sexta-feira, 1 de setembro de 2006
Os candidatos teleglobais
A idéia das entrevistas exclusivas com os principais candidatos a presidente nos telejornais da Globo é muito boa. Para a Globo, principalmente. Excetuando-se as entrevistas no Jornal Nacional, as outras foram feitas tarde da noite, para um público limitado, que já conhece de sobra as idéias e propostas dos candidatos. As entrevistas servem muito mais para se tentar perceber temperamento e caráter de cada um – além de suas habilidades para lidar com câmeras de TV. Na série de entrevistas do Jornal da Globo, encerrada ontem, Alckmin foi quem melhor lidou com as câmeras. Olhou principalmente para os entrevistadores, mas soube olhar nas horas certas para a câmera-telespectador. Falou pausadamente e didaticamente. Evitou responder perguntas que o identificavam com o governo FHC. Lula olhou apenas para os entrevistadores. Falou sério, sem se deixar intimidar. Cristovam Buarque e Heloísa Helena perderam-se completamente com o jogo de câmeras. Não sabiam para onde olhar. Quando olhavam para o telespectador, faziam isso de forma dúbia. A “percepção” que cada um deles passa obviamente pode variar de pessoa para pessoa, mas tentarei passar um visão mais geral, ou o que poderia ser (ou se transformar em) a marca de cada um. Cristovam é o mais difícil. Não dá para perceber exatamente quem ele é, se é apenas confuso, se é ultrapassado e repetitivo, se é sincero ou oportunista. Seu jeito é meio desleixado, mas tudo isso pode ser apenas alguma inexperiência. Heloísa Helena é fácil: é agressiva. Teve que se conter várias vezes. Cheguei a pensar que partiria para os tabefes nos apresentadores. Alckmin é acima de tudo aplicado. Passa insegurança, falta absoluta de carisma, um jeito bobo de ser. Mas ele é persistente, obstinado. Está se dedicando no dever de casa. Possivelmente tentará ser novamente governador de São Paulo. Lula é o impaciente. Não anda se sentindo à vontade com jornalistas – o que de certa forma é compreensível, diante da pancadaria sistemática contra ele. Foi eficiente nas respostas, mas não conseguiu ser minimamente simpático. Conhecer um pouco da “alma” dos candidatos tem o seu valor. Afinal, pelo menos em parte, são essas “almas” que poderão estar conduzindo os destinos do país.