domingo, 5 de novembro de 2006
Lula, o fortão e o fraquinho
Excelente a entrevista dada pelo marqueteiro João Santana, que fez a campanha de Lula, a Fernando Rodrigues e publicada na Folha de hoje. Ele criou duas figuras aparentemente opostas para representar o papel de Lula na percepção do eleitorado mais pobre: "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sua reeleição ao fato de ter virado, no imaginário do eleitorado mais pobre, uma figura dupla: um "fortão" igualmente humilde que virou poderoso e ao mesmo tempo uma vítima, um "fraquinho" sob ataque das elites". É ótimo esse modo de colocar as coisas. Sem nomear exatamente assim, eu mesmo já tinha percebido algo semelhante em figuras como Garotinho e Benedita, do Rio de Janeiro. A entrevista é muito interessante, com dados novos e análises de quem tinha que realmente decidir o que fazer. Continuando a análise de João Santana sobre o "fortão" e o "fraquinho": "Passou a existir uma projeção das camadas C e D da população. Lula é um deles. Chegou lá. Os 60% da população que se identificam com Lula enxergam o presidente como o fortão, o igual que rompeu todas as barreiras sociais e tornou-se um poderoso. É algo que mexe profundamente com a auto-estima das pessoas. Lula, nesse caso, é o "fortão", o "libertador" da minha teoria. Por outro lado, quando Lula é atacado, o povão pensa que é um ato das elites para derrubar o homem do povo. "Só porque ele é pobre", pensam. Nesse caso, vira o bom e frágil "fraquinho" que precisa ser amparado e protegido. Jamais houve, no Brasil, tamanha identificação entre um presidente e os setores majoritários da população". De tudo que João Santana falou só não estou inteiramente convencido de que Lula errou ao não ir ao debate da Globo no 1º turno. Não quero ficar com "achismos" contra quem estava muito bem municiado de informações ("Em 77 dias, o publicitário de Lula teve a opinião (...) de 53,9 mil entrevistas quantitativas e de 7.392 qualitativas, mais do que a maioria das teses universitárias que tentam entender o que pensam os eleitores brasileiros", diz Fernando Rodrigues). Mas creio que, se fosse ao debate, em vez de sair "fortão" ou "fraquinho", ele poderia sair "fracote". Fiquei feliz com a confirmação do que falei neste Blog, no dia 23 de setembro, sobre a troca de aplausos na cena de Lula na ONU. Escrevi: "A grande imprensa está tão desesperada que resolveu (pautada por Cesar Maia) atacar os aplausos de Lula na ONU. O que aconteceu (substituição de imagens durante a apresentação do programa eleitoral) ocorre com grande freqüência. O editor não tem imagens para representar o que realmente está acontecendo (as imagens de aplausos reais não representavam o áudio real dos aplausos) e ele pega a primeira que encontra". Disse João Santana sobre o fato: "Uma editora fez a inserção dos aplausos de maneira errada. Podem achar que estou mentindo, mas foi o que aconteceu. Um erro. Aliás, o único".