quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Val Carvalho: ou o PT do se une ou desaparece como partido

O PT, todos nós sabemos, tem a péssima mania herdada de organizações clandestinas de esquerda de viver se dividindo. Essas divisões indefinidas acabam se transformando em verdadeiro câncer político. Lembra até aquele filme do Monty Phyton, “A Vida de Brian”, onde havia inúmeras “organizações” de uma ou duas pessoas. E no Rio de Janeiro o PT consegue ser pior do que a média nacional. Agora mesmo temos exemplo. Quando finalmente tornou-se possível uma governo estadual amplo de forças progressistas, com importante participação do PT, começaram as brigas internas, na disputa sobre como será essa participação. Diante da situação e em função da próxima reunião do diretório regional, o petista Val Carvalho, um dos bons pensadores do partido, escreveu bom documento de alerta. Reproduzo-o na integra:
NOTA DE CONJUNTURA (1)
VAL CARVALHO
RIO - 21/11/2006
Depois de um ano e meio de intensa e implacável ofensiva das forças da direita e da grande mídia, a reeleição de Lula, com mais de 60% dos votos válidos, representa, ao mesmo tempo, a consolidação e a possibilidade de avanço do Projeto Nacional Popular e Democrático, apenas esboçado no primeiro mandato. Os focos mais fortes da resistência conservadora se restringem basicamente às maiorias das bancadas do PSDB e do PFL no Congresso e à maioria da grande mídia. Nos estados, a oposição conservadora é mais forte em São Paulo e, em função de seus interesses específicos, tende a se diluir em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Alagoas, Paraíba, Goiás, Distrito Federal, Roraima e Rondônia. Os governadores de oposição, de um modo geral, não ficarão sistematicamente contra o governo federal, até porque Lula não poderá mais se candidatar à reeleição. A mudança do modelo econômico rentista, implantado por FHC, para o modelo industrial agrário, gerador de emprego e distribuidor de renda, foi conduzido por Lula, no seu primeiro mandato, não por meio de rupturas, como imaginava o PT, mas de forma gradualista, com avanços e recuos e sob o intenso bombardeio das elites e da mídia. É esse caminho gradualista que continuará sendo a característica do seu segundo mandato. Talvez com um pouco mais ou um pouco menos de gradualismo, dependendo da capacidade de pressão política das esquerdas e dos movimentos sociais. Para a prática política, o mais importante é saber que a direção predominante, resultante dos conflitos com as forças conservadoras e das contradições internas do segundo governo Lula, vai se dar no sentido da consolidação e avanço do modelo econômico produtivo, de caráter nacional, popular e democrático. A situação política nacional favorece, portanto, às forças de esquerda, mas somente se estas forem capazes de compreender três questões essenciais do momento: 1ª) Lula representa o projeto de desenvolvimento nacional defendido pelo conjunto das forças de centro-esquerda e não apenas do PT; 2ª) para ser sólido este projeto tem de se apoiar num governo de coalizão, cuja coluna vertebral é a aliança estratégica PT-PMDB, os dois maiores partidos do Congresso e que elegeram onze governadores, bem mais do que elegeram o PSDB (6) e o PFL (1); 3ª) para ser a força motriz do projeto de centro-esquerda, as esquerdas têm de estar unidas em torno dos seus interesses vitais e articuladas com os movimentos sociais. Este ponto é especialmente importante para o PT, principal partido da coalizão, mas com forte tradição divisionista. Foi a divisão da bancada petista na Câmara, em 2005, que permitiu à oposição eleger Severino Cavalcanti e criar as CPIs dos Correios e dos Bingos, que foram utilizadas pela direita e pela grande mídia como bases da campanha udenista contra Lula e o PT. Nos estados do Nordeste, Norte, Centro-Oeste e no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná, onde Lula ganhou as eleições, os petistas têm a responsabilidade de defender a consolidação e avanço do Projeto Nacional, incorporando todas essas regiões ao desenvolvimento nacional, até recentemente muito concentrado em São Paulo. Os governos da Bahia e do Rio de Janeiro têm papéis particularmente importantes. O primeiro como símbolo da derrota da oligarquia rural reacionária e indutor do desenvolvimento do novo nordeste. O segundo, pelo seu peso nacional, que por isso pode-se contrapor ao conservadorismo de São Paulo e atenuar as pressões de Minas Gerais contra o governo federal. O PT do Rio de Janeiro está diante da oportunidade de assumir um papel protagonista no estado, atuando com estratégia política nas prefeituras que comanda, na Alerj e no Governo estadual, no sentido de ajudar a promover o desenvolvimento econômico do estado e a recuperar a sua importância política no cenário nacional. Mais do que São Paulo, o Rio de Janeiro teve, historicamente, o papel de liderança no desenvolvimentismo brasileiro. Enfraquecido com a mudança da capital federal para Brasília, com os vinte anos de ditadura militar e com uma fusão mais política do que econômica, o Rio de Janeiro se isola politicamente e, durante o governo FHC, perde terreno econômico, sobretudo com a destruição da indústria naval e as privatizações. O primeiro governo Lula recupera a indústria naval, decide implantar o pólo petroquímico, mas não se empenha de fato em soerguer o estado, em grande parte por conta das políticas mesquinhas do governo estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro. As primeiras movimentações do governador eleito Sérgio Cabral já mostram diferenças de fundo. Apoiou Lula, faz parceria com o governo federal e estabeleceu o diálogo institucional com o prefeito César Maia. Convida o PT estadual para um governo de coalizão e quer manter novas relações com as prefeituras e a Alerj. Tudo isso interessa a Sérgio Cabral, mas, também ao projeto nacional do governo Lula e, portanto, ao PT. A construção da unidade partidária é um processo difícil, exige concessões das partes, mas é a exigência da conjuntura nacional e estadual. Se não nos unirmos vamos desaparecer como força política respeitada e indispensável. A unidade passa pela discussão do projeto estratégico para o estado e pela composição de interesses legítimos dos diferentes setores petistas. Porém, a unidade do partido é o que exige a base petista, a nova política do estado e o governo Lula. Não existe outro caminho para o PT no estado se não quiser virar uma legenda nanica."