domingo, 30 de novembro de 2008
Empréstimo Caixa-Petrobras: o Globo dá aula de não-jornalismo
Quando alguém quer fazer o anti-jornalismo, certamente procura ocultar informações, usar informações falsas, etc. O que O Globo fez ontem e hoje sobre o empréstimo da Caixa para a Petrobras não teve nada disso. Foi tudo claramente errado, sem aparentar tentativas de ocultar informações. Vejam os títulos da primeira página e da página interna: “CEF não ouviu auditores no socorro jumbo à Petrobras” e “Operação fora do padrão”, respectivamente. Ainda na primeira página, podemos ler: “Contrariando a praxe, a direção da Caixa Econômica Federal (CEF) não consultou seus auditores para liberar os R$ 2 bilhões para a Petrobras em fins de outubro”. No subtítulo da parte interna também lemos: “CEF não consultou auditores antes de conceder crédito de R$ 2 bi à Petrobras, contrariando a praxe”. Mas logo no início da reportagem traz uma declaração do presidente da Associação Nacional dos Auditores Internos do banco (Audicaixa), Antonio Augusto de Miranda e Souza: “Devido ao tamanho e ao ineditismo do empréstimo de R$ 2 bilhões feito pela Caixa Econômica Federal (CEF) à Petrobras, os auditores da instituição financeira avaliam que deveriam ter sido consultados previamente para verificar os termos e as condições do negócio”. Ora, aqui começa a contradição da reportagem. Não foi dito que a auditoria seria uma praxe. Ao contrário, Antonio Augusto de Miranda e Souza declarou que, “devido ao tamanho e ao ineditismo” (grifo noso), ele considerava que seria um procedimento “desejável e prudente” que daria “mais conforto à direção da Caixa”. O presidente da Audicaixa chega a afirmar que a consulta não é obrigatória. O desejo de dar uma notícia negativa para o Governo Federal foi mais uma vez mais forte do que exercer a boa prática do jornalismo. O Globo produziu em sua primeira página uma notícia que merecia menos do que uma coluna inteira. Como, aliás, fez hoje, em mais uma falha do bom jornalismo. Todos sabem que um erro de primeira página mereceria uma correção de primeira página. Mas o Globo escondeu em menos de uma coluna a correção feita pela Caixa: “auditores não precisam ser consultados”. Simplesmente porque “a função deles é auditar as operações já realizadas”. Tudo tão óbvio, não é mesmo? Então por que toda a presepada? Essa reportagem do Globo deveria fazer parte de todos os cursos de jornalismo do país. É um desserviço que pode acabar servindo a um bom jornalismo.
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sábado, 29 de novembro de 2008
Tristes Tropiques: Lévy-Strauss fez 100 anos
Quando comecei a estudar filosofia, o estruturalismo era uma febre e Lévy-Strauss era o seu papa. Na minha turma, Chaim Samuel Katz era quem mais falava do assunto. Confesso que o estruturalismo me fascinava, mas ao mesmo tempo eu torcia o nariz. Às voltas um pouco com a resistência à ditaduara, minhas leituras voltavam-se mais para Parmênides, Heráclito, Pitágoras, entre os antigos, e para Sartre, Camus, Husserl, Heidegger, entre os nomes que mais se destacavam no século passado, sem esquecer, claro, de Marx. Curiosamente, foi me aproximando da poesia concreta que senti mais intimidade com o estruturalismo, Lévy-Strauss. Isso tudo para dizer que me surpreendeu como passou em brancas nuvens os 100 anos de nascimento de Levy-Strauss, ontem, dia 28. Em homenagem, a primeira parte do filme-entrevista de Pierre Beuchot (as outras 6 partes, facilmente encontráveis no YouTube) e a referência no Estrangeiro de Caetano Veloso. Leia: Uol, Estadão, AFP, NYT.
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sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Machado de Assis: ABL ironiza o Senado
O Senado Federal inaugurou dia 25 de novembro um exposição em homenagem a Machado de Assis, dentro da programação de eventos pelo centenário de sua morte (29 de setembro). Nada mais justo. Machado de Assis é um nome para sempre. Nada mais justo também que se buscasse na ABL – Academia Brasileira de Letras o material dessa exposição, que contribuiu com fotos e reproduções de suas obras. Está tudo exposto, até o dia 16 de dezembro, “na Praça das Abelhas, entre o Auditório Petrônio Portela e o Túnel do Tempo”, como bem informa o site do Senado. Tudo certo, se algumas das peças, selecionadas aparentemente dentro do tema "político", não fossem no mínimo irônicas, como pode ser comprovado nas fotos. Em “Teoria do Medalhão”, Machado de Assis recomenda o que trazer para “discursos de sobremesa, felicitação, ou agradecimento”. Será que é isso que se faz no Senado? Em outro painel, encontramos esse pensamento de Machado de Assis: "Em política, a primeira coisa que se perde é a liberdade". Pergunta que não quer calar: será que os senadores - principalmente o acadêmico e Senador José Sarney - concordam?
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
César Maia e Keynes
Gostei também desse texto de César Maia, mas quero fazer comentários e certos reparos (em itálico-negrito):
LÁ SE FORAM OS NEOLIBERAIS E MONETARISTAS PELO MESMO RALO! E ESTÃO LEVANDO O GOVERNO LULA JUNTO!
1. A crise afogou primeiro os neoliberais, defensores de um mercado máximo e de um estado mínimo. Nunca os estados intervieram tanto, estatizaram tanto, maximizaram tanto suas ações. (Corretíssimo, claro.)
2. Agora com os 2 trilhões de dólares liberados pelos bancos centrais para compensar a quebradeira e a depressão possível, afogam-se também os monetaristas. Ou com esta emissão mundial cavalar a inflação volta intensamente, ou a tese básica dos monetaristas se foi pelo ralo também. (Não acredito que virá uma inflação intensa, nem que isso destrói a tese básica dos monetaristas; talvez um economista possa explicar melhor, mas essa emissão cavalar me parece que vai preencher o "vácuo" de um dinheiro que de fato não existia, era miragem.)
3. As medidas que vão sendo adotadas nem keynesianas são, pois não são direcionadas, são apenas reativas num jogo de bafo-bafo, atrás dos buracos que vão surgindo. (Ninguém em sã consciência pode "acusar" o bushianismo de keynesiano, mas ninguém pode negar que é a inspiração keynesiana que está por trás das ações mundiais no momento.)
4. No Brasil, quando numa reunião ministerial se adotam duas medidas sôfregas e risíveis, é porque o governo Lula está mais perdido que pingüim arrastado pelas correntes. Fazer propaganda para dar ânimo e estimular o consumo, sem comunicar a verdade, lembra Goebells. E dizer que o PAC é o gasto compensatório à crise, é o mesmo que dizer que o governo já conhecia a crise ano passado quando lançou os projetos relativos. Certamente não será um gasto compensatório, mesmo que ganhe agilidade. (Aqui, é puro embate político. Claro que é importante nesse momento a utilização de diversas formas de comunicação para estimular o consumo. E também é claro que o Governo Lula não está exatamente escondendo a verdade. Ocorre que já existem informações desanimadoras em excesso e estimulá-las não ajuda em nada, significaria simplesmente insistir no desânimo. Quanto ao PAC, é óbvio que ele não surgiu em função da crise, já que foi lançado há dois anos. Mas trata-se certamente de uma política de investimentos públicos que pode funcionar, sim, como gasto compensatório à crise.)
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César Maia diante da própria imagem
Muito bom o texto de César Maia sobre avaliação de governos. Informações atuais, inclusive com alguns dados de pesquisa do Instituto GPP na cidade do Rio de Janeiro. Faz boas comparações entre as atuais administrações municipal e estadual. César Maia dá até mesmo a entender que sua imagem não está boa e conclui afirmando que "para sustentar ou para reverter (a avaliação do dirigente), a assessoria que mais importa não é a de publicidade de governo, nem a de imprensa, mas a assessoria de imagem. Essa é que vale de verdade". Tudo correto. Só não dá para entender por que ele não consegue se sair bem com a própria imagem. Texto completo:
AVALIAÇÃO DE GOVERNOS? OU AVALIAÇÃO DE PERSONAGENS?
1. É evidente que sempre que um governo vive uma situação excepcionalmente favorável, sua avaliação será sempre positiva. Coisas como o Plano Cruzado, enquanto durou, ou Plano Real, até as crises asiática e russa, são exemplos. Ou quando por coincidência governam em períodos extremamente favoráveis, como JK (além dos investimentos), que governou no ápice do Plano Marshall, ou mesmo Lula agora, empurrado pela onda internacional que começa a quebrar.
2. Ao contrário, em momentos de grave crise, os governos são arrastados por elas, mesmo que não tenham responsabilidade, e então suas avaliações desabam. Os mega-temporais no Rio-Capital em fevereiro de 1996 caíram na cabeça dos governos e governantes. Mas o personagem que vinha num processo ascendente de percepção, o prefeito, passadas as chuvas, a sua curva ascendente prosseguiu. Um ano antes era o mais mal avaliado do país. Semanas depois, o inverso. O governo era o mesmo e os feitos idem. Caíram os tapumes? Ou caiu a máscara negativa?
3. Numa situação de normalidade, o peso maior na avaliação dos governos é a avaliação dos personagens e suas circunstâncias. A capacidade comunicacional dos personagens, nessas circunstâncias, certamente ajuda ou atrapalha. Quando o personagem ganha a opinião pública, não há mídia que resista: é água ladeira abaixo, fogo ladeira acima. Quando não, se trava, especialmente no Brasil, uma batalha entre os gastos de publicidade dos governos e a mídia espontânea. Nesse caso raramente os gastos de publicidade resolvem.
4. Semana passada, o GPP, em pesquisa no Rio-Capital fez a mesma pergunta de avaliação dos serviços municipais e estaduais, educação, saúde, transportes, etc... as avaliações foram milimetricamente as mesmas, como se fossem a mesma coisa. Quando os serviços são percebidos de forma distinta e geridos por empresas com marca própria, as avaliações podem diferir muito (como os casos da Comlurb +60% e da Cedae +30%). Mas isso não significa a colagem a este ou aquele governo.
5. Na pergunta geral -quais são os serviços e investimentos melhores- os realizados pelo estado ou pela prefeitura, houve outro empate: prefeitura +37%, e estado +35%. Mas na avaliação dos personagens o governador obteve melhor resultado que o prefeito. Olhando os últimos meses, não pela aprovação, que são muito próximas, mas pela rejeição que se distinguem. Na verdade, na avaliação dos personagens, não são os governos e seus feitos que estão sendo avaliados, mas estes mesmos personagens, que por uma ou outra razão são percebidos como tais de forma diferente neste momento.
6. Importante sublinhar, e há exemplos para todos os gostos, tempos e situações, que as avaliações dos governos personificados ou, o que dá no mesmo, dos personagens governantes, que a popularidade/impopularidade/avaliações não são nem estáticas nem cumulativas e, portanto a reversão do quadro pode se dar a qualquer momento com fatos novos. O prefeito de Salvador abriu esta campanha -junho/julho- como um dos mais mal avaliados. Mas a campanha corrigiu a percepção sobre o personagem, embora o governo não tenha tido tempo para melhorar. E ele foi um grande vitorioso. Aliás, este fenômeno, as campanhas mudando as avaliações dos personagens, tem sido cada vez mais comum.
7. Uma eleição só avalia os governos nos casos extremos citados no início, para o bem ou para o mal. Nos demais casos, digamos notas de 3 a 7, os avaliados serão os personagens e isso ocorrerá nas circunstâncias da conjuntura, ou das eleições que disputam. Tanto num como em outro caso, para sustentar ou para reverter, a assessoria que mais importa não é a de publicidade de governo, nem a de imprensa, mas a assessoria de imagem. Essa é que vale de verdade.
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terça-feira, 18 de novembro de 2008
Camisinha: Coréia do Sul enfrenta a crise na cama
É na cama que o sulcoreano mede o tamanho da crise. Como por lá a educação dos filhos sai muito cara, assim que uma crise econômica aponta no horizonte, a população trata de evitar explosão demográfica e a venda de camisinha cai vertiginosamente. Se a moda pega, daqui a pouco o resto dp mundo vai ficar desabitado. Leia aqui a reportagem de Kim Junghyun para Reuters:
Com economia pior, venda de camisinhas dispara na Coréia do Sul
A desaceleração da economia sul-coreana levou a um aumento das vendas de preservativos, já que mais adultos estão esperando a situação financeira melhorar para ter filhos, disseram varejistas na terça-feira.
A grande rede de lojas de conveniência sul-coreana GS 25 disse que as vendas de camisinhas aumentaram em 19 por cento desde agosto em relação ao mesmo período do ano passado --as vendas aumentaram assim que a moeda e as ações sul-coreanas começaram a se desvalorizar.
"Mais casais planejam adiar a concepção devido à desaceleração econômica", disse a GS Retail, operadora da GS 25, em um comunicado.
As vendas aumentaram mais ainda em novembro, quando o mercado de ações teve sua pior fase em anos, segundo a operadora.
A Coréia do Sul tem a menor taxa de fertilidade do mundo desenvolvido. Especialistas dizem que uma das principais razões para isso é o alto custo da educação no país, que é altamente competitivo.
"As vendas de preservativos geralmente são à prova de recessão e tem pico de venda no Natal e nas festas de fim de ano", disse um representante da loja Condomania à Reuters.
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The day after: ponto a favor da Prefeitura do Rio
As chuvas que tomaram conta do Rio, ontem no final do dia, foram impressionantes. Ruas alagadas instantaneamente, caos nos transportes, pessoas indo a pé do trabalho, no Centro, até bairros da Zona Sul. Telejornais e jornais de hoje fizeram a festa, com imagens fortes. De manhã cedo, saí para percorrer algumas ruas, com a expectativa de testemunhar cenas dantescas. Surpresa: ruas limpas, parecia um dia seguinte de uma chuvinha qualquer. A natureza fez sua parte (a maré baixou) e a Prefeitura fez a dela, colocando a Comlurb para funcionar a pleno vapor. Para quem vive um final de festa cheio de críticas, até que César Maia dessa vez se saiu bem.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Política social tem hora?
Ainda no começo do primeiro mandato de Lula, uma amiga, muito querida, me falou de sua decepção com o governo, achando que o PT era muito complicado, fazia tudo errado. Respondi que concordava que o PT era bem confuso, estava um pouco batendo cabeça. Mas achava isso natural. Para mim, o mais importante era a prioridade que se estava dando à política social. E isso era uma coisa pra valer, não era apenas um slogan ("Tudo pelo social"), como acontecia no Governo Sarney. Era isso que podia reduzir a pobreza, inserir mais consumidores no mercado, dar um dinamismo de novo tipo à economia. Ela ouviu calada, meio desconfiada, mas tenho certeza que hoje ela reconhece o que falei. Lembrei desse acontecimento hoje, lendo esse bom artigo ("A hora e a vez das políticas sociais") de Lena Lavinas e João Sicsú, publicado no Valor Econômico do dia 13, mostrando a grande importância das políticas sociais nesse quadro crítico mundial - que reproduzo abaixo:
A hora e a vez das políticas sociais
Os governos enfrentam e enfrentaram as crises e as dificuldades das instituições financeiras se utilizando de diversos instrumentos. Até o momento, foram bem sucedidos. Os keynesianos aplaudiram as políticas de resgate das instituições e o enfrentamento das dificuldades no âmbito da economia financeira porque sabem da necessidade do sistema financeiro para que haja um bom funcionamento do sistema produtivo. Keynesianos sabem que o sistema financeiro não produz um prego sequer, mas sabem que sem ele nem sequer um prego será produzido. Muitos, entretanto, aplaudiram os governos simplesmente porque ganham quando o setor público privatiza seus ativos ou quando estatiza as dívidas privadas.
O mundo encontra-se numa segunda fase da crise. A crise saiu do âmbito da economia financeira. Já contaminou decisões empresariais de investimento e decisões de gasto por parte dos trabalhadores. O risco é que haja uma parada súbita de fluxos monetários e reais. A política fiscal de gastos deve ser utilizada como estabilizadora da trajetória de crescimento econômico. Quando o setor privado está gastando de forma intensa, o setor público deve reduzir os seus gastos. Quando o setor privado ameaça estancar o seu fluxo de gastos, o setor público deve elevar os seus gastos. Essa formula é velha. Foi ensinada pelo economista que virou fashion: J. M. Keynes. Mas a fórmula keynesiana não se restringe a realizar ou cortar gastos públicos.
A fórmula relaciona quantidade à qualidade do gasto. Terá maior qualidade aquele gasto que tem o maior efeito multiplicador na economia. É considerado um gasto de baixa qualidade aquele gasto que se transforma em renda daqueles que não têm uma alta propensão a gastar aquilo que recebem, porque tem um baixo multiplicador. O investimento em obras públicas contrata vastos contingentes (elevada quantidade) de trabalhadores que gastam tudo o que recebem (alta qualidade). As políticas sociais para Keynes não são políticas que deveriam estar relacionadas com os ciclos econômicos. Elas deveriam estar relacionadas com o objetivo de redução plena das vulnerabilidades sociais.
Entretanto, dadas as evidentes vulnerabilidades da grande parte da população brasileira, a ampliação da cobertura dos programas sociais, assim como o aumento real dos benefícios previdenciários e sociais, cujo valor do salário mínimo é parte integrante, tornam-se nesse momento uma política fiscal de gastos anti-cíclica. Em outras palavras, políticas sociais são indissociáveis de um projeto de desenvolvimento de longo prazo. Contudo, hoje no Brasil, frente à ameaça de uma crise de parada brusca dos fluxos monetários e reais, o aprofundamento das políticas sociais cumprirá o objetivo macroeconômico de curto prazo de auxiliar a manutenção da rota de crescimento, tal como a política de investimentos públicos do PAC. Políticas sociais realizam gastos em volumes consideráveis e realizam um gasto de alta qualidade.
Para evidenciar tal assertiva, simulamos duas dinâmicas diferenciadas de evolução do valor dos rendimentos do trabalho, aposentadorias e pensões e também benefícios assistenciais, a partir dos dados da Pnad 2007. Na primeira simulação, limitamo-nos a um reajuste linear de 12,3% para todos esses rendimentos, índice obtido tomando-se o INPC acumulado no período outubro de 2007 a outubro de 2008, e a inflação futura estimada para 2009 (4,5%). A segunda simulação envolveu variações distintas para cada tipo de rendimento, levando em consideração a proposta do governo de elevar para R$ 464,78 o valor do salário mínimo em fevereiro de 2009, bem como a recente decisão da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado que, ao aprovar substitutivo ao Projeto de Lei n. 58/03, concede às aposentadorias e pensões até o teto previdenciário, reajuste igual ao do salário mínimo.
Assim, corrigimos esses benefícios previdenciários em 17%, combinando o reajuste de 5% de 2008 e o previsto em 2009 para o salário mínimo, acompanhando a decisão da CAS. Demais valores de remuneração do trabalho - diferentes de um salário mínimo - foram reajustados em 14,8% (além de incorporar a inflação acumulada e a prevista, considerou 1,5% de aumento real médio dos salários observado em 2008 e mais 1% para 2009). Os benefícios assistenciais foram corrigidos pelo índice de 12,3%. Porém, dada a importância do crescimento econômico na geração de novos postos de trabalho, estimamos, com base na variação do PIB para 2008 e 2009, a criação de 10,2 milhões de empregos. Destes, perto de 55% seriam formais, com remuneração pelo piso salarial (projeção conservadora posto que 92,1% dos empregos criados no decorrer deste ano estão na faixa de até 3 salários mínimos), enquanto os informais receberiam o valor médio observado em 2007, mas atualizado para 2009, pelo INPC. Na simulação 2, estes empregos foram distribuídos aleatoriamente centenas de vezes entre os desocupados e os trabalhadores precários, até obtermos uma distribuição média.
O paralelo entre a simulação 1 e a simulação 2 demonstrou que preservar a trajetória de recuperação do mínimo e atualizar os benefícios assistenciais e previdenciários tem retornos significativos do ponto de vista do consumo agregado e do bem-estar da população, contribuindo para manter aquecida a atividade econômica. Assim, constatamos que a simulação 2 leva a um aumento importante da renda familiar per capita média nos décimos inferiores da distribuição, exatamente aqueles cuja propensão a consumir é elevadíssima. É factível considerar, apoiados em resultados da POF 2003, que até o sétimo décimo da distribuição tal propensão seja superior a 90%. Ou seja, 70% da população, cerca de 128,8 milhões de indivíduos, terão um aumento real médio de sua renda mensal per capita da ordem de 21%, que vai se transformar em mais consumo. Isso significa R$ 6 bilhões mensais a mais na economia real, ou R$ 72 bilhões ao longo do ano de 2009.
Não bastasse o multiplicador do consumo ser ampliado, haveria uma forte redução da pobreza, pois o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha do Bolsa Família cairia de 17%, registrado na simulação 1, para 13,5%, resultado alcançado na simulação 2. São 5 milhões a menos de pobres.
Tudo isso é para agora, se for possível ao governo governar para superar a crise em prol do emprego e da atividade econômica. A hora das políticas sociais responsáveis, no seu escopo, escala e qualidade, é essa.
Lena Lavinas é professora associada do Instituto de Economia da UFRJ. João Sicsú é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea e professor do Instituto de Economia da UFRJ..
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Preconceito contra crianças
Para britânicos, 'menores agem como animais' - esse é o título da reportagem da BBC sobre pesquisa com 2.021 adultos "como parte de uma campanha de conscientização a ser lançada pela Barnardo's para mostrar que a sociedade se acostumou a "condenar naturalmente" menores de idade e a transformá-los em vilões". Reproduzo na íntegra.
A percepção que o público britânico tem dos jovens é negativa. Mais de metade da população da Grã-Bretanha acredita que crianças e adolescentes britânicos se comportam como "animais", e metade diz que eles devem ser considerados "perigosos", segundo uma pesquisa realizada a pedido de uma instituição de caridade que trabalha com menores.
A pesquisa de opinião ouviu 2.021 adultos como parte de uma campanha de conscientização a ser lançada pela Barnardo's para mostrar que a sociedade se acostumou a "condenar naturalmente" menores de idade e a transformá-los em vilões.
A campanha, com comerciais na TV e na internet, será lançada no dia 24 de novembro. Pelos resultados, 54% dos adultos entrevistados disseram que os menores britânicos se comportam como "animais". Mais de um terço também concordou que as ruas estão "infestadas" com crianças e adolescentes, enquanto 43% dos entrevistados disseram que alguma coisa precisa ter feita para proteger os adultos. Cerca de 49% disseram discordar da afirmação de que as crianças que "se envolvem em problemas" são "mal compreendidas" e precisam ajuda profissional.
Comentários
A organização também analisou comentários deixados em reportagens publicadas no site de vários jornais britânicos. E encontrou mensagens nas quais menores são descritos como "selvagens" e algumas sugestões de que é necessário "atirar" em adolescentes. O presidente da organização, Martin Narey, disse que a população britânica rotula todos os menores da mesma maneira.
"É espantoso que palavras como animal, selvagem e gentalha sejam usadas diariamente em referência a menores", disse Narey.
"Apesar de que a maioria das crianças não causa problemas, ainda há a percepção de que os jovens de hoje são mais incontroláveis e mais delinqüentes do que nunca", completou.
'Tratamento injusto'
A organização afirma que as atitudes reveladas pelo estudo refletem o resultado da última pesquisa British Crime Survey, que mostrou que as pessoas responsabilizam menores por "até metade" de todos os crimes cometidos, quando na verdade eles são responsáveis por 12% da atividade criminosa no país. No mês passado, a ONU disse que há "um clima geral de intolerância" para com as crianças e adolescentes britânicos e que isso pode fazer com que eles sejam tratados injustamente. Narey disse que a organização não é "ingênua" e aceita que "uma minoria de menores" apresenta um comportamento anti-social e comete crimes. Ele disse que é preciso agir para evitar que aqueles que têm mais risco de apresentar um comportamento criminoso - como os que pertencem a famílias pobres e recebem uma educação ruim - sigam esse caminho.
Obama: a campanha já terminou, mas o vídeo é bom
Gabeira já está em campanha para 2010
Na primeira página de hoje da Folha da Manhã, principal jornal de Campos dos Goytacazes, RJ, reportagem sobre encontro entre Gabeira e Luiz José de Souza, coordenador do CRD - Centro de Referência da Dengue de Campos - o único existente no Brasil. No mesmo dia do encontro, ele publicou artigo na Folha de São Paulo sobre o tema, e já pensa em um CRD para a cidade do Rio de Janeiro. Obviamente, Gabeira está pegando carona nas asas do mosquito da dengue para iniciar a decolagem de sua candidatura em 2010, seja para Senador, seja para Governador. Os outros candidatos devem se preparar para a possível febre "gabeirite"...
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sábado, 15 de novembro de 2008
Lula é o líder iberoamericano melhor avaliado
O Latinobarómetro, ong chilena de estudo da opinião pública na América Latina, acaba de divulgar os resultados de sua última pesquisa sobre os líderes iberoamericanos. A pesquisa, com 20.204 entrevistas, foi realizada entre os dias 1º de setembro e 11 de outubro, em 18 países latinoamericanos. Como resultado, Lula obteve a maior nota de avaliação, com média de 5,9. Segundo a diretora do Latinobarómetro, Marta Lagos, em entrevista para a BBC, esse resultado é óbvio, já era esperado. "Lula inseriu o Brasil no cenário internacional e, com isso, também deu destaque para toda a América Latina no mundo", ela afirmou. "O Brasil se transformou em uma potência mundial. Lula colocou o Brasil no cenário internacional e a América Latina foi junto e reconhece isso." Lagos interpreta ainda que os entrevistados entenderam que Lula, "sem muito barulho", superou a crise com a Bolívia e "dominou" e "controlou" a influência de Chávez na região. Leia mais no site da BBC ou consulte o site da Latinobarómetro.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Luiz Inácio Obama da Silva
O The Christian Science Monitor de hoje está puro Brasil. Na sua home page, a reportagem principal é sobre os superpoderes brasileiros na agricultura (Brazil rising: Agricultural superpower spreads its know-how) e no seu editorial o primeiro comentário é sobre "O Obama do Brazil" (The Obama of Brazil), referindo-se, claro, a Lula. "He came from the left and poverty, but da Silva rules from the center, as Obama must", orienta o jornal. Quando o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio da Silva, se encontrarem, pode ser que o presidente Lula é quem acabará "ensinando a Obama uma ou duas coisas", diz o editorial. Aliás, Lula ocupa bom espaço no noticiário internacional com o G-20 em São Paulo, o encontro com Berlusconi, o telefonema de Obama, o apoio ao continente africano e a Cuba, o puxão de orelha nos Estados Unidos e demais países desenvolvidos. Leia a reportagem da BBC:
Lula 'poderá dar lições a Obama', diz jornal americano
Quando o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio da Silva, se encontrarem, pode ser que o presidente Lula é quem acabará "ensinando a Obama uma ou duas coisas", diz um editorial desta quarta-feira do jornal americano The Christian Science Monitor.
O editorial, intitulado "O Obama do Brasil", destaca o que considera pontos comuns entre os dois líderes, afirmando que "como Barack Obama, o presidente do Brasil veio da pobreza e da esquerda política e chegou ao poder. Mas durante seis anos no cargo, ele (Luiz Inácio Lula da Silva) governou do centro, aproveitando os pontos fortes do mercado do Brasil, conquistando o respeito mundial".
The Christian Science Monitor afirma que uma série de reportagens sobre o Brasil que o jornal publica esta semana mostra que o país passou de "gigante adormecido" para um país mais ativo "graças, em grande parte, à adoção por (Luiz Inácio Lula) da Silva de soluções práticas que agradam os investidores globais e também a maioria dos brasileiros", lembrando que "os índices de popularidade dele são muito altos".
"Em muitas áreas, tais como agricultura, política social e diplomacia, o Brasil agora serve como modelo para outros países, especialmente da África", diz o editorial, mencionando o programa bolsa-escola como exemplo de "uma política inovadora que une políticos da esquerda e da direita".
'Líder regional'
Sobre suas relações com o mundo, o jornal menciona a reunião do último fim-de-semana do G20 em São Paulo, em que Lula "repreendeu os Estados Unidos por sua responsabilidade na crise financeira global, que também está afetando o Brasil".
Mas ressaltou que "mais do que criticar, o ex-líder sindical e fundador do Partido dos Trabalhadores também advertiu os países contra recorrer ao protecionismo comercial". O jornal observa que "Obama quer reformular o Nafta (tratado de livre comércio entre EUA, México e Canadá)".
Lembrando que o ministro Assuntos Estratégicos brasileiro, Roberto Mangabeira Unger, foi professor de Obama na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o jornal afirma que "o filósofo manteve contato com Obama e pode servir como um elo no que pode ser uma poderosa parceria para o Hemisfério Ocidental".
Por enquanto, "o Brasil está tendo um bom desempenho como líder regional", de acordo com The Christian Science Monitor.
"Embora (Luiz Inácio Lula) da Silva use com freqüência o jargão esquerdista de Hugo Chávez, (presidente) da Venezuela, suas ações demonstram uma vontade de liderar a região com soluções guiadas pelo mercado e forjar uma geopolítica" que não desagrade os americanos.
Floresta amazônica
A presença militar brasileira no Haiti a serviço das Nações Unidas, sua participação em "acalmar a ameaça de guerra entre Colômbia e Venezuela" e as relações com a Bolívia também são mencionados no editorial.
The Christian Science Monitor conclui que se o presidente brasileiro "conseguir manter um nacionalismo saudável, ele vai encontrar um parceiro em Obama em questões que vão de energia a segurança".
"O ex-líder sindical e o ex-coordenador comunitário, ambos sabem como negociar um acordo em prol do bem comum".
"Como (Luiz Inácio Lula) da Silva e Obama, Estados Unidos e Brasil têm coisas demais em comum para não compartilhar a liderança regional e global", diz o editorial.
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008
It's a New Day
A Casa Branca vai perder a graça
As idiotices de Bush sempre foram um prato cheio para o dia-a-dia dos humoristas. O David Letterman, por exemplo, tem um quadro praticamente diário em compara discursos presidenciais históricos com as gafes bushianas. Com as chegada de Obama ao poder, os humoristas temem ficar sem material suficiente. Vejam reportagem de Michelle Nichols para a Reuters:
Governo Obama pode deixar humoristas sem assunto
A histórica eleição de Barack Obama para a Casa Branca é um mau presságio para os comediantes que tanta matéria-prima tiveram durante os oitos anos de governo de George W. Bush, segundo especialistas. Obama, que teve muito apoio na classe artística, se tornará em 20 de janeiro o primeiro negro a governar o país, num momento de crise econômica e com duas guerras em andamento. Seja por causa da simpatia que desperta entre comediantes com tendência mais à esquerda, pelo caráter histórico da sua eleição ou porque até agora tenha cometido poucas gafes, o fato é que os humoristas estão sofrendo para inventar piadas com Obama.
"A eleição de Obama é ótima para o país, mas ruim para a comédia", disse Michael Musto, colunista do Village Voice, de Nova York. "Ele é uma pessoa inteligente, prudente, tentando resgatar um país em crise, e isso não tem graça nenhuma."
"Barack Obama tem sido o pesadelo dos humoristas", disse Robert Thompson, professor de Televisão e Cultura Popular da Universidade Syracuse.
Até Obama fez piada num jantar beneficente em Nova York, no fim da campanha, onde ele e seu rival John McCain tiraram sarro de si próprios. O democrata disse na ocasião que seu maior defeito é ser "um pouco incrível demais".
BUFÕES
"A comédia prospera onde há alvos bufonescos", disse Musto. "Tradicionalmente, programas como o 'Saturday Night Live' se saíram melhor lidando com pessoas como o presidente (Gerald) Ford, que não conseguia ficar em pé o tempo todo, ou do que (Bush), que não consegue dizer 'nuclear', ou Sarah Palin, que não sabia que a África é um continente."
A audiência do tradicional humorístico "Saturday Night Live", da NBC, disparou durante a campanha eleitoral, especialmente depois que a atriz Tina Fey passou a imitar a governadora do Alasca, Sarah Palin, candidata republicana a vice-presidente. Outros programas que misturam humor e jornalismo, como o "Daily Show" de Jon Stewart e o "Colbert Report", ou então programas de entrevistas como os de David Letterman e Jay Leno, se locupletaram durante os oito anos de Bush. Letterman, por exemplo, tem um quadro chamado "Grandes Momentos dos Discursos Presidenciais".
"Como comediante, devo admitir que vou sentir saudades do presidente Bush, porque não é fácil fazer piada sobre Barack Obama. Ele não lhe dá muito para explorar", disse Leno a sua platéia depois da eleição. "Vai ver que é por isso que Deus nos deu Joe Biden (vice de Obama)."
O próprio Bush, bem antes de Obama ser candidato, já se queixava da dificuldade em fazer piadas com ele. "Senador Obama, eu queria fazer uma piada com o sr., mas é como fazer piada com o papa", disse o presidente num jantar em 2006. "Me dê algum material para trabalhar aqui. Sabe, um erro de pronúncia, alguma coisa."
MANJEDOURA
Mas Liam O'Brien, professor de Produção de Mídia da Universidade Quinnipiac, disse que nem tudo está perdido, porque "os comediantes progressistas vão continuar a se distrair com o que restou do Partido Republicano". Quando a Obama, o tempo vai se encarregar de dar a matéria-prima.
"Como disse Obama, 'não nasci numa manjedoura'. Ele está bem ciente, especialmente em questões complicadas e na forma como for assessorado, de que haverá erros", disse O'Brien.
O que já está bem claro é que provavelmente os humoristas evitarão piadas sobre a raça de Obama -- ao menos os brancos.
"O presidente é negro, então obviamente vamos brincar com toda situação que você puder imaginar a respeito de um presidente negro", disse o comediante negro Tracy Morgan, da série "30 Rock", ao New York Times.
"Já os comediantes brancos têm de lançar seus dados. Se você entrar por esse caminho (da piada racial), é bom que seja bem engraçado."
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Presente para Cuba e toda a humanidade
1º de janeiro de 2009, 50 anos da Revolução Cubana. É chegada a hora dos Estados Unidos acabarem com o bloqueio absurdo ao povo cubano. E também é chegada a hora de acabar com o horror americano em Guantánamo. O mundo espera que Obama dê um passo à frente nesse sentido. Abaixo, reportagem de Jane Sutton, para a Reuters, sobre apelo de grupos por direitos humano pelo fim da carceragem americana em Guantánamo:
Cinco grupos de direitos humanos apelaram na segunda-feira a governos europeus para que aceitem prisioneiros de Guantánamo que não podem ser mandados de volta a suas casas por temor de perseguição, enquanto um sexto grupo pediu ao presidente eleito dos EUA, Barack Obama, para assinar um decreto fechando o campo de prisioneiros no dia em que tomar posse. Os esforços globais visam pressionar Obama a fechar o campo de prisioneiros de Guantánamo e interromper os tribunais especiais que julgam estrangeiros suspeitos de terrorismo fora da cortes regulares.
"Presidente eleito Obama, com um golpe da sua caneta presidencial, no primeiro dia de sua administração, você pode assegurar que nosso governo será fiel à Constituição e aos princípios sob os quais a América foi fundada", disse a União Americana de Liberdades Civis em anúncio de página inteira no New York Times.
"Nos devolva a América na qual acreditamos", pediu a entidade a Obama, que toma posse no dia 20 de janeiro de 2009.
O campo de prisioneiros na base naval norte-americana na baía de Guantánamo, em Cuba, é amplamente visto como uma mancha na questão dos direitos humanos nos Estados Unidos. Mais de 750 prisioneiros de vários países foram levados para lá desde 2002, suspeitos de ligação com a al Qaeda e grupos associados após os ataques de 11 de setembro de 2001. Cerca de 255 homens continuam presos em Guantánamo, incluindo 50 que os EUA libertaram, mas que não podem repatriar por temor de que sejam torturados ou perseguidos em seus países de origem. Em Berlim, cinco grupos de direitos internacionais fizeram um pedido conjunto para os governos europeus ajudarem a fechar Guantánamo, garantindo abrigo e proteção a esses 50 prisioneiros que são de países como China, Líbia, Rússia, Tunísia e Uzbequistão.
"Isso teria um duplo efeito: ajudaria a encerrar a provação de indivíduos presos ilegalmente em violação de seus direitos humanos e dar fim a esse escândalo internacional de direitos humanos que é Guantánamo", disse Daniel Gorevan, que comanda a campanha "Contraterror com justiça", da Anistia Internacional
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Cuidado, estão querendo apagar o fogo!
Anos atrás, visitei o Museu do Dinheiro (Museu de Valores do Banco Central, em Brasília) e gostei muito. Mas o que mais impressionou foi a descrição que me fizeram do sistema antiincêndio. Tratava-se de um sistema especial com uma substância que apaga o fogo sem prejudicar as moedas raras que estão expostas. Simplesmente jogar água não daria certo, porque as "obras" seriam danificadas. O único problema, me explicaram, é que, por esse sistema, as pessoas presentes na hora do incêndio... morreriam! Eu várias vezes pensei sobre o assunto, imaginando se daria tempo de avisar e retirar as pessoas. Ontem tive resposta com esse exemplo do submarino russo que teve problemas com o sistema antiincêndio. O gás freon retira rapidamente o oxigênio impedindo a propagação do fogo, mas intoxicando as pessoas. 10% dos tripulantes morreram.
Pata Pata: morreu Miriam Makeba
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Estados Unidos: curiosidades eleitorais
A maior vitória de Barack Obama foi no Distrito de Columbia (Washington, Capital Federal, onde os afro-americanos são 60% da população e os brancos apenas 33%), com 92,9% dos votos (McCain teve 6,5%). Em seguida, veio o Havaí, estado onde Obama nasceu, com 71,8% dos votos. A maior derrota foi em Oklahoma, onde McCain teve 65,6% dos votos e venceu em todos os condados. Obama venceu em todos os condados dos estados de New Hampshire, Vermont, Massachusetts, Connecticut e Rhode Island, todos ao Norte, praticamente ao lado de New York. A vitória de Obama se deu principalmente nos condados mais populosos, perdendo na maioria dos pequenos condados (nos Estados Unidos, no total, existem 3.141 condados, mas com outras subdivisões de governo local). No estado de Nevada, por exemplo, onde teve 55,1% dos votos contra 42,7% de McCain, Obama venceu em apenas 3 dos 17 condados. Acontece que um dos 3 condados é o Clark County, onde fica Las Vegas e que representa quase 70% dos votos do estado.
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quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Obama & Campos & Lott & China
Recebi hoje de manhã um telefonema da China. Era meu amigo Campos, que está passando uns meses por lá, e queria confraternizar pela vitória de Barack Obama. "Um negro, mas acima de tudo um afro-americano, que a família morava na caatinga do Quênia", falou ele entusiasmado. Fiquei emocionado. Menos pelo Obama e mais pelo próprio Campos, um velho amigo comunista, daqueles de emocionar de verdade, por sua garra, seu entusiasmo, sua luta por um mundo melhor. Certa vez, no início da década de 80, ainda na ditadura, em uma dessas organizações clandestinas de esquerda, um militante dava palestra sobre História do Brasil (parece que era a partir de um livro do Hélio Silva) e relatava a dificuldade que o PCB teve na década de 60 para apoiar a candidatura Lott, considerada mais progressista do que a de Jânio Quadros, mas encarnada por um militar anti-comunista. Fez referência a um encontro, no Rio de Janeiro, do Lott com a garotada de estudantes do Partido Comunista. Lott, claro, baixava o cacete no comunismo e a garotada ouvia tudo em silêncio, porque, afinal, tratava-se do candidato "aliado". O constrangimento era total, até que um dos jovens comunistas não agüentou mais, levantou-se e fez um discurso de protesto contra tudo aquilo. A platéia comunista da década de 80, que absorvia fascinada aquele pedaço de história, ficou em choque quando viu o Campos se levantar e dizer: "Aquele garoto era eu". Campos, que primeiro conheci com o nome de guerra Juca, foi logo depois da campanha de Lott enviado pelo PCB para treinamento na Europa (estudou 6 anos na Tchecoslováquia) e voltou para tentar contribuir de algum modo pela revolução socialista brasileira. Hoje os tempos são outros, mas ele continua o mesmo: um apaixonado pela vida.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Notícias do Uzbequistão
O Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, viajou para o Uzbequistão e escreve de lá. Amenidades, talvez. Mas hoje ele reproduziu trechos interessantes de uma entrevista do sociólogo Rafael Roncagliolo para o La Nación. Reproduzo abaixo os trechos de César Maia, mas você pode ler o original ("La política sigue las leyes del marketing"), publicado dia 17 de setembro, clicando aqui:
"CIDADÃOS E CONSUMIDORES: AOS PRIMEIROS HÁ QUE CONVENCÊ-LOS, AOS OUTROS HÁ QUE SEDUZI-LOS!"
Trechos da entrevista do sociólogo Rafael Roncagliol (ex-Le Monde Diplomatique, ex-Interviú) ao La Nacion.
1. Em todo o mundo há uma crise de representatividade dos partidos. Os partidos políticos tradicionais se converteram em máquinas eleitorais que só funcionam quando há eleições. Isso é parte de uma mudança, na qual a relação cara a cara foi transformada em relações midiáticas. Isso justifica o ressurgimento, nos últimos anos, de uma política baseada em caudilhos.
2. Ao congressista não lhe interessa a repercussão do que diz no Parlamento, porque o que interessa é a repercussão do que diz no espaço midiático. Isso é, claramente, uma deterioração da ação do Congresso. Desapareceu a relação cara a cara com a célula partidária.
3. Não pode haver democracia se não existam instituições que estejam encarregadas do trabalho de representação política e que compitam por esta representação. Diz-se que os partidos funcionam como as garagens, porque apenas se retira o carro do estacionamento para competir e, depois, volta-se a guardá-lo...
4. As democracias na América Latina estão funcionando muito bem como democracias eleitorais. A democracia contemporânea nasceu com base no pressuposto de que os eleitores são cidadãos que precisam ser convencidos. Então, a democracia institui um mercado eleitoral, no qual os políticos fazem suas ofertas, que são suas propostas, e os cidadãos escolhem entre essas propostas. Este é o pressuposto básico da democracia.
5. As transformações tecnológicas dos últimos tempos determinaram que os eleitores não fossem considerados cidadãos, mas sim consumidores. A diferença é que, quanto aos cidadãos, é preciso convencê-los e, quanto aos consumidores, é preciso seduzi-los. Neste cenário, as ofertas dos políticos deixam de ser propostas e passam a ser mecanismos publicitários de sedução do eleitor. Isso destrói o pressuposto básico da democracia.
6. É óbvio que os candidatos não mais têm interesse sobre os temas a debater. Interessa a eles os aspectos formais do debate, como a luz, a ordem da exposição, os tempos e a disposição das câmeras. Ou seja, a vida política passou a ser controlada por novos especialistas.
7. Hoje, é preciso estar nos meios de comunicação de massa para existir. Os meios não têm êxito no momento de dizer quem ganha, mas sim ao estabelecer quais os que estão na competição. Pode-se dizer que os meios substituíram os políticos no papel de fixar a agenda. Então, não são mais dirigentes, voltados para oferecer uma direção aos cidadãos, mas sim dirigidos, no sentido de que o bom político é o que melhor interpreta as pesquisas e que faz o que o público pede.
8. Isso não significa que os meios de comunicação possam fazer o que quiser com a opinião pública, mas sim que alguns deles têm um papel desmedido. Os legisladores foram substituídos por líderes midiáticos em sua influência sobre a opinião pública. Por outro lado, não quero deixar de reconhecer a tarefa de fiscalização e de transparência que levaram a cabo os meios mais sérios em nossas democracias.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Acompanhe a eleição americana em tempo real
Clique aqui, acesse o site TPM (Talking Points Memo) e acompanhe, a partir das 21 horas (horário de Brasília) o resultado das eleições americanas (presidencial e regionais).
Meu voto vai para Obama
Acho, para início de conversa, que o mundo globalizado garante a todos nós o direito de "votarmos" para Presidente de qualquer lugar que interfira no nosso dia-a-dia. E os Estados Unidos, mais do que qualquer outro país, ditam os destinos da humanidade. É por isso mesmo que prefiro Obama. Não posso aceitar, para mim e meus filhos, que um Bush (ou seu semelhante) continue à frente da política americana saqueando a nossa possibilidade de viver sempre melhor. Não posso aceitar a Guerra do Iraque, do Afeganistão, a arrogância extremada praticada no governo Bush. Não dá para aceitar o império da mediocridade segurando as rédeas de um novo mundo. Obama não é a "salvação", mas é a possibilidade de mudança. Nada radical, mas com significado positivo. Conto que o dia 5 de novembro seja realmente um novo dia.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Apesar da fraude, Obama deve ganhar
É notório e notável a capacidade americana de fraudar eleições. Lá é pior do que no terceiro ou quarto mundo. Às vezes, ainda se consegue alguma mobilização para se tentar evitar o roubo exagerado - como aconteceu nas duas últimas eleições de Bush -, mas o final tem sido desolador. Nas eleições desse dia 4 de novembro, não deverá ser muito diferente. A diferença é que o candidato Democrata Barack Obama está tentando vencer com uma diferença maior do que a do roubo. O seu eleitorado (negros, jovens, novos eleitores em geral) é mais suscetível ao roubo. Mesmo assim espera-se que mais e mais pessoas atendam ao apelo Obama. Vale a pena ler a extrevista de a publicada hoje no Globo:
'Acho que a eleição vai ser roubada na Flórida'
Professor da Universidade de Chicago diz que fraudes persistem mas não serão suficientes para tirar a vitória de Obama
ENTREVISTA Greg Palast
Rumores insistentes de que fraudes estão acontecendo na Flórida não são apenas boatos, segundo o jornalista Greg Palast, autor do best seller “A melhor democracia que o dinheiro pode comprar”, no qual ele demonstrava como votos foram fraudados na eleição de 2000, na qual George W. Bush foi eleito por uma pequeníssima margem de votos. Repórter investigativo da BBC e do jornal inglês “Observer”, ele estima que 6 milhões de eleitores poderão ser impedidos de terem os votos contados por causa de fraudes na Flórida e no Colorado. “Mas a vantagem de Obama é tão grande que, até agora, isto não será suficiente para impedir sua eleição”, diz Palast, que também é professor da Universidade de Chicago.
Helena Celestino Enviada especial • MIAMI
O GLOBO: Existem rumores de fraudes, mas o senhor tem informações de que algo errado, de verdade, está acontecendo na eleição antecipada aqui da Flórida ou em algum outro estado?
GREG PALAST: Na Flórida, estão impedindo as pessoas de votar através de um sistema que eles chamam de verificação de eleitores. Nunca se fez isso antes, simplesmente porque nos Estados Unidos não existe nem carteira de identidade. Isto afeta especialmente os eleitores de primeira viagem — e dois terços deles votam em Obama. Este sistema já restringiu o direito de votar de 85 mil pessoas, quase todos negros, o que combina com uma longa história de racismo na Flórida. E, claro, lembremos que este foi o estado onde George W. Bush roubou a eleição em 2000, não deixando votar os eleitores respondendo a algum processo ou tendo algum registro policial.
O GLOBO: Mas esta lei não mudou na Flórida?
PALAST: Mudou. Agora, como em outros estados dos EUA, podem votar os que já cumpriram pena. O problema é que só aqui o governador tem de assinar um papel autorizando-os a votar.Resultado: quase meio milhão, grande parte democrata, estão esperando esta aprovação.Lembre-se de que nos EUA é muito fácil ter ficha criminal, e isso afeta a população mais pobre, majoritariamente eleitores de Obama. Ou seja, estão fazendo todo o possível para roubar a eleição na Flórida.
O GLOBO: Mas por que os democratas não estão entrando na Justiça eleitoral contra isso?
PALAST: Porque o Partido Democrata está com medo de ser visto como um partido de negros, especialmente no ano em que têm um candidato negro.
O GLOBO: Para o senhor, está sendo usada uma série de pequenos truques para mudar a vontade do eleitor?
PALAST: O pior é o expurgo de eleitores das listas, sob os mais variados pretextos. Esta eleição provavelmente vai ser decidida em três estados: Ohio, Flórida e Colorado. No Colorado, os republicanos estão tirando um a cada cinco eleitores das listas, acusando a Accorn, por exemplo, de ter registrado eleitores fictícios. Isto não é verdade, é ridículo. Mas quando os eleitores chegam às urnas, o nome deles não está na lista, e o voto é classificado como provisório. Isto significa que precisa ser confirmado depois, e que acaba não sendo contado. Acho que a eleição vai ser roubada no Colorado e na Flórida.
O GLOBO: Mas pelo menos as máquinas melhoraram, não?
PALAST: Não em todos os lugares, não nas áreas negras. Nas cidades grandes, a situação melhorou, mas não nas pequenas, como Jacksonville, por exemplo. Continua tendo o mesmo sistema, no qual é picotado fora o pedacinho do papel onde está escrito o nome do candidato que o eleitor não quer. Como em 2000, isso nem sempre acontece. Tem outro sistema em que é muito comum o eleitor votar num candidato e a máquina registar o outro. É incrível, mas isso ainda acontece aqui nos Estados Unidos.
O GLOBO: Do seu ponto de vista, estas fraudes impedirão a eleição de Obama?
PALAST: Acho que as fraudes podem levar ao roubo de 6 milhões de votos, mas isso, até agora, não parece suficiente para impedir a eleição de Obama. A campanha de McCain está completamente perdida, não consegue responder à crise econômica, e mesmo os que não gostariam de eleger um negro votam em Obama porque temem perder seus empregos. Dinheiro pesa mais que preconceitos. O problema é que as fraudes estão concentradas nos chamados swing states, os que ainda podem mudar o voto no Colégio Eleitoral. Pelas minhas contas, em 2000, 2 milhões de votos foram fraudados; em 2004, o número subiu para 3 milhões, e este ano serão 6 milhões. Mas a vantagem de Obama é tão grande que, mesmo com as fraudes, ele deve vencer
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