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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Lulão, o poetão do Complexo Alemão
Quem me enviou a notícia foi a sogrona.
O repentista Lulão
cheio de animação
no Complexo do Alemão,
pra espanto de Lindberg, Cabral e Pezão...
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Legalizar o jogo é bom ou ruim? Façam as apostas...
Quando trabalhava na MPM, a agência ganhou (ou estava prospectando, não sei) a conta de um cassino (ou seriam todos os cassinos) em Aruba. Lembro que fiz um anúncio (não deve ter sido veiculado) que gostei muito e que dizia: “Jogue fora o dia-a-dia. Jogue em Aruba”. Lembro também de histórias contadas pelo profissional que atendia a conta. Disse que quando estava em visita ao cassino o cliente apontou alguém que estava jogando e disse: “Aquele ali tem crédito de até 4 milhões de dólares. É ministro na Bolívia”. Outra vez me contou que tinham chegado ao Rio dois “representantes” do cassino – para cobrar dívida de alguém...
Apesar desse, digamos, envolvimento que tive, sempre fui contra jogar a dinheiro. E me tornei, naturalmente, sem moralismo, contra a legalização do jogo. Mesmo assim, ainda na MPM, fiz muitas campanhas, algumas premiadas, para as loterias da Caixa. E sempre adorei ver “The Cincinnati Kid” (“A Mesa do Diabo”, com Steve McQueen e Edward G. Robinson) ou o pôquer do Cassino Royale . Na semana passada, li que o Governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, tinha defendido publicamente a legalização do bingo. Antes, já tinha defendido a descriminalização tanto da maconha quanto do aborto e comentei que ele, definitivamente, adorava uma polêmica. Ele respondeu dizendo que era sempre polêmica das boas causas. E, para certa surpresa minha, acrescentou: “Te confesso que não acho a menor graça em jogo e apostas. Nunca fui a Las Vegas na minha vida nem a Punta del Este. Entretanto tenho pavor de burrice!!!”
Basicamente, Sérgio Cabral argumenta que a maioria dos países (como Estados Unidos, Itália, Canadá, Argentina e China) permite os jogos, mas o Brasil não - o que faz com que o dinheiro gerado acabe não sendo destinado a fins sociais.
“O Brasil tem problemas muito maiores quando torna o jogo ilegal porque a renda não é destinada a ajudar pessoas como acontece na Loterj”, declarou Sérgio Cabral aos jornais.
Não me considero burro, mas ainda tenho algumas dúvidas. Quero dizer, porém, que essa nova polêmica lançou novos dados na cabeça e comecei a tender mais para a legalização. Preto ou vermelho?
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Lula e a praia
(foto Época Negócios)
Não fui à despedida de Lula, ontem, no Sambódromo. Mas tenho uma boa justificativa: só consegui chegar da praia (em plena segunda-feira, com direito a palmas para o pôr do sol!) mais de nove da noite. Mas podem ter certeza que estive presente de corpos e almas.
Sou prefeito, mas quero distância...
A seção "Há 50 Anos", hoje, no Globo, fala de um italiano que vivia no Brasil há quase 30 anos, foi à Itália, elegeu-se prefeito com mais de 70% dos votos, passou procuração para um funcionário da prefeitura e voltou a viver no Brasil! Já pensou se a moda pega...
domingo, 19 de dezembro de 2010
Impedida a veiculação de campanha em defesa do ateísmo: graças a Deus!
Li hoje na Folha, em bom artigo de Vera Guimarães Martins (“Ateu é a mãe”), que “morreu pagã, sem receber o batismo das ruas, a campanha publicitária contra o preconceito que a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) previa para este mês”. O veto veio das empresas de ônibus de São Paulo, Salvador e Porto Alegre (onde seriam veiculados os busdoors) que provavelmente não quiseram ver seus faturamentos excomungados. Mas acho que teve dedo de Deus a favor dos ateístas, porque, pelo que vi das frases que seriam usadas, a campanha prometia ir direto pro limbo – ou na hipótese mais angelical virar piada até no inferno. Vejam as frases: "se Deus existe, tudo é permitido"; "a fé não dá respostas, só impede perguntas"; "somos todos ateus com os deuses dos outros". Parece o texto que escrevi, aos 17 anos, nos primeiros passos rumo ao materialismo, tentando provar que Deus não existia. Lembram também algumas peças da propaganda cristã, como: “Senhor Deus, em nome de Jesus, liberta o Brasil”, colocadas em outdoors nas estradas (como se Deus costumasse passar de carro por ali) ou “Deus é fiel”, muito comum em adesivos de carro (sempre digo que quem é Deus não é fiel a ninguém).
O que mais deixou minh’alma triste, como uma rola aflita, foi saber que a campanha foi vetada também na Austrália, país considerado uma “Democracia Plena” pela pesquisa da revista The Economist (veja aqui) e saber ainda que, na Itália, foi o próprio governo que proibiu a veiculação (país, aliás, que na mesma pesquisa passou de “Democracia Plena” para “Democracia Imperfeita”). Acho justo que haja espaço para que ateus se manifestem e tentem apagar esse estigma de capeta que carregam através dos séculos. Mas, por favor, vamos ser mais materialista nessa conceituação. A campanha pode ser feita sem se tornar penitência para seus fiéis. (Ou seriam infiéis?)
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sábado, 18 de dezembro de 2010
Wikileaks e a ciberguerra
No seu artigo de hoje no Globo, Merval Pereira sintetiza uma importante discussão sobre as questões colocadas em pauta pelo fortalecimento das redes sociais. A partir dos estudos do sociólogo espanhol Manuel Castells, professor da Universidade Southern California, e de Rosental Calmon Alves, professor brasileiro da Universidade do Texas, em Austin, ele fala da nova guerra ciberespacial que se desenvolve entre os Estados e a sociedade civil internauta. O Wikileaks rompeu as fronteiras de paz até agora estabelecidas. A democracia, como conhecemos, sobreviverá?
NOVAS RELAÇÕES DE PODER
Merval Pereira
O ponto central dos estudos do sociólogo Manuel Castells, professor da Universidade Southern California, sempre foram as relações de poder. No seu novo livro, “Comunicação e poder”, ele chega à conclusão de que as redes de comunicação social mudam a lógica do poder na sociedade atual, e já não se pode fazer política se não se levam em conta a crescente autonomia e o dinamismo da sociedade, utilizando a desintermediação dos meios de comunicação.
Com o caso WikiLeaks em plena evolução, provocando discussões sobre o papel dos novos meios de comunicação, o livro de Castells torna-se fundamental para entender o que se passa.
Ele ensina que, como as redes organizam o mundo das finanças, da produção, da comunicação, da política, das relações interpessoais, só uma teoria que parta da relação nessas redes de poder pode chegar a entender a prática social e política da sociedade atual.
“Cheguei à conclusão de que o poder era fundamentalmente o hábito da comunicação e necessitava entender a transformação da comunicação para entender a transformação do poder”, disse ele em recente palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso.
Ele revelou que, durante seus estudos de neurociência para o livro, teve acesso a trabalhos que indicam que as pessoas não buscam informações para se informar, mas, sim, para confirmar o que já pensam.
E também que o medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que alguém recebe.
Escrevendo sobre o episódio WikiLeaks para o jornal espanhol “La Vanguardia”, artigo que já citei em coluna passada, Castells afirma que a ciberguerra começou.
“Não uma ciberguerra entre Estados como se esperava, mas entre os Estados e a sociedade civil internauta.”
Para ele, não está em jogo a segurança dos Estados, pois considera que nada do revelado põe em perigo a paz mundial, nem era ignorado nos círculos de poder. O que se debate, segundo ele, é o direito do cidadão de saber o que fazem e pensam seus governantes. E a liberdade de informação nas novas condições da era da internet.
Castells cita um comentário da secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em janeiro deste ano: “A internet é a infraestrutura icônica da nossa era… Como acontecia com as ditaduras do passado, há governos que se voltam contra os que pensam de forma independente usando esses instrumentos.” E questiona: “Agora (depois dos vazamentos do WikiLeaks que colocaram a diplomacia americana em polvorosa) ela aplica a si mesma essa reflexão?”
Castells diz que a questão fundamental é que os governos podem espionar, legal ou ilegalmente, os seus cidadãos, mas os cidadãos não têm direito à informação sobre aqueles que atuam em seu nome, a não ser na versão censurada que os governos constroem.
Nesse grande debate, diz ele, vai se ver quem realmente são as empresas de internet autoproclamadas plataformas de livre comunicação e os meios de comunicação tradicionais tão zelosos de sua própria liberdade.
Para Rosental Calmon Alves, professor brasileiro da Universidade do Texas, em Austin, especializado em novas mídias, o caso é muito mais complexo do que parece, pois “marca o início de uma nova era”.
Ele historia: vivemos em uma sociedade calcada em bases de dados. Nossos rastros digitais vão sendo deixados por toda parte, armazenados em computadores e vão desde as imagens capturadas pelas câmeras que se espalham pelas ruas, pelos nossos locais de trabalho, pelos elevadores, por todas as partes nas cidades mais modernas, até mesmo os documentos oficiais que se criam aos milhões e milhões em todos os governos do mundo.
Guardar todos esses dados em segredo torna-se um desafio cada vez mais difícil. E, quando há um vazamento, o volume de dados pode ser tão imenso quanto os desses últimos atraídos pelo WikiLeaks.
Segundo Rosental, são muitos os desafios novos para os governos e as corporações, que tentam erguer defesas e criar fortalezas cibernéticas. “Não foi à toa que o presidente Obama criou um comando militar cibernético e toda uma assessoria de segurança nacional nesta área”, lembra.
Fala-se abertamente de uma futura guerra cibernética mundial.
Nunca mais “o mundo não será o mesmo”. E Rosental teme que muitas coisas poderão piorar, como o surgimento de leis mais estritas nos Estados Unidos sobre a publicação de segredos, “que podem afetar liberdades essenciais que estão nas bases da democracia americana”.
Rosental lembra que essas liberdades “ajudam nos pesos e contrapesos (checks and balances) que fazem o sistema democrático funcionar mais eficientemente aqui que em outros lugares”.
Os funcionários aqui, destaca Rosental, sabem que trabalham num ambiente relativamente aberto, que suas ações, mesmo quando secretas, serão públicas um dia, por motivos históricos ou porque algum cidadão pediu satisfações. “O funcionário sabe que trabalha para o publico e não para o governo”.
Mas o problema é que os vazamentos mostram que qualquer coisa pode se tornar pública a qualquer momento, quase de imediato e de forma anônima.
Como parte deste contexto, as reações exacerbadas chegam a ponto de haver políticos republicanos que falam até mesmo de uma “necessidade” de matar Julian Assange (criador do WikiLeaks), até da formulação de um processo contra o WikiLeaks, o que, na opinião de Rosental, “seria um precedente extremamente daninho para a liberdade de expressão no país e no mundo.
“Tomara que os mais exaltados se acalmem e que a democracia americana saiba responder aos desafios criados por esta situação, sem abrir mão de seus princípios mais fundamentais”, espera Rosental Calmon Alves
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
O mapa da democracia: curiosidades
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A revista The Economist tem um instituto de pesquisa, Economist Intelligence Unit, que divulga a cada dois anos o ranking dos países com relação à prática da democracia. Os critérios são de “Processo Eleitoral e Pluralismo”, “Funcionamento do Governo”, “Participação Política”, “Cultura Política” e “Liberdades Civis”. E as faixas das classificações dos países são “Democracias Plenas” (26 países), “Democracias Imperfeitas” (53 países), “Regimes Híbridos” (43 países), “Regimes Autoritários” (55 países), além de alguns países que não foram classificados. O Brasil continua na faixa das “Democracias Imperfeitas” (chegou a cair na classificação) e os Estados Unidos continuam entre as “Democracias Plenas”. Mas existem algumas surpresas interessantes:
- Os Estados Unidos estão em ligeira queda na sua pontuação, mas subiram da 18ª para a 17ª posição – ainda assim atrás de países como a República Tcheca e Malta.
- Os únicos países das América Latina classificados como “Democracias Plenas” são o Uruguai (21º) e a Costa Rica (24º).
- Dos 21 países da Europa Ocidental, 15 sentiram erosão na democracia, sendo que 3 nomes tradicionais da “Democracias Plenas”, França, Itália e Grécia, caíram para “Democracias Imperfeitas”.
- E agora a grande surpresa, especialmente para a mídia que se preocupa mais em criticar do que analisar: o Brasil vence os Estado Unidos em dois critérios: “Processo Eleitoral e Pluralismo” e em “Liberdades Civis”.
Acesse a reportagem completa clicando aqui ou aqui para se cadastrar na Economist Intelligence Unit
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Morreu "o" Pantera: Blake Edwards
The American Way of Censorship
Na ditaduras, a censura é comum, certo? Certo.
Nos Estados Unidos, conhecidos como a maior democracia do mundo, isso não acontece, certo? Errado.
A Guerra do Iraque e a prisão de Guantánamo já comprovaram que o governo americano utiliza-se da tortura quando bem quer. E agora o Caso Wikileaks serve para demonstrar que a censura também faz parte do menu do governo que tão ardentemente critica Cuba, China, Coreia, Venezuela, etc., etc. A ação do governo americano – através principalmente do seu Departamento de Estado – procurou desde o primeiro instante impedir que o Wikileaks divulgasse a arrogância da política externa. Procura, ainda hoje, classifica o líder do Wikileaks, Julian Assange, como espião e faz o que pode para conseguir a sua extradição e prisão – seria em Guantánamo? Fez pressão contra a sua (liberdade de) imprensa e agora chega à censura direta, proibindo que nos computadores de sua Força Aérea haja acesso a sites não apenas de jornais como The Guardian (inglês), Le Monde (francês), Der Spiegel (alemão) ou El País (espanhol) como o próprio The New York Times, que publicou uma nota na sua edição de terça-feira, mas, surpreendentemente, não protestou. Pecado desses jornais (o mesmo da Folha, do Globo e de outros órgãos de comunicação brasileiros)? Divulgar o que o Wikileaks tornou público!
Ninguém tira da minha cabeça que também houve dedo do governo na escolha pela revista Time do criador do Facebook (ao invés de Assange, como era de se supor) como Personalidade do Ano. Yahoo, The New York Times e outros criticaram a decisão da Time. Jacob Weisberg, editor-chefe da Slate, escreveu em seu twitter (@jacobwe) “Gutless of Time not to name Assange” (“não escolher Assange foi covardia da Time”). Acho que foi mais do que isso – foi censura disfarçada. Que podemos esperar do novo “American way of life” – cancelamento das próximas eleições?
Todos nós esperamos que os Estados Unidos continuem como os grandes defensores da democracia – por mais que ela tenha seus defeitos, certo?
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Eleição de Campos: nem imexível, nem remexível – é incrível!
Ontem o TSE lançou uma ducha de água fria na fervura da oposição campista ao garantir a Garotinho o direito de assumir o mandato de deputado federal que conquistou por quase 700 mil votos. O resultado é incrível em todos os seus aspectos. Vamos entender.
- O processo contra Garotinho e Rosinha por abuso de poder econômico e campanha antecipada nas eleições de 2008 foi iniciativa do adversário Arnaldo Vianna junto à Justiça Eleitoral de Campos (1ª instância).
- Acontece que, depois disso, Arnaldo Vianna foi condenado, e o Juiz considerou que ele não teria mais legitimidade na denúncia – por isso arquivou o processo.
- Foi feito recurso ao TRE que considerou haver legitimidade e foi além: julgou o caso e concluiu, diante das provas contundentes do processo, que Garotinho e Rosinha deveriam ser cassados.
- No TSE, o que se discutiu (e aparentemente não poderia ser de outra forma) não foi a culpa ou não do casal Garotinho – mas se o TRE poderia ou não ter feito o julgamento. Três juízes, inclusive o relator, consideraram que o TRE agiu corretamente, enquanto outros três consideraram que o TRE deveria ter devolvido o processo à 1ª instância para que lá, sim, fosse feito o julgamento. O desempate foi feito pelo presidente do TSE a favor da tese da defesa de Garotinho.
- O primeiro resultado disso foi excluir Garotinho da Lei Ficha Limpa, já que ele não teve condenação proferida por órgão colegiado (TRE, por exemplo). Isso garante que ele tome posse como deputado federal.
- O segundo resultado foi a possibilidade de Rosinha retornar à Prefeitura, de onde foi afastada por causa de sua condenação (no mesmo processo) no TRE, que agora foi anulada.
- O terceiro resultado é a óbvia desmobilização da oposição campista, que sonhava em vencer a eleição do próximo dia 6 de fevereiro – que deverá ser cancelada.
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terça-feira, 14 de dezembro de 2010
No ar, a eleição de Campos: situação imexível ou remexível?
É sempre difícil compreender o processo político-eleitoral em Campos dos Goytacazes. É um município que respira política com muita intensidade e conta com muitos nomes de projeção. E tudo fica ainda mais complicado quando são 12 partidos (PDT, PT, PV, PMDB, PPS, PSB, PTdoB, PCB, PCdoB, PSL, PRP e DEM) tentando encontrar um denominador comum para a próxima eleição suplementar, marcada pelo T.R.E. para o dia 6 de fevereiro (leia mais na minha postagem "Campos e a arte da política: um por todos? todos por um?"). O próprio governo do estado, que certamente gostaria de comandar o processo, mostra-se cauteloso, como se tratasse de uma situação imexível. De fato, ainda há incertezas sobre as confirmações ou não das inelegibilidades de Garotinho e de Arnaldo Vianna, os dois principais líderes da política local; é preciso saber se o afastamento de Rosinha é ou não é definitivo (o que é difícil saber agora); é preciso saber se o atual prefeito provisório, Nelson Nahim, será ou não será candidato – e, caso seja, se estará lado a lado com o irmão, Garotinho, ou se caminhará com a oposição. Por outro lado, as candidaturas continuam remexíveis. A última novidade é que a chapa que poderia ter Odisséia (PT) na cabeça e Odete (PCdoB, com apoio de Picciani, do PMDB) como vice agora sofreu uma reviravolta: a cabeça de chapa poderá ser Odete e a vice Odisséia (vai entender!). Amanhã os doze partidos da oposição marcaram mais um reunião (a data final de inscrição de chapas é domingo). Hoje à noite estarão todos ligados na TV Justiça acompanhando o julgamento de Garotinho. Audiência imexível...
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Wikileaks X US-leaks: quem espionou quem?
Acho que já está mais do que claro que o Wikileaks (o wikileaks.com está fora do ar por imposição americana, mas pode ser acessado o site brasileiro ou o Twitter) não roubou segredos americanos. O que realmente fez foi divulgar informações sigilosas que recebeu de um cracker. Exatamente o que, indiretamente, fizeram e continuam fazendo The Guardian, The New York Times, Folha de São Paulo, O Globo, e muitos órgãos de comunicação em todo o mundo. Claro que é grave a divulgação de informações que comprometem toda a diplomacia internacional – mesmo considerando a luta pela transparência. Mas o mais grave é a arrogância americana em toda essa questão. Arrogância que transparece no conteúdo do que foi divulgado e arrogância pela displicência na sua segurança. Mas existe mais uma questão: segundo informa o site do Council on Foreign Relations (Foreign Affairs), o Departamento de Estado americano pensa em usar todos os argumentos e toda sua força para processar o responsável pelo Wikileaks, Julian Assange, por espionagem. Pretende enquadrá-lo no Ato de Espionagem e obter extradição junto à Inglaterra ou à Suécia. Mas o que fazer então com a Secretária de Estado Hillary Clinton, que teria mandado espionar diplomatas da ONU? Ela – ou o governo que representa – não se enquadra no Ato de Espionagem americano? Vai sair dessa impunemente? Não pode haver extradição? Claro que o governo americano não pode se considerar espião. Mas e o resto do mundo, como fica? A minha sugestão é que o Tribunal de Haia (Tribunal Internacional de Justiça ou Corte Internacional de Justiça, principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas) pronuncie-se a respeito. E que o governo americano pare de jogar na conta do Wikileaks todo o peso da sua incompetência.
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domingo, 12 de dezembro de 2010
Campos e a arte da política: um por todos? todos por um?
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Campos dos Goytacazes é o maior município (4.031,91km²) do Rio de Janeiro. Tem cerca de 460.000 habitantes e de 335.000 eleitores, é o que tem a maior arrecadação de royalties do petróleo e, segundo o IBGE divulgou nessa semana, foi o município que apresentou “maior ganho de participação percentual do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2008, entre aqueles que contribuíam com pelo menos 0,5% do PIB nacional”.Apesar de todos esses números, o maior destaque que Campos costuma receber é na política, onde todos os seus personagens apresentam grande habilidade – e ao mesmo tempo têm grande capacidade de embaralhar tudo. Desde 2004, quando foi eleito Carlos Alberto Campista, nenhum prefeito consegue completar os quatro anos de mandato. O próprio Campista (que coordenei a campanha no segundo turno) não durou 5 meses. Nos últimos 10 anos, tivemos no cargo Arnaldo Vianna (PDT), Campista (PDT), Pudim (PMDB agora deputado federal não re-eleito pelo PR), Mocaiber (PSB), Roberto Henriques (vários partidos, agora PR), Rosinha (PR) e Nelson Nahim (PR), além da presença permanente de Garotinho, duas vezes eleito prefeito (88 e 96) e que também é marido de Rosinha (atualmente afastada do cargo pela Justiça eleitoral) e irmão de Nahim (atual prefeito temporário). Isso já seria suficiente para comprovar que existe algo diferente na política de Campos. Mas existe muito mais. Garotinho, em 92, elegeu o seu vice, Sérgio Mendes, e tentou ser governador em 94. Rompido com Sérgio Mendes, elegeu-se novamente prefeito em 96. Em 98, elegeu-se governador (coordenei sua campanha) e deixou no lugar o seu vice, Arnaldo Vianna, que se re-elegeu em 2000. Em 2004, rompido com Arnaldo Vianna, Garotinho apoiou Pudim (vice de Arnaldo) contra o candidato oficial, Campista. Derrotado nas urnas, Garotinho venceu Campista na Justiça Eleitoral, mas não conseguiu fazer o sucessor. Mocaiber, com o apoio de Arnaldo, derrotou Pudim (apoiado por Garotinho), em eleição suplementar. Em 2008, Arnaldo tentou nova eleição (coordenei sua campanha no segundo turno), mas estava sub-judice e acabou sendo derrotado em eleição apertada para a ex-governadora (e esposa de Garotinho) Rosinha Garotinho. Acontece que Rosinha também foi afastada pela Justiça Eleitoral – e quem ficou no seu lugar foi exatamente Nelson Nahim, que era o presidente da Câmara dos Vereadores. Dizem que Nelson Nahim e Anthony Garotinho não se dão muito bem, apesar de serem irmãos e de pertencerem ao mesmo partido. O curioso é que no site do PR, dirigido regionalmente por Garotinho, não encontrei uma única referência a Nahim.
Nessa semana, o T.R.E. escolheu 6 de fevereiro para nova eleição suplementar em Campos – e aí começou nova confusão para alianças e escolha de candidatos. As duas principais lideranças políticas, Garotinho e Arnaldo, atualmente são deputados federais (o primeiro, eleito este ano; o segundo, em final de mandato) e correm risco cassação. Apesar disso, ambos declararam-se candidatos. Ninguém leva a sério a candidatura de Garotinho (que ao mesmo tempo tenta anular ou boicotar a eleição), mas Arnaldo disse que a dele é pra valer. Formaram-se imediatamente dois blocos – de um lado, a família Garotinho; do outro, a oposição, com diversos pretendentes, além de Arnaldo. O problema número 1 é tentar situar Nelson Nahim, que tem a máquina na mão e, como chegaram a pensar alguns, poderia ser candidato da união da oposição – mas acontece que ele só poderá ser candidato com autorização de Garotinho, que é presidente do PR (e pensa também em lançar seu filho, Wladimir). Ou seja – quem confiará em quem? Outro problema é a fraqueza local do PMDB, partido do governador Sérgio Cabral (desafeto do ex-aliado Garotinho), que evidentemente tem grande interesse no resultado eleitoral. Cabral luta para ter um nome de consenso, mas está difícil. Chegou-se a pensar em uma pesquisa para ajudar na escolha, mas parece que não foi avante. Os outros nomes:
Odisséia – vereadora do PT, o segundo maior partido do estado (o maior é o PMDB). O PT é bem estruturado em Campos, mas jamais teve sucesso nas eleições majoritárias. Segundo o senador eleito Lindberg Farias, o PT não abre mão de candidatura própria, com aliança apenas no segundo turno. Ao mesmo tempo, tenta garantir o apoio do PMDB.
Marcos Bacellar – foi o vereador mais votado da história de Campos e foi o terceiro deputado estadual mais votado no município. Não se elegeu porque sua legenda, PTdoB, não obteve os votos necessários para que ele chegasse lá. É candidato determinado.
Fernando Leite – é do PMDB, jornalista, muito próximo de Arnaldo (quem, no final de tudo, deverá apoiar) e já foi deputado estadual. No seu blog, ontem, apontou que “o vereador Rogério Matoso, do PPS, presidente em exercício da Câmara Municipal, pode ser alçado à condição de candidato a prefeito, com apoio da dissidência dos republicanos”.
Wilson Cabral – já foi tucano, mas seria candidato pelo PSB.
Professora Odete – é do PCdoB, teve algum destaque em 2008 e (fala-se) poderia ter apoio do cacique peemedebista Jorge Picciani.
Os representantes do PT, PDT, PMDB, PT do B, PPS, PC do B, DEM, PCB, PV, PSC, PRP e PSL têm se reunido em busca de solução única, mas o nome de consenso está cada vez mais difícil. O que está mais consolidado no momento:
• Odisséia (PT), com possibilidade de ter Odete (PCdoB) como vice;
• Arnaldo (PDT) com Bacellar (PTdoB) de vice e apoio de pelo menos mais 4 partidos. No caso de Arnaldo ser impedido de se candidatar, Bacellar será automaticamente o candidato.
Cabral e Garotinho ainda não estão inteiramente definidos. E o povo inteiro, que cada vez deseja uma solução de paz e que seja definitiva, prepara-se para mais uma grande exibição desses exímios esgrimistas políticos. En garde!
NOTA: reportagem de hoje do jornal Folha da Manhã, de Campos, fala de certo avanço na candidatura pelo PR de Wladimir Garotinho, tendo como vice Edson Batista. Dessa forma, o atual prefeito provisório, Nelson Nahim, voltaria a ocupar sua cadeira na Câmara dos Vereadores, e Rogério Matoso, assim, teria confirmado seu nome pelo PPS. O sindicalista Marcelo Vivório também estaria se candidatando pelo PRTB.
(a ilustração acima foi copiada do Portal São Francisco
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
PIB de 2010 deverá ser o maior desde a ditadura
Essa história dos PIBs é usada como cada um bem entende. O Globo de hoje, por exemplo, tentou usar o PIB para dizer na sua manchete da primeira página que o Governo Lula foi um horror: "Brasil cresceu na era Lula menos que emergentes e AL". Esse dado é verdadeiro, mas, isolado, esconde a verdade principal: desde os tempos da ditadura, o Brasil não teve PIB tão alto como deverá ter este ano, cerca de 8%. Isso sem inflação, sem congelamento de preços (Plano Cruzado), além de ter reduzido a miséria e a pobreza e, consequentemente, de ter reduzido o abismo social. Sem contar ainda com o crescimento que o país teve no cenário mundial: em 2011, segundo projeções do FMI, a economia brasileira deverá ultrapassar a italiana, indo do oitavo para o sétimo lugar. Busquei aqui e ali a evolução do PIB brasileiro nas últimas seis décadas procurando identificar cada um dos governos. Vejam o gráfico (clique para ampliar):
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
É campeão? Não!!!
Em Minas, prefiro o Cruzeiro, mas tinha pouca chance.
Em São Paulo, sou Santos.
No Rio, sou Vasco.
Ou seja, tudo levava a crer que eu teria que aturar a comemoração dos outros. Fugi. Mas por falta de sorte (minha) o Universidad Católica, depois de 8 anos sem conquistar o título chileno, goleou o Everton por 5 a 0 e tornou-se campeão pela décima vez. Mal pude dormir. Voltei correndo...
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sábado, 4 de dezembro de 2010
Tomada do Alemão: a mídia sob mira
(foto O Globo)
A cobertura jornalística da tomada do Complexo do Alemão, no Rio, tem sofrido forte bombardeio por causa de sua espetacularidade. Realmente, foi um grandioso espetáculo midiático, que ganhou o mundo nessa última semana. Mas isso é condenável?
Primeiro, precisamos considerar que a questão da segurança pública faz anos que é um espetáculo midiático. Inúmeros programas popularescos, no Rádio e na TV, diariamente entram aos berros na vida de milhões de brasileiros explorando a violência urbana com fins meramente de audiência. E a mensagem final leva rigorosamente à mesma conclusão: “vamos acabar com essa bandidagem a tiro!” De certa forma, são irmanados a essa bandidagem, porque sem ela não teriam seus espetáculos.
O que mudou agora, então? Em primeiro lugar, as ações terroristas dos traficantes levaram o clima de medo - que antes era restrito às comunidades - para toda a população o que despertou o sentimento de “Basta!” em cada morador do Rio de Janeiro. Em segundo lugar, o sistema Globo entrou com tudo na parada. Ampliou a visibilidade do problema e aliada às outras emissoras deu um tom mais jornalístico, com uma cobertura de grande alcance. Em terceiro lugar, ao invés de endeusar os traficantes, a cobertura jornalística mostrou a sua fragilidade e, ao contrário do que se faz diariamente, valorizou a força policial, estimulando a população (principalmente a local, mas também em todas as áreas e em todos os segmentos) a reagir e a integrar-se à polícia nos ataques aos traficantes (a enxurrada de telefonemas ao Disque-Denúncia é prova). Em quarto lugar, deu mais transparência às ações policiais, inibindo os policiais corruptos e motivando os policiais sérios, fortalecendo o comando de segurança.
Digam o que disserem, a Tomada do Alemão foi marco histórico. A autoestima dos bons policiais ficou em alta, deu mais força à seriedade do comando de segurança, desmistificou o poder até então absoluto dos traficantes, criou sérios danos materiais e estratégicos ao narcotráfico, abriu a perspectiva de vida melhor a toda a população. E a mídia com seu “pastiche midiático” teve grande contribuição nisso tudo. O que não quer dizer que já estamos vivendo no melhor dos mundos. Ainda falta muito para chegarmos lá. Mas com certeza podemos mirar o futuro com outros olhos.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Tomada do Alemão: The Day After
Para falar sobre o “day after”, fui procurar informações no passado e liguei para o recém-eleito Deputado Estadual (PT-RJ) Zaqueu Teixeira, que foi Chefe de Polícia do Rio de Janeiro, em 2002, durante o governo petista de 9 meses de Benedita da Silva, e que sempre revelou afinidade com o Complexo do Alemão. Em setembro de 2002, ele também ocupou o Alemão, com cerca de 600 policiais civis, em busca de Elias Maluco, o chefão do tráfico que tinha matado o jornalista Tim Lopes. A tensão, na época, era muito grande, havia imensa pressão da imprensa e da sociedade para que Elias Maluco fosse preso a qualquer custo. Zaqueu lembra que a primeira coisa que fez foi isolar o Alemão da Vila Cruzeiro, com um bloqueio exatamente ali onde todos nós vimos na semana passada cerca de 200 traficantes fugindo desesperadamente. Ele queria ao mesmo tempo evitar a fuga dos bandidos do Alemão e inviabilizar um ataque vindo da Vila Cruzeiro. Durante 3 dias fizeram trabalho de inteligência e de busca no local, e finalmente prenderam Elias Maluco. “Sem dar um tiro”, ele se orgulha, “apenas com uso da inteligência”.
E sobre essa tomada do Alemão feita agora? “Foi excelente”, ele responde, “foi importantíssima. Garantiu a presença do estado e o fim do império do medo”. Zaqueu se entusiasma com a ação policial e, embora não tivesse participado diretamente dela, gosta de sentir-se participante. Lembra que quando estava no Ministério da Justiça, durante apresentação da proposta do PRONASCI (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) para Lula, ele falou do Complexo do Alemão, sobre como tinha ocupado anteriormente e sobre a necessidade de ocupá-lo definitivamente. E acrescenta: “Como disse o Governador Sérgio Cabral, o PRONASCI é o pai e a mãe das UPPs”.
Para Zaqueu, a tomada do Alemão foi um golpe mortal na facção criminosa mais poderosa do Rio. “Perderam armas, perderam homens, perderam o quartel-general, perderam a droga que tinham em estoque, perderam a credibilidade. E ainda estão com grande dívida no mercado, porque essa droga é entregue na base da consignação. Eles precisavam vender para poder pagar – e como perderam, só ficaram com a dívida. Não deve demorar muito para todos eles – ou a maioria – serem presos”.
E daqui pra frente? “Daqui pra frente é a presença do estado. As forças de segurança têm que liberar os territórios dominados pelo tráfico e as UPPs têm que se alastrar. Ação policial para consolidar a conquista do território e ação social muito forte, apoio à economia dos locais liberados, cidadania para todos. É aí que entra o PRONASCI com todos os seus Programas. O Protejo, por exemplo, incorpora o jovem que vivia na franja do tráfico e abre uma perspectiva para que ele possa conquistar emprego, ter profissão, possa ter futuro. O Mulheres da Paz é outro projeto que tem como objetivo incentivar as mulheres da comunidade a ajudar a desenvolver, coordenar e fortalecer a prevenção e o enfrentamento às violências que envolvem jovens expostos. De imediato o importante é que o Governo não permita que outros bunkers como o do Alemão se desenvolvam”.
Existe esse risco? “Existe, sim. O perigo mais iminente me parece que é a Mangueirinha, em Caxias, que já está até sendo tratada como “Complexo”. (É verdade, verifiquei que até no verbete “Mangueirinha” da Wikipédia podemos ler que “atualmente o complexo tem recebido muitos traficantes oriundos de comunidades pacificadas da cidade do Rio de Janeiro”.)
Você acha, como o Luiz Eduardo, que o tráfico "é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas – mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente"? “Acho que há mudança, sim, nesse perfil do tráfico. Mas não podemos nos iludir, isso não pode frear a ação do estado. Quero acrescentar que o tráfico não é burro e já assimilou o método da milícia. Na Ilha do Governador, eles já não se restringem à droga e exploram também o gatonet, o gatogás, o gatotudo”.
E o que você acha do Exército substituindo a polícia no Alemão, até que seja implantada a UPP? “Pessoalmente, prefiro a Força Nacional, acho melhor preparada e já provou isso. Mas acho que essa é uma questão que vai se intensificar até 2014: quem vai comandar a segurança da Copa – a Força Nacional, que comandou com sucesso durante o Pan, ou as Forças Armadas, que estarão no comando do Alemão?”
Realmente, é uma disputa política que promete ser forte, entre o Ministério da Justiça petista e o Ministério da Defesa peemedebista. Mas o principal no nosso “day after” é a conclusão de que agora podemos vislumbrar um novo Rio de Janeiro, sem submissão a narcotraficantes e com uma vida pacificada. Ainda falta muito, claro, mas o futuro já foi disparado.
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
Tomada do Alemão: competência ou incompetência na fuga dos traficantes?
A pergunta que todos fazem agora é: “E os traficantes – quede? cadê? onde estão?” Ninguém sabe, ninguém viu. E aí vem outra pergunta: “Foi incompetência da polícia ou foi combinado?” Não encontro resposta para nenhuma das perguntas, mas quero dizer que a fuga dos traficantes acabou sendo um grande serviço à comunidade. Graças a isso evitou-se o banho de sangue que parecia inevitável, com possível perda de vidas inocentes. Temos que considerar ainda que na fuga os traficantes abandonaram boa parte de seu arsenal, de sua droga, de seu dinheiro e – o principal – perderam o seu bunker e principal campo de ação. Pode ser que ainda estejam escondidos lá mesmo no Alemão (difícil...). Mas se é verdade que fugiram, estão bem enfraquecidos, sem aliados fortes, desacreditados e sem seus fregueses fiéis. Tornaram-se presas fáceis da polícia, sem riscos maiores para os moradores do Alemão. É difícil que tenha sido caso pensado – mas, se foi, parece tratar-se de uma ideia brilhante.
Tomada do Alemão: a conquista do Disque-Denúncia
Um dos maiores avanços que a polícia fez na tomada da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão foi no terreno da credibilidade. E isso pôde ser comprovado com os milhares de ligações para o Disque-Denúncia. Por mais que o Disque-Denúncia sempre tenha garantido sigilo, a população mais pobre desconfiava, por causa da sua ligação com a polícia. Lembro que em 99, quando realizamos extensa pesquisa qualitativa sobre segurança, os moradores de comunidades mais pobres, sem exceção, revelavam esse medo. Achavam mais seguro fazer denúncias através do programa Linha Direta da TV Globo. Por tudo isso, é fundamental que o Governo investigue a fundo todas as denúncias de abuso policial. A confiança conquistada não pode ser desligada.
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Ex-executivo de seguradora de saúde nos Estados Unidos pede desculpas pelo que fez contra Michael Moore
Wendell Potter é um ex-diretor de comunicação da CIGNA, uma gigante americana de seguros de saúde, que tem grandes negócios também no Brasil e já teve até mesmo, anos atrás, participação na Golden Cross. No última dia 22, ele se apresentou no programa "Countdown" do jornalista Keith Oberman (NBC) para pedir desculpas ao cineasta Michael Moore pela campanha de difamação que dirigiu contra ele. O motivo de tudo foi o filme “Sicko”, onde Michael Moore literalmente mostra as entranhas do sistema de saúde americano. E as seguradoras morriam de medo que o filme desencadeasse um movimento social a favor da aprovação do seguro médico público universal. “Os executivos dessas companhias chegaram a ameaçar atirá-lo por um barranco se tal coisa sucedesse”. Felizmente Potter teve crise de consciência (como ele mesmo disse, “não podia viver tranquilo”) e decidiu confessar tudo. Leia mais no site Esquerda ou no próprio site de Michael Moore. Aproveite para ver esse trecho de “Sicko” que mostra a saúde em Cuba.
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Os Companheiros estão de luto: morreu Mario Monicelli
95 anos e uma enxurrada de belíssimos filmes. Filmou o último há quatro anos. Trechos de duas obras primas, I Compagni (Os Companheiros, 1963) e L'armata Brancaleone (O Incrível Exército Brancaleone, 1966).
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Tomada do Alemão: Fatos & Aversões
Fotos O Globo
Sérgio Cabral, Beltrame – o Governo do Rio de Janeiro criou um fato novo na política de segurança nacional, ao provar que é possível integrar políticas sociais com inteligência, rigor e eficácia policiais. E soube melhor do que ninguém integrar-se ao Governo Federal, dando mais musculatura às suas forças.
Rodrigo Pimentel – de fato, o autor e inspirador do “Capitão Nascimento” do Tropa de Elite é uma referência em questões de segurança pública. Mostrou uma análise diferenciada entre os comentaristas apresentados na mídia. Demonstrou conhecimento e, ao mesmo tempo, uma visão tranquila e bem humana. Nada de teorizações ou vociferações, tão comuns. Apoiou toda a ação, mas demonstrou preocupação (medo, mesmo) com a possibilidade de derramamento de sangue. Hoje, no Bom Dia Brasil, revelou sua dificuldade em dormir no sábado, pensando nos amigos – e até um irmão – que poderia perder, porque estavam na linha de frente da operação. Destaque também para a atuação do Júnior, do AfroReggae.
Comentaristas da bala – causou aversão assistir certas análises que apoiaram a ação do Governo aparentando ver nela a vitória de uma certa política do “bandido bom é bandido morto”. Um analista chegou a dizer que era o fim da política do “bandido cidadão” ou “bandido social”. Não é bem assim. O grande valor desse Governo na área de Segurança foi saber integrar políticas sociais, valorização da cidadania, com inteligência e eficácia policial. Não se pode confundir oportunismo populista ou banditismo eleitoral com política social séria. Os erros do passado não devem ser justificativa para apertar gatilho a torto e a direito.
Pezão e o PAC – o fato de o chefão do Alemão ter o mesmo apelido (Pezão) do Vice-Governador e coordenador do PAC no Rio de Janeiro foi muito curioso. Primeiro, porque gerou uma série de piadas com o Vice-Governador – a principal delas, como ele mesmo me contou, foi dizerem que “aquela mansão fantástica encontrada no alto do morro foi construída com o dinheiro do PAC”. Mas o fato mais importante foi o hasteamento das bandeiras da vitória (nacional e estadual) ter sido feito na estação do teleférico que está sendo construída com verba do PAC...
Mídia – a atuação impecável da mídia, dessa vez, foi fato gerador de otimismo no Rio e até no país. Globo e Record deram show. Na TV, na Rádio, na Imprensa, na Internet, os noticiários foram amplos, elucidativos e na maioria das vezes tranquilizadores. Destaque para os tuiteiros do Alemão, garotada de prontidão, atenta aos acontecimentos e antenada com as novas tecnologias.
População – um fato marcante foi a unanimidade: todos estavam favoráveis à ação, não queriam mais dar espaço à bandidagem com seus atos de terror e, acima de tudo, acreditaram na polícia.
Marketing e criatividade – os traficantes acharam que estavam sendo muito criativos com suas ações terroristas, mas conseguiram apenas causar aversão. Erraram violentamente no seu marketing. Desesperados pelas perdas de espaço e de faturamento causadas pelas UPPs, concluíram que espalhar o terror enfraqueceria as forças de segurança. Contaram com a revolta tanto da mídia quanto da população contra o Governo. Mas foi um grande equívoco. O terrorismo fez a população dar um basta! e ainda mobilizou a mídia a favor da polícia. Foi isso que estimulou o Governo Federal a aumentar sua participação e que permitiu o Governo do Estado a agir com firmeza e de forma definitiva. Os traficantes, sempre muito espertos, ignoraram uma lei básica: a comunicação pode ser criativa, mas tem que estar associada a um marketing que – por natureza – deve sempre ser óbvio. O fato é que o tiro saiu pela culatra
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domingo, 28 de novembro de 2010
Apocalypse No
Nessse dia de muita tensão para todo o país, podemos tentar uma Odisseia no Espaço ao som de Pink Floyd (One of theses days). E torcer para que a importante ação das forças de Segurança no Rio de Janeiro não seja apocalíptica.
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Novo passo para a Segurança no Rio: obrigar os chefões do tráfico a assistirem a TV
As cenas de Tropa de Elite 3 que o país assistiu ao vivo durante todo o dia de ontem lavaram a alma do brasileiro, particularmente do povo carioca. Revelaram que: 1) as forças de Segurança estão bem preparadas, com capacidade de organização e de reação firme ao narcoterrorismo; 2) que o poder de fogo da bandidagem é grande, mas não é imbatível – aliás, ficou claro que os traficantes estão em desespero; 3) que a população, principalmente a mais pobre (espremida nas vitrines das lojas de eletrodomésticos, bares e bancas de jornal, assistindo a TV), quer paz e apoia a polícia quando ela se mostra eficaz sob todos os aspectos.
Agora é importante reabrir os canais de informação com os chefões que ordenaram o terror. É necessário eles assistirem com urgência as imagens da tomada da Vila Cruzeiro. Precisam comprovar que a Segurança agora é outra, que eles não têm o poder de enfrentamento que imaginavam e que suas ações acabaram tendo o efeito contrário ao que pretendiam. Se tiverem um mínimo de bom senso (isso existe naquelas bandas?), ordenarão o fim do terrorismo. Caso contrário, verão seus “soldados” tombarem aos magotes. As cenas de ontem demonstraram o que disse aqui no Blog há dois dias: “Não há como o tráfico ter ganho nessas ações”.
A população aguarda com ansiedade o capítulo final dessa série de terror.
O campo de batalha...
(gráfico do Globo - clique para ampliar)
... e o M113, um dos heróis da batalha
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Provocação 2: tem gente querendo reanimar a Guerra da Coreia
Não dá para acreditar que a Coreia do Norte tenha pretendido uma “provocação” com esse bombardeio da ilha de Yeonpyeong na Coreia do Sul. Provocar para quê? Afirmar o quê? Não faz sentido esse tipo de ação menos de uma semana após a notícia “bombástica” de sua centrífuga nuclear. No mínimo, levaria ainda algumas semanas explorando a repercussão. Também não faz sentido a explicação dada por alguns “especialistas” ocidentais de que o bombardeio teve o propósito de fortalecer a autoridade do futuro líder Kim Jong-um (BBC, Financial Times, Telegraph, Council on Foreign Relations). Faz menos sentido ainda a proposta do CFR de desnuclearização da península coreana como uma das condições para pacificação da região. Prejudicar a produção de energia nas duas Coreias ajuda? Em quê? Se forem excluídas apenas as armas nucleares, ainda assim o poder de fogo nortecoreano é muito superior ao sulcoreano – ou seja, tudo continuaria no mesmo. O que desequilibra é a presença dos americanos na região, que parecem mais do que nunca interessados em re-iniciar a famosa “Guerra da Coreia” que vive compasso de espera desde 1953.
Esse bombardeio pode ter sido um acidente causado por tensão ou incompetência. E se houve provocação mais provavelmente terá sido da parte da Coreia do Sul e/ou dos Estados Unidos, gerando reação nortecoreana. Seja como for, a história está mal contada.
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Provocação 1: o Rio tem tudo para sair dessa fortalecido
A série de ataques narcoterroristas no Rio de Janeiro é horrível. Mas é a melhor demonstração de que a política de segurança do Governo está dando certo. E o cálculo é simples: essas ações estão dando mais despesa do que lucro aos traficantes. São operações desgastantes que prejudicam ainda mais o comércio de drogas. Traduzem muito mais desespero pela perda de pontos de venda e, consequentemente, queda na receita e deserção de “soldados”. Não há como o tráfico ter ganho nessas ações – a não ser o aspecto motivacional, dando estímulo a seu "exército" (que anda meio acuado, graças ao sucesso das UPPs) e até conquistando um ou outro novo “soldado”. Mas isso dura pouco. Principalmente porque a reação do Governo tende a ser proporcionalmente bem maior. Narcoterroristas começarão a ser presos, o cerco federal será mais amplo e mais eficaz, o espaço de manobra dos traficantes ficará mais reduzido e inviável. Com o isolamento ainda maior dos líderes que estão presos, caberá aos líderes locais buscar outras regiões para se acomodarem. Apesar do tumulto e do pânico iniciais, surgirá um Rio melhor.
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
O escudo antimíssil da OTAN é a consolidação da Guerra Morna
A rigor, o novo sistema antimíssil da OTAN já existe há
muito tempo. O que foi aprovado agora é a sua expansão: antes, protegia apenas
as tropas da OTAN; agora, protegerá também os territórios e os 900 milhões de habitantes
dos 28 países-membros. Certamente, a Rússia participará desse escudo. O que
altera principalmente são os 270 milhões de dólares que serão lançados na
indústria de guerra (a maior parte para alteração do sofware) e o próprio conceito de guerra dessa nova fase do
pós-Guerra Fria. Com o fim da bipolaridade, a hegemonia americana ganhou corpo,
mas, felizmente, não viramos todos “unipolar”. E o mundo multipolar que começamos
a viver não cabe mais na antiga rotulação de que “meu inimigo está do lado de
lá, no polo oposto”. Novas tecnologias, novos conhecimentos, nova comunicação,
uma relação inteiramente nova entre os países. Ninguém mais tem certeza de onde
poderá vir a próxima ameaça, que polo se opõe a qual polo. Vejam esse exemplo
da Coreia do Norte. Para espanto do mundo inteiro, acaba de anunciar que possui
centrífuga nuclear, ou seja, tem capacidade de enriquecimento de urânio,
tornando-se um país mais poderoso e mais independente em tecnologia nuclear. Em
que polo se enquadra a Coreia do Norte? Nada muito definido. E o mesmo pode ser
dito do Irã. Até Israel teria uma classificação nada tranquila. Os novos
adversários não têm origem muito clara. Podem estar em cima, embaixo ou aqui ao
lado. Podem ser muçulmanos, judeus, russos, americanos, chineses, curdos ou,
quem sabe, até mesmo brasileiros. Essa é a “Guerra Morna” que está em curso. É
uma geopolítica nova que ainda precisa ser decifrada. Os Estados Unidos, claro,
enfraquecidos nesse admirável mundo novo, tratam de reagrupar seus “amigos” e
usam para isso a OTAN sobrevivente e a velha ameaça nuclear. Os diversos polos fora
da OTAN não ficarão de braços cruzados. Ficarão um tempo no banho-maria, mas
logo logo estarão aquecendo seu escudos.
domingo, 21 de novembro de 2010
Menina na Disney: “Mamãe, tem um Beatle na fila...”; John Lennon grita logo: “Quem será? Quem será?”
Entreouvido ontem, aqui na minha sala, de minha filha de 10 anos para sua mãe: “Sabia que o baixista dos Beatles está aqui no Brasil?” Pano rápido.
Em homenagem a Paul McCartney, essa música bem açucarada, Ivory and Ebony. Em seguida, em homenagem ao nosso domingo, esse trabalho bem salgado, Revolution 9.
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
A ponte do rio que... já caiu!
Engraçadíssima essa reportagem da WGN de Chicago sobre a implosão de uma ponte. Ficaram uns 5 longos minutos com a câmera aguardando a hora H. Qunado mudaram de cena rapidamente e voltaram, a implosão já estava quase no fim. A apresentadora puxa os cabelos e o apresentador "engole" o texto.
Feliz do País que tem essas marcas na direção
Passamos a campanha presidencial inteira ouvindo as cantilenas oposicionistas sobre a “ficha de Dilma no DOPS” e sobre “o confronto entre as biografias de Dilma e de Serra”. A Folha queria porque queria acesso completo à ficha de Dilma, que o STM evitou a todo custo. Pelo estardalhaço que a Folha fez com uma falsa ficha podemos muito bem imaginar quais eram suas intenções. Em um momento em que a guerra de percepções torna-se particularmente acirrada, qualquer destaque em informação tirada de seu contexto pode ter efeito altamente negativo. Enquanto isso, a campanha de Serra tentava provar que mais importante do que ter apoio de Lula era apresentar uma biografia política superior no confronto direto entre os candidatos. Fiava-se no seu passado de Ministro do Planejamento e da Saúde (Governo FHC) e nas suas eleições parlamentares e para Governador e Prefeito da Capital, em São Paulo.
A ficha não foi liberada para publicação, a comparação das biografias restringiu-se ao discurso vazio de Serra e Dilma venceu, graças ao apoio de Lula e apesar de todos os golpes dados abaixo da cintura. Hoje os jornais começam a divulgar as fichas de Dilma no DOPS. E quero dizer que, assim como deu orgulho ter tido como Presidente um torneiro mecânico, com um dedo a menos na mão esquerda, que soube construir um novo Brasil, dá orgulho também saber que nos próximos anos teremos uma Presidenta que tem essa ficha no DOPS. A biografia de Serra jamais poderia ser considerada superior à de Dilma. Para desespero da oposição, a ficha caiu.
Veja trechos reportagem de hoje no Globo por Evandro Éboli e Jailton de Carvalho:
Documentos da ditadura dizem que Dilma 'assessorou' assaltos a bancos
BRASÍLIA - Liberados para consulta nesta quinta-feira pelo Superior Tribunal Militar (STM), os dezesseis volumes de documentos com páginas já amareladas e gastas que contam a história do processo movido pela ditadura militar contra a presidente eleita Dilma Rousseff descrevem a ex-militante como uma figura de expressão nos grupos em que atuou, que chefiou greves e "assessorou assaltos a bancos", e nunca se arrependeu.
Na denúncia oferecida pelo Ministério Público Militar contra os integrantes do grupo de esquerda VAR-Palmares, Dilma é chamada de "Joana D'Arc da subversão". "É figura feminina de expressão tristemente notável", escreveu o procurador responsável pela denúncia.
O GLOBO teve acesso aos autos a partir de autorização do presidente do STM, ministro Carlos Alberto Marques. A decisão foi assinada no mesmo dia em que o plenário da Corte liberou o acesso dos autos ao jornal "Folha de S.Paulo", que antes da eleição tentara consultar o processo. Dilma apresentou nesta quinta-feira um pedido para também ter acesso aos autos. O presidente do STM determinou que seja dada prioridade à requisição da presidente eleita. Ela já havia pedido acesso aos autos durante a eleição, mas ele fora negado.
Em depoimento à Justiça Militar, em 21 de outubro de 1970, Dilma contou ao juiz da 1ª Auditoria da 2ª Circunscrição Judiciária Militar que foi seviciada quando esteve presa no Dops, em São Paulo. O auditor não perguntou quais tinham sido as sevícias. No interrogatório, Dilma explicou ao juiz por que aderiu à luta armada. O trecho do depoimento é este: "Que se declara marxista-leninista e, por isto mesmo, em função de uma análise da realidade brasileira, na qual constatou a existência de desequilíbrios regionais de renda, o que provoca a crescente miséria da maioria da população, ao lado da magnitude riqueza de uns poucos que detêm o poder e impedem, através da repressão policial, da qual hoje a interroganda é vítima, todas as lutas de libertação e emancipação do povo brasileiro. Dessa ditadura institucionalizada optou pelo caminho socialista".
Sem participação ativa nas ações. Os arquivos trazem ainda cópia do depoimento que Dilma prestou em 1970 ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), delegacia em que ela ficou presa e foi torturada. No interrogatório realizado no dia 26 de fevereiro daquele ano, Dilma, sob intensa tortura, segundo o depoimento, listou nomes de companheiros, indicou locais de reuniões, e admitiu que uma das organizações da qual fazia parte, o Colina, fez pelo menos três assaltos a banco e um atentado a bomba. Mas ressalvou que nem ela nem o então marido, Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, tiveram "participação ativa" nas ações.
No interrogatório no Dops, Dilma contou que o atentado a bomba foi praticado na casa do interventor do Sindicato dos Metalúrgicos em Minas Gerais, e que atingiu também a casa do delegado regional do Trabalho. As residências eram contíguas.
Em um trecho do depoimento, Dilma disse que uma de suas funções em organizações de combate à ditadura era organizar células de militantes. Teria sido encarregada de distribuir dinheiro aos grupos. O dinheiro teria sido arrecadado em ações dos movimentos.
Os documentos relatam que Dilma começou a ser "doutrinada para o credo ideológico marximalista" (sic) por Cláudio Galeno, em Belo Horizonte, quanto atuavam na Polop, em 1967. Anos depois, na VAR-Palmares, Dilma foi a São Paulo e assumiu atividade de colegas que estavam para cair (serem presos). Dilma foi professora de marxismo e em sua casa foram apreendidos materiais para falsificação, panfletos e livros considerados subversivos.
Antes de seguir para São Paulo, Dilma e o marido passaram pelo Rio, em 1969. Sem conseguir, de início, um aparelho para morar, viveram num hotel em Laranjeiras. A Polop, movimento em que atuavam, passou a se chamar Colina. Dilma traduziu livros para os companheiros e foi cobrir pontos e contatos. Foi usada certa vez como "araque", para atrair e despistar a atenção dos militares enquanto companheiros faziam reuniões.
Dilma era deslocada para outros pontos do país para fortalecer a atuação do Colina e arregimentar companheiros. Foi ao Rio Grande do Sul, onde a atuação de seu grupo era fraca e não havia militantes suficientes. Depois, foi cumprir o mesmo papel em Brasília e Goiânia.
Em junho de 1969, teria participado da reunião que tratou da fusão do Colina com a VPR, no Rio. Dilma contou que, em outro encontro, um companheiro falou da realização de uma "grande ação" que iria render bastante dinheiro para os cofres da organização. Essa ação, soube Dilma depois, tratava-se do assalto à residência de Ana Capriglione, ex-secretária do ex-governador Ademar de Barros.
Elogio à "dotação intelectual". Num relatório sobre guerrilheiros da VAR-Palmares, o delegado Newton Fernandes, da Polícia Civil de São Paulo, traça um perfil de 12 linhas sobre Dilma. Segundo ele, ela era "uma das molas mestras e um dos cérebros dos esquemas revolucionários postos em prática pelas esquerdas radicais". O delegado diz que a petista pertencia ao "Comando Geral da Colina" e era "coordenadora dos Setores Operário e Estudantil da VAR-Palmares de São Paulo, como também do Setor de Operações".
"É antiga militante de esquemas subversivo-terroristas", diz o delegado. No texto, elogia a capacidade intelectual da guerrilheira: "Trata-se de uma pessoa de dotação intelectual bastante apreciável". No documento, o delegado pede a prisão preventiva de Dilma e mais 69 acusados de atividades subversivas contra o governo.
" Não é possível supor que se dialogue com pau de arara ou choque elétrico". Em maio de 2008, Dilma falou no Senado sobre o período em que foi torturada. Questionada pelo senador Agripino Maia, que relembrou uma entrevista em que ela dizia ter mentido na prisão, Dilma afirmou que foi "barbaramente torturada" e respondeu:
- Não é possível supor que se dialogue com pau de arara ou choque elétrico. Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira - disse Dilma, que emocionou a plateia que a ouvia na ocasião. - Eu tinha 19 anos. Fiquei três anos na cadeia. E fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogador compromete a vida dos seus iguais. Entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido, senador. Porque mentir na tortura não é fácil. Na democracia se fala a verdade. Na tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira. E isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, de que tenho imenso orgulho. E completou: - Aguentar tortura é dificílimo. Todos nós somos muito frágeis, somos humanos, temos dor. A sedução, a tentação de falar o que ocorreu. A dor é insuportável, o senhor não imagina o quanto.
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Tighten the belt – o mercado sumiu!
O G-20 encerrou o último show e deixou seu recado: cada um por si e Deus contra todos. No caso, “Deus” são os Estados Unidos, com auxílio do dragão chinês. A desvalorização do dólar, a enxurrada de dólar especulativo, a crise europeia e o freio na compra de commodities pela China são as principais ameaças do momento. O Brasil – como todos os emergentes – obviamente serão afetados. Felizmente, ainda temos a nosso favor um excelente mercado interno (na mira de todos), economia bem fundamentada, bom controle da inflação e temos energia. Além de medidas defensivas temos que aumentar a ofensiva em busca de novos mercados. Não basta apertar o cinto – é preciso também usá-lo para abrir caminho.
Abaixo, artigo de Delfim Netto publicado hoje na Folha:
Amarrem os cintos!
Antonio Delfim Netto
O encontro do G20 em Seul, na Coreia do Sul, foi uma reunião lítero-musical de qualidade duvidosa. O seu resultado, pífio. A "solução prática" foi a cínica entrega da questão aos cuidados do FMI.
No ano que vem, ele deve apresentar um programa factível que distribua equanimente os custos do ajuste. Em poucas palavras e sem nhe-nhe-nhem: cada um que volte para casa, trate de cuidar dos seus interesses e ponha as barbas de molho.
Há uma grande dificuldade em dar peso adequado ao problema dos EUA e às malfeitorias da China, o que provoca ataques cruzados.
Os EUA meteram-se numa grave crise e, desde 2007, destruíram 10 milhões de empregos. Para retornar à taxa de desemprego aceitável de 5%, precisam reconstruí-los. Devido ao crescimento da população, para manter apenas o inaceitável nível atual de desemprego, de 9,6%, precisam criar 1,5 milhão de empregos por ano, ou seja, 125 mil por mês.
Mesmo que haja uma rápida recuperação e a economia possa absorver 600 mil empregos por mês (que é o dobro da média dos anos 90!), serão precisos dois anos antes que se volte ao nível de 2007.
Não se trata de um problema de liquidez, mas de confiança: as empresas não financeiras têm em caixa US$ 3 trilhões e não investem a não ser em tecnologias poupadoras de mão de obra. As instituições financeiras têm excesso de reserva de US$ 1 trilhão e não emprestam porque não há tomadores (o nível de endividamento das famílias é da ordem de 100% do PIB).
O único tomador de recursos é o próprio Tesouro dos EUA, cujo endividamento só poderá ser sustentado com a volta ao crescimento, que, por sua vez, depende do investimento do setor privado e do consumo das famílias.
Os EUA pagam agora o preço de sua miopia. Aumentaram o emprego nas finanças e na habitação enquanto transferiam alegremente (graças à valorização do dólar) para a China suas fábricas e seus empregos industriais e para a Índia os do setor de serviços.
Com a explosão das duas "bolhas", no setor financeiro e no imobiliário, o emprego no primeiro talvez nunca se recupere, e o do segundo demorará muito tempo. Uma coisa é certa. Se a demanda interna nos EUA não se recuperou, porque o governo foi incapaz de restabelecer a confiança no circuito econômico interno, só lhe resta a saída das exportações e a substituição do petróleo importado por biocombustíveis. Ele vai persegui-la com a desvalorização do dólar.
Devemos "amarrar os cintos" e aguentar a competição que vem por aí! Parece que com a taxa de câmbio de R$ 1,60 já podemos importar o etanol de milho dos EUA...
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Eleições americanas: no final, Obama saiu vitorioso
Todo mundo sabe que Obama foi o grande derrotado nas eleições de 2 de novembro. Mas pouco se disse da movimentação vitoriosa de Obama nos últimos dias, que evitou um desastre maior para os Democratas. Curiosamente, fiquei sabendo através do mailing de um dos seus adversários mais ferozes, Dick Morris, estrategista Republicano (embora tenha sido consultor de Clinton). Baseado em pesquisa pós-eleitoral do Instituto Zogby, Morris concluiu que “os esforços de Obama funcionaram”. Diz a pesquisa que entre as pessoas que decidiram o voto na última semana pré-eleitoral (ou seja, que receberam a influência dos esforços finais de Obama), 57% votaram nos Democratas e 31% votaram nos Republicanos. Os que decidiram com antecedência votaram 53% nos Republicanos e 44% nos Democratas. Para infelicidade dos Democratas, apenas 8% dos eleitores deixaram para decidir o voto no final. E mais: 46% votaram com antecedência.
Outros dados da pesquisa:
• 15% dos solteiros decidiram no final e votaram 64% nos Democratas.
• 14% com ganho anual abaixo de 25 mil dólares decidiram no final e votaram nos Democratas na base de 59% a 36%.
• 20% dos eleitores entre 18 e 29 anos decidiram no final e votaram nos Democratas na base de 56% a 37%.
Os Democratas novamente dominaram entre os mais jovens – mas esses também foram poucos na hora de votar. A pesquisa apresenta outras curiosidades eleitorais desse tipo (clique aqui). Mas o que realmente se destaca foi o sucesso da maratona final de Obama, capaz de derrubar previsões bem pessimistas – inclusive de Dick Morris.
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
G-20: Lula, Hauser e Macunaíma
Quando ouvi Lula, no palco do G-20, criticando os Estados Unidos e dizendo “Todos por todos e Deus por todos”, não pude deixar de lembrar a frase de Macunaíma, “Cada um por si e Deus contra todos”, que chegou a virar título de filme do alemão Herzog, “Jeder für sich und Gott gegen alle” (em português ficou “O Enigma de Kaspar Hauser”). Como Macunaíma, Lula é um herói brasileiro. Mas, atenção, não é anti-herói, muito ao contrário. Ele é herói porque soube trazer o povo para o primeiro plano, colocou nosso país em foco no cenário internacional. Percebeu que, como Kaspar Hauser, o povo mais pobre sofria de profunda exclusão social e se dedicou a tentar um final feliz para esse problema. Lula ampliou horizontes, não apenas para o brasileiro – pôs em cena também a América Latina, a África, os mais pobres do mundo inteiro. Não aceitou o “cada um por si” da política americana e levou alternativa viável para o pastelão cambial. Não foi à toa que, nas últimas eleições, o que prevaleceu foi “Lula por todos? Todos por Lula”.
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Recado do G-20: Bretton Woods virou “Woodstock”
Em 44, quando os países vencedores da Segunda Guerra resolveram se reunir para botar ordem na economia mundial, os Estados Unidos eram literalmente os donos do pedaço. Em situação diferenciadamente robusta, eles davam as cartas. Nas Conferências de Bretton Woods, como ficou conhecido o encontro, o ouro, representado pelo dólar, passou a ser “moeda padrão”. No Governo Nixon, diante de dificuldades na economia, foi interrompida a paridade ouro-dólar. Apesar de tudo, os Estados Unidos continuaram no comando, até que a crise do Lehman Brothers embaralhou tudo. Os herdeiros de Bretton Woods ficaram parecendo herdeiros de Woodstock – o mundo ficou "doidão". Os Estados Unidos ficaram profundamente abalados pelas dificuldades internacionais que eles ajudaram a criar. E agora está praticamente impossível manter o dólar como referência internacional. Principalmente após a enxurrada de 600 bilhões de dólares com que Obama inundou o mundo. O dever do G-20 que se reúne a partir de hoje é transformar Seul em “Seul Woods”, criar uma nova ordem para as relações entre as economias mundiais. É muito saudável a proposta de Mantega de criar uma cesta de moedas para substituir o dólar como moeda-referência. Nessa cesta, estariam dólares, euros, ienes, libras (que já participam do FMI), e também o real e o Yuan. Vai dar muito bate-boca nesse “Seul Woods”, mas a verdade é que os Estados Unidos não têm mais “condições de ser o país com a moeda de reserva universal”. O próprio Capitalismo aplaudirá essa mudança. E o mundo ficará menos “pirado”.
Leiam esse artigo do sociólogo e doutor em geografia humana Demétrio Magnoli publicado hoje no Globo:
G-20, o espetáculo da soberania
Demétrio Magnoli
Aquilo que o ministro Guido Mantega define como guerra cambial é a paisagem superficial da longa crise do sistema de Bretton Woods. O desequilíbrio entre os superávits chineses e os déficits americanos forma o relevo destacado nessa paisagem, mas não a esgota nem a explica. A crise de fundo tem uma dimensão econômica mas uma raiz geopolítica. No fim das contas, as engrenagens institucionais da ordem econômica global parecem emperradas, pela primeira vez desde o pósguerra.
O G-20, palco da estreia de Dilma Rousseff na cena internacional, não é a ferramenta milagrosa de solução da crise. Antes, figura como uma expressão singular do impasse evidenciado desde a quebra do Lehman Brothers.
Na sua versão original, o edifício de Bretton Woods praticamente excluía a necessidade de interferência política no sistema monetário. O dólar refletia o ouro, que lhe servia de lastro nominal, e uma coleção de moedas orbitava em torno do dólar segundo um mecanismo de paridades quase fixas. As fundações do edifício estavam assentadas na rocha da escassez de dólares, num tempo em que os EUA eram os credores do mundo. O arranjo promoveu as três décadas gloriosas de crescimento acelerado das economias de mercado. Voluntariamente, para salvar o capitalismo, os EUA ajudaram a criar centros independentes de poder econômico, sacrificando no caminho a posição de hegemonia absoluta adquirida durante a guerra.
Quando a escassez de dólares desapareceu, premido pelo financiamento da Guerra do Vietnã, Richard Nixon levantou a âncora da paridade com o ouro. Bretton Woods 2 não emanou de uma conferência, mas de um gesto unilateral do gerente do sistema: a retomada da prerrogativa soberana de imprimir moeda. No novo ambiente de flutuação cambial, a interferência política dos principais atores tornouse um imperativo. O G-5 e o G-7, seu sucessor, nasceram como respostas à necessidade de tecer consensos em torno da governança econômica global.
Eles operaram como um clube seleto, que compartilhava uma visão de mundo similar e tomava decisões informais em reuniões fechadas, protegidas do assédio da imprensa.
Desde 1971, os EUA agem de olho nas suas prioridades nacionais, dividindo com o resto do sistema internacional o custo das políticas domésticas.
A desvalorização de Nixon difundiu para o mundo as pressões inflacionárias geradas no interior da economia americana. Dez anos depois, a “revolução econômica” de Ronald Reagan provocou a elevação dos juros globais, o desvio da liquidez mundial na direção de Wall Street e uma forte apreciação do dólar. Poucos anos mais tarde, tornou-se inadiável uma brusca correção de rumo, com a depreciação do dólar frente ao marco e ao yen, algo que demandava a aquiescência da Alemanha e do Japão. Washington obteve o que desejava no Acordo do Plaza de 1985, uma prova indiscutível da eficácia política do clube das potências.
Há dois anos, os EUA buscam uma reedição do Acordo do Plaza, sob a forma de um pacto de limitação de superávits ao máximo de 4% dos PIBs nacionais, o que implicaria forte apreciação do renminbi chinês. A proposta faz sentido, mas não decola, pela conjunção de dois motivos. Um: a China não admite reproduzir a função desempenhada pelo Japão há um quarto de século.
Dois: o G-20 não é um G7 ampliado.
Os chineses temem repetir a trajetória do Japão depois do Plaza, quando o influxo de capitais coagulou-se em bolhas especulativas nos mercados de imóveis e ações, que explodiram na crise financeira de 1990 e redundaram numa estagnação de quase dez anos. O consenso interno em torno do renminbi depreciado estendese do núcleo dirigente do Partido Comunista, que resiste a conferir direitos econômicos à população, até as empresas transnacionais estabelecidas no país, que funcionam como plataformas de exportações.
O G-20, consolidado após a quebra do Lehman Brothers, reflete o declínio relativo dos EUA e a multiplicação dos centros de poder econômico gerados pela globalização. Ele não é um clube, mas um fórum. Seus integrantes, especialmente a China, não compartilham a visão de mundo que moldou o sistema de Bretton Woods. Suas reuniões, escancaradas ao escrutínio público, são teatros do espetáculo da soberania. Hoje, em Seul, chineses, alemães, brasileiros e sul-africanos erguerão suas vozes para acusar os EUA. Todos eles estarão de olhos postos nas manchetes dos telejornais e das publicações impressas.
A decisão do Federal Reserve de inundar o mercado com uma torrente de US$ 600 bilhões assinala um ponto de inflexão. Os EUA cansaram de esperar e resolveram mudar unilateralmente o cenário mundial. A China retrucou num tom incomum, anunciando que erguerá uma “muralha de fogo” contra o ingresso de capitais especulativos.
A guerra cambial assume a configuração de um confronto político e ameaça converter o G-20 em praça de combates. Em meio aos disparos, o governo brasileiro transforma a justificada indignação com a iniciativa americana em pretexto para circundar o debate sobre a conexão entre os gastos públicos, as taxas de juros e a apreciação do real.
Uma falência do G-20 não serviria a nenhum dos atores de uma ordem econômica global que precisa da “mão visível” da política para conservar alguma estabilidade.
Mas o espetáculo da soberania, por sua própria dinâmica, pode desandar em guerra cambial e comercial, arrastando o mundo pela ladeira da depressão.
Hoje, só o FMI, que faz reuniões fechadas, propícias à separação entre a soberania e seu exercício espetacular, tem as condições políticas para exercer a mediação entre as potências do G-20.
Depois dos retumbantes fracassos dos anos 90, o FMI pode encontrar um novo papel útil nessa função de intermediação.
Se isso acontecer, o Brasil de Dilma Rousseff reconhecerá na antiga instituição de Bretton Woods um parceiro insubstituível.
Ironias da história.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010
Obama: enfraquecido em casa, joga pesado contra o G-20
As grandes potências, principalmente os Estados Unidos, nunca viram com bons olhos esse admirável mundo novo, cada vez mais “globalizado”. G-5, tudo bem – deixa que a gente resolve entre nós... G-7, G-8, ainda aceitamos... Mas, G-20? BRIC? BASIC? Nem pensar!! Os Estados Unidos resolveram melar esse próximo G-20. Primeiro lançaram uma revoada de dólares, acirrando a guerra cambial. Prejudicados pela redução do capital especulativo na crise de 2008, resolveram dar uma forcinha para esses “investidores” espalhados pelo mundo. Ao mesmo tempo, mostraram suas garras diante dos parceiros globais, principalmente os emergentes, procurando enfraquecê-los nas próximas discussões. Não contentes com a guerra cambial, iniciaram um minucioso trabalho de cizânia, principalmente entre os BRICs. Puxaram a Rússia para um lado, a China pro outro e decidiram dar um chega pra lá no incômodo Brasil, priorizando a Índia para uma cadeira cativa no Conselho de Segurança. Os Estados Unidos dão sua demonstração de força no cenário internacional, que com certeza vai funcionar para o público interno. Mas não conseguirão impedir que novas forças emerjam defendendo interesses divergentes dos seus. Nem conseguirão que o G-20 se transforme em mero G-“10+10”...
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Cid apoia Aécio: qual é a do PSB?
Este Blog já falou, ainda no ano passado, se não me engano, sobre a aproximação entre o tucano Aécio e o pessebista Ciro Gomes. Seria a possibilidade de um eixo de força política, ligando Minas e o Nordeste e formando o núcleo de uma nova oposição de centro-direita. A fala de Cid Gomes, Governador do Ceará, apoiando Aécio para a Presidência do Senado pode ser o primeiro salto nessa direção. Mas pode também restringir-se a uma questão de voos internos do partido, marcando a rinha entre Eduardo Campos, Governador de Pernambuco, e os irmãos Gomes. Ou ainda pode ser apenas um pouco de chantagem para que o partido se aninhe melhor sob as asas do Governo Dilma. Mais provavelmente, significa um pouco de tudo isso. Seja como for, daqui pra frente, o PSB será outro. O partido saiu bastante fortalecido dessa eleição e vai bater asas em todas as direções na busca de mais espaço nos céus da política. Isso até que alguém resolva cortar suas asinhas de tucano...
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Globo elege o novo líder da Oposição
Ontem, para contrapor o puxão de orelha que Lula deu na Oposição, o Jornal Nacional foi ouvir o seu novo líder - Aécio Neves. Nada de Serra, Alckmin, Guerra ou FHC. O eleito global foi Aécio para dar a resposta a Lula. O conteúdo não teve nada de significativo, a forma foi mais importante. Roupas esportivas, descontraído, de forma alguma aquele personagem sanguinário encarnado por Serra e sua turma. É uma Oposição mais política - portanto, mais perigosa.
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Alô, Holô...
Em comemoração ao lançamento da holografia em 4 D (em tempo - quase - real) feito por pesquisadores da Universidade do Arizona, esse trailer do THX 1138 (1967/1970), primeiro filme de George Lucas, ficção com alguns personagens holográficos (talvez "hologrâmicos"...). Um deles, se não me engano, tinha o apelido de Holô, um holograma que teria se "desprendido"...
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Tocando na chuva
Resolvi postar esse vídeo por pura inveja do Blog do Mello. Vi lá, achei bem simpático e imitei. Não é novidade, mas vale. Rain Choir, Perpetuum Jazzile
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Ganhei a aposta
Marketing não existe sem pesquisas ou qualquer outra forma de definição de percepções. E o marketing eleitoral usa intensamente as pesquisas de opinião pública, fundamentais para projetar cenários e definir estratégias. Nesse segundo turno, não contei com pesquisas próprias, acompanhei apenas as que foram amplamente divulgadas. Para não perder o hábito, fiz alguns exercícios com elas e arrisquei projetar os resultados em post do dia 27 de outubro (Minha aposta para o dia 31). No sábado, achei que algo estava errado, mas como estou viajando, não pude checar. Concluí que por engano tinha trocado em algumas contas “135” por “125”, mas o essencial estava correto – apenas fiz pequena correção no post. Eu mesmo me impressionei com meus acertos, ainda que trabalhasse com números arredondados. Apostei que a abstenção seria de 21% – foi de 21,5%. Apostei que o comparecimento seria de 106.000.000 eleitores – foi de 106.604.687. Apostei que o não-voto seria na faixa de 7% (9.600.000 de votos) – foi de 6,7% (7.141.901 votos). Apostei que o índice dos votos válidos para Dilma seria de 55,5% a 56,5%” – foi de 56,05%. Apostei que Dilma teria de 10 a 11 milhões a mais (teve 12.041.670), “algo como 55 ou 56 milhões de votos contra 44 ou 43 milhões de Serra” – e o resultado final foi de 55.752.092 (Dilma) a 43.710.422 (Serra). Estou muito feliz por ter acertado tanto. Infelizmente, aposto que não vou ganhar na Sena...
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Que papel feio...
José Serra começou mal e terminou mal. O jovem idealista da AP (Ação Popular), vibrante no Comício da Central (13 de março de 64), não entrou nessa campanha. Utilizando o princípio de que “o que importa é ganhar, não importa como”, Serra aliou-se às forças das trevas e patrocinou uma das campanhas políticas mais reacionárias deste país. Cercado por representantes dessas forças do atraso, chamou a imprensa para reconhecer a derrota, mas prometendo um futuro sangrento. Pretendeu com aquela melancólica foto final demonstrar que continuará como grande líder da Oposição e que voltará em 2014. Mas o que existe de verdadeiro é que sua fórmula da baixaria foi derrotada e dificilmente a Oposição voltará a se unir em torno do baixo mundo de Serra. Aécio deverá liderar a nova Oposição, e já conclama os parlamentares para uma tal de “agenda Brasil” – na verdade, seu pontapé inicial para a campanha de 2014. Serra cavou para ele mesmo o papel de bolinha de papel na cesta de lixo da História.
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