quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Com a marca não se brinca

Certa vez criei um anúncio institucional para a Petróleo Ipiranga onde raptei a letra “i” de todo o texto (ainda não conhecia o conto “O Rapto do O”). Como o nome Ipiranga tem dois “is”, a logomarca ficou escrita assim: “ p ranga”. O atendimento da agência (MPM) teve longa discussão comigo, não queria levar o anúncio, porque, como ele repetia, “com a marca do cliente não se brinca”. Ele estava errado e estava certo. Errado, porque eu não estava brincando – estava, isso sim, valorizando a marca que, até hoje, é uma grande letra “i”. (Ele acabou reconhecendo, o anúncio foi aprovado, veiculado e, se não me engano, premiado) E estava certo, “com a marca não se brinca”. Essa é uma lei fundamental do marketing. Que nossos marketeiros políticos teimam em não acatar. Já falei sobre o erro do PT em não saber proteger a bandeira da ética que durante tantos anos o partido carregou. É claro que é difícil, quando se chega ao poder de um país como esse, completamente desestruturado, eticamente falando. Mas deveria haver um mínimo de cuidado e as urnas mostraram isso. Agora foi a vez de Alckmin cometer o mesmo erro ao posar ao lado de Garotinho. Com um agravante: ele não tem outra bandeira para o 2º turno. Jamais acusaria Garotinho de corrupto. Mas ele acabou permitindo ser associado a essa marca, perdendo a força da imagem de “pai dos pobres”, “homem de família”, "família simples do interior”, “religioso”. O fato de Alckmin ter caído nessa esparrela só tem uma explicação: o “paulicentrismo” de que fala Cesar Maia hoje no excelente texto do seu Ex-Blog. Quero acrescentar, concordando também com Ciro Gomes, que foi esse “paulicentrismo” que prejudicou o governo petista – que só se salvou por conta da figura do Lula e seu “Grito do São Francisco”.
Trechos do Ex-Blog de Cesar Maia: "Como reagiria Geraldo (Alckmin, para quem não sabe...) se Maluf resolvesse lhe prestar apoio? O receberia em S. Paulo com pompas e circunstâncias? Afinal, na lógica do vale tudo pelo voto, deveria fazê-lo exatamente como o fez com Garotinho. Mas aí entra uma questão que a cada dia se torna mais grave: o paulicentrismo. É como se a federação brasileira fosse uma carga para SP, e que nos demais Estados valesse tudo, mas não em SP. (...) Parafraseando uma máxima de antigo presidente dos EUA: -SP não tem amigos, mas interesses. É essa a arrogância que passa. A taxa de identificação do eleitor do nordeste com Lula, numa proporção nunca vista em eleições brasileiras abertas, indica que há uma reação ao paulicentrismo, mais que um voto dos pobres. (...) O voto vencedor é virótico. Nesse sentido o entusiasmo do eleitor depende de sua convicção de que aposta no melhor. Votar simplesmente é uma decisão estática. O fundamental é votar e pedir votos,... multiplicar. A busca aética de votos agrega uns tantos e estes ficam por aí mesmo. E, ao se igualar nos métodos aos adversários, tira argumentos e entusiasmo dos que o apóiam."