caixas de tipo, praticamente feito à mão, atingiu seu apogeu com o linotipo e hoje chega à era da informática. O sentido de liberdade, porém, ainda é o mesmo, a isenção diante dos fatos e da notícia se mantém intacta. Ainda representa o JP, a trincheira dos anseios e da vontade popular. É este diário que colocamos à sua disposição na Internet, na Home Page.
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