sábado, 2 de setembro de 2006

O sofisma de Lavareda

Antonio Lavareda (sociólogo e analista de pesquisas), com o apoio óbvio de Cesar Maia (um dos marqueteiros de Alckmin), está apresentando a tese (ou sugestão) de que a alta preferência do Nordeste por Lula pode levar a eleição para o 2º turno. Tudo parece bem argumentado. No Nordeste, Lula tem cerca de 70% das intenções de votos e lá, portanto, é o seu filé mignon (perdão...). Acontece que o Nordeste tem alto índice de Não-Votantes (Abstenção+Votos em Branco+Votos Nulos): 34,11% contra 26,29% da média nacional na eleição de 2002, uma diferença altíssima, sem dúvida, que leva qualquer um a pensar como Lavareda. Mas vamos aprofundar um pouco mais o raciocínio. Vamos separar a Abstenção (aqueles eleitores que não comparecem para votar) dos Votos em Branco+Votos Nulos (aqueles eleitores que votam deliberadamente contra todos os candidatos ou simplesmente erram). Notaremos que a diferença nas abstenções não é tão grande: 21,49% no Nordeste contra 17,74% na média nacional. Ou seja, a diferença maior está entre Votos em Branco+Votos Nulos, aqueles votos deliberadamente contra todos os candidatos. A conclusão mais lógica é a de que em 2002 o Nordeste não tinha o seu candidato do coração, como tem agora. Alguém duvida? Isso pode ser confirmado pelos votos que Lula teve em 2002 no Nordeste. Ele teve 30,23% de todo o eleitorado contra 34,23% na média nacional. E teve 45,88% dos Votos Válidos nordestinos contra 46,44% dos Votos Válidos de todo o país. E sabe qual era a intenção de votos em Lula no Datafolha de 30 de agosto de 2002? Era de 39% no Nordeste contra 37% em todo o país. Seu índice no Nordeste caiu em 2002 de 39% das intenções em 30 de agosto para 30,23% dos votos totais da eleição (o equivalente a 77,5% das intenções), enquanto seu índice nacional caiu em 2002 de 37% para 34,23%. Na pesquisa Datafolha do último 29 de agosto, Lula tem 70% de intenções de voto no Nordeste e 50% em todo o país (na espontânea está 58% contra 38%, enquanto em 2002 a espontânea no Nordeste era a mesma da média nacional 26%). Percebem a diferença? Alguém em sã consciência pode afirmar que a queda será a mesma, de 77,5%, com Lula chegando portanto a cerca de 55%? Claro que não. Hoje Lula é o candidato in pectore do povo nordestino. Se bobear, a sua queda (na relação "% de intenção" com "% de votos dos totais") no Nordeste será menor do que no resto do país. Não podemos nos enganar com qualquer manchete ou por qualquer avaliação precipitada – mesmo se for feita por quem sabe lidar com os números. Ou talvez exatamente por isso.