quarta-feira, 4 de outubro de 2006

O governo Bush está construindo dois muros que envergonham o mundo

Ninguém tem boas recordações do Muro de Berlim, por mais que o mundo comunista pudesse apresentar belas justificativas de proteção contra a espionagem ocidental. E com certeza ninguém (pelo menos fora dos Estados Unidos) verá com bons olhos o muro busheano que vai separar o “sonho” americano do “pesadelo” mexicano. A gigantesca separação entre os territórios americanos e mexicano, para conter a imigração ilegal, vai custar “US$ 6 bilhões (R$ 12,9 bilhões), embora o senador democrata Harry Reid, da oposição, fale em US$ 8 bilhões (R$ 17,2 bilhões)”. O presidente mexicano, Vicente Fox, tradicional aliado dos Estados Unidos, disse que a barreira danificará as relações entre os dois países e que “o projeto é uma vergonha e o comparou ao Muro de Berlim”. O congressista democrata Ed Markey, membro do Comitê de Segurança Interna, afirmou que “a lei não aumentará a segurança contra a entrada de imigrantes ilegais que cheguem de avião”. E disse também que o governo deveria se preocupar mais com aumentar a segurança das usinas químicas do país, que ele diz terem pouca segurança contra um ataque terrorista. “Algumas boates de Nova York são mais difíceis de entrar do que nossas usinas químicas”, concluiu. (Leia mais na BBC) O outro muro da vergonha é mais sutil. Trata-se do software que está sendo desenvolvido pelo governo Bush para monitorar as opiniões negativas sobre os Estados Unidos ou seus líderes em jornais e outras publicações internacionais. A idéia é identificar “ameaças potenciais à nação”. Eles pretendem testar o sistema em centenas de artigos publicados em 2001 e 2002 com temas como “eixo do mal”, os detentos de Guatânamo, o aquecimento global e a tentativa de golpe contra Hugo Chávez. Lucy Dalglish, diretora executiva do Comitê pela Liberdade de Imprensa, repudiou o projeto e classificou-o de orwelliano. Curiosamente, o representante da agência de notícias russa Itar-Tass, Andrei Sitov, disse esperar que isso não vá muito além. Declarou ele: “O que faz seu país grande é a sociedade aberta, onde o povo pode criticar o seu próprio governo”. E pensar que até duas décadas atrás essa vergonha se encontrava do lado de lá do muro deles... (Leia mais no The New York Times)