Pesquisas qualitativas realizadas na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro permitem depreender a lógica que rege eleitores de classes socioeconômicas C e D, principais focos de intenção de voto em Lula. Em meio aos resultados, a maioria a população revela acreditar que - quanto ao mensalão, CPIs e outros casos de suposta corrupção envolvendo membros do partido ou do governo - Lula não se beneficiou financeira ou politicamente, nem tomou parte em qualquer ato de corrupção. Há polêmicas quanto a se tinha conhecimento em relação ao que vinha ocorrendo anteriormente. Ainda assim, a percepção da população é de que muitos casos de corrupção estão aparecendo devido à própria não tolerância do presidente. Portanto, ao contrário do que alguns possam pensar, a interpretação de grande parte da população é de que os casos de corrupção não estão se multiplicando, mas sim as ações investigativas, que fazem transparecer problemas. A análise mais aprofundada dessa lógica evidencia alguns fatores fundamentais. Em primeiro lugar, Lula se beneficia da comparação com governos anteriores. É difundida a percepção de que “sempre houve corrupção”. Nesse contexto, o governo atual é considerado menos corrupto. Além de mais transparente e ativo no combate à corrupção. Em segundo lugar, certamente o principal alicerce do presidente está na identificação com a população. Lula representa a chegada do povo ao poder. Não apenas ouve, mas fala a linguagem do povo; não apenas conhece os problemas dos mais necessitados, mas os viveu na pele. É visto como “um do povo”. Essa identificação se constitui no seu principal trunfo, criando uma verdadeira “aura protetora”. A ponto de acusações de oponentes surtirem o efeito oposto, podendo ser apontadas como “armações da elite” para derrubar o primeiro representante do povo que conseguiu se tornar presidente do Brasil. Reforça ainda a favorabilidade a Lula a leitura de que conta com reconhecimento internacional. Seria um tipo de prova de sua capacidade, carisma e sucesso o fato de ser ouvido e aplaudido por líderes de grandes nações e entidades internacionais. A percepção de que existe tal reconhecimento, por sua vez, realimenta o orgulho por um representante do povo que chegou à direção do país e, ainda mais, encanta o mundo. A inflação controlada é outra das razões principais que explicam a preferência pelo presidente. Significa preços estáveis no supermercado. Finalmente, relatos revelam que a população de classes socioeconômicas mais baixas está conseguindo mais freqüentemente comprar carne. Antes de mais nada, esse fato soa ao eleitor desses segmentos como mais uma prova fundamental de que o governo caminha bem, gerando benefícios diretos para o povo. Deve ser ressaltado que a afirmação não contém qualquer juízo de valor. Trata-se, outrossim, de uma constatação, fruto de um olhar antropológico, da análise de relatos de representantes da população, em busca de desvendar as principais razões da favorabilidade ao presidente Lula e de sua performance durante o processo eleitoral. Lula mexe com a auto-estima da população. E com o seu dia-a-dia. Como votar contra um presidente que colocou carne na mesa para a sua família?
terça-feira, 31 de outubro de 2006
Bons motivos para Lula vencer
Cláudio Gama, antropólogo, mestre em Sociologia e Diretor do Instituto de Pesquisa Imagem,
publicou no Globo On Line – Opinião, em 29/09/2006, um artigo bem interessante ("A LÓGICA DE VOTO DO POVO") apontando algumas das boas razões - extraídas de inúmeras pesquisas qualitativas - para a vitória de Lula. Segue o texto completo, com destaques feitos por mim.