segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Largar ou não largar o Iraque, eis a questão

A derrota de Bush nas eleições americanas da última terça-feira, 7, acelerou as discussões sobre uma solução para o conflito no Iraque. O voto americano foi claramente contra a atual política bushiana que leva jovens para morrer em um atoleiro sem saída, onde a guerra civil ganha contornos cada vez mais profundos de verdadeira catástrofe. Será que ainda resta esperança? Bush, pressionado pelos votos contrários, reúne as principais lideranças do país para encontrar uma resposta. O grupo bipartidário do congresso (liderado por James Baker III, antigo secretário de Estado de Bush, e Lee Hamilton, antigo congressista democrata) encarregado de estudar o assunto e encaminhar soluções apresenta três propostas básicas: a federalização do Iraque, para tentar superar os danos causados por permanentes conflitos étnicos; a retirada gradual das tropas americanas; e trazer os países limítrofes ao Iraque (incluindo Síria e Irã) para discutir soluções. É difícil ver esses caminhos sendo implementados imediatamente. No seu editorial de hoje o Le Monde acredita que isso significaria uma alteração no próprio conceito bushiano de combate ao terrorismo. O editorial acredita também que, demitindo Rumsfeld, Bush já mostrou "grande flexibilidade tática e que tem agora a oportunidade de adotar o realismo sugerido pelos eleitores". Já Robert Kagan ( Weekly Standard e autor de “Dangerous Nation”) e William Kristol (Weekly Standard), em artigo publicado no Financial Times de ontem, argumentam que o sucesso ou o fracasso do Iraque será o que Bush deixará de principal legado daqui a dois anos. Segundo eles, será um fracasso, se continuar como está ou como sugerem as novas propostas de retirada das tropas. Mais de 2 mil soldados americanos já morreram, mais de 16 mil já foram feridos e mais de 250 milhões de dólares já foram enterrados em solo iraquiano. A única saída, ainda segundo Robert Kagan e William Kristol, seria parar com essa bobagem de presença limitada no Iraque e aumentar o efetivo da tropa para 50 mil soldados. Assim seria possível pacificar e controlar Bagdá e depois levar a paz para outras áreas. Essa estratégia, dizem, “não estabilizaria o país imediatamente, mas formaria um centro vital e permitiria uma esperança real de progresso”. A sensação que temos em todos esses pronunciamentos e nas propostas que vêm tanto de líderes do lado republicano quanto do lado democrata é a de que eles não procuram exatamente resolver o problema que os estados Unidos criaram no Iraque. Eles querem acima de tudo uma solução vencedora para as próximas eleições americanas. Leia também textos do The Independent e New York Times.
Correção. A leitora Malu alertou para dois enganios no texto. Obviamente, o correto é falar falar em "250 bilhões de dólares". E a outra frase, correta, é "aumentar o efetivo da tropa em 50 mil soldados". Obrigado, Malu.