quarta-feira, 19 de março de 2008

"A Imprensa e a Classe Média", segundo César Maia

No seu Ex-Blog de hoje, César Maia produz um bom texto sobre a relação "imprensa-classe média" que merece ser lido. Claro que por trás de suas análises sempre existe um marketing eleitoral próprio (vou tratar disso na próxima postagem), mas isso não invalida o que foi dito. Eis o texto:
A IMPRENSA E A CLASSE MÉDIA!
  1. O segmento da imprensa que tem como referência a classe média, e no caso, especialmente os jornais e revistas, tratam com uma equação muito mais complexa do que muitos imaginam. Os grupos ativos e ideológicos da classe média, e que por isso mesmo atraem e mobilizam a cobertura da imprensa, em geral agitam ofertas e necessidades quase sempre minoritárias.
  2. Tem características muito diferentes dos mesmos grupos que falam para os setores populares, pois estes vocalizam demandas óbvias e primárias, em relação a emprego, moradia, saúde, escola, urbanização... e portanto falam para a grande maioria destes setores. Claro que o mesmo acontece com a imprensa direcionada aos setores populares. Com isso se dá uma natural sinergia entre os grupos ativos e a imprensa, neste caso.
  3. Com a classe média não é assim. Em geral os grupos ativos e ideológicos sinalizam demandas de vanguarda ou de valores que na maioria das vezes não são socialmente significativas. Muitas vezes a imprensa se surpreende com a sensação que teve que o tema mobilizava e os fatos mostraram que prevaleceu a grande maioria silenciosa que não viu seus interesses incorporados, neles.
  4. São muitos os exemplos. Drogas, aborto, e tantos outros. Agora mesmo no caso do IPTU. Mobilizar a classe média para pagar mais imposto era uma contradição nos termos e só poderia ter resultado no que resultou: só os ideológicos -e nem todos- responderam de fato, insignificantemente. O lógico seria na defesa da classe média: "-pague para não perder dinheiro". E foi o que a racionalidade econômica produziu, apesar da campanha.
  5. As famílias de classe média enfrentam ou se preocupam em enfrentar no futuro, problemas de drogas com seus filhos. O tema liberação choca a grande maioria dela. O aborto é sempre indesejável - para os que admitem, e claro para os que não admitem. Ninguém pode ser a favor do aborto, o que seria uma aberração. O que se pode discutir é a criminalização. Mas não é assim que a questão é percebida. E com isso esses grupos ativos se isolam e ficam falando consigo mesmos.
  6. Outro risco é usar temas que tem a concordância natural da classe média, mas que por não terem como resultar em médio prazo, terminam provocando uma sensação de impossibilidade e frustração, e terminam produzindo como mensagem final, a idéia que nada daquilo tem solução, retirando força desta ou daquela cobertura temática da imprensa.
  7. Muitas vezes os temas gratos a classe média dentro de uma redação de órgão de imprensa, criam a sensação de que respondem as demandas e expectativas da classe média. E terminam afetando os laços de confiança entre imprensa e a classe média. Claro, e por isso tudo, é muito mais fácil fazer imprensa popular: os mesmos temas que sempre avançam, imagens impactantes e manchetes chamativas. Com a classe média, não é tão simples. É muito mais complexo.