sábado, 16 de setembro de 2006

A poesia é concreta

Um poema é feito de palavras e silêncios. Um poema é difícil. (Décio Pignatari, 2 de abril de 1950)
No dia 26 de setembro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo vai comemorar os 50 anos da "1ª Exposição Nacional de Arte Concreta" com a mostra "Concreta 56 - A Raiz da Forma". A força da Poesia Concreta, construída desde reuniões entre os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari em 1949, deve ser comemorada sempre. Poucos movimentos da cultura mostraram tanto vigor como o da Poesia Concreta. Sempre provocou incompreensões e reações contrárias, como o comentário de um jornal sobre a exposição de 50 anos atrás, que pôs em manchete: "Mesmo sendo ‘concretos’, ninguém entendeu nem poesias nem quadros". A Poesia Concreta ganhou raízes profundas, ganhou o mundo e se mantém concreta até agora. Na Folha de hoje, Marcos Augusto Gonçalves entrevista Augusto de Campos. Trechos:
“(...) a massificação cultural é um fato iniludível da "overpopulation", do baixo nível de escolaridade, da exaustão mental provocada pelos trabalhos forçados do ganha-pão acachapante. A poesia, se não resolve, consola o ser humano da sua miserabilidade, da sua incognoscência, das precariedades do seu "design" imperfeito. Dá-lhe, quem sabe, a ilusão de estar um pouco acima. E o seu desvalor econômico, o seu fracasso antipopulista, num mundo obcecado pelo lucro e pelo sucesso, lhe conferem uma força ética ímpar. Os livros estão de pé na estante. Muito pouco na TV, é verdade, mas cada vez mais nos desvãos e desvios da internet, que embute uma verdadeira revolução cultural nas suas reservas "interguêticas" e nos seus reservatórios enciclopédicos. Quem quiser buscar mais e melhor, que vá atrás. (...) A tecnologia chegou a ser uma esperança para otimistas-natos como Buckminster Fuller e John Cage, cujo anarquismo tecno-zen rimava com o bárbaro tecnizado de Oswald. Estamos longe de chegar perto desses formosos ideais. Mas olhamos para os olhos de uma criança e temos de acreditar que um dia (que não verão os septuagenários como eu) a 'humanimaldade' será mais sensível e menos insensata. Quem sabe se a tecnologia, multiplicando o acesso à informação e aos recursos materiais, não pode dar uma boa mão a um maior solidarismo social, se os gigaglutões econômicos do Primeiro Mundo não continuarem a querer tudo só para eles. Mesmo porque, se não tomarem juízo, o bumerangue da pobreza ainda poderá recair sobre as suas cabeças.”
(entrevista completa, para assinantes)