segunda-feira, 2 de outubro de 2006
Não adianta chorar, errou tem que pagar
Os erros foram inúmeros. Um governo excelente, o melhor dos que tenho conhecimento, comprometido com investimentos sociais, hábil na política econômica, com grande apoio popular e reconhecimento internacional não poderia permitir erros tão grosseiros. Além da imprecisão na identificação das áreas conservadoras de resistência, acabou dando condições para que ela se fortalecesse ainda mais, com o poderoso apoio da mídia. A bandeira ética sempre foi bandeira petista. Mas era uma falsa bandeira. Não que o PT fosse antiético, mas porque não era o principal, o PT não era udenista-lacerdista. O objetivo petista era um governo democrático e popular onde as desigualdades fossem reduzidas substancialmente. A bandeira ética era usada nos grandes centros para agradar a classe média conservadora. Era uma bandeira que estava sempre à mão, porque os detentores do poder, desde sempre, não davam a mínima para a ética na política. Lembro inclusive que o slogan usado nacionalmente pelo PT em 92, aproveitando-se da tragédia Collor, era “Honestidade tem cara”. (Na época, fui chamado para fazer a campanha de Bittar – o Vereador mais votado do Brasil – e Benedita – campanha vitoriosa para Prefeita, apesar de não ter sido eleita – e fui contra usar esse slogan). Era o conceito que azeitava a entrada do PT nos grandes centros, servia de apoio para a conquista de fatias expressivas de “formadores de opinião”. Ao chegar ao poder, o PT esqueceu os próprios acertos. É verdade que é praticamente impossível governar e ao mesmo tempo ser ético em um país totalmente desestruturado, amarrado a uma máquina política antiética na essência, com um Congresso lastimável. É surpreendente, até, que o governo Lula tenha conseguido tantas conquistas sociais tendo que lidar com esse Congresso. Mas o PT tinha por obrigação conhecer “de cor e salteado” o efeito corrosivo da bandeira ética nos grandes centros. Não precisava, para exemplificar, ter um “serviço de espionagem”. A grande vitória, principalmente no campo ético, seria um “serviço de contra-espionagem” eficiente. O resultado está aí. Um governo de grandes conquistas sociais sendo rotulado pejorativamente de “populista”. E um partido que jamais lutou para se locupletar sendo minado pela imagem de “antiético” ou, pior, “bando de ladrões”. Esse erro brutal na construção da imagem pós-conquista do poder está custando muito caro ao PT. Mais ainda ao povo mais sofrido.