sábado, 11 de novembro de 2006

A boa notícia é que a imprensa vai começar a aprender sobre IDH

Faz tempo que os indicadores da imprensa precisam melhorar. Diariamente nossos grandes jornais caem no ranking do IDBS (Índice de Desenvolvimento do Bom Senso) e isso tem se refletido na baixa qualidade de informação que recebemos. A recente cobertura do o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) desenvolvido pela ONU é um bom exemplo. Alguns trechos da reportagem “Governo Lula reduziu gastos com educação” na Folha (assinantes) de hoje ajudam a comprovar o que digo: “Maior responsável pela queda do Brasil no recém-divulgado ranking mundial de desenvolvimento humano, a educação teve seus recursos federais reduzidos no governo Lula. (...) Não é possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito entre a redução dos gastos em educação e o desempenho brasileiro apurado pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Mas ambos refletem as opções da política social brasileira nos últimos anos, aprofundadas sob Lula. Das quatro principais áreas da política social, duas têm forte crescimento recente nas despesas -previdência e assistência. Privilegiam-se, portanto, as transferências diretas de renda aos beneficiários, em detrimento dos serviços do Estado. (...) No IDH, que leva em conta expectativa de vida, alfabetização de adultos, taxa de matrículas e renda per capita, o Brasil teve progressos menores nos três primeiros indicadores, ligados à saúde e à educação - o que ajuda a explicar o recuo da 68ª para 69ª posição no ranking internacional. O país mereceu, porém, uma menção elogiosa da ONU ao Bolsa Família, programa de transferência de renda que contribuiu decisivamente para a disparada do orçamento da assistência social”. É verdade que o Brasil precisa avançar muito nos investimentos em educação e saúde e na área social de um modo geral. É verdade também que esses investimentos evidentemente contribuirão para que o Brasil suba no IDH. Mas é preciso não misturar os números. Primeiro, a reportagem refere-se ao PIB de 2005, enquanto o IDH-2006 trata dos números de 2004. E é bom lembrar que de 2001 a 2004, no orçamento social da União, o ítem "Educação e Cultura" cresceu de 8.975 milhões de reais para 13.038 milhões de reais, mantendo sempre 0,7% de participação no PIB. Segundo, não vi na grande imprensa nenhuma citação (posso estar enganado) do Relatório (site do PNUD) sobre IDH que diz: “Os dados obtidos a partir da metodologia aperfeiçoada apontam que, de 2003 para 2004, o Brasil avançou nas três dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano (longevidade, renda e educação). (...) Para monitorar o desempenho em educação, o RDH usa dois indicadores: taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa bruta de matrícula nos três níveis de ensino. No caso do Brasil, as séries estatísticas internacionais apontam que a taxa de alfabetização aumentou de 88,4% para 88,6% (11,4% de analfabetismo, 62º no ranking mundial). A taxa bruta de matrícula estabilizou-se em 85,7% (40º no ranking)”. Há outro trecho importantíssimo: “Educação é a dimensão em que o Brasil (0,88) mais se aproxima dos países ricos (0,98) e mais se distancia da média mundial (0,77)”(clique na imagem para melhor visualização). Após essa demonstração da queda dos índices de qualidade de informação de nossa imprensa, a boa notícia também pode ser encontrada no site do PNUD: “PNUD, ABRAJI e Instituto Ayrton Senna lançam treinamento em desenvolvimento humano para profissionais da imprensa.” Segundo a reportagem, a parceria “resultou na elaboração de uma série de cursos que busca orientar os profissionais da imprensa a cobrir assuntos ligados ao IDH”. Esperamos que, com isso, as reportagens sobre os próximos IDHs demonstrem um desenvolvimento jornalístico muito melhor.