domingo, 19 de novembro de 2006
O não-populismo ou o Brasil que a mídia não viu
Tarso Genro, do PT, ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, escreve hoje na Folha, um artigo muito bom (“Mais além do populismo”, para assinantes), bem claro, didático, sobre dois temas sempre polêmicos. Fala sobre “populismo”, palavra que leva a mil conceitos e interpretações, e. de certo modo, sobre os “dois Brasis”, de que tanto se falou nessas eleições presidenciais. “Longe de uma ”conspiração", o apoio que a maior parte da imprensa deu ao candidato da assim chamada "elite paulista", na verdade, revelou o débil estágio de integração sociopolítica do país. E ainda um descolamento da parte mais avançada do capitalismo brasileiro do resto do Brasil. Descolamento político, de uma parte, porque o seu candidato não conseguiu, a partir de São Paulo, falar para o país. Descolamento econômico, de outra parte, porque a sua visão de mercado está mais balizada pelos consultores de risco das agências privadas do que orientada pela necessidade de expansão do mercado capitalista "clássico", produtor de bens de consumo de massas, no caso do Brasil, de educação, de comida e de roupa decente para todos”, escreve Tasso Genro, dando sentido à tomada de posição da grande mídia, e continua, mostrando porque a teses da oposição não deram certo: “A tese do "choque de gestão" não tem significado em dois terços do país, onde a máquina pública ainda não exerceu, para as grandes massas, as funções públicas mais elementares. A tese de que o governo Lula era "corrupto" se chocou com a realidade do combate frontal à corrupção pelo próprio governo. A tese da "incompetência" do presidente se esfarelou no cotidiano dos "de baixo", que melhoraram um pouco a sua vida, mas cuja melhora foi sentida numa escala sem precedentes, dentro da democracia”. Tarso Genro avança, dando precisão ao conceito de “populismo”: “É também um equívoco político e conceitual classificar a vitória de Lula como uma vitória do populismo. Não só porque os movimentos sociais não estão "enquadrados" pelo Estado ou pela figura pessoal do presidente mas também porque, em nenhum momento, a sua campanha mobilizou massas organizadas ou informes contra "os ricos". (...) E, ao contrário do que recomenda o populismo, Lula e o PT promoveram a incorporação dos "de baixo" na democracia para promover a integração social do país por meio de um grande mercado de massas. Um mercado no qual o consumo popular ascendente ajude a eliminar a exclusão e a miséria e permita que todos se sintam pertencentes a um projeto democrático de nação”. E conclui com o que podemos considerar uma direção viável e justa para o Brasil: “Agora, trata-se de criar condições para responder ao "déficit" de integração nacional que foi flagrado na maciça preferência que as regiões mais pobres do Brasil tiveram em relação à candidatura Lula, apesar da boa votação de Lula obtida no segundo turno nos Estados do Sul. As políticas de inclusão no consumo básico e na educação devem ser somadas a grandes políticas de desenvolvimento regional, promovidas pelo Estado como indutor e organizador do crescimento sustentável”.