quarta-feira, 13 de setembro de 2006

O xadrez eleitoral do Rio

Em um ano eleitoral cheio de resultados previsíveis, é ótimo (do ponto de vista da análise eleitoral) uma disputa que ofereça algumas alternativas. É o caso da eleição para Governador do Rio de Janeiro, com alternativas bem interessantes – embora a tendência maior ainda seja a vitória do candidato Sérgio Cabral (PMDB) no 1º turno. Aliás, é exatamente aí que está o enigma – que peças mover para que haja ou não o 2º turno?
Três candidatos estão nessa disputa direta. No Datafolha, Sérgio Cabral tem 44% das intenções de votos (51% dos votos válidos). Marcelo Crivella (PRB) e Denise Frossard (PPS-PL-PV) disputam o segundo lugar, na faixa dos 18% a 15%, com Denise Frossard em ascensão e Crivella em queda. Os perfis dos eleitores de Sérgio Cabral e Crivella se parecem mais: Povão, Periferia, Interior. Denise Frossard é mais forte na Capital (Zona Sul, Zona Tijucana), faixa de renda e ensino Superiores. É o voto mais Popular contra o voto mais Classe Média Conservadora. Sérgio Cabral é do partido de Garotinho, mas conseguiu se desvencilhar da imagem negativa do ex-Governador (exceto na Interior e parte da Região Metropolitana, onde Garotinho ainda tem força). Ao contrário de Garotinho, Sérgio Cabral tem alguma aceitação junto à Classe Média Conservadora, mas sem a mesma força de Denise Frossard. Crivella, por ser da Igreja Universal, é altamente rejeitado na Capital, particularmente na Zona Sul e Barra. Para evitar 2º turno, Sérgio Cabral terá que conquistar eleitores de Crivella e crescer na Capital, impedindo o avanço de Denise. A Crivella, em queda, só resta tentar conquistar eleitores de Sérgio Cabral (perfil mais próximo) para ficar em 2º e ainda forçar o 2º turno (e é isso que explica as baixarias de sua campanha na direção de Sérgio Cabral). Denise, que passou de franco-atiradora para se tornar uma ameaça real a Crivella (e até mesmo à vitória de Sérgio Cabral no 1º turno), tem movimentos mais óbvios, na direção dos votos Brancos-Nulos-Indecisos. Esse é um nicho dos eleitores com perfil semelhante aos dos seus próprios eleitores: Conservador, Moralista, Lacerdista. Crescendo nesse segmento, ela pode conseguir ao mesmo tempo forçar o 2º turno e ultrapassar Crivella.
Os outros candidatos não têm como influenciar muito no processo. Vladimir (PT), Milton Temer (PSOL), Lupi (PDT) e, principalmente, Eduardo Paes (PSDB) saem dessa eleição bastante enfraquecidos. Só resta a eles torcer por um 2º turno e conseguir com isso fazer alguma negociação de apoio. A Vladimir não imagino o que interessa, mas ao PT, com certeza, interessaria um 2º turno entre Sérgio Cabral e Denise Frossard (apoiaria o primeiro); Milton Temer e seu PSOL teriam dificuldades em apoiar qualquer um deles. Lupi provavelmente caminharia com Sérgio Cabral. E Eduardo Paes com certeza está torcendo por um 2º turno entre Sérgio Cabral e Crivella.
Resta ainda saber de quem seriam os votos da Abstenção (ou seja, das pessoas que não irão votar). Hoje, os Votos Válidos estão em 86% (excluem os votos Brancos+Nulos+Indecisos), mas no dia da eleição eles poderão ficar entre 79% e 81% (excluem Abstenção+Brancos+Nulos). Quem deixará de votar em maior número: o Povão menos informado ou a Classe Média desiludida? Falta pouco para o xeque-mate.