terça-feira, 31 de março de 2009
CNT/Sensus: em 2010, é Lula outra vez...
É a pesquisa CNT/Sensus que diz: “50,1% votariam no candidato apoiado por Lula” (soma das respostas 'único em quem votaria' com 'poderia votar') . Em dezembro, eram 44,5%. Ou seja, o tempo passa, a crise voa, e a votança que é do Lula continua numa boa. Apesar da queda da popularidade em função da crise, revela a pesquisa que Lula manteve o seu poder de transferência de votos a Dilma Rousseff na corrida pela sucessão presidencial em 2010. "A população começa a tomar partido. Aumenta o poder de transferência física de Lula. A avaliação do presidente, apesar de ter sofrido queda, é muito forte", disse o diretor do instituto Sensus, Ricardo Guedes. Dilma ainda perde para Serra em simulação de segundo turno, mas já supera Aécio Neves. Não é à toa que os tucanos estão cada vez mais “suaves” com relação a Lula (Serra, principalmente), deixando o choque frontal por conta do DEM. Sabem que bater de frente com Lula não dá voto a ninguém. Preferem apostar na superação da crise e pegar carona no sucesso de Lula. Estratégia corretíssima. Ainda assim, continua muito difícil eleger um oponente de Lula. Leia também na Folha.
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Pesquisa Financial Times/Ipsos Mori esqueceu de pesquisar nossa Oposição...
O Financial Times está publicando o resultado de uma pesquisa do Ipsos Mori realizada em 22 países (23.000 entrevistados, pouco mais de 1.000 para cada país) sobre a confiança da população com a situação da economia global. Desde abril de 2007, quando surgiram os primeiros sinais de grandes problemas com as hipotecas americanas até novembro passado, essa confiança afundou, com tendência inversa apenas no Brasil. Os pessimistas superam os otimistas na base de 2 para 1. O FT fala de erros de comunicação dos governos e acrescenta observação de Gideon Skinner, diretor do Ipsos Mori: “Com o encontro do G20 esta semana em Londres, seria importante os governos comunicarem um sentido de esperança. Com os líderes políticos e do mundo dos negócios em pânico, não é surpreendente que a população também se sinta assim”. Como se pode comprovar, a estratégia da marola fez a diferença – para desespero da Oposição...
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segunda-feira, 30 de março de 2009
Arapongagem: César, Brizola e O Globo
Concordo com a indignação de César Maia em seu Ex-Blog de hoje contra o tratamento que O Globo tem dado à liberação das informações secretas da ditadura militar. É um absurdo tratar o produto de uma arapongagem esdrúxula como verdade absoluta – principalmente com o fato de um dos acusados, Brizola, já morto, não ter condições de se defender. Por mais que os serviços de informações e contrainformações serem importantes, a sociedade não pode ficar subordinada a eles. Lembro, em 92, quando fazia a campanha de Benedita (PT) para Prefeita do Rio, que alguém me trouxe lá na produtora uma pessoa supostamente da comunidade de informações que oferecia a possibilidade de gravar e fotografar César Maia (também concorrendo à Prefeitura) em encontros com bicheiros. Para reforçar sua capacidade “profissional”, ele me disse que poderia, no dia seguinte, me entregar fita com tudo que seria falado na produtora depois que ele fosse embora. Recusei e nunca mais quis ouvir falar da figura. Também a direção do PT teria se recusado, na época, a gravar depoimento de alguém que seria parente de César Maia e estava disposto a fazer denúncias, aparentemente sem qualquer prova. O depoimento talvez mudasse o resultado eleitoral, mas utilizá-lo foi considerado irresponsabilidade. Denunciar o que está errado é dever de todos. Mas combater o “denuncismo” também é.
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segunda-feira, 23 de março de 2009
Solução da crise: percepção x realidade
O lançamento do Plano Geithner foi um sucesso estrondoso. As bolsas subiram, o dólar caiu, parecia que finalmente tínhamos encontrado um filé no meio das vacas magras. Eu, pessoalmente, prefiro acreditar que sim. Mas talvez não baste acreditar, talvez não baste o retorno da confiança. O New York Times de hoje quis saber se o Plano Geithner vai funcionar e, para isso, buscou a opinião de 4 economistas – Paul Krugman (da Universidade de Princeton, Nobel de Economia e colunista do jornal), Simon Johnson (do Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Brad DeLong (da Universidade de Berkeley) e Mark Thoma (da Universidade de Oregon). Vou tentar expor a posição de Krugman, que, em seu artigo “Perception vs. Reality”, diz que, desde o começo da crise, há dois pontos de vista sobre ela. Na visão nº 1, acha-se que há “um pânico desnecessário”. O público assustou-se com a história das hipotecas, os bancos se retraíram, e as coisas foram se complicando sucessivamente. Nessa visão, o que o mercado precisaria é de um tapa na cara para se acalmar. E se nós conseguirmos fazer com que o mercado se mantenha firme com os títulos podres, então a população vai perceber que as coisas não são assim tão ruins e – como teria dito Larry Summers no Newshour de ontem – “o círculo vicioso transforma-se em círculo virtuoso”. Na visão nº 2, os bancos estão realmente muito mal. Apostaram pesadamente em crenças irrealistas, e perderam. A confiança caiu porque as pessoas tornaram-se realistas. Para Krugman, o Plano Geithner só pode dar certo se a visão nº 1 estiver certa. Se, ao contrário, a certa for a visão nº 2, se os problemas dos bancos forem além da questão de falta de confiança (que é a visão de Krugman), não há como o Plano dar certo. Ele não acredita que “o mal seja sanado com a força do pensamento positivo acrescido de uma pitada de engenharia financeira”. Longe de mim pretender divergir de Paul Krugman (com quem, dentro de minhas limitações nesse terreno, tenho maior afinidade), mas acho que ele não disse tudo sobre a visão nº 1. Trata-se, pelo que entendi até agora, de “força do pensamento positivo acrescido de uma pitada de engenharia financeira, dentro da engenharia política possível”. Seria praticamente impossível que o Congresso americano aprovasse qualquer medida efetiva de combate à crise vindo do Governo Obama. A visão nº 1 com toda certeza não é a solução definitiva. Mas pode ser o detonador disponível. Já existem sinais consistentes de superação da crise. Pelo menos, quero ter confiança nisso... Leia também no blog de Paul Krugman "Geithner plan arithmetic".
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Datafolha Rio: cenário tranquilo
O resultado da Pesquisa Datafolha com intenções de voto para Governador do Rio de Janeiro publicada hoje pela Folha mostra resultados mais ou menos previstos. O Governador Sérgio Cabral (PMDB) lidera com folga (26%), com ampla possibilidade de crescer ainda mais, em função da aliança com Lula. O segundo lugar mostra indefinição, com empate técnico de quatro candidatos. Dificilmente Crivella (PRB) e Wagner Montes (PDT) disputarão o mesmo cargo - a não ser que haja combinação para apoio em hipotético segundo turno, segurando votos entre eles. Wagner Montes é apresentador da Record (Igreja Universal) e não vai querer entrar em choque com o Bispo-Senador Crivella. O mais provável é que Crivella, com altíssima rejeição na Capital, tente garantir sua reeleição para o Senado, ou algo semelhante. O Deputado Federal Fernando Gabeira (PV) teve uma "derrota vitoriosa" para Prefeito do Rio e não pretende arriscar muito o seu mandato. Prefere a candidatura ao Senado, mas o PSDB insiste em tê-lo como palanque para o seu candidato à Presidência. César Maia (DEM), apesar de grande derrota no ano passado, ainda é um nome forte no eleitorado lacerdista. Será candidato a alguma coisa, sabe-se lá o quê. Garotinho (PMDB) é o "regra 6" dessa história. Ele pode trocar de partido (bastante provável) e, com isso, tirar alguns votos de Sérgio Cabral. Mas não aparenta ameaçar ninguém, mesmo que ele consiga o sonho impossível de se tornar tucano.
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sexta-feira, 20 de março de 2009
Datafolha: crise faz marola, mas Dilma cresce
Interessante essa pesquisa Datafolha de hoje. Mostra que finalmente a maior crise financeira e econômica internacional das últimas décadas está afetando um pouco (bem pouco) os índices de aprovação do Governo Lula. Ao mesmo tempo mostra que a sua candidata para a sucessão presidencial está crescendo nas instenções de voto. Aliás, como diz o próprio Instituto Datafolha, "apenas a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), oscilou acima da margem de erro". Surpreendente? Nem tanto. A crise não afetou (nem vai afetar) o Brasil com a mesma intensidade que está ocorrendo em outros países - mas é óbvio que sobrou coisa ruim também para nós. Por outro lado, o povo percebe que ninguém está melhor preparado do que o Governo Lula para enfrentar esse momento difícil. Se a Oposição quer mesmo sair da crise, vai ter que trabalhar muito mais...
quinta-feira, 19 de março de 2009
Impeachment para o Papa
Esse Papa Bento XVI provou que não passa de uma anomalia da humanidade. Sua declaração de que a distribuição de camisinhas pode até agravar o problema da AIDS é uma aberração da natureza. Os católicos do mundo inteiro devem aliar-se a todas as outras religiões e também a ateus para exigir o impeachment de Bento XVI. Depois do impeachment, camisinha de força nele!
terça-feira, 17 de março de 2009
Curiosidade: Juscelino contra Brasília
A seção do jornal O Globo "Há 50 anos" de ontem fala de mensagem de Juscelino Kubitschek, Presidente da República, enviada ao Congresso ("Uma data domina a mente de JK"). Nela, entre outras coisas, ele diz: "a Nação vem sendo convocada a participar dêste empreendimento demasiado grande para que o govêrno, sozinho, o realize: prover Brasília de meios que a tornem, além de capital política, além de monumento urbanístico e arquitetônico implantado no centro do nosso território, um eixo de integração econômica, de onde se irradie intensa fôrça criadora para o subcontinente solitário e desconhecido que tínhamos dentro de nossas fronteiras". Mas na seção "Há 50 anos" de 1996, podemos ver que Juscelino assumiu como Deputado Constituinte (1946) combatendo a construção de Brasília. Ele defendia "a mudança da Capital Federal para a região do pontal do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, seguindo parecer do engenheiro Lucas Lopes em trabalho sobre o assunto", como podemos comprovar em "Quem foi quem na Assembléia Constituinte de 1946".
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segunda-feira, 16 de março de 2009
Absurdo oposicionista: também o fim da crise pode ser ruim para o Brasil!
Li a reportagem “Crise nivela preço de ações”
na Folha e achei engraçado o destaque dado ao trecho “o problema é que, no momento em que o mercado financeiro estiver pronto para se recuperar, isso pode ser desvantajoso ao Brasil”. O que quer dizer isso? A matéria trata de levantamento feito pela consultoria Economática, a pedido da Folha, nas 50 maiores empresas da Bolsa de Nova York e da Bovespa, que mostra que "o índice P/L dos EUA saiu de um patamar de 25 no fim de 2003 para 12,5 nesse momento. No caso do Brasil, o índice recuou de 11,9 para 10,2 no período". Isso quer dizer, em primeiro lugar, que o risco e a expectativa de crescimento dos lucros pioraram significativamente nos Estados Unidos e apenas um pouco no Brasil. Poderíamos até dizer que é isso que traduz a diferença momentânea entre “tsunami” e “marola”. Mas o que faz a Folha? Baseada na grande queda dos preços das ações nos Estados Unidos, a Folha destaca que, quando a crise começar a acabar, a situação vai ser melhor para os Estados Unidos do que para o Brasil. Até o César Maia, no seu Ex-Blog de hoje, realça esse pensamento. Ora, convenhamos, isso já é muita forçação de barra. Vamos deixar claro o seguinte: quando a crise acabar, vai ser bom para o mundo inteiro. Se tudo voltar ao que era antes, viveremos todos um mundo de mais sorrisos – exceto, claro, a nossa Oposição, que vai viver uma crise ainda maior...
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Lula-Obama: a sorte do Brasil é que a mídia de lá não é da nossa Oposição
A nossa mídia trata o encontro Lula-Obama como um encontro vazio, sem resultados práticos, semelhante aos encontros com Bush. “Lula-Obama é remake sem novidades de Lula-Bush”, diz o título da análise da Folha, sintetizando as análises de nossa mídia. Claro que não se poderia esperar do encontro venda monumental de etanol e petróleo para os Estados Únicos, nem que fosse suspenso o bloqueio a Cuba graças a Lula. Nada bombástico assim estava realmente em pauta. O que mudou foi o modo de ver o Brasil, e podemos comprovar isso por parte do noticiário internacional. “Os líderes estrangeiros que quiserem ter uma boa química com o Presidente Barack Obama devem tomar lições com o Pesidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva”, mancheta a Reuters. “Maravilhoso encontro de mentes”, destaca o importante site Político, referindo-se à definição do encontro feita por Obama. “Nasce a aliança Obama-Lula – os presidentes criam um novo modelo de relações no continente americano”, diz El País, saudando o encontro. “Bye, bye, México”, declara o Miami Herald, elegendo Lula como novo porta-voz da América Latina. O Washington Post publica reportagem (Brazil's President to Seek a Change in U.S. Approach) com Thomas Shannon, secretário-assistente de Estado para a região, que descreve o Brasil como "o tipo de parceiro que nós queremos". Ficou mais do que evidente o salto de qualidade nas relações do Brasil com os Estados Unidos, assim como tem acontecido em outras partes do mundo. A nossa mídia oposicionista sabe disso. Mas por questões políticas não quer admitir. Felizmente ela não representa o governo americano...
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domingo, 15 de março de 2009
Assim não é possível: até o criador da Web dançou na Web!
Notícia de hoje na BBC:
Criador da Web foi vítima de fraude na internet O físico britânico Tim Berners-Lee, que idealizou a World Wide Web (WWW) há 20 anos, disse que foi vítima de fraude na internet. Em entrevista ao jornal britânico The Sunday Telegraph, Berners-Lee afirmou que comprou um presente de Natal em uma loja online falsa e ele só descobriu que tinha sido enganado quando o artigo não foi entregue. "Na hora em que eu telefonei para o número 0800 colocado no website, havia uma mensagem muito educada dizendo que este número está disponível para quem quiser usá-lo, então um pouco mais de empenho da minha parte teria revelado que (a loja online) não era o que parecia", afirmou. "Acho que ainda vou recuperar o dinheiro, mas não era muito." Berners-Lee pediu às autoridades que dediquem ao combate de crimes cibernéticos os mesmos esforços empregados no caso de crimes convencionais. O físico britânico quer que se ajude a impedir que criminosos que atuam na internet evitem processo judicial escondendo-se em países fora da jurisdição onde suas vítimas vivem. "Existem muitas coisas positivas na web, mas também há coisas ruins. Você pode descobrir a cura de doenças, mas também pode descobrir como construir bombas." "Às vezes precisamos de novas leis, mas em outros casos nós precisamos perceber que leis antigas ainda podem ser aplicadas à web." "Nós precisamos lidar com questões de implementação, pois leis sobre fraude, por exemplo, já existem, mas é difícil encontrar e deter as pessoas responsáveis (pelo crime)", concluiu o físico na entrevista ao jornal britânico.
sexta-feira, 13 de março de 2009
Crise internacional: a confiança começa a dar sinais de vida
Wall Street começou a sentir que o ritmo de queda da economia começou a diminuir, e por isso os índices começaram a subir nessa quinta-feira. Pelo menos é o que pensam analistas citados pelo New York Times em reportagem de hoje (Investors See a Glimmer and Shares Soar Worldwide). Não é que as notícias tenham deixado de ser ruins. É que não são tão ruins quanto se esperava. E, para os investidores, “menos ruim é bom demais” (less bad was good enough). Os economistas ainda alertam que a economia não vai ficar ok logo logo, mesmo com os números indicando que os consumidores não estão com a cabeça inteiramente negativa. Mas alguns já veem ligeira mudança na psicologia do investidor. Há, nos investidores, um desejo de acreditar, e eles já começam a reconsiderar os seus medos. Nick Bloom, economista da Stanford University, disse que “a volatilidade do Mercado de ações, embora ainda esteja alta, está em declínio” e ele acredita que a recuperação da atual crise pode ser razoavelmente rápida. Tudo depende, segundo ele, de medidas consistentes para aliviar o nó do crédito e restaurar a confiança.
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quarta-feira, 11 de março de 2009
A próxima taxa Selic
Está a maior discussão sobre qual será a próxima taxa Selic (hoje em 12,75%). Vai reduzir 1,5%, 1,0%, 2%, mais de 2%? Claro que a redução tem muito a contribuir no enfrentamento da crise. Mas quero lembrar que a importância dessa redução não é a mesma que havia antes de setembro de 2008. O que temos hoje, acima de tudo, é uma crise de confiança. Mais do que taxas de remuneração maior, os donos do dinheiro estão em busca de risco menor. Confiança é mais importante.
A crise da Oposição
Na véspera da divulgação do PIB brasileiro no quarto trimestre do ano passado, ouvi o Presidente do PT, Ricardo Berzoini, dizer: “Amanhã deve ser divulgada a queda do PIB do quarto trimestre do ano passado. A mídia e a Oposição não vão falar de outra coisa. Claro que é um número ruim, mas, ainda assim, o índice geral é excelente e mostra um país bem preparado” (algo assim). A Oposição em crise, obviamente, vai tentar aproveitar tudo que pode dessa crise internacional. O DEM, através das inserções partidárias, do Ex-Blog de César Maia e de outros pronunciamentos, já está fazendo isso há algum tempo. O PSDB, por causa de dilemas táticos e divisões internas, ainda não conseguiu afinar o discurso anti-Lula através da crise, mas logo, logo, vai chegar lá, porque, por enquanto, não existe nada mais forte do ponto de vista político-eleitoral. O problema desse discurso é que ele pode se esvaziar logo ali, dobrando a esquina. A crise é ampla, intensa e difícil de controlar. Mas é difícil de acreditar que ela se prolongue o suficiente para derrotar Lula em 2010. Antes de radicalizar seu “discurso da crise”, tentando transformar marola em tsunami, talvez fosse o caso da Oposição ler atentamente o que disse ontem, na sua posse, o novo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi:
“O país tem uma capacidade de crescimento e o mercado interno é a grande apólice de seguro que o Brasil tem para ultrapassar a crise mundial. A confiança do Bradesco no crescimento do país vem da mobilidade social que o país tem. A emergência de classes sociais vai ser uma boa perspectiva para o futuro do país”.Para ele, o Brasil vai sofrer menos que o resto do mundo. E é o que pensa também o presidente do Conselho de Administração do banco, Lázaro de Mello Brandão, que disse que é muito cedo para se falar em recessão:
“Não estamos no pior dos mundos. Acho que no segundo semestre vamos inverter esse quadro de queda do PIB e o país voltará a crescer”.
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terça-feira, 10 de março de 2009
Quem lava a roupa do Papa?
Não existe nada mais machista do que a Igreja Católica, toda construída sobre a pedra do preconceito. E esse artigo publicado no fim de semana no L'Osservatore Romano (jornal do Vaticano) é mais uma prova disso. “O que no século XX fez mais para liberar as mulheres ocidentais?”, pergunta o artigo, que dá a resposta no próprio título: “A máquina de lavar e a liberação das mulheres — ponha detergente, feche a tampa e relaxe”. Trata-se de um artigo-absurdo que "conta a história da máquina de lavar, desde um modelo rudimentar de 1767 na Alemanha até os equipamentos ultra modernos da atualidade" (O Globo) que foi assinado por uma mulher! No mesmo L'Osservatore Romano do dia 8 de março (Dia Internacional da Mulher), Lucetta Scaraffia tenta disfarçar a roupa suja da Igreja Católica com o artigo "Uguaglianza nella differenza - La Chiesa e la rivoluzione femminile" onde mostra que a Igreja Católica, baseada em Adão e Eva, defende a "igualdade na diferença" e considera essa diferença como dono di Dio all'umanità. Realmente, não há esperança para essa Igreja Católica. Só restará ao Papa ter que lavar sua própria roupa...
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segunda-feira, 9 de março de 2009
A Operação Solta e Agarra precisa ter um fim
Essa reportagem da Veja sobre o que seria uma operação clandestina do Delegado Protógenes Queiroz ou é mentirosa (é o que me parece) ou é verdadeira. Em ambos os casos é perigosa, altamente preocupante. Se for verdadeira, mostra um mundo policial clandestino capaz de ter na palma da mão as principais lideranças do poder público e também do setor privado. Esses policiais teriam condições, por exemplo, de decidir os rumos das próximas eleições. Suponhamos que fosse verdadeira a história da gravação de relações amorosas de Dilma Roussef (ela garantiu que se trata de uma história impossível). Poderia ser um caso banal, mas, dependendo do seu uso, teria força suficiente para mudar o próximo resultado eleitoral. Esse poder paralelo seria capaz de destronar todos os poderes constitucionais. Sendo falsa a história (como parece ser), mostra o submundo golpista das relações entre políticos e a mídia, mostra como agem os grupos dispostos a tomar de assalto o poder central. Tudo alimentado pela cultura da corrupção. É necessária uma investigação rigorosa, independente, imparcial, capaz de recuperar a credibilidade nas instituições e trazer de volta segurança à população. Mas como conseguir isso? O Delegado Protógenes Queiroz, que chegou perto de transformar-se em ícone da decência, com razão ou sem razão foi sendo esvaziado, desacreditado, transformado em retrato de qualquer coisa. O país está paralisado, impotente, incapaz de dar uma resposta firme e definitiva a tudo isso. Não se ouve nenhuma voz de bom senso - nem mesmo em escuta clandestina...
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Edir Macedo, José Linhares: dois livros, uma única descrição
O site Submarino traz um ato falho fabuloso. Quando você clica no livro de Edir Macedo, "Plano de Poder", para saber mais detalhes sobre o livro, recebe a descrição do livro "Voando para o sucesso: liberte a águia que existe em você" (de Jorge Linhares). Trecho da descrição: "Águias são animais de sucesso. Voam mais alto do que as outras aves, possuem asas imponentes e enxergam à distância com precisão. E o mais importante: elas sabem se renovar, trocando bicos e garras conforme a necessidade e ao longo da vida". Provavelmente o Submarino está querendo afundar as aves de rapina...
domingo, 8 de março de 2009
Obama, Lula e a crise, vistos por um Galbraith
Dá prazer ler uma entrevista como essa, do economista americano James K. Galbraith (feita por Martha Beck, do Globo). Além de ser filho damoso keynesiano John K. Galbraith, ele faz parte equipe de conselheiros do presidente Barack Obama e participou na quinta-feira, em Brasília, do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Sua visão é da crise é bastante objetiva, sem meio termos. Ao mesmo tempo, tem o cuidado de não parecer aquele conomista pretensioso do primeiro mundo que vem aqui nos dar aula de economia.
Colocar dinheiro nos bancos é um passo fútil
O GLOBO: Por que o senhor afirma que o governo do presidente Obama tem sido excessivamente otimista em relação à crise?
JAMES GALBRAITH: Todo o governo trabalha com a expectativa de que a crise vai acabar até o fim deste ano e que vai haver crescimento forte no ano que vem. Isso é baseado numa projeção mecânica de que a normalidade vai retornar em quatro ou cinco anos. Mas essa é uma visão equivocada, e a política adotada se baseia nisso. Veremos que ela será insuficientemente agressiva. Mais precisa ser feito.
O GLOBO: Quando o senhor acha que a dimensão da crise ficará clara?
GALBRAITH: As coisas vão piorar até que as pessoas que acreditam no término da crise no curto prazo pensem: ‘Bem, acho que isso não vai ocorrer logo. Devemos agir mais fortemente.’
O GLOBO: As medidas anunciadas até agora pelo governo americano não surtiram efeito no mercado financeiro. Essa é uma crise de confiança?
GALBRAITH: Confiança é algo superestimado. A crise não pode ter fim por uma mudança de humor. A razão dela é o colapso do sistema bancário. Há grandes instituições insolventes porque adquiriram ativos com risco excessivo, e que foram olhados de forma negligente
O GLOBO: Por que essa crise é mais grave do que outras?
GALBRAITH: Porque suas origens estão no derretimento do setor bancário. Trata-se do colapso da integridade do sistema bancário. Em outras crises, o problema era formado por choques externos dos quais o sistema se recuperava. Agora, bancos, muitos deles grandes, já passaram do ponto de recuperação.
O GLOBO: O que o senhor acha que ainda precisa ser feito?
GALBRAITH: Nos Estados Unidos, a ampliação dos benefícios previdenciários, por exemplo. Isso ajudaria a estabilizar a situação financeira de boa parte dos idosos, que foram muito afetados pela perda do valor de imóveis e investimentos. Isso seria uma forma de restaurar o poder de compra desse grupo. Também poderia haver uma redução de impostos sobre a folha de pagamentos. Isso daria aumento de renda à população para poder honrar compromissos, como pagar a hipoteca ou o carro.
O GLOBO: O que o senhor acha da estratégia de injetar dinheiro nos bancos em dificuldades financeiras?
GALBRAITH: Colocar dinheiro nos bancos não vai fazê-los emprestar mais. Eles não precisam de dinheiro para emprestar. Eles concedem empréstimos que geram dinheiro (para eles). Isso não estimula crédito. O crédito está travado. Esse é um passo fútil. Estão fazendo isso porque o Tesouro ainda é muito influenciado pelo mercado financeiro. A realidade é que, quando um banco falha, o governo tem que usar seu time de reguladores, fazer uma auditoria e identificar quanto do banco pode ser salvo. Mas agora os bancos envolvidos são tão grandes que os reguladores estão preocupados com as consequências sistêmicas desse tipo de medida.
O GLOBO: O senhor defende a criação de um banco público (no estilo do BNDES) para ajudar a financiar pequenas empresas em momento de crise. Qual a importância disso?
GALBRAITH: Numa crise, temos que sustentar muitos negócios. Deveria haver uma autoridade competente para fazer isso. Sem ela, a ajuda aos setores se mistura com decisões políticas e há prejuízo para a atividade produtiva.
O GLOBO: Como o senhor avalia a política social do governo de Barack Obama?
GALBRAITH: O governo Obama e o governo Bush são como dia e noite. O atual colocou a agenda social como prioridade. Estamos saindo de um governo que era reacionário e indiferente em relação a qualquer assunto social ou ambiental para um governo que está determinado a fazer alguma coisa.
O GLOBO: Qual o efeito da crise para os países emergentes?
GALBRAITH: Como a crise está centrada nos sistemas bancários americano e europeu, os países ricos vão sofrer mais com ela. Mas, de forma geral, os mais pobres são os mais afetados porque dependem das exportações para os países ricos.
O GLOBO: O governo brasileiro afirma que o país está mais protegido contra a crise em função de uma política econômica voltada ao crescimento, com a ajuda de programas de investimentos. O que o senhor acha disso?
GALBRAITH: Obviamente há verdade nisso. Depois de 1997, os países latino-americanos controlaram melhor seu sistema financeiro e não se envolveram nessa loucura do mercado subprime (de créditos podres). Eles podem não ser afetados pelos efeitos imediatos da crise. Espero que o governo brasileiro esteja investindo. Fazer investimentos públicos é o caminho para sair da crise e manter o crescimento econômico.
O GLOBO: O Brasil estuda a possibilidade de reduzir seu superávit primário para garantir investimentos públicos este ano. O senhor acha esta opção correta?
GALBRAITH: Essa é a coisa certa a se fazer. Num momento em que o setor privado está reduzindo investimentos, não há por que o setor público não agir.
O GLOBO: O que o senhor acha da política econômica do governo Lula?
GALBRAITH: Não vou fazer comentário ou dar conselhos ao Brasil. Há um péssimo hábito dos economistas americanos de sair do avião e imediatamente ditar regras para um país.
O GLOBO: Até que ponto o senhor acredita que deve haver uma intervenção do Estado na economia?
GALBRAITH: Acho esse conceito de intervenção estatal muito estranho. O Estado é parte da economia. Sem ele, sem regulação, a economia não funciona. Eu diria que a diferença entre um país desenvolvido e um não desenvolvido não é tecnologia, é a existência de uma regulação eficiente para o setor privado.
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sexta-feira, 6 de março de 2009
No local abaixo, farta distribuição de armas de fogo
Os fabricantes de armas e munição estão cada vez mais ousados. Agora eles criam condições especiais para que bandidos tenham acesso rápido, gratuito e seguro a armas dos mais variados tipos. Vejam o que aconteceu ontem, nessa fábrica de armas/stand de tiros da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), com 1.883.564 m2 de área total, em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, segundo divulgado na imprensa de hoje: assaltantes caminharam cerca de um quilômetro em uma mata para chegar ao local, renderam o vigia e retiraram as armas do cofre. Simples assim. Foram levadas pelo menos 40 pistolas, 14 fuzis, carregadores e há a suspeita de que os bandidos também tenham levado uma grande quantidade de munição. Ah, sim, é importante acrescentar que os criminosos ficaram por uma hora e meia no local, um Centro de Tiro usado para treinar policiais e seguranças particulares. Por último, foi informado que, agora, a segurança foi reforçada...
quinta-feira, 5 de março de 2009
César Maia: o Senado virou Câmara
Bom texto de César Maia no seu Ex-Blog sobre as des-funções do Senado Federal:
O SENADO SANGRA!
1. O Senado, na forma da Constituição Brasileira, não é a representação do Povo, mas dos Estados. Por isso mesmo, independente do número de eleitores, todos os Estados elegem 3 senadores. Embora tenha funções legislativas análogas à Câmara de Deputados, sua função constituinte máter é dar garantias ao bom funcionamento da Federação.
2. Nos últimos anos o Senado vem se transformando numa poderosa "Câmara de 81 deputados". Com apenas 81, a articulação das decisões se torna muito mais simples e com isso as compensações individuais e partidárias e as negociações. Toda a complexidade de 513 deputados é simplificada e a representação popular se torna afetada pela média aritmética entre Senado e Câmara de Deputados.
3. Com o abandono crescente de suas funções constitucionais de guardião da Federação, o Senado viu, passivamente, por omissão ou por desconhecimento, suas funções precípuas sendo invadidas pelo Ministério da Fazenda (MF). Há anos o Senado através da Resolução 43 regulamentou os limites de endividamento de EEs e MMs. O MF não dá a mínima bola e aplica seus critérios decididos administrativamente. O Congresso não regulamentou o Conselho da LRF. O MF entende que o Conselho é ele.
4. Uma série de conflitos de interpretação entre os Estados, Estados e Municípios e Estados/Municípios e a União, leia-se MF, há muito não tem o Senado como interlocutor. Isso vale para matéria não regulamentada como a emenda 29 da saúde, ou mesmo matéria regulamentada, como o Fundeb. A inscrição em despesas correntes ou de capital das receitas provenientes das folhas de pagamento pagas pelos bancos, da mesma forma. A contabilização das multas como despesa não-tributária ou não. E segue a lista.
5. Autodispensado de suas funções constitucionais precípuas e transformado em uma poderosa e flexível câmara de deputados, o Senado passou a viver, de forma concentrada, os problemas que os deputados vivem, para o bem ou para o mal, de forma diluída. Um senador passou a valer vários deputados, e com isso é a eles que se dirigem os lobbies, a pressão do governo federal, as pressões socioeconômicas, etc.
6. As matérias que dependem do Congresso, presidido pelo Senado, não andam. Há quase 10 anos não se vota os vetos em leis (que assim não se completam), nem as contas dos presidentes da república.
7. O Senado sangra. E se não recuperar suas funções constitucionais de Guardião da Federação, sangrará ainda mais, contribuindo para a amputação da democracia, com o Governo Federal intervindo, centralizando e transformando Estados e Municípios, os entes federados, em joguetes do MF e da presidência da república. A omissão constitucional e o poder abusivo assumido serão cada vez mais a contraface da moeda do desgaste de um poder central para a existência de fato da Federação.
quarta-feira, 4 de março de 2009
César Maia voltou das férias considerando Dilma candidata muito forte
César Maia é um político experiente e um marqueteiro de muitas teorias e inovações. Mas muitas vezes, tentando combinar as duas atividades, ele se mostra infantil. Esse seu retorno das férias é exemplo disso. No dia 2 de março, depois de cerca de dois meses fora do circuito, ele voltou com seu Ex-Blog, cheio de inovações. Boas, aliás - está bem diagramado, com tipografia melhor, tem foto e, pasmem, agora está revisado. Muito bem. Qual foi o tema que ele escolheu para o retorno? Isso mesmo, "DILMA DE LULA: UMA MIRAGEM!". Nesse texto, ele passa o tempo todo tentando provar que a hipótese de transferência de votos de Lula para Dilma é pura ilusão (ou "ilusão treda", como ele diz, o que não faz sentido para mim). Diz ele que "Dilma pode até subir em pesquisas pré-eleitorais, mas quando entrar no jogo e o eleitor descobrir que o personagem nada tem a ver com Lula, vai sair dele". Quem disse que o personagem não tem nada a ver com Lula? Tem tudo a ver. A classe média do "Sul Maravilha" reconhece isso e, no Nordeste, o candidato continuará sendo Lula. César Maia também sugere que a economia vai derrotar a candidatura de Lula - o que me parece absoluta miragem! Ele ainda finaliza dizendo que o "grande empresariado se assustou com a escolha do nome de Dilma, incluindo aqui quase a totalidade da grande mídia"! Esqueceu que isso de fato aconteceu na duas vitórias de Lula e que dessa vez, ao contrário, o "susto" já não pode ser tão grande. Agora me digam por que razão César Maia teria decidido marcar o seu retorno com ataques a uma "miragem"? Será que voltou da Europa imbuído de um certo espírito quixotesco, atacando inofensivos moinhos de vento? Nada disso. A verdade é que César Maia voltou assustado com o crescimento da candidatura Dilma. Identificou o perigo e procura passar argumentos de defesa para sua tropa. A tentativa de minimizar o efeito Dilma é marketing infantil e não terá nenhum resultado concreto. Demonstra, isso sim, a dificuldade de ser oposição no Brasil de hoje, que tem um governo batendo recordes de aprovação popular e com uma politica de combate à crise altamente eficiente. O que me parece é que esse novo Brasil está cegando a Oposição, fazendo-a ver miragens por toda parte...
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segunda-feira, 2 de março de 2009
Fernando Henrique, um marqueteiro envergonhado
Todos nós sabemos que a Oposição vive momentos difíceis, sem discurso, sem encontrar o caminho de ao mesmo tempo se opor a Lula e ter resultados eleitorais positivos. Fernando Henrique Cardoso, por seu passado de Sorbonne e de Presidente da República, acha-se (com alguma razão, claro) no direito e no dever de apontar a direção certa para a Oposição, ser o seu marqueteiro-mor. O seu artigo “O gesto e a palavra” publicado ontem no Globo e Estadão é um verdadeiro guia de marketing político – embora meio às avessas e bastante envergonhado. Antes, tentando mostrar que é um intelectual acima de qualquer populismo suspeito, ele cita momentos memoráveis de Churchill, Roosevelt e até Vargas, quando a palavra (em época de rádio, sem o poder da TV) teria mais valor do que imagens ou gestos: “Quando me recordo do “sangue, suor e lágrimas” dito por Churchill ao tornar-se primeiro-ministro em plena guerra contra o nazismo, do discurso em Fulton quando disse que uma ‘Cortina de Ferro descia sobre a Europa’, ou de vários pronunciamentos de Roosevelt como o de posse em plena Depressão, célebre pela frase ‘nada há a temer, exceto o próprio medo’ ou ainda de Getúlio Vargas no estádio do Vasco da Gama apelando aos trabalhadores, e comparo com a retórica atual, há um abismo a separá-los”. À margem das desculpas intelectuais, Fernando Henrique reconhece que há “algo de encantatório no modo pelo qual a política do gesto sem palavras (ou nos quais as palavras contam menos do que a forma) funciona substituindo o discurso tradicional”. Tentando resolver "o enigma da mensagem política", ele afirma que a Oposição precisa “inventar uma maneira de comunicar a indignação e as críticas que toque na alma das pessoas”. Fernando Henrique ainda esclarece que não está “dizendo que a comunicação política se resolve pela supressão do discurso analítico”. Mas conclui afirmando que programa político “só mobiliza a sociedade quando é vivido por intermédio do desempenho de personagens que tratam como próprias as questões sentidas pelo povo”. Na verdade, o texto marqueteiro de Fernando Henrique Cardoso trata de seu enigma político pessoal. Subir ou não subir em jegue? Comer ou não comer buchada? Ser ou não ser Sorbonne? Reportagem da Veja de 16 de setembro de 1998 mostra bem esse dilema:
Nas pesquisas qualitativas de Fernando Henrique, Nizan detectou que os eleitores viam o presidente como um homem distante dos dilemas do povo. Para corrigir, pediu a ele que desse mais entrevistas, num linguajar simples, e, em vez de falar que "os pescadores terão incentivos", deveria dizer que "você, pescador, terá incentivos". Recomendou que não fizesse o que não lhe é natural, como comer buchada de bode ou subir em lombo de jegue, coisas que FHC fez no passado. Por fim, copiou a campanha americana. Em 1992, o partido de Clinton tinha a mesma imagem de frieza com o povo e seu slogan foi feito sob medida: To put people first. Nizan só traduziu: colocou nas vinhetas da campanha: "Gente em primeiro lugar".Vivendo atônito em um mundo onde uma imagem fala mais do que mil palavras, Fernando Henrique vai endoidar de vez quando concluir que a palavra "Lula" vale mais do que um bilhão de pixels...
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domingo, 1 de março de 2009
Economista alemão repete Lula
O Globo de hoje apresenta boa entrevista com Reinhard H. Schmidt, professor de política financeira da Universidade Johann Wolfgang Goethe, de Frankfurt, sobre a crise global. A correspondente, Graça Magalhães-Ruether, em certo momento pergunta: “Os países emergentes, como China, Índia e Brasil, tiveram desaceleração em consequência da crise. O senhor acha que esses países terão mais problema em superar a crise?” Vejam se a resposta de Schmidt não lembra (para desespero da Oposição, principalmente Fernando Henrique) as palavras de Lula?
O mais importante é que, pela primeira vez, esses países vão a uma reunião internacional como atores e não com um papel passivo de aceitar as regras ditadas pelo Primeiro Mundo e pelas instituições financeiras. E os países que antigamente sofriam com as regras impostas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) podem agora, de cabeça erguida, dizer: “Não criem regras que vocês mesmos não são capazes de cumprir”.
Parabéns, Rio – cada vez melhor
Hoje o Rio faz aniversário, 444 anos. Ontem meu filho me enviou o link para um vídeo do voo de helicóptero sobre o Rio de Janeiro, feito em 1967, durante a produção do filme "Roberto Carlos em ritmo de aventura". É um vídeo excelente, com cenas maravilhosas (inclusive com o helicóptero passando por dentro do Túnel Novo, provando, com décadas de antecedência, que a cena final do Missão Impossível é possível). As pessoas costumam gostar porque mostra um Rio que não existe mais. Mas eu gostei exatamente porque mostra o Rio que continua existindo. Explico. É verdade que na época ainda não tínhamos o Rio Sul e o Morada do Sol, dois empreendimentos imobiliários que prejudicam a paisagem. Mas já podíamos ver o horroroso paredão de prédios de Copacabana. E mais: a Avenida Atlântica ainda não tinha o calçadão atual, que a torna mais bonita do que nos seus tempos acanhados. O prédio do Senadinho ainda estava lá, mas, com todo respeito à preservação do patrimônio cultural, a visão da Baía sem ele é mais bonita. O que é maravilhoso é saber que o mar, o Pão de Açúcar, o Cristo, todas essas belezas cariocas que o vídeo mostra continuam até hoje. A única imagem que era realmente melhor na época do vídeo é a de Roberto Carlos...
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BBB é o trote da Globo
A Rede Globo, recentemente, foi pródiga em denunciar os abusos dos trotes universitários ridículos que se espalham pelo país. Palmas para a Globo. Mas ontem, vendo na TV cenas humilhantes do BBB - o programa da Globo que tem garantido sua audiência na área popular e já está na sua nona série -, ocorreu-me que esse programa trata-se na verdade de um "trote global". Aquela dúzia de pessoas que passa no "vestibular BBB" é submetida o tempo todo a toda espécie de vexame, com exposição em rede nacional a situações semelhantes aos trotes universitários. Pior: no final do "curso", só um é "aprovado" e pode receber o seu "diploma" de um milhão de reais. É a aprovação da humilhação.
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